quarta-feira, 31 de dezembro de 2014


31/12/2014 e 01/01/2015 | N° 18029
MARTHA MEDEIROS

Para iniciar bem o ano

Selecionei algumas frases de pessoas célebres e outras nem tanto, a fim de montar um mosaico que nos faça relaxar e refletir sobre essa aventura insana que é viver. Levantar de manhã já pode ser considerado um esporte radical, então está aí um kit de sobrevivência para nos socorrer quando estivermos ligeiramente em pânico e levando tudo a sério demais.

– Se quiser fazer Deus rir, faça planos. (aforismo iídiche)

– É preciso ter altos e baixos. De outra forma, você não saberia a diferença. Seria tudo uniforme, linha reta, como olhar para um monitor de batimentos cardíacos. E, quando rola aquela linha reta, baby, você está morto. (Keith Richards)

– Segurança não é ausência de perigo; segurança é o gerenciamento do medo. (Wendy Reid Crisp). – Sossega, porque nada há que esperar, e por isso nada que desesperar também. (Fernando Pessoa)

– Felicidade se acha é em horinhas de descuido. (Guimarães Rosa)  – As coisas boas vêm com o tempo. As melhores, de repente. (Denise Lessa)

– Tudo é saudável, menos interrogar-se constantemente sobre o sentido dos nossos atos. (E.M. Cioran) – Desconfio/dessa coisa/de pessoas do bem/e pessoas do mal/acho que só existem/as sensíveis/e as sem sal. (Josué Orsolin)

– Ninguém vale pela sua ascendência, pelo lugar onde nasceu nem pela tradição a que pertence, mas cada um vale pelo que conseguirá fazer da sua vida. (Contardo Calligaris)

– É melhor buscar a verdade do que a glória. Que humilhação ter a aprovação dos outros como objetivo. (E.M. Cioran)

– Aquele que não dispõe de dois terços do dia para si é um escravo. (Nietzsche)

– Eu gostaria de fazer um grande filme, desde que isso não atrapalhe minha reserva para o jantar. (Woody Allen) – O objetivo da psicanálise não é curar as pessoas, mas mostrar que não há nada de errado com elas. (Adam Philips)

– O custo de uma coisa é a quantidade de vida que se tem que dar em troca. (H.D. Thoreau) – Se você for sempre o guia, só vai chegar aonde já conhece. (Maria Rezende) – Um passo à frente e já não se está no mesmo lugar. (Sandra Flanzer)

– As pessoas se dirigem a Deus para obter o impossível. Para o possível, os homens bastam. (Pedro Maciel)

– Nunca vou entrar no céu. Minha esperança é um telão do lado de fora. (Dirceu Ferreira)


– Hoje é um bom dia para continuar insistindo. (Caio Fernando Abreu) - Desejo a todos um ano que valha o esforço de viver. (Nélida Piñon)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014


30 de dezembro de 2014 | N° 18028
FABRÍCIO CARPINEJAR

Fora do tempo

Não deixo o tempo perdoar em meu lugar. Não darei a ele os créditos de minhas dores.

Assumo minhas falhas e eu mesmo peço desculpa. Minha soberba é menor do que a minha inteligência, e posso garantir que é bem menor do que o meu coração. Ainda que seja um coração tolo, crédulo, facilmente influenciável.

Não tenho nenhum problema em perder uma briga, mas tenho todos os medos na hora de perder um amor.

Não permito ao tempo resolver o que não resolvi, ajeitar o que não ajeitei, concluir o que abandonei, sugerir o que silenciei, falar por mim.

Não assinarei uma procuração no cartório para que ele defina minha situação.

A franqueza tem que ser paga à vista. O tempo apenas acumula juros e distorções do nosso valor.

Não são os dias, os meses, os anos afastado daquele que amamos que nos trarão clareza. Até porque a saudade torna todos os dias iguais, não faz nenhum sentido aguardar o que já se sabe.

Há o hábito de sumir e desaparecer quando os dilemas aparecem na vida amorosa. Eu me comprometo até o fim. Se não tem saída, aproveito para ficar junto.

Sou adepto de permanecer na tempestade a dois – nenhum dilúvio é para sempre. Sou possessivo com as minhas lembranças, arrumo a bagunça que armei, explico minhas crises, não transfiro ao tempo o que é de minha responsabilidade.

Não considero justo o tempo dizer que eu estava certo ou errado. Isso é confortável, e não existe tranquilidade que substitua a sinceridade. Melhor errar assinando a página do que acertar anonimamente.

O tempo organiza, mas não define.

O tempo esfria, mas não cura.

O tempo estanca a hemorragia, mas não cicatriza.

