terça-feira, 31 de dezembro de 2024


31 de Dezembro de 2024
CARPINEJAR

Em 2025

Que você se lembre de procurar a lua no fim do dia, que volte a se sentir no interior, observando as estrelas no céu. Que você ame quando menos esperar, que seja feliz de repente.

Que você dirija cantando as suas músicas prediletas, não sofrendo tanto com os engarrafamentos. Que você possa estar em casa quando chover. Que você possa estar na rua quando houver sol e brisa.

Que você seja surpreendido pela fala de uma criança, renovando a sua delicadeza. Que você engome a sua roupa fantasiando o encontro. Que você namore num jantar segurando as mãos por cima da mesa e encostando os pés por baixo.

Que você dance como se não houvesse amanhã, que converse em botecos numa eterna saideira. Que você frequente os cinemas para recuperar o protagonismo de sua vida. Que você se esforce para reconhecer os seus colegas, sempre chamando-os pelo nome. Que você já demonstre capricho no café da manhã, no primeiro ato de se servir.

Que você nunca passe por um cachorro sem oferecer a ternura da sua infância. Que você durma consciente de dormir, que não desmaie no sofá ainda vestido. Que você abra espaço para plantas em sua residência, que não se veja longe do verde. As mudas melhoram o nosso silêncio e solitude.

Que você descubra algo novo todo mês, que não se restrinja a repetir o que já conhece. Que você seja premiado com dinheirinho perdido nos bolsos dos casacos. Que você reviste as peças antes de colocar na máquina de lavar.

Que você dê mais valor para as moedas e para os 15 minutos que sobram. Que você seja mais alegre torcendo para o seu time do que secando o rival. Que você elogie os amigos e incentive seus projetos de mudança.

Que você respeite a dor da perda e não apresse o luto de ninguém. Que você leia um pouco por vez, algumas páginas, para treinar a memória. Que você invista num esporte, para recobrar o prazer da disputa saudável.

Que você convide os pais para uma viagem, que não se reduza ao mundo do casal. Que você tenha confiança para não se rebaixar, e humildade para não deixar nenhuma pessoa invisível ao seu lado.

Que você esqueça o celular quando estiver frente a frente com os seus afetos. Que você consiga listar os lugares aonde deseja ir, os shows a que pretende assistir, começando a contagem regressiva de seus sonhos.

Que você tenha coragem de enfrentar as amizades quando elas se envolverem em relacionamentos tóxicos, e tenha empatia para socorrê-las sem jogar na cara que tinha razão e avisou antes.

Que você não se constranja ao entrar no elevador ou na sala de espera do médico. Que você saiba diferenciar a teimosia burra da insistência inteligente. Que você se apresente aos seus vizinhos.

Que você não desmarque compromissos com a família em cima da hora, causando frustração e descrédito. Que você faça o bem para depois olhar para quem foi. Que você acredite em si e desconfie das críticas.

Que você seja contente do seu jeito, sem preconceito, usando a gamela para o churrasco ou para as frutas. Que você não seja influenciável a ponto de duvidar de si, nem uma parede a ponto de não escutar ninguém.

Que você jamais subestime seus problemas pensando que não precisa de terapia. Que você aprenda a respirar quando irritado, a se acalmar quando provocado, a se retirar quando o outro não fizer por merecer a sua companhia.

Que você perdoe as suas versões anteriores e agradeça quem se tornou. Que 2025 não traga nada para você, que você mesmo busque. 

CARPINEJAR


31 de Dezembro de 2024
MÁRIO CORSO

Ano novíssimo

Caro leitor, acabas de ganhar, especialmente personalizado para ti, um ano novo em folha. Ele brilha, não tem nenhum arranhão, nenhuma poeira, nem marca de dedos. Está à tua disposição a partir de agora, sem nenhum custo adicional. Dica: não use com moderação.

Repetindo, não use com moderação, pega com as duas mãos e morde com força. Afinal, o fornecimento é limitado, eles não aceitam trocas, tampouco admitem recurso e o que não usares vai fora.

Especialmente, não deixe para depois. Se és desses que só vai abrir a caixa depois do Carnaval, olha que poderá já estar mofado. Saiba que é um artigo muito bom, excelente, mas precisa ser cultivado, arejado, tratado com carinho.

Recém acabou um ano, lembre de quantas vezes já trocaste de ano te perguntando o que fizeste com esse tempo passado. Isso não pode se repetir. O ano de 2025 não é para ficares guardado no armário esperando a hora certa para usar. A hora certa é agora. Promessas e decisões que esperam a segunda-feira nunca dão certo. O que dá certo é a que começas neste momento.

Leia atentamente o manual de instruções do Ano-Novo. Sim, eu sei, é parecido com o dos outros anos. Eles não têm feito atualizações, ou alterações de funcionalidades no produto, desde o reinado de Tutancâmon, mas ninguém o lê com calma. Todas as regras onde dizia que se fizeres X vai dar m*, segue dando m*. E o avesso, se não fizeres Y vai dar m*, seguirá dando m*. Não te faz de tonto. Não me venha com: eu não sabia? Foi só uma vez? Não era minha intenção?

