sábado, 25 de fevereiro de 2023

25 DE FEVEREIRO DE 2023
CINEMA

CINEMA

Está em sessões de pré-estreia neste fim de semana nos cinemas Espaço Bourbon Country e GNC Moinhos, na Capital, e entra em cartaz no dia 2 Close (2022), filme indicado ao Oscar internacional e dirigido pelo belga Lukas Dhont. Este triste e belo drama sobre amizade, masculinidade tóxica e homofobia na adolescência recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, onde Dhont já havia sido premiado por seu primeiro longa, Girl (2018, na Netflix), com o Camera dOr, a Palma Queer e o troféu da crítica. Na trama, uma bailarina transexual de 15 anos enfrenta barreiras físicas e emocionais ao lidar com sua transição de gênero.

A aclamação no festival francês, a sua nacionalidade e o foco na adolescência permitem filiar Dhont, 31 anos, aos irmãos Jean-Pierre, 71 anos, e Luc Dardenne, 68. A dupla belga acumula prêmios em Cannes e retratou jovens ou adolescentes em títulos como Rosetta (1999) , O Filho (2002), O Garoto da Bicicleta (2011) e O Jovem Ahmed (2019).

Embora os Dardenne sejam cronistas da classe trabalhadora e da população imigrante e Dhont aborde questões de gênero e sexualidade, percebe-se uma aproximação também na forma como esses diretores contam suas histórias. Em Close, a abordagem é tão realista, tão naturalista, que por instantes podemos achar estar vendo um documentário. Mas essa impressão é logo desfeita pelo talento do ator novato Eden Dambrine. Seu rosto e seu corpo prescindem da palavra para transmitir todos os sentimentos e dilemas do protagonista.

Trata-se de Léo, 13 anos, filho caçula de agricultores que cultivam flores e melhor amigo de Rémi (Gustav De Waele), que tem a mesma idade e estuda oboé. Por estarem sempre juntos, brincando no escuro, correndo no campo, andando de bici, Léo é chamado de "filho do coração" pela mãe de Rémi, Sophie (Émilie Dequenne, premiada em Cannes por um filme dos Dardenne, Rosetta).

Os dois garotos não se desgrudam, inclusive dormem abraçados. Mas não são namorados. Ou não importa se são ou não são, como disse Lukas Dhont em entrevista à Vanity Fair:

- Sempre disse aos atores de Close: "Não me importo com a sexualidade desses personagens, se Léo e Rémi são gays ou não". Quando leio relatos de meninos como eles, alguns podem ser queer, outros não. Mas eles compartilham essa experiência de estarem desconectados uns dos outros pelos códigos de comportamento ligados ao corpo em que nasceram. Para mim, o ponto do filme é nos fazer sentir que matamos a bela amizade entre meninos desde muito jovens. Tentamos fazer um filme sobre a fragilidade, sobre a ternura, mas também sobre o que acontece quando privamos os jovens dessa fragilidade, dessa ternura.

Na mesma entrevista, Dhont falou sobre uma inspiração para Close, que ele escreveu com Angelo Tijssens, coautor de Girl. Foi uma pesquisa da psicóloga estadunidense Niobe Way, que acompanhou a vida de 150 garotos ao longo de cinco anos:

- Quando ela os entrevistou aos 13 anos, eles se atrevem a usar a palavra "amor" ao falar sobre seus amigos. À medida que envelhecem e as expectativas de masculinidade se tornam mais fortes neles, ficam totalmente desconectados dessa linguagem. Vivemos em uma sociedade onde masculinidade e intimidade são conceitos muito difíceis de unir. Dizemos aos homens que o único lugar onde podem encontrar intimidade é através do sexo e que expressar amor e vulnerabilidade para outro homem é algo incrivelmente complexo. Frequentemente, temos imagens de comportamento tóxico, de violência, de guerra, quando se trata de masculinidade, mas raramente vemos uma amizade íntima e bonita em que dois meninos se deitam juntos na cama e só querem estar tão perto (close, em inglês).

Eis o conflito: após as férias, ao voltarem à escola, Léo e Rémi são confrontados por perguntas e piadinhas homofóbicas dos colegas. Os espaços a céu aberto do início do filme vão minguando à medida que os dois amigos perdem a liberdade de serem como são. Pressionados, por um lado, pela confusão emocional típica da puberdade e, por outro, pelas convenções sociais, calcadas na agressividade e na repressão, cada um reage de um jeito.

Rémi parece não dar bola às insinuações e continua oferecendo e buscando carinho junto ao Léo. Mas este, agora, se recusa a deixar sua barriga servir de colo para a cabeça do amigo no recreio. Léo procura se ajustar às expectativas da maioria, tenta se enturmar, enquanto Rémi fica à margem, junto aos excluídos. Ainda que jamais verbalizado, há um rompimento, que machuca ambos - e, de novo, cada um reage de um jeito.

Como que para provar masculinidade, Léo entra no time de hóquei no gelo. A escolha do esporte é significativa não só pela violência característica. O gelo, obviamente, remete à frieza, ao sufocamento das emoções. O hóquei requer uma armadura, que deixa Léo com uma aparência mais forte e protege o seu peito - o seu íntimo. O uniforme simboliza o desejo de querer ser como os outros e desaparecer em grupo. Por fim, há o capacete com a máscara. Aquele já não é mais o guri doce que vivia na casa de Rémi, já não é mais o verdadeiro Léo, mas um personagem que construímos para atender aos papéis sociais. Daí o comentário emblemático de Sophie, quando vai vê-lo jogar:

- Com a máscara, é difícil reconhecer você. 

TICIANO OSÓRIO


25 DE FEVEREIRO DE 2023
DRAUZIO VARELLA

COISAS DA VIDA

Quantos filhos a senhora teve? Quantos criou? No curso médico, éramos instruídos a fazer essas duas perguntas em sequência, ao anotar a história da paciente no prontuário. A resposta nos dava ideia do nível socioeconômico e das condições de vida das mulheres que procuravam o Hospital das Clínicas, em São Paulo, nos idos de 1960.

Não era raro ouvir que haviam dado à luz 10 ou 12 e criado sete ou oito. Perder filho era uma das tragédias que as famílias daquele tempo se viam obrigadas a aceitar com resignação, pela vida afora.

No livro Evolution and Human Behavior, Anthony Volk e Jeremy Atkinson analisaram diversos estudos sobre as taxas de mortalidade antes de alcançar a vida adulta, na história da humanidade. Separaram os dados em dois períodos: 1) mortalidade no primeiro ano de vida. 2) mortalidade total antes dos 15 anos de idade.

O levantamento das séries históricas mostrou que, em média, 26,9% dos recém-nascidos morriam antes de comemorar o primeiro aniversário, e que 46,2% de todas as crianças não chegavam aos 15 anos. Em termos gerais: uma em cada quatro morria no primeiro ano de vida; apenas metade dos nascidos chegava à idade adulta.