O tempo elimina a carência, mas apaga o desejo.

O tempo acalma, mas não garante o entendimento.

O tempo adia as dúvidas, mas não consolida as certezas.

O tempo finge que avançamos, mas não saímos do lugar.

O tempo serve para diminuirmos a importância das ofensas, mas não resgata os elogios que não serão feitos.

O tempo é o senhor da razão, só que sempre escolho a fé, senhora da ação.

A fé cria seu próprio tempo. O tempo de amar é agora.


sábado, 27 de dezembro de 2014


Este ano está se despedindo
Tenho certeza que você
tem muito a agradecer
Pegue todas as derrotas
e transforme-as em pequenas batalhas
que no confronto com a vida
você deixou de vencer
mas que certamente
a guerra já está ganha
visto que chegou até aqui
e está apto a receber um novo ano
com seus desafios e incógnitas
e viva muito cada segundo
desta esplêndida jornada
que DEUS está a lhe proporcionar
Somos vencedores
conseguimos superar mais um ano.





FELLIZ ANO NOVO
AMAR É....

AMAR, É QUERER, GOSTAR.
É ESTAR SEMPRE DO LADO,
E DO LADO QUERER FICAR.
AMAR É SOFRER É CHORAR.
É SENTIR, É QUERER, É COBRAR.
AMAR É VIVER NAS NUVENS,
É SONHAR ACORDADO,
TODO TEMPO.
AMAR, É QUERER SER NOTADO.
É SABER SOBREPOR O SOFRIMENTO.
QUEM AMA TRILHA CAMINHOS
DIFERENTES.
É QUERER VER SEU AMOR SEMPRE
CONTENTE.
AMAR É DOAR-SE, SEM NADA PEDIR.
AMAR, É TÃO SUBLIME, QUE MUITOS
AMAM A QUEM POR ELES NADA SENTEM,
MAS ASSIM MESMO, TUDO FAZEM
PARA VÊ-LOS SORRIR.



28 de dezembro de 2014 | N° 18026
MARTHA MEDEIROS

Espero que 2015 não seja 100%

Que tudo que eu quero que aconteça não aconteça exatamente como imagino. Que eu consiga realizar meus projetos, mas que depare com pequenas dificuldades para continuar duvidando de mim mesma. Que me surjam ideias novas para abastecer minhas colunas, e também muitos dias de branco na cabeça para eu saber que meu cérebro nem sempre obedece aos meus comandos. Que meu trabalho atinja uma eficiência de 70% e me reste 30% de desacertos para não perder a humildade.

Uma amiga me desejou uma paixão que me tire o tino, me faça cambalear pela sala, que me deixe maluca, abobalhada, sonhadora, acreditando em fadas e duendes. Francamente, isso se deseja aos inimigos. Troco essa epifania por um amor que atinja a meta de 80%, o que já é uma megassena. Que seja vibrante, sim, mas que nos mantenha com os pés no chão, conscientes de que o paraíso emocional não existe, mas pode-se chegar bem perto e será o bastante.

Que haja uma porcentagem mínima de ciúme e desacordos, para que a segurança não seja total e se queira continuar junto dia após dia, a fim de alcançar o inalcançável. Que sobre 20% de solidão, aquela solidão necessária mesmo quando estamos apaixonados, aquela solidão que fortifica a alma e que serve também, entre outras coisas, para valorizar nossos vínculos.

Que minhas amigas estejam por perto, mas não 100%, porque gosto de ter novidades para contar quando nos encontramos. Que minhas filhas estejam por perto, mas não 100%, não porque eu não queira, mas porque eu espero que elas não queiram, ou não seriam garotas antenadas e saudáveis – que jovem adulto não sonha em aventurar-se em seus próprios caminhos? Que minha família de origem – pais, irmão, cunhada, sobrinhos – esteja por perto, mas não 100%, para que continuemos a viver em harmonia (mas vou continuar falando contigo todos os dias, mãe, prometo).

Saúde de atleta? Também não. Em relação à saúde corporal, fecho negócio em 95% pra mim e 5% para o oponente, a serem distribuídos entre espirros (pra lembrar que o corpo se queixa), febrículas (pela transgressão de cair de cama no meio da tarde) e dor de cabeça na manhã seguinte a alguma farra. E deu. 5% de vulnerabilidade são suficientes para me manter alerta, fazer exercícios constantes e abandonar o vinho depois do segundo cálice. Ou do terceiro.

Quanto à saúde mental, fico com 50% sem achar que é pouco. Nem pensar em 100% de certezas, teorias, eloquências. Nem pensar – mesmo. Menos pensar e mais agir, mais impulsos, mais riscos. Estou topando dividir minha sensatez com especulações, atrevimentos e algumas fantasias ordinárias.