Aceito que as condições não são das melhores para viver um ano novo pleno, mas pensa bem, quando foi diferente? Às vezes, por sorte, tropeçamos em tempos amenos, menos ácidos, mas eles são a exceção, não a regra. Vai te acostumando, não espere o sol, quase sempre a vida é abaixo de mau tempo.

Se existe algo intelectualmente pouco razoável é a esperança. Apesar disso, ela é o combustível da nossa substância. Ela é a palavra que encontramos para o que em nós não desiste. Ela é a simbolização da força da vida. Ela é a própria insistência de querer seguir vivo. Em 2025 escute a esperança, mas não fazendo planos, simplesmente faça, ou te prepare, para o que queres realizar. _

MÁRIO CORSO

31 de Dezembro de 2024
OPINIÃO RBS

O Brasil na virada

Considerados os aspectos marcantes da retrospectiva de 2024 em nosso país - a crise climática representada por cheias, incêndios e estiagens, as dificuldades do governo federal para cortar gastos e controlar a inflação, o indiciamento criminal de políticos e autoridades envolvidos num plano golpista e a crescente animosidade entre os poderes da República -, é perfeitamente compreensível a descrença de muitos brasileiros em relação ao futuro imediato do país. Mas esse desencanto não pode ser encarado como sentença definitiva, até mesmo porque cada virada no calendário representa uma nova oportunidade para a correção de erros pretéritos e para a formulação de planos mais realistas e factíveis.

O aumento do pessimismo não é apenas uma hipótese. É uma realidade mensurável. Pesquisa recente encomendada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) nas cinco regiões do país demonstra que menos da metade dos entrevistados (49%) acredita que o Brasil vai melhorar em 2025. Foram consultadas 2 mil pessoas, entre os dias 5 e 9 deste mês de dezembro. O resultado contrasta com igual levantamento feito em dezembro de 2023, quando 59% dos brasileiros ouvidos confiavam na melhora do país neste ano que está se despedindo.

Num âmbito mais abrangente, essa frustração já tinha ficado evidente nas últimas eleições municipais, com o fracasso inquestionável do partido do governo e o avanço de siglas e candidatos mais identificados com a oposição. A desilusão está diretamente relacionada às dificuldades do governo Lula para implementar o equilíbrio das contas públicas - num cenário em que a arrecadação cresce, mas os gastos públicos são cada vez mais elevados e parecem incontroláveis. 

Em paralelo, percebe-se uma preocupante degradação das relações institucionais entre os poderes da República, evidenciada pela batalha em torno das emendas parlamentares, que inclui chantagem de parcela do Legislativo sobre o Executivo, uso político de verbas orçamentárias e interferência demasiada do Judiciário.

Quando as autoridades dão mau exemplo, os demais substratos da sociedade se sentem no direito de transgredir. Nesse contexto, fica mais difícil implementar a cultura da integridade de que o país tanto necessita para desconstruir o jeitinho matreiro de contornar regras e abolir a desculpa de que é certo fazer o errado porque todo mundo faz. Ainda assim, como já ocorreu em outras nações, sempre é possível aperfeiçoar condutas individuais e coletivas por meio de instrumentos democráticos reconhecidos como a educação, o regramento e as necessárias sanções sociais para infratores.

A virada de ano impõe esta reflexão. O Brasil pode, sim, superar mazelas históricas e iniciar sua travessia para um futuro mais justo e próspero, desde que comece logo a combater a corrupção em todas as camadas da sociedade, dos governantes aos governados. Como se faz isso? Com prevenção, vigilância, correção, monitoramento permanente e exercício pleno da cidadania, o que inclui exemplo, conscientização política, vigilância e escolha criteriosa de representantes. 



31 de Dezembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

Reta final realça pressões sobre Galípolo

Os mais recentes indicadores econômicos, divulgados na reta final do ano, reforçam o tom de pressão que deve dominar o início do mandato de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central (BC). Assumindo a cadeira da presidência oficialmente a partir desta quarta-feira, Galípolo enfrenta de cara emprego ainda aquecido, câmbio desvalorizado, economia fechando o ano acima do esperado e mercado estressado. Mesmo que contratações em alta e atividade aquecida passem a impressão geral de boas notícias, a união desses fatores pressiona os preços e embaraça a caçada pela meta de inflação por parte do BC.

Divulgado ontem, o último Relatório Focus do ano confirmou a aposta em atividade acima das projeções e juro e inflação persistentes ao longo do próximo ano, mesmo que com um asterisco (veja mais abaixo).

Na última sexta-feira, o IBGE apontou taxa de desemprego recuando para 6,1% - menor índice de desocupação registrado desde o início da série histórica, em 2012. No mesmo dia, dados do Novo Caged, que pega apenas postos com carteira assinada, informaram que o país chegou, em novembro, ao maior estoque de empregos da história: 47,74 milhões vínculos ativos.

Desafios

O avanço do emprego convive com dólar acumulando salto de 27% no ano e economia flertando com alta de 3,5% em 2024. Mercado de trabalho e atividade aquecidos aumentam o potencial de compra das famílias, o que respinga em mais demanda e crescimento da inflação. Tudo isso em ambiente fiscal tenso.