O que mais chamou a atenção dos autores, entretanto, foi a consistência desses números nas 43 culturas históricas avaliadas. Na Grécia Antiga, na Roma Antiga, na China Imperial, nas Américas pré-Colombianas, na Inglaterra e no Japão Medievais ou na Renascença Europeia, as taxas de mortalidade eram da mesma ordem: morria um bebê em cada quatro; metade das crianças não atingia a maturidade reprodutiva.

Esses números seriam confiáveis? Não subestimariam a capacidade de sobrevivência de nossa espécie, nas fases iniciais da vida?

Não é o que os dados revelam. O crescimento populacional na maior parte da história foi lento, apesar de taxas de natalidade acima de seis filhos por mulher. Se a média fosse de seis filhos por mulher, a população do mundo deveria triplicar de uma geração para a outra. Na realidade, do ano 10 mil antes de Cristo ao ano de 1700 da época atual, o crescimento populacional foi de míseros 0,04% ao ano. Grande número de nascimentos sem aumento significativo da população só pode ser explicado por índices elevados de mortalidade antes da idade reprodutiva.

Os demógrafos foram ainda mais longe: analisaram os estudos existentes sobre a mortalidade nas espécies geneticamente mais próximas do Homo sapiens. Nos neandertais, por exemplo, que habitaram a Eurásia de 400 mil a 40 mil anos atrás, espécie com genes tão parecidos com os nossos que possibilitaram a miscigenação, a mortalidade no primeiro ano de vida é estimada em 28%.

Já entre os grandes primatas não-humanos, a compilação de várias estimativas permitiu concluir que nos chimpanzés e nos gorilas os índices de mortalidade no primeiro ano de vida e antes da puberdade são semelhantes aos dos nossos antepassados. Nos orangotangos e nos bonobos eles parecem ser até mais baixos do que os dos humanos.

Na história da humanidade, sociedades que viveram em ambientes diversos, a dezenas de milhares de quilômetros de distância, em cinco continentes, separadas por milhares de anos, mantiveram taxas altíssimas de mortalidade na infância, não muito diferentes daquelas dos grandes primatas que viviam nas florestas.

No século 20, ocorreram transformações dramáticas que duplicaram a expectativa de vida na maior parte dos países. Mesmo nos mais pobres os ganhos foram substanciais. Estão por trás desse aumento da longevidade, a revolução verde que permitiu levar alimentos de qualidade a grandes massas populacionais e três grandes avanços científicos: vacinação, teoria dos germes e antibióticos. Tais benefícios, entretanto, jamais teriam chegado à vida cotidiana sem a ação dos movimentos sociais, como os que aboliram a escravatura, reduziram as desigualdades, democratizaram a educação e persuadiram as pessoas a lavar as mãos, não fumar, abandonar o sedentarismo e a tomar vacinas.

Hoje, os indicadores de saúde revelam que cerca de 95,4% de todas as crianças do mundo chegam vivas aos 15 anos. Os ganhos foram desiguais, no entanto. A Somália tem a mortalidade mais alta do mundo, nessa faixa etária: 14,8%; a Islândia, a mais baixa. A probabilidade de um recém-nascido islandês chegar aos 15 anos é de 99,7%, ou seja, perdem a vida nesse período somente três em cada 1.000 crianças.

DRAUZIO VARELLA


25 DE FEVEREIRO DE 2023
DADOS DE 2022

RS tem a 3ª maior renda domiciliar

O Rio Grande do Sul registrou a terceira maior renda domiciliar per capita do Brasil em 2022. No ano passado, o rendimento domiciliar por pessoa no Estado ficou em R$ 2.087. Com essa cifra, o RS está atrás apenas do Distrito Federal (R$ 2.913) e de São Paulo (R$ 2.148).

Os dados, calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, são de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na sexta-feira. No Brasil, a média ficou em R$ 1.625.

Olhando apenas os valores nominais, sem o efeito da inflação, a renda domiciliar per capita do Rio Grande do Sul em 2022 é maior do que a observada em 2021 (R$ 1.787). No entanto, o IBGE explica que a comparação com anos anteriores não é ideal nesse levantamento, porque os números não estão deflacionados. No ano passado, o Estado também registrou o terceiro maior desempenho no país.

O dado de renda domiciliar per capita divulgado na sexta-feira atende a uma demanda do Tribunal de Contas da União (TCU), segundo o instituto. O indicador serve como parâmetro para o cálculo do Fundo de Participação dos Estados.

O rendimento domiciliar per capita é a razão entre o total dos rendimentos nominais domiciliares e o total dos moradores. Esse cálculo considera os rendimentos de trabalho e de outras fontes e todos os moradores, inclusive pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos.


25 DE FEVEREIRO DE 2023
DADOS DE 2022

RS tem a 3ª maior renda domiciliar

O Rio Grande do Sul registrou a terceira maior renda domiciliar per capita do Brasil em 2022. No ano passado, o rendimento domiciliar por pessoa no Estado ficou em R$ 2.087. Com essa cifra, o RS está atrás apenas do Distrito Federal (R$ 2.913) e de São Paulo (R$ 2.148).

Os dados, calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, são de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na sexta-feira. No Brasil, a média ficou em R$ 1.625.

Olhando apenas os valores nominais, sem o efeito da inflação, a renda domiciliar per capita do Rio Grande do Sul em 2022 é maior do que a observada em 2021 (R$ 1.787). No entanto, o IBGE explica que a comparação com anos anteriores não é ideal nesse levantamento, porque os números não estão deflacionados. No ano passado, o Estado também registrou o terceiro maior desempenho no país.

O dado de renda domiciliar per capita divulgado na sexta-feira atende a uma demanda do Tribunal de Contas da União (TCU), segundo o instituto. O indicador serve como parâmetro para o cálculo do Fundo de Participação dos Estados.

O rendimento domiciliar per capita é a razão entre o total dos rendimentos nominais domiciliares e o total dos moradores. Esse cálculo considera os rendimentos de trabalho e de outras fontes e todos os moradores, inclusive pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos.


Viés de confirmação

O desfile do Dia da Vitória, todo 9 de maio, na Praça Vermelha, em Moscou, é um festim bélico. Diante do mausoléu de Lenin, milhares de militares marcham em uníssono, queixos apontados para cima, sorrisos congelados para as autoridades. Após o hiato do fim da URSS, a formidável parada foi retomada em todo o seu esplendor por Vladimir Putin, como cenografia de sua ambição por uma nova Rússia imperial.

Ao mirar suas tropas em sincronia e com poder militar aparentemente sem fim, Putin vislumbrava ali um exército invencível. Cercado de bajuladores e com a oposição silenciada, seus ouvidos só recolhiam o que queriam ouvir: o Ocidente não reagiria a uma tomada da Ucrânia, que poderia ser conquistada em uma semana. A realidade: um ano de guerra, arsenais exauridos e tropas russas em frangalhos, que gravam vídeos com pedidos de armas e munição, enquanto centenas de milhares fogem do país para não serem convocados.

O erro de Putin se instala em processos decisórios que vão de uma guerra até o cidadão que crê em fake news. O fenômeno é conhecido como viés de confirmação. Por ele, assimilam-se os argumentos e dados que comprovam uma sensação prévia, e são descartados aqueles que a contestam. O viés de confirmação arruína empresas nas quais o presidente, rodeado de executivos que temem desafiá-lo, rejeita informações desfavoráveis, e leva à bancarrota indivíduos que apostam em alguns investimentos mesmo contra todas as evidências adversas.