A vida não é impecável, por que eu seria? Em 2015, não almejo o absoluto, o total, o 100% concluído. Que sobre espaço a preencher para me manter em movimento. Feliz ano novo e incompleto pra você também.

28 de dezembro de 2014 | N° 18026
FABRÍCIO CARPINEJAR

O sofrimento não é exclusividade de ninguém

Acabamos nos envergonhando por pensar que os outros não têm problemas.

Esquecemos que a vida é generosa para todos os lados nas dívidas e nas dúvidas.

Ninguém escapa do conflito, do trabalho e das adversidades.

O sofrimento tem o cacoete de fingir exclusividade, mas ele também mora com o nosso vizinho, com o nosso colega de trabalho, com a vendedora do armazém da esquina, com o governador eleito.

Desde que me separei, eu fugia do ourives das alianças.

Eu havia pedido que desenhasse o par de joias imitando o encaixe do rolamento de um navio: pinos de um se encaixando nos furos do outro.

Os amigos me aconselharam a encomendar naquela loja pois ele, além de um grande artista, dava sorte para o casamento: seus clientes raramente se divorciavam.

Não queria que ele descobrisse que não ajudei seu aproveitamento, que puxei suas estatísticas para baixo, que não me tornei um case de seu sucesso.

Buscava me livrar do encontro à queima-roupa e da única pergunta que nos unia:

– Como vai o lindo casal?

Meu medo é que ele, ao apertar minha mão, notasse a ausência da aliança.

Eu me encabulava por não corresponder a suas expectativas, como se ele fosse um padrinho oculto, um cupido adulto, um fiador do amor.

Tinha duas missões em Porto Alegre: não frequentar os mesmos lugares da ex e do criador das alianças.

O que me facilitava era que ele contava com dois metros de altura, um farol de alcance imediato na multidão.

Via o artesão num restaurante do shopping Praia de Belas e dobrava em direção ao toalete.

Via o artesão num bar da Cidade Baixa e me camuflava na pista de dança.

Via o artesão caminhando na 24 de Outubro e atravessava a rua.

Acho que ele reparou que desaparecia em todos os lugares. Homem não é discreto quando tem medo.

Eu escolhia sempre um atalho para evitar cumprimentá-lo. Ele se transformou num SPC matrimonial, num credor imaginário.

Até que, sentado no café Dometila, na Praça Maurício Cardoso, de costas para a calçada, sinto um braço fechar meus olhos e uma voz brincar:

– Adivinha quem é?

Enrubesci. A voz com sotaque alemão era inconfundível. Menti que desconhecia com a esperança de decifrar rapidamente a equação do túnel do tempo e do buraco da minhoca.

– Sou eu – ele riu. Daí, me encarando sem perdão, lançou a questão:

– Me conta, como vai o casal? Baixei a cabeça e assumi: – Desculpe, nos separamos.

Ele acusou o golpe, puxou a cadeira e sentou perto de mim:

– Eu entendo, também me separei. Que tal trocar o café por algo mais forte?


– Garçom?

Que possamos estar mais pertinho no ano que vem...


Feliz 2015 - Adeus 2014...


Feliz Ano Novo - Está logo ali...

OI MEU ANJO AMIGO:

Gratidão

A vida é uma história
que sempre surpreende.
É o próximo capítulo com
outras emoções,outras atitudes...

Desgastar-se sem saber o
há de vir é fracassar
na esperança...

O bom mesmo é deixar
que se aflorem os melhores
desejos e pensamentos...
É deixar o amor conduzir
com suavidade a mão das
incertezas que assustam...

É serenar o coração com a doçura,
com o privilégio que é a dádiva
de Viver,de poder respirar um
agradecimento a cada alvorecer...

(Cida Luz)

Com Carinho,
“Feliz 2015!!” 

Lindo Final de semana - Último de 2014

27 de dezembro de 2014 | N° 18025
NÍLSON SOUZA

SELFIE NA MANJEDOURA

Scliar diria que este é um daqueles nomes que condicionam destinos. O homem chama-se Merison Pinheiro e pintou um quadro de Natal sintonizado com os tempos atuais. No desenho, exposto num supermercado de Ponta Grossa, no Paraná, vê-se a família sagrada do cristianismo num momento impensável para os tempos pretéritos em que a história teria ocorrido. José empunha um celular, abraça Maria e registra a cena familiar, com o menino Jesus ao fundo em seu berço rústico, forrado com capim seco.