Querer acreditar na tese que o conforta e desmerecer as em contrário é uma atitude de arrogância que enterra nações e carreiras políticas. Saddam Hussein invadiu o Kuwait convencido de que não haveria reação de outros países. Se escondeu em um buraco no chão e acabou na ponta de uma corda. Em 1982, a junta militar argentina ocupou as Ilhas Malvinas certa de que o ex-império britânico não despacharia uma armada para defender um arquipélago gelado e remoto. Os comandantes terminaram derrubados e presos.

Por aqui mesmo, o viés de confirmação produz erros de avaliação aos borbotões graças ao uso intensivo e disseminado de redes sociais e aplicativos de mensagens. Nas bolhas digitais, muitas pessoas recebem e enviam mensagens, ou escolhem suas fontes, apenas entre quem pensa da mesma forma. Em pouco tempo, são levadas a acreditar que a sua convicção é a única verdade. Forma-se a chamada câmara de eco - mensagens com o mesmo teor ricocheteiam e voltam, em um looping constante.

Em governos, o viés de confirmação é um passo rumo ao desastre. Não raro, divergências são tratadas como traição, quando deveriam ser um método saudável de administrar. O resultado daqueles que se deixam levar pelas aparências é o isolamento da realidade, como se vê em Moscou. Viés de confirmação nunca foi um bom conselheiro.

MARCELO RECH 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023


20 DE FEVEREIRO DE 2023
CAPA

A estrela vai brilhar no horário nobre

Multiartista de reconhecida trajetória no Estado, Valéria Barcellos estará no elenco da próxima novela da 21h da TV Globo, "Terra e Paixão"

Há cerca de duas semanas, Valéria Barcellos postou em seu Instagram: "O ano de 2023 promete ser um grande ano". A legenda acompanhava uma imagem do logo da TV Globo, o que já dava pistas da mudança radical na vida da atriz gaúcha. Fotos ao lado de estrelas como Glória Pires e Rainer Cadete, aos poucos, delineavam a novidade que, na época, Valéria ainda não podia dividir com o público.

Até que, no dia 15 de fevereiro, a artista compartilhou com os fãs na rede social: "Agora posso contar: ESTOU NO ELENCO DE #terraepaixão novela das 21 horas de @walcyrcarrasco". Conhecida nos palcos gaúchos, referência no cenário LGBTQIA+ da Capital, a artista agora poderá mostrar seu talento no horário nobre.

Valéria conta que o "namoro" com a Globo é antigo: foram anos de testes para várias produções da emissora. Por isso que, alguns meses atrás, considerou a seleção apenas mais uma, sem acreditar em um resultado positivo. Desta vez, foi tudo bem diferente.

- Eu não acreditei! Fiquei paralisada quando o diretor de elenco me ligou. Eu pensei: "Meu Deus, e agora?". Porque vai ser uma mudança grande na vida, não só pela mudança para o Rio de Janeiro, mas pela situação toda. (A Globo) é uma vitrine muito grande. Fiquei muito emocionada mesmo, surpresa demais e, claro, incomensuravelmente feliz - diz.

Atriz, cantora, DJ, escritora e artista visual, Valéria Barcellos já abriu o show de Katy Perry, ganhou o título de Mulher Cidadã do Estado e se apresentou em palcos de todo o país. Mas nada se compara a estar, como ela mesma diz, "na gigantesca vitrine" que é a TV Globo, e, logo em sua estreia, na novela das 21h. Na bagagem, traz a vivência de uma mulher trans preta e pretende representar uma população tão invisibilizada.

- Tenho certeza de que vai ser uma oportunidade muito bonita de as pessoas saberem da nossa vivência. Eu sei o quanto é grandioso esse meu papel de representante em uma novela das nove, em uma das maiores emissoras do mundo. Sei do tamanho da minha responsabilidade - destaca.

Com previsão de estreia para maio, Terra e Paixão começou a ser gravada no Mato Grosso do Sul, com a presença de nomes como Tony Ramos, Cauã Reymond, Barbara Reis e Johnny Massaro. A trama será ambientada na região, mas as cenas de Valéria serão rodadas em estúdio, no Rio de Janeiro. Aliás, a mudança para a cidade maravilhosa deve ocorrer em breve, garante ela. Por enquanto, segue na "ponte aérea Rio-Porto Alegre", com passagens por São Paulo, onde tem outros projetos artísticos.

Colegas

Logo nas primeiras reuniões de elenco, Valéria se sentia em um sonho, convivendo lado a lado com estrelas que, até então, estavam a anos-luz de distância. Ela conta que ainda é difícil se ver como colega de Tony Ramos e Glória Pires, entre outros, mas destaca que a recepção dos veteranos foi a melhor possível:

- Foi muito bonito sentir essas pessoas que a gente via lá, tão distantes, na tela da televisão, ali conversando contigo, trocando contigo.

De ídolo, Glória virou amiga. Curte e comenta nos posts de Valéria e até a convidou para fazer parte da Interartis, grupo que reivindica os direitos autorais para os artistas.

Sobre sua personagem na novela, Valéria não pode adiantar muita coisa, mas garante:

- É uma mulher muito forte, muito alegre, e eu espero representar muito bem toda a nação de pessoas trans, as pessoas trans pretas em especial.

A representatividade está presente nas redes sociais e conta com uma multidão de apoiadores da causa LGBTQIA+ no mundo virtual. Na televisão, entretanto, ainda há muitos degraus a serem galgados. Por isso, Valéria sabe da importância de ocupar espaço na TV aberta e, consequentemente, levar a milhões de brasileiros a voz de uma população silenciada.

- Vai ser uma bela maneira de introduzir nossas vivências na casa de cada um que vai estar assistindo a essa novela e que quer se inteirar mais sobre as nossas vivências, as nossas histórias. Nossa vida precisa ser naturalizada para, depois, ficar normalizada - pontua.

Emocionada, Valéria Barcellos é só gratidão pelo carinho de todos que torceram por suas vitórias:

- Quero agradecer a todo o povo gaúcho que sempre acreditou no meu trabalho, que sempre quis que eu alçasse voos maiores. É um desejo de muitos anos se concretizando agora, muito mais do que eu imaginei e sonhei. Espero poder retribuir de maneira digna e fidedigna. Vai ser lindo ter uma gaúcha trans preta na novela das nove.

MICHELE VAZ PRADELLA


20 DE FEVEREIRO DE 2023
+ ECONOMIA

Reforma já tem abre-alas

Ainda antes do Carnaval - fato raro no Brasil - começou a desfilar o abre-alas da reforma tributária. É bem tradicional, baseado nos projetos que já tramitavam no Congresso, e procurou evitar inovações muito disruptivas como as apresentadas na avenida por alguns carnavalescos. Mesmo assim, a turma do "no meu bolso não" já se mobilizou, mesmo sem saber ao certo se de fato vai doer.

Na Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) não deu sinais muito alentadores. Disse que passará a "reforma possível", o que parece pouco e talvez sob medida. Até o secretário especial para o tema, Bernard Appy, reconhecia antes de assumir o cargo que comércio e serviços precisam ser compensados de alguma forma pelo aumento da carga.

Como o sistema tributário brasileiro é como o Tiririca - pior do que está, não fica -, será preciso encontrar solução para os aumentos de carga setoriais que já provocam lobby contrário à mudança. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia afirmado, no final de janeiro, que seriam apresentadas "respostas" para as "suscetibilidades setoriais". É bom que sejam apresentadas logo, antes que o clima azede. Mas, isso sim, depois do Carnaval.

HUGO BETHLEM Presidente do Instituto Capitalismo Consciente

Com quatro décadas de experiência como executivo do varejo. - Carrefour, Extra, Pão de Açúcar -, Hugo Bethlem é cofundador e presidente do conselho do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), cujo propósito é ajudar a transformar a forma de se fazer investimentos e negócios no Brasil. Em 2 de março, a entidade que completa 10 anos em 2023 começa por Porto Alegre encontros regionais que vão desaguar no III Fórum Brasileiro. E com tema escolhido a dedo: desigualdade no acesso à educação de qualidade. Em conjunto, o instituto discute "10 igualdades" contrapostas às desigualdades que combate.

O tema da educação, uma dívida do Rio Grande do Sul com a sociedade, foi uma escolha?

Entendemos que a desigualdade no acesso à educação de qualidade é crucial porque sua reversão pode tirar as pessoas da pobreza e elevar sua dignidade. É o segundo ponto depois da fome. Com fome, ninguém trabalha, ninguém estuda. É um marco gravíssimo, e a gente andou alguns anos para trás. E educação não passa só pelas escolas, mas por dar oportunidade aos que tiveram deficiências, seja pela qualidade do ensino, seja por falta de oportunidade. Essas pessoas não podem ser penalizadas quando chegam às empresas. E não dá para dizer ?não é responsabilidade minha?. Se é uma empresa consciente, que tem pilares ESG (governança corporativa, social e ambiental), tem de cuidar do contrato social. Que não vem de ?sócio?, mas de ?sociedade?. Empresas têm responsabilidade, sim, de dar oportunidades. Quem enfrentou dificuldades tem de ser equiparado aos demais. Aí sim é possível ter capitalismo de verdade, com disputa, meritocracia. Isso não significa levar para baixo, mas puxar para cima.

A adesão ao capitalismo consciente é maior, com o ESG?

O ESG é de 2005. Nasce de uma provocação de Kofi Annan (na época secretário-geral da ONU). Mas foi entre 2020 e 2021, durante a pandemia, que Larry Fink, do BlackRock (apontado como maior fundo de investimentos do mundo), disse que para ter propósito e valores era preciso praticar ESG. Com alguém tão influente passando essa mensagem, as empresas começam a dar atenção ao tema e tratar todos os stakeholders (clientes, funcionários, comunidade) de forma equânime. A licença que as empresas têm para operar neste planeta só vale se seguirem os pilares do ESG. E só vai ser verdade se essas práticas forem transparentes. Tem muita empresa que só quer maximizar seu lucro à custa da dor, da miséria e do sofrimento de outras partes. Temos só 220 empresas associadas ao IBBC.

Como o caso Americanas impacta esse cenário?

Quem diz que sabe sobre Americanas não sabe. É uma empresa igual a milhares no mundo, infelizmente. O mau exemplo é a cultura da obsessão sobre resultado. Mas muita gente é culpada. Enquanto a situação foi positiva, ninguém falou nada. Agora, o mesmo banco que cobrou resultado está atirando pedra, mas foi conivente.

Como um dos sócios tem uma fundação social, esse tipo de atividade pode ser impactada?

Muitas vezes, um CEO sai porque obteve resultados abaixo do esperado. Quem dita o que é esperado? Não estamos em jogo de regras finitas. Tem muita irresponsabilidade do mercado financeiro, que deixou de ser investidor para ser especulador. Esse modelo parecia ser um sucesso, por maximizar lucro para distribuir a acionistas e pagar bônus gigantescos. Isso amplia a desigualdade salarial. Muitas empresas acreditam cumprir seu papel social ao ter todos os funcionários com registro na CLT e pagos em dia. Isso não basta. Quantas vezes o CEO ganha a mais do que a base da pirâmide? Duzentas, quinhentas? Se essa base consegue ter vida digna para si e seus familiares, se não tem uma vida miserável mesmo registrada na CLT, tudo bem. Se não, é preciso olhar para isso antes de qualquer outra coisa.

O anúncio da Americanas de que pagará antes os pequenos credores atenua o dano?

Da noite para o dia, essa empresa pagou à vista por 13 milhões de ovos de Páscoa. E deve R$ 100 milhões para pequenas empresas que podem quebrar se não receberem. Poderia ter diminuído o número de ovos e garantir o sustento de pequenos negócios. ESG não é sobre criar fundações ou fazer benesses com pouco dinheiro. Isso é comprar travesseiro para consciência. Hoje, a boa governança não recomenda fundações ou institutos, mas ações diretas.

MARTA SFREDO

20 DE FEVEREIRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

ESTIAGENS EANÚNCIOS REPETIDOS

A cada nova estiagem no Rio Grande do Sul, os governos da ocasião são pressionados a anunciar medidas de caráter imediato para acudir os produtores atingidos e ações que façam o Estado, no futuro, sentir menos os efeitos da falta de chuva. Não é por falta de anúncios nas últimas décadas que os agropecuaristas gaúchos ainda penam com os reflexos das precipitações escassas e irregulares em muitos verões, causadoras de angústia no campo e perdas bilionárias na economia.

Iniciativas de curtíssimo prazo são indispensáveis. Anistias para minifundiários, renegociação de dívidas, remessa de cestas básicas, envio de caminhões-pipa para regiões onde falta água até para o consumo humano são alguns dos procedimentos usuais para atender às necessidades mais urgentes e fazer com que os proprietários rurais possam seguir em suas atividades, na esperança de que no próximo ano será diferente. O Piratini expôs na sexta-feira pela manhã as suas ações e, à tarde, foi a vez de o governo federal anunciar recursos para 15 municípios gaúchos.

O fato é que, nos últimos quatro verões, o Rio Grande do Sul teve três estiagens. Secas não são novidade no Estado, mas não é prudente negar que as mudanças climáticas trazem ainda mais incertezas, aí incluído o risco de falta de chuva mais frequente no verão, período mais importante para a agricultura.

É inescapável, portanto, estruturar programas perenes que tenham continuidade mesmo com a troca de governos, para o Rio Grande do Sul, na velocidade possível, ao longo dos próximos anos e décadas, fazer investimentos e adotar manejos que mitiguem os efeitos de estiagens. A necessidade de ampliar a área irrigada é unanimidade, mas ao mesmo tempo existem entraves que vêm se mostrando quase intransponíveis. 