A selfie na manjedoura foi criada pelo artista com nome de árvore, que queria apenas dar um toque de humor à cena clássica – o que conseguiu com leveza e bom gosto. Mas o quadro que atrai olhares e arranca sorrisos também permite uma constatação filosófica: nunca mais teremos mitos construídos por narrativas orais ou escritas dissociadas da imagem.

Antes que os religiosos mais radicais se manifestem, vou lembrando que mito não significa mentira nem verdade. É apenas uma história baseada na tradição ou nas lendas, que tenta explicar fenômenos naturais ou fatos de difícil comprovação. Isso, evidentemente, antes da tecnologia de captura de imagens. Tomé, o apóstolo cético, jamais teria duvidado se um de seus companheiros tivesse fotografado ou filmado a primeira aparição de Cristo ressuscitado.

Imagens impressionam. Os grandes mitos da História só alcançaram as massas depois que os pintores da Idade Média e do Renascimento começaram a documentá-los. Mas as reproduções nem sempre retratam a verdade. Dom Pedro II, contam os historiadores, casou-se com Teresa Cristina por procuração, conhecendo apenas um retrato retocado da princesa italiana – que em nada conferia com a realidade da futura imperatriz brasileira.

A tecnologia digital permite manipulações ainda mais convincentes. Rugas são eliminadas, pessoas que não estavam na cena aparecem misteriosamente no retrato, indesejáveis podem ser apagados e até seres de outras épocas podem ser ressuscitados em imagens coloridas.


Depois do Photoshop, é mais sensato acreditar num mito do que numa fotografia.
WALCYR CARRASCO
23/12/2014 09h00
 
Dezembro perigoso

O que você prometeu a si mesmo? Emagrecer? Eu consegui, mas sou um caso raro

Noite dessas, um amigo me ligou. Estava confuso, irritado, nervoso: – Amanhã vou pedir demissão.

Quis saber por quê. Ele me contou que está há anos no emprego, é o braço direito do chefe e, mesmo assim, não teve nenhuma promoção nem aumento nos últimos anos. – É hora de sair.

Argumentei. Há uma regra imbatível no que se refere a trabalho. Melhor procurar novo emprego já tendo um do que sem nada. O desempregado entra no mercado com muitos pontos a menos. Depois de um tempo sem achar nada, bate um desespero, ele acaba aceitando algo pior do que já tinha. É uma regra de ouro: se estiver insatisfeito com seu emprego, não peça demissão. Procure outro escondido. E bem escondido. Pega muito mal se seu chefe descobrir que você está em fuga.

Durante a conversa, tive uma luz que o convenceu a mudar de atitude.

– É a síndrome de dezembro – eu disse. Dezembro é o mês em que a gente faz uma avaliação do ano, da vida.

Pois é. Parece ser um mês alegre. Há festas, carinhas sorridentes de Papai Noel. Na virada do ano, um clima de euforia, todos queremos estourar um champanhe na praia, brindar a uma nova vida. Vem a esperança: com a virada do ano, uma nova etapa da vida. Só que não é assim. A vida é contínua, formada por elos de escolhas e acontecimentos que se encadeiam. A gente grita:

– Agora será um ano realmente novo!

E tomamos decisões arriscadas. Casamentos se desfazem porque, de repente, o homem não consegue explicar à namorada que tem de passar o Réveillon com a mulher. E como explicar, se ele já convenceu a outra que seu casamento é uma farsa, que não faz mais sexo com a oficial há anos, que está pronto para separar? A namorada quer uma prova de amor. Prova das boas é passar o Réveillon juntos. O sujeito se contorce. Escolhe. Nem sempre toma a decisão que tomaria a longo prazo.

Pior. No trabalho, qualquer resolução de dezembro ficará adiada até depois do Carnaval. Alguém acha emprego entre Ano-Novo e Carnaval? Este país, lamentavelmente, para. Ficamos em estado de suspensão.

Isso torna dezembro duplamente perigoso. É fácil decidir e desistir. Mas a retomada, a reconstrução... fica para depois! (A não ser que sua proposta seja montar uma oficina de fantasias carnavalescas e, mesmo assim, multidões trabalham nisso há meses!)

Não sou pessimista, mas nunca me assusto quando ouço dizer que em datas festivas há mais suicídios. Dezembro é justamente onde a gente descobre que as decisões do Ano-Novo passado rolaram ladeira abaixo. O que você prometeu a si mesmo? Emagrecer? (Vitória, eu consegui. Mas sou um caso raro. A barriga de meus amigos continua cada vez maior.)

Prometeu que encontraria um novo amor e, agora, descobriu que ele fugiu com sua melhor amiga? Prometeu comprar casa própria e não sabe como pagar as parcelas intermediárias durante a construção? Enfim, é agora que você avalia as promessas feitas com a melhor das intenções no fim de ano passado. E descobre que foram palavras escritas na areia, a maioria das vezes.

Vem uma frustração que nem te conto. Dói fundo. Não há nada a fazer a respeito, porque decisões férreas de Ano-Novo são o resultado das avaliações de dezembro. Mas é preciso conviver com a realidade. Não há muito dinheiro para os presentes, a viagem não vai rolar. Conheço um casal que ia todo ano para Punta del Leste. Neste ano, até tem amigos dispostos a oferecer hospedagem, mas não há dinheiro para as passagens. Sofrem.

Não quero dizer que o ano tenha sido ruim para todo mundo, por favor! Mesmo que você tenha uma vida radiosa, feliz, em dezembro corre o risco de olhar a parte pior da história. A gente é assim: o que acontece de bom, anotamos em preto e branco; de ruim, gritamos aos olhos e ao mundo como se fosse escrito em neon.

Em dezembro, lembro o que não consegui. E o projeto de estudar hebraico bíblico? (Sempre tive vontade.) O livro ainda vive embaixo do travesseiro? A vontade de ver mais os amigos? Intensificar as relações? Meu blog, eu não ia fazer um blog?


O duro é que não adianta tomar nenhuma iniciativa agora. Vem Natal, depois Réveillon. Por melhor que seja o novo plano de vida, a gente adia. Até regime. Quem começa regime no Natal? Fica a sensação de frustração, do que a gente queria fazer e não fez. E que não pode começar imediatamente. Dezembro é perigoso. É o mês em que a gente festeja, enquanto chora pela vida.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014


24/12/2014 e 25/12/2014 | N° 18023
MARTHA MEDEIROS

Handle with care

Certamente você já leu a frase que acompanha o aviso “Fragile” em embalagens que chegam do Exterior. Duas mãos espalmadas circundam uma caixinha e a etiqueta diz: Handle with care. Manuseie com cuidado.

Uma querida amiga que mora na Suécia me mandou um e-mail nesta semana dizendo que muitas pessoas deveriam ter esse adesivo grudado no próprio corpo. Eu diria que não apenas muitas: todas. Afinal, nada mais frágil do que um ser humano.

Costumamos tratar com delicadeza as crianças, por seu tamanho e inocência, e os idosos, por sua vulnerabilidade física e por respeito, mas quando se trata da vastíssima parcela da população que se situa entre esses dois extremos, passamos por cima feito um trator desgovernado. A ideia geral é: adultos sabem se defender.

Alguns sabem, outros menos. Todos nós recebemos vários trancos da vida e acabamos desenvolvendo alguma resiliência e capacidade de nos regenerar, mas isso não quer dizer que não há dentro de nós algo que possa quebrar de forma irreversível.

E quebra mesmo. Espatifa de forma a impedir a colagem dos cacos. Handle with care.

Há por aí campanhas pregando mais gentileza e mais educação, e assino embaixo, naturalmente. Mas elas têm um caráter superficial, induzem apenas a gestos e atitudes corteses, como esperar alguém sair do elevador antes de a gente entrar, dar bom-dia a quem cruza por nós, desejar feliz Natal e boas festas. Isso é tratar bem, não tratar com cuidado.

Tratar com cuidado significa colocar-se no lugar do outro e dimensionar o quanto uma estupidez pode machucar. Significa levar em consideração as dificuldades de alguém a fim de não exigir demais de seus sentimentos e posicionamentos. Significa compreender que a comunicação é fundamental para o entendimento e a paz e que atitudes bruscas podem ser mal interpretadas. Significa honrar o laço construído e não colocar na intimidade a desculpa para agredir – agressões não podem virar hábito da casa.

O que cada pessoa leva dentro? Sonhos que podem parecer bobagem para os outros, mas que são sagrados para ela. Traumas que ainda não foram superados e que doem a cada vez que são lembrados. Vergonhas inconfessas. Feridas que custaram a cicatrizar e que basta um cutucãozinho para reabrirem. Desejos que não merecem ser ridicularizados. Necessidade de ser amado e aceito. Uma parte da infância que nunca se perdeu.

As pessoas gritam e rugem umas para as outras, quando não fazem pior: ignoram umas às outras, como se todos fossem feitos de pedra, como se todos estivessem protegidos por plásticos-bolha, como se a blindagem fosse geral: é só mirar e atirar que não dá nada.