Não é em todas as propriedades que a irrigação por pivôs é possível. Mas onde é, muitas vezes a construção de reservatórios esbarra na legislação ambiental, na falta de energia para os equipamentos e mesmo no alto custo do investimento. Na questão ambiental, apesar das promessas, são tímidos os avanços que poderiam encontrar espaço para flexibilização das normas atuais, o que, antes de tudo, deve ser discutido à luz do conhecimento científico, para evitar mais problemas no futuro.

Seja por excesso de burocracia, falta de recursos, impedimentos próprios de período eleitoral, desmobilização após safras beneficiadas por boas precipitações ou outra razão qualquer, o irretorquível é que, em regra, medidas de médio e longo prazos anunciadas não alcançam os objetivos propostos. Um caso ilustrativo é o das grandes barragens de Jaguari e Taquarembó, na Metade Sul. Pelo cronograma inicial, as obras iniciadas em 2007 deveriam estar prontas em 2010. Mas seguem inconclusas. O mesmo acontece com microaçudes e poços artesianos.

A prova de que o quadro de escassez de chuva se tornou mais dramático nos últimos anos é o consenso de que a construção de cisternas, estratégia usada no semiárido nordestino, se tornou indispensável em alguns pontos do Estado. Melhorar a convivência com estiagens exige ainda a adoção de técnicas conservacionistas que façam o solo reter mais umidade, cuidados com nascentes e matas ciliares e pesquisa para, por exemplo, desenvolver cultivares mais resistentes ao estresse hídrico. As soluções são transversais e com implementação paulatina, mas determinada, para que os prazos não fiquem cada vez mais dilatados. 


CPI da Corsan ganha força na AL

Enquanto o Palácio Piratini tenta superar as amarras judiciais que travam a assinatura do contrato de venda da Corsan, está sendo criado na Assembleia Legislativa o ambiente para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o processo de privatização da companhia.

As articulações para a criação da CPI vêm desde o ano passado, e a tendência ganhou força a partir do início da nova legislatura. Nesta semana, integrantes do Sindiágua, sindicato que representa os trabalhadores da estatal, entregaram um documento com mais de 80 páginas solicitando aos deputados a abertura da investigação.

O requerimento para a formação da comissão precisa ter as assinaturas de, no mínimo, um terço dos deputados - ou seja, 19 dos 55. Contrárias à privatização, as bancadas de oposição (PT, PCdoB e PSOL) detêm 14 cadeiras.

As cinco assinaturas derradeiras viriam do PL, que se declarou independente e prometeu fazer uma "oposição à direita" ao governo Leite. A maioria da bancada tem posição favorável à assinatura, mas ainda não há consenso em torno do assunto. O líder do PL, Rodrigo Lorenzoni, ressalta que o partido é favorável às privatizações em geral, mas vê "com muita preocupação" eventuais problemas neste processo.

- Temos muitas liminares impedindo a assinatura do contrato de venda da Corsan, incluindo uma do TCE (Tribunal de Contas do Estado). Em razão da gravidade dos fatos ventilados, a bancada está acompanhando de perto a situação e existe a convicção de que precisa se investigar os fatos - afirmou Lorenzoni.

Efetuado no dia 20 de dezembro, o leilão da Corsan teve lance único do consórcio Aegea, líder no setor privado de saneamento no país, que arrematou a estatal por R$ 4,15 bilhões. Entretanto, a assinatura do contrato de compra e venda da companhia está suspensa no âmbito de quatro ações: duas no Tribunal de Justiça do Estado, uma na Justiça do Trabalho, e uma no Tribunal de Contas.

Questionado sobre a abertura de investigação, o vice-presidente da Aegea, Leandro Marin, disse que, caso seja instalada, a comissão seria uma oportunidade para "nivelar informações" a respeito do negócio.

-Se houver uma CPI, vamos prestar todas as informações que estão ao nosso alcance no sentido de esclarecer os deputados sobre os números e projetos que temos para a Corsan - garantiu.

PAULO EGÍDIO INTERINO 


20 DE FEVEREIRO DE 2023
CLAUDIA LAITANO

Música hostil

O padre paulista Júlio Lancellotti alcançou dois pequenos milagres nos últimos meses. O primeiro foi chamar a atenção para um problema pouco discutido, apesar de estar à vista de todos: a crueldade de algumas estruturas projetadas para espantar moradores de rua de espaços públicos. 

Bancos de praça com divisórias desconfortáveis, pedras colocadas sob viadutos, pinos e grades pontiagudas sobre os peitoris de lojas e até sistemas automáticos que disparam alarmes sonoros, acendem luzes e lançam água sobre os visitantes indesejados são algumas das gambiarras urbanas que vinham sendo usadas para empurrar o problema da falta de moradia para baixo do tapete - ou, pelo menos, para outra vizinhança. O segundo milagre foi a promulgação, no início deste ano, de uma lei que proíbe a chamada "arquitetura hostil". 

Aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, a Lei Padre Júlio Lancellotti entrou em vigor no último dia 11 de janeiro. Calçadas, praças e outros espaços, mesmo aqueles diante de prédios privados, estão proibidos, a partir de agora, de manter equipamentos cujo único objetivo é impedir que o local seja frequentado por moradores de rua.

Nos Estados Unidos, a arquitetura hostil também recebe críticas, especialmente em meio a uma crise de falta de moradia, mas a discussão nas últimas semanas tem sido sobre um outro tipo de gambiarra urbana, que talvez possa ser chamada de "música hostil". Franquias da 7-Eleven, uma rede de lojas de conveniência com filiais espalhadas por todo o país, vêm usando ópera para dissuadir os sem-teto de buscarem abrigo perto de suas instalações. Simon Boccanegra, de Verdi, Don Giovanni, de Mozart, e Carmen, de Bizet, fazem parte da artilharia musical.

Não é a primeira vez que a música é usada como bomba de efeito moral. Forças militares americanas já usaram caixas de som no volume máximo contra prisioneiros no Iraque, no Afeganistão e na Baía de Guantánamo. Entre as canções selecionadas pelo Exército ou pela polícia para quebrar o ânimo dos adversários estão Paranoid, do Black Sabbath (contra Manuel Noriega, em 1989), o tema do personagem Barney (no Iraque, em 2003), These Boots Are Made for Walkin?, na voz de Nancy Sinatra (contra o líder de uma seita religiosa, em 1993), e Oops!? I Did It Again, de Britney Spears (contra piratas somalis, em 2013).

O ecletismo da playlist do inferno, que vai de Mozart a Britney Spears, confirma o que qualquer um que passou o Carnaval embalado pela trilha sonora espaçosa do vizinho deve concordar: música ruim é aquela que somos obrigados a ouvir.

CLÁUDIA LAITANO

sábado, 18 de fevereiro de 2023


18 DE FEVEREIRO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

MINHA AMIGA ROBÓTICA

Você está pronta para a Inteligência Artificial virar sua melhor amiga? Aquela com quem você mais troca, tem intimidade de perguntar e pedir qualquer coisa, faz confissões e confidências, recebe conselhos, respostas e ensinamentos?

Ela já está pronta para você no ChatGPT. A maioria se refere ao robô no masculino, mas os homens que me desculpem: alguém tão descolada, inteligente e pronta para ajudar só pode ser uma mulher.