Dá sim. Pode não parecer, mas todo ser humano é um cristal.
Miro Saldanha - Covardia

João Chagas Leite-Lágrimas de flor

Cristiano Quevedo - Guri De Campo


João Chagas Leite - Conto de Fadas


Miro Saldanha-Nem eu sei

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

BOM DIA



O MUNDO É SEU

Não se perturbe.
diante do fracasso de ontem,
mire-se na certeza de hoje.
Diante da solidão de agora,
a solidariedade de sempre.

Diante da falta disso ou daquilo,
o esforço de mais um tanto no trabalho.
Diante das injustiças do mundo,
a serenidade de quem sabe que é inocente.

Diante da pobreza dos bens materiais,
a riqueza dos bens imortais da alma.
Diante dos problemas de saúde,
a serenidade para mudar hábitos.

Diante do relacionamento fracassado,
humildade e amor para perdoar.
Diante do talento desperdiçado
oportunidade de recomeçar

UMA OTIMA SEMANA.

BEIJOKAS 

Linda segunda-feira pra você








sábado, 20 de dezembro de 2014


21 de dezembro de 2014 | N° 18020
MARTHA MEDEIROS

Maria Adelaide

Já escrevi sobre o mendigo que encontrei em Lisboa, aquele que trata sua mendicância como um show de humor e aceita esmolas online, e hoje vou falar de Maria Adelaide, que conheci em Cascais.

Eram 15h e eu ainda não havia almoçado. Escolhi um restaurante simples, com mesinhas num calçadão. O lugar estava vazio, mas logo vi que se aproximava uma senhora de idade que gesticulava muito e abordava a todos. Cansada, sentou-se ao meu lado. Dois palmos separavam uma mesa da outra. Eu havia ganhado companhia.

Só que ela não comeu nada. Pediu apenas um uísque e a minha atenção: contou que havia sido uma famosa corretora, que ganhara muito dinheiro e perdera tudo, que fora amante de um homem casado por 20 anos, que já havia disputado corridas de carro, que havia aprendido a tourear, que estivera na inauguração de Brasília, que fora abençoada pelo Papa João Paulo II, que havia sido amiga íntima da fadista Amália Rodrigues, e eu ali, encantada com aquele personagem pronto, saído de um livro que não havia sido escrito – ainda.

Nem em tudo acreditei. O que me impressionou foi sua vitalidade: ela não parava de falar. Quando não era comigo, era com os pedestres que passavam. Para todos, tinha uma palavra. Para o turista que vinha de bicicleta: “Salta, não pode andar com isso no calçadão, ó pá”.

Para o casal de namorados: “Não confiem um no outro!”. Para o DJ que estava na janela de um bar: “Só ligue o som depois que me for!”. Ao garotão com o jeans rasgado: “Isso lá é roupa, menino?”. Mas sempre com um sorriso gigante no rosto, orgulhosa da própria inconveniência. Depois de cada abordagem, batia na própria coxa e dizia: Ssou humana, sou humana”. Seu bordão. “Sou humana.”

O pessoal logo entendia que era um personagem folclórico, mas, quando o assédio era infantil, o clima pesava. A cada criança que surgia, ela dizia aos pais: “Me empresta seu filho um bocadinho”. Os pais sorriam amarelo e afastavam os miúdos de seus braços, enquanto ela me confidenciava: “Enlouqueço com crianças”. Nunca havia sido mãe.

Pedimos a conta, paguei o uísque dela e mais uma vez me veio à cabeça a expressão “couvert artístico”, a mesma com que batizei aquela cena do mendigo na rua. Foi quando ela levantou, abriu sua bolsa e colocou em cima da minha mesa diversas folhas xerocadas onde apareciam fotos dela em Brasília, fotos dela com o Papa, com Amália Rodrigues, bilhetes pessoais, recortes de jornal. Um dossiê.

Só então perguntou o que eu fazia. Respondi que era escritora. Ela me deu um beijo no rosto como quem diz: boa piada! E se foi. Dia seguinte, passei de bicicleta por ela em outra rua. Abordava os transeuntes, claro. Ao me ver, já começou: “Salta, salta!”. De repente, me reconheceu e apreensiva, perguntou: “Você não é escritora de verdade, é?”.


“Vai render apenas uma crônica, se você permitir”. Dada a permissão, continuei a pedalar até chegar aqui.

21 de dezembro de 2014 | N° 18020
FABRICIO CARPENEJAR

A invisibilidade da Limpeza

A solidão é como limpar a casa: ninguém percebe, por mais que tenhamos a vontade imperiosa de apresentar o que fizemos. Quando faxino a residência, sempre vou me decepcionar com a reação da esposa e dos filhos. Não entendo como ainda insisto, e eles não têm nenhuma obrigação de ficar me elogiando. Mas é que me esforcei desmesuradamente em colocar o lar em dia e gostaria de ser parabenizado, festejado, aplaudido.

Eu limpo os interruptores, passo um pano nos azulejos da cozinha, esfrego o teto, elimino manchas ancestrais das panelas,espano as estantes mais altas.Queria fazer uma exposição dos meus atos, uma visita guiada de museu pelo apartamento para meus familiares, mostrando, detalhe a detalhe do que realizei.

Imagino-me caminhando lentamente,com a comitiva atrás de mim, interessada por cada mudança sutil:– Aqui eu organizei as gavetas, aqui eu levantei a bancada para tirar o pó,aqui empurrei a geladeira e recolhi fragmentos de copos, aqui encerei com aquele produto novo, recomendo, é ótimo!, aqui esfreguei os vidros pelo lado de fora, acompanhe os cantos da veneziana...

Demonstraria o antes e o depois e reconstituiria toda a lavagem do ambiente.Como se fosse um corretor descortinando o apartamento pela primeira vez aos interessados. Concluo que é uma tola quimera de minha parte.Eles entram pela porta, apressados de seus mundos, e apenas lançam um olhar geral e pouco curioso. Comentam, de modo resumido: – Que lindo!

Deu! Acabou o reconhecimento com uma breve fungada pelo perfume composto de lustra-móveis, vanilla e detergente.

Eles cheiram mais do que olham.Limpar a casa é ser invisível, é um contentamento muito particular, como a nossa solidão.Só você mesmo que segurou a vassoura ou controlou o tubo do aspirador saberá o quanto foi difícil retirar aquela cabeleira do ralo, não terá com quem partilhar, é um segredo.

Só você mesmo que ficou de quatro esfregando o piso saberá o quanto o brilho é de lua cheia.Só você mesmo que usa a tática do jornal para transparecer a vidraça saberá oque significa a transparência.As pessoas somente notam quando a casa está bagunçada, jamais quando

está limpa. Assim como você somente repara na geladeira quando algo apodrece dentro, jamais quando está carregada com as frutas generosamente lavadas. A faxina é a aceitação do tempo que temos que guardar para nós.


É uma aula sobre amadurecimento. Transformamos a nossa personalidade não para agradar alguém, e sim porque sentimos vontade de melhorar. Mudanças silenciosas, porém necessárias. Nem tudo será reconhecido. Mesmo assim, faremos por conta própria, para a nossa satisfação. Há alegrias que são unicamente nossas. Não dependemos dos outros.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014


18 de dezembro de 2014 | N° 18017
EDITORIAL

UM GESTOPARA A HISTÓRIA

O reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba tem alcance mundial, mas deve ser complementado pelo resgate das liberdades na ilha.

O mundo esperou por décadas pelo gesto que mobilizou os governantes dos Estados Unidos e de Cuba na direção do apaziguamento. O resgate das relações entre os dois países significa muito mais do que o reatamento da convivência diplomática entre nações que se hostilizaram de forma agressiva durante 53 anos. O que a reaproximação representa é um avanço para toda a civilização e, espera-se, mais adiante, também para a democracia.

Ao romper o isolamento da ilha, mantido até agora sob os mais variados argumentos, a Casa Branca sinaliza com a possibilidade concreta de contribuir para que um país, ainda sob regime totalitário, desencadeie finalmente o processo que conduza à supremacia das liberdades.

É tarefa de todos os países democráticos, a partir de agora, contribuir para que o gesto tenha seus efeitos amplificados, com alcance que supere questões da diplomacia e do comércio. O primeiro impacto, além do simbolismo político, é certamente o econômico, se o Congresso americano eliminar um embargo que transformou Cuba num país com sérios problemas de intercâmbio com outras nações, além dos Estados Unidos.

São potencialmente favorecidas as relações entre governos, já que a atitude norte-americana irá inspirar outras ações semelhantes, por mais que o mundo ocidental continue questionando a centralização do poder na ilha e as deformações do regime castrista.

Todos os governantes que mantêm compromissos com os esforços para a extensão da democracia a países que ainda a desprezam devem se engajar ao processo deflagrado. Cuba representou, por décadas, especialmente durante a Guerra Fria, a imagem do país minúsculo que enfrentava o mais poderoso inimigo dos ideais do socialismo. Era uma simplificação, sustentada por posições ideológicas, que ignorava os desmandos de um regime autoritário. Mas também era condenável a exaltação, sem questionamentos, da manutenção de um bloqueio que apenas prolongou um conflito esvaziado pelo fim do comunismo.