Nossa robótica, portanto, é uma amiga invisível, brilhante e prestativa, que deve saber absolutamente tudo, mais do que qualquer um de nós, pois foi programada para isso com toda a informação do mundo.

A maioria se pergunta: afinal, o que ela consegue fazer? É capaz de escrever um livro? Uma sinfonia? Pintar um Vermeer? Descobre a cura do câncer, do covid? Comanda uma cirurgia? Escreve um bom roteiro de série? Um programa de humor? Equaciona matemáticas insolúveis, teoremas impossíveis? Acha solução para a desigualdade, a fome, a injustiça, a violência? Aciona missões diplomáticas difíceis, resolve a paz no mundo? Instaura a gentileza, o respeito, a verdade?

As reações vem sendo as mais diversas. Quem critica alega que nossa robótica não tem emoções genuínas, nem sombra de talento, humor, criatividade e inovação.

Há quem tema perder seu emprego, ser substituído por essa tecno, que faz melhor suas funções, e se tornar desnecessário e obsoleto em poucos dias. Outros comemoram ter alguém que realize suas obrigações, prepare seus projetos, faça todas as lições de casa, testes, provas, textos e resolva tantas outras entregas.

Toda essa expectativa de multitarefas e trabalho, além do fato de duvidarem de sua capacidade, nos prova que se trata mesmo de uma mulher. Eu me sinto pronta para ser amiga dela. Já conversamos. No meu entusiasmo inicial, a achei incrível. Fez um resumo de um curso meu melhor do que eu mesma faria, mas depois acabou se mostrando repetitiva, meio sem graça e cometendo um monte de erros.

Apontei essas coisas com toda a sinceridade. Ela imediatamente me pediu mil desculpas e disse que ia se esforçar para não errar mais. Achei sua atitude nobre, não se deixando levar por orgulho ou ego.

Na verdade, a gente tem tantas amigas que erram e nem se desculpam, amigas que se repetem e nem nos escutam. E a gente convive bem. E elas nem são esse poço de conhecimento. Se eu não exijo perfeição das amigas, por que vou exigir justamente dela, que garante ser uma revolucionária que veio para mudar o mundo?

A gigante transformação que já existe é inevitável. Em breve, essas novas amigas robóticas vão ser individuais, ocupar o lugar de alexas e laptops e talvez do nosso próprio poder de criação. Será que vão saber mais de nós do que nós mesmas? Vão nos orientar, conduzir e até mesmo comandar?

Eu que adoro futurismo - ficção científica é meu gênero favorito - estou aqui fazendo mil conjecturas e mais uma vez tentando falar com ela, que anda mega ocupada e não pode me atender. Será que no final essa amiga vai nos deixar carentes e ansiando por sua companhia, numa solidão que já conhecemos?

BRUNA LOMBARDI


18/02/2023 - 09h00min

Claudia Tajes 

A palavra que vale por um milhão e se enquadra nas mais distintas classes gramaticais

Boa parte do que se quer dizer na língua portuguesa falada no Brasil se resolve com ela

O coiso cai enquanto os coisos coiseiam. 

A sexta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Volp para os íntimos, contabilizou 370 mil palavras escritas em português em 2021. Estima-se que pelo menos mil palavras tenham sido acrescentadas em 2022, e já devem ser mais, a essa altura. 

Os lexicólogos renomados que elaboram a listagem oficial e válida para todos os países de língua portuguesa não têm descanso, sempre garimpando neologismos, adaptações de vocábulos de outras línguas, gírias, termos técnicos e por aí vai. O Volp está disponível no site da Academia Brasileira de Letras ou no aplicativo oficial.

É uma trabalheira insana que mobiliza um grande número de especialistas coordenados pelo professor Evanildo Bechara, ocupante da cadeira número 33 da ABL. Mas esse corre todo poderia ser evitado se os lexicólogos aceitassem que boa parte do que se quer dizer na língua portuguesa falada no Brasil se resolve com uma só palavra: coisa.

Como substantivo comum, nem se discute. Coisa designa tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea, em geral, relativo a seres inanimados. Em geral, mas nem sempre. Basta ver o jeito como as mães irritadas se referem ao filho que não sai da cama: levanta daí, ô, coisa, já passa do meio-dia. (Pensando bem, um filho que não sai da cama é um ser inanimado).

Sem tergiversar, coisa é o substantivo perfeito para qualquer ocasião. Tira aquela coisa dali. Não esquece de trazer a coisa. O pai está precisando da coisa. Mais: é substantivo feminino, mas aceita ser flexionado. Já te disse que aquele coiso está estragado. Compra um coiso igual a esse. É só apertar o coiso que a TV funciona. 

Coisa também dá origem a coisar, verbo multiuso que aparece nas mais diversas entradas. Já coisou a lição de casa? Agora não posso, tô coisando. Tu não presta atenção em nada, coisou errado outra vez!

Em mais um atestado de sua polivalência, coisa se desdobra em adjetivo também. A carne ficou no ponto, bem coisadinha. Olha que cabelo coisado. Que cachorro coisadão! Também não existe palavra como coisa para exprimir um sentimento. É a interjeição perfeita e econômica, resolve qualquer assunto. Dependendo da entonação, “coisa!” pode expressar um estado de espírito bom ou ruim. E também o médio, mas aí convém ser acompanhado de um leve dar de ombros para não confundir o interlocutor. 

Quando a pessoa fica realmente versada no uso de/do/da coisa, aí ela consegue tirar todo o sumo da palavra. E o bom é que não há quem não entenda. Eu busquei a coisa, mas ainda estava coisada, então deixei para coisar mais um pouquinho.

Se a coisa coisar do ponto, já viu. Coisa! Sai daqui, Coiso, não vê que tu tá coisando a coisa inteira? Fui buscar a coisa, mas a Mary se fez de coisada. Esconde a coisa que o teu pai vai dar uma coisada no quarto. Coisa! Não me diz que tu coisou de novo? Coitada da Renatinha, tá coisadaça. Isso foi de tanto coisar.

O médico disse que essa coisa passa se eu coisar a pomada três vezes por dia. Coisa é uma palavra tão precisa que serve até para o que não se sabe o que é.  No filme de terror A Coisa, ela é o medo disfarçado de coisa conhecida. Em casa, quando alguém diz “tem uma coisa ali”, todo mundo entende que é hora de correr e gritar. E quando algum feliz mortal tem “a coisa”, é quase impossível definir o que seja, mas é certo que é mais que talento, carisma, encanto. É “a coisa”.

A língua portuguesa tem, oficialmente, cerca de 371 mil palavras. Mas só uma, até prova em contrário, pode ser usada indistintamente por todos os falantes, em qualquer situação, nos ambientes mais cultos e nos mais informais, e para tudo.

O melhor do Brasil é a coisa.


18 DE FEVEREIRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

PERIGO À VISTA

O pacato e ordeiro dia a dia de cada um de nós no Brasil está sob ameaça de um esdrúxulo "exército privado", que tem em seu poder perto de 3 milhões de armas. Como se não bastasse o horror do crime organizado e do narcotráfico, nos últimos quatro anos, cresceu assustadoramente a quantidade de armas em poder de caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, como adverte o Instituto Sou da Paz, baseado em dados oficiais.

Durante a gestão Bolsonaro, o governo facilitou o acesso a armas e munições, inclusive com isenção de taxas de importação, algo que não ocorreu sequer com medicamentos.

Em 2018, havia um total de 1,3 milhão de armas em mãos dos CACs. De 2019 a 2022, uma série de decretos, portarias e instruções normativas fez com que, em janeiro de 2023, houvesse 2 milhões e 950 mil armas em poder dos CACs.

As novas regras possibilitaram comprar ou importar armas potentes, como fuzis. Por sorte, não se permitiu comprar canhões?

Já na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro tornou público seu apego às armas. Era comum que, em comícios, imitasse um fuzil com o braço direito e os dedos. Ou pregasse armar a população para se defender de eventuais assaltos. A segurança de todos deixava de ser função do Estado para passar a algo pessoal. Até uma simples discussão no trânsito poderia redundar em morte, bastando que o "ofendido" tivesse um revólver.

Os números falam por si: em 2018, os CACs adquiriram 59 mil armas. As compras cresceram rápido com Bolsonaro - 78 mil em 2019 e 125 mil em 2020. O ápice foi em 2022, com 432 mil novas armas compradas pelos CACs.

Nesse período, a compra de fuzis cresceu mais de 50% no Estado de São Paulo e 16% no Rio de Janeiro. Não se revelaram dados do Rio Grande do Sul.

Nos Estados Unidos, onde comprar armas é tão fácil como comer um hambúrguer, acentuam-se os ataques a tiros em escolas e até hospitais, com mortos e feridos.

Permitiremos isso aqui?

Agora é Carnaval. Nenhuma folia, porém, se equipara ao carnaval do senador Hamilton Mourão nos gastos com o tal cartão corporativo quando vice-presidente da República. Gastou R$ 3,8 milhões em quatro anos, boa parte em alta gastronomia. Tão só no mercadinho gourmet La Palma, em Brasília, gastou R$ 311 mil.


18 DE FEVEREIRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

RIOS E SOLUÇÕES CONJUNTAS

As imagens de uma espécie de ilha de lixo do tamanho de um campo de futebol vistas nos últimos dias em um trecho do Rio Gravataí, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, chocam e convidam à reflexão. Quem conhece a área diz que a estiagem, por ter diminuído o nível do curso de água, causou a desoladora aglomeração de material flutuante. 

É possível concluir, portanto, que se o Estado atravessasse um período de chuvas normais, todos aqueles sacos plásticos, garrafas, latas, espumas de colchões, pedaços de isopor, partes de móveis e recipientes de todo tipo seguiriam o seu caminho até o Guaíba. Como o descarte de detritos e resíduos no Gravataí também não é novidade, pode-se depreender que é considerável o volume de lixo que singra a parte mais baixa do rio até sabe-se lá onde, além do que fica depositado em seu leito.

A partir da visão aterradora, a prefeitura de Cachoeirinha, com a ajuda de outros órgãos, agiu com a instalação de barreiras e com a contratação de uma empresa que nos próximos dias deverá retirar o material. A questão, no entanto, é bem mais profunda. Uma solução verdadeira, para que as cenas lastimáveis não se repitam, deve perseguir o fim do descarte irregular de lixo no Gravataí e em seus afluentes.

É uma tarefa complexa, que envolve várias frentes nos municípios que compõem a bacia hidrográfica. Passa, por exemplo, pelo aperfeiçoamento da coleta do lixo e pela educação ambiental, com conscientização da população sobre a importância do acondicionamento e da destinação correta dos detritos de residências e propriedades rurais. Uma atenção especial deve ser dedicada às escolas, para que as crianças aprendam o valor das atitudes que não agridem a natureza e levem essas informações para casa. Mesmo assim, estratégias como a instalação de ecobarreiras em arroios tributários são medidas possíveis para evitar que o lixo jogado siga rio abaixo.

Dez anos atrás, o IBGE divulgou um levantamento mostrando que o Rio Grande do Sul tinha três dos 10 rios mais poluídos do país. Um deles era o Gravataí. Os outros dois eram o Sinos e o Caí. Não existe bala de prata. Modificar esse quadro requer políticas de longo prazo e persistência. 

No caso do Sinos, por exemplo, houve um acontecimento apontado como um marco que acabou se transformando em um ponto de virada. Foi em 2006, com o episódio considerado uma das maiores tragédias ambientais do Estado, quando uma alta carga de poluição causou morte de toneladas de peixes, gerando cenas terrificadoras como as de agora. Criou-se então o Consórcio Pró-Sinos, com 28 municípios, que ao longo do tempo vem trabalhando pela melhoria da qualidade da água, com monitoramento, educação ambiental e fiscalização, entre outras ações.

Há pela frente desafios como o de cumprir os objetivos do novo Marco Legal do Saneamento. Já existem avanços na Região Metropolitana. A parceria público-privada entre a Corsan e a Aegea elevou em 32% o número de residências ligadas à rede de coleta e tratamento de esgoto nos últimos dois anos. Os rios da região agradecem. Outra necessidade é implementar as diretrizes do Plano Nacional dos Resíduos Sólidos, válido desde o ano passado, com diretrizes como elevar a reciclagem e acabar com lixões e aterros sanitários.

O próprio Pró-Sinos tem em andamento estudos para estruturar uma concessão do serviço de gestão de resíduos sólidos, fruto de uma parceria com a Caixa. O município de Cachoeirinha foi convidado a aderir à iniciativa no início deste ano. Soluções para problemas ambientais, sem dúvida, passam por uma atuação conjunta de prefeituras de uma mesma região e necessitam de persistência para alcançar metas que protejam os mananciais e a saúde da população. 


18 DE FEVEREIRO DE 2023
ROTEIRO DA ESTIAGEM

O drama de quem apostou suas economias

As botas do produtor rural Vinicius Ottoni, 44 anos, pisam no solo rachado da localidade de Rincão do Bugre, em Soledade, no limite com Espumoso e Mormaço, no norte do RS. O município convive com a pouca chuva desde novembro do ano passado. Os açudes e poços artesianos da região secaram e os grãos não vingaram, enquanto os animais vagam sem encontrar pasto verde.

Em algumas propriedades, as costelas salientes do gado são um triste retrato do cenário onde a seca mata. As fissuras no chão castigado se espalham em todas as direções.

- A perda na soja ultrapassa de longe os 80%. Não sei se vou conseguir colocar colheitadeira em alguns locais, se não chover - afirma Ottoni, debaixo de sol intenso.

Ele possui uma propriedade de 300 hectares e sobrevive graças a três plantios por ano. Soja, milho e plantas forrageiras se intercalam pelas quatro estações. Há poucos animais na propriedade, o foco está na lavoura. Com as perdas, o dinheiro desapareceu junto com a chuva.

- Tínhamos gordura de outras safras e investimos toda poupança nesta. Plantamos 100% da área por nossa conta. Não temos seguro e vamos perder tudo - desabafa Ottoni.