A extinção do embargo será também a redução de ideias superadas e de preconceitos, de ambos os lados, que em nada contribuem para que o cenário mundial seja distensionado. Todos serão vitoriosos, se o governo cubano, num gesto complementar, iniciar a esperada abertura democrática. Se não se dispuser a isso, o reatamento histórico de ontem e suas consequências terão sido incompletos.



18 de dezembro de 2014 | N° 18017
EDITORIAL ZH

UM GESTO PARA A HISTÓRIA

O reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba tem alcance mundial, mas deve ser complementado pelo resgate das liberdades na ilha.

O mundo esperou por décadas pelo gesto que mobilizou os governantes dos Estados Unidos e de Cuba na direção do apaziguamento. O resgate das relações entre os dois países significa muito mais do que o reatamento da convivência diplomática entre nações que se hostilizaram de forma agressiva durante 53 anos. O que a reaproximação representa é um avanço para toda a civilização e, espera-se, mais adiante, também para a democracia.

Ao romper o isolamento da ilha, mantido até agora sob os mais variados argumentos, a Casa Branca sinaliza com a possibilidade concreta de contribuir para que um país, ainda sob regime totalitário, desencadeie finalmente o processo que conduza à supremacia das liberdades.

É tarefa de todos os países democráticos, a partir de agora, contribuir para que o gesto tenha seus efeitos amplificados, com alcance que supere questões da diplomacia e do comércio. O primeiro impacto, além do simbolismo político, é certamente o econômico, se o Congresso americano eliminar um embargo que transformou Cuba num país com sérios problemas de intercâmbio com outras nações, além dos Estados Unidos.

São potencialmente favorecidas as relações entre governos, já que a atitude norte-americana irá inspirar outras ações semelhantes, por mais que o mundo ocidental continue questionando a centralização do poder na ilha e as deformações do regime castrista.

Todos os governantes que mantêm compromissos com os esforços para a extensão da democracia a países que ainda a desprezam devem se engajar ao processo deflagrado. Cuba representou, por décadas, especialmente durante a Guerra Fria, a imagem do país minúsculo que enfrentava o mais poderoso inimigo dos ideais do socialismo. Era uma simplificação, sustentada por posições ideológicas, que ignorava os desmandos de um regime autoritário. Mas também era condenável a exaltação, sem questionamentos, da manutenção de um bloqueio que apenas prolongou um conflito esvaziado pelo fim do comunismo.


A extinção do embargo será também a redução de ideias superadas e de preconceitos, de ambos os lados, que em nada contribuem para que o cenário mundial seja distensionado. Todos serão vitoriosos, se o governo cubano, num gesto complementar, iniciar a esperada abertura democrática. Se não se dispuser a isso, o reatamento histórico de ontem e suas consequências terão sido incompletos.

18 de dezembro de 2014 | N° 18017
PAULO SANT’ANA

A mudança

Com esta coluna de hoje, vai faltar apenas um dia, sábado, para eu terminar para sempre de escrever afora os domingos.

De domingo que vem em diante, terei uma página inteira somente aos domingos. Outro ou outros escreverão neste espaço de segunda a sábado.

Falta uma coluna só, a de sábado. Depois, só aos domingos, com página inteira.

Como disse o Lupicínio numa guarânia que compôs (estranho, Lupicínio compôs inúmeras guarânias): “Estou contando os dias e o que eu esperava está se aproximando”.

Espero que os leitores sintam falta de mim de segunda a sábado (e derramem pelo menos uma lágrima).

Vai ser um baque na minha rotina, sempre escrevi todos os dias, com exceção dos últimos tempos, em que o Moisés ocupava o espaço duas vezes por semana.

Resta agora saber como me darei com esta página inteira no domingo. Tenho certeza de que me darei bem, terei tempo para escolher o melhor de mim escrevendo um dia só por semana.

Mas não deixarei de vir ao jornal, é um vício que se entranhou em mim.

Dei tudo de mim nesses 44 anos em que escrevi todos os dias em ZH.

Contei a minha história e muitas histórias.

Recebi dos leitores uma verdadeira consagração, pelo que me sinto agradecido a eles.

Devo ter errado muitas vezes. Mas inúmeras vezes acertei na mosca, chegando a orgasmos intelectuais dos quais me orgulho.

Espero sinceramente que a minha sucessão marque grandes escritos, que se assemelhem aos meus, que se igualem aos meus e que me superem.

A vida é assim, tudo tem seu fim. Mas ainda não é meu fim. Aos domingos, nesta página inteira que vão me destinar, terei muita coisa boa para render e continuar me realizando.

Estou otimista e me recobrarei dessa apocopação.

Para a frente! Ninguém vai nos bater nem superar.

Viram como recebi bem a mudança?


Quem não está pronto para mudar não está pronto para viver.

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