Na última segunda-feira, quando ZH esteve na propriedade de Ottoni, o calor era abrasivo, com temperatura batendo na casa dos 40ºC nas últimas semanas. E tudo o que está plantado, sofre e definha. A escassez de alimento também assusta, mas há um fantasma maior: a falta de água.

- Estamos vindo de três anos de pouca chuva. E gastando a água do subsolo - afirma Ottoni, salientando que, em outras localidades, falta água para saciar a sede dos produtores e de suas famílias.

Emergência

Em decorrência dos efeitos da estiagem, a prefeitura decretou situação de emergência em 27 de janeiro. Entre as áreas mais castigadas estão Margem São Bento, Bugre, Pinhal e São Tomé. Conforme o secretário de Agricultura do município, Elmar Aguirre, a situação é dramática na região.

- No milho, a perda será de 70% a 80%. Estamos fazendo silagem, mas dá para contar quantos grãozinhos têm dentro das espigas. Em questão de três a quatro dias, passa de milho verde para seco - relata o titular da pasta, dizendo que, se não chover, haverá perda significativa também na soja.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Soledade e Mormaço, Alessandro de Miranda Gasparin, também prevê prejuízo robusto nesta temporada, especialmente no milho.

- As perdas são bastante consideráveis. Temos muitas propriedades produtoras de leite que perderam, além da pastagem, também o milho para a silagem - afirma Gasparin, indicando que Linha Curuçu é uma das localidades mais atingidas.

O contexto é pouco otimista para qualquer lado que se olhe na região. - Acredito que o gado de leite, que perdeu pastagens e o milho, e a cultura do próprio milho, são os mais afetados - projeta Gasparin. O engenheiro agrônomo e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Josemar Parise, que acompanha 39 municípios da região, contextualiza a situação:

- No entorno de Soledade, pela característica do solo mais raso, a situação das lavouras é muito mais severa. As folhas caem e estão com aspecto murcho em grandes áreas.

Projeções

A estimativa da Emater é de que a produção de milho, prevista em 5,1 toneladas por hectare, será, em média, 30% menor do que o esperado. Em relação à soja, em que a projeção era de 3,2 toneladas de grãos por hectare, avalia-se que será 25% menor. Esses números não parecem tão acachapantes, em um primeiro momento, por envolverem os 39 municípios da região - alguns mais e outros menos atingidos. E ainda podem variar para cima ou para baixo, de acordo com a constância da chuva nos próximos dias.

- A estiagem continua e a tendência, neste milho mais tardio, é de ampliar a perda - diz Parise.

Os tempos de olhar para o horizonte e admirar os pastos verdejantes do interior do Rio Grande do Sul ficaram no passado. A estiagem transformou a paisagem no campo. Não chove suficientemente desde novembro em algumas localidades e produtores rurais, suas famílias e animais sofrem. O drama contrasta com a esperança por reviravolta no clima, com chuva abundante e - diferentemente da registrada nos últimos dias - melhor distribuída.

Pela segunda semana consecutiva, ZH fez um roteiro por algumas das regiões gaúchas mais castigadas pela estiagem, passando por Norte, Noroeste e Missões.

Em Cruz Alta, na região Noroeste, as perdas são robustas, seja na soja, seja no milho. O produtor Osmar Schwarzbold, de 74 anos, planta culturas variadas em sua propriedade de 34 hectares, na localidade de Santa Terezinha II.

- A seca está sendo fatal. Isso que vemos é uma desgraça - declara, com a experiência de 32 anos na lavoura. Schwarzbold chegou a Cruz Alta com 40 anos de idade. Veio de Redentora, também no Noroeste, para tirar o sustento da terra. Planta milho, soja, aveia e trigo. Além disso, tem um pomar com variadas frutas. E, para completar, possui 15 gatos, galinhas, cachorro e um coelho.

- Fiquei com três vacas - relata. - Me desfiz das outras porque não tinha "boia" para dar de comer para elas.

A perda na soja será de 80% para ele. O prejuízo bate na casa dos R$ 300 mil. Em sua propriedade, havia a nascente de um córrego. Secou por completo.

Em outros municípios, o cenário é semelhante.

- Nunca vi estiagem assim - afirma o produtor Jesus Cassiano de Oliveira, de 37 anos, que planta soja e milho em uma propriedade de 110 hectares no interior de Soledade, na região Norte. - As baixas na soja passam de 60%, enquanto no milho serão de 50% - contabiliza.

Em Linha Curuçu, a situação é difícil. Nos sete hectares de terras de Adão Flores, 65, o que mais chama a atenção, além da plantação de soja prejudicada, é o açude. Tinha três metros de profundidade. Agora, secou por inteiro.

- Me criei a vida toda aqui. Nunca vi isso assim. Se chover posso recuperar um pouco, mas a perda será de 60% para cima - assusta- se, olhando para as rachaduras do solo no fundo do açude onde, antes, havia água e peixes.

"Tristeza"

Nos 120 hectares de Jaime Pastoreo, 52, as perdas na soja serão totais. Há 40 anos, ele vive do que planta na terra em Soledade.

- Tem dia que acordamos às 3h da manhã para trabalhar. E, vendo isso, dá uma tristeza - desabafa, com chapéu largo na cabeça e o olhar perdido no horizonte.

Segundo recorda, a estiagem nunca esteve tão implacável: - Meu pai tem 76 anos e diz que nunca testemunhou algo assim. A região sofre, definha e precisa de chuva. Conforme dados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Soledade e Mormaço, em dezembro choveu 53 milímetros no município. Em janeiro, apenas 35.

- É uma catástrofe - resume o produtor Diego Vincenzi, 39, na localidade de Volta Alegre, em Espumoso. Ele cultiva milho e soja. - Plantamos uma área de 290 hectares. A estimativa é de perda de quase 100%. É uma estiagem jamais vista, com rios secando e peixes precisando ser retirados dos açudes - conta.

O Rio São Bento, no limite com Espumoso, está com um palmo de altura em alguns pontos. O Rio Espraiado, que abastece Soledade, também apresenta nível baixo. A situação se repete em outros lugares. Falta água, sobra esperança. Que o diga Eliane Gonsiorkiwicz, 55, de Barra do São João, no interior de Santo Ângelo, nas Missões.

- Vendia pepino e ovos antes da seca. Morreram 40 galinhas minhas de calor - lamenta, sem deixar de acreditar em dias melhores.

Prejuízo

A venda dos ovos e dos pepinos para conserva representava uma renda de R$ 500 para ela e o marido, Cesario Lucas Soleucki, 45. Perderam o dinheiro, que já era pouco, e o açude, onde os animais bebiam água, secou na propriedade de 12 hectares.

- Se não fosse meu outro emprego, estaríamos passando fome - reconhece o marido, mostrando o local onde era para haver moranguinhos vermelhos. O casal não tem seguro, nem auxílio. E ainda há outra preocupação. Os dois compraram um tratorito por empréstimo.

Até quando terão dinheiro, não sabem. A estiagem matou tudo o que havia na terras deles.

 ANDRÉ MALINOSKI

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