- O grande desafio é trazer essa inflação para dentro da meta, depois continuar reduzindo e equilibrar o tripé, que conta com controle inflacionário, mercado de trabalho e atividade econômica. Então, o principal desafio vai ser esse. Além disso, tem a questão política - avalia o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Como lembrado por Agostini, além dos pontos técnicos, Galípolo vai precisar transitar de maneira mais harmoniosa entre mercado e governo. Seu antecessor não teve muito sucesso nessa missão. _

Ainda na segunda, Galípolo tratou sobre o termo de posse em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O BC ainda não confirmou algum evento oficial na quarta-feira.

Como confiar nas projeções econômicas para 2025 ?

Um dos principais instrumentos de planejamento no país, o Relatório Focus, chamado informalmente de "consenso de mercado", errou quase tudo em 2024. As primeiras projeções do ano apontavam para PIB de 1,52%, dólar a R$ 5 e taxa básica de juro de um dígito.

Conforme o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, entre o primeiro e o último dia útil de 2024, houve grande recálculo de rota por aumento de gastos com transferência de renda - como os repasses via Benefício de Prestação Continuada (BPC) - e outras áreas. Em tese, isso acelera a economia e facilita o repasse de preços. Em consequência, o BC precisa elevar o juro - ou deixar a taxa básica alta por mais tempo.

A Selic, por outro lado, começa 2025 com viés de alta. A projeção em janeiro era de que o juro básico desceria até 9% em 2024. Nem perto de um dígito, a taxa encerra o ano em 12,25%. Para 2025, o mercado estima taxa em 14,75%.

Segundo Costa, parte da apreciação da moeda norte- americana é consequência da eleição de Donald Trump. No início do ano, o favoritismo estava com os democratas, o que contribuía com o cálculo de cotação mais próxima de R$ 5. A vitória do republicano, com pauta mais protecionista, tende a fortalecer o dólar ante todas as demais moedas.

O menor dos erros veio do IPCA. Mas ainda que a previsão dominante do primeiro Focus de 2024 já indicasse inflação acima da meta, a 3,9%, não previa estouro do teto, de 4,5%. O último Focus de 2024, apresentado nesta segunda-feira, aponta IPCA em 4,90% no ano. Em 2025, 4,96%.

(Interino)

Ano termina bem diferente do projetado por parte do mercado em janeiro

02/01/2024 30/12/2024

Inflação (IPCA) 3,90% 4,90%

PIB 1,52% 3,49%

Câmbio R$ 5 R$ 6,05

Selic 9% 12,25%*

*Dado da última reunião do Copom

Fonte: Banco Central

Dólar fecha em queda após flerte com alta

O dólar chegou a flertar com valores acima dos R$ 6,20 nesta segunda-feira, mas fechou o último pregão do ano cotado a R$ 6,179.

O leve recuo, de 0,22%, ocorreu após o BC realizar novo leilão de dólares à vista ao longo da tarde para frear a guinada.

O desafio do novo presidente do BC e do governo federal será enorme para trazer o câmbio novamente para a casa dos R$ 5 no próximo ano, conforme prevê o mercado. _

R$ 266,8 mi

era o total negociado dentro do Desenrola Pequenos Negócios no Rio Grande do Sul, segundo dado mais recente, de novembro, informado pelo Ministério do Empreendedorismo.

O programa beneficiou 4,2 mil empresas no Estado. Esses números tendem a aumentar com o fechamento do ano.

O programa prevê financiamento diretamente pelo sistema financeiro, com descontos que variam de 20% a 95%.

Oficialmente, o prazo para a realização das transações dentro do programa é até 31 de dezembro de 2024.

Busca por retomada na reta final do ano

Ramos ligados ao turismo no Estado tentam aproveitar esta época do ano para ensaiar recuperação.

Dados do mercado de trabalho reforçam esse movimento.

Com a abertura de 814 vagas com carteira assinada no penúltimo mês do ano, o setor de alojamento e alimentação acumula a criação de 3.458 postos de julho a novembro, período que marca a retomada pós-inundação, segundo números do Novo Caged.

Um dos mais afetados pela enchente, o segmento ainda não superou os 4.495 postos destruídos em maio e junho, no auge da tragédia, mas tenta.

Com o Aeroporto Salgado Filho funcionando a pleno e o aumento da circulação e do consumo das famílias nessa época, negócios como hotéis, bares e restaurantes buscam mitigar parte das perdas.

O setor ainda caminha para fechar o ano no vermelho nas contratações, mas se distanciando, cada vez mais, de uma queda mais brusca. _

GPS DA ECONOMIA

31 de Dezembro de 2024
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Melo ainda está com equipe incompleta

Em mais uma rodada de anúncio de secretários, na tarde dessa segunda-feira, o prefeito Sebastião Melo ainda deixou em aberto duas das secretarias mais importantes do governo: Saúde e Fazenda. A primeira, hoje ocupada por Fernando Ritter, é disputada por diferentes partidos aliados, o que explica o atraso. Já para a Fazenda não existe uma explicação lógica, dado que o titular será um técnico. A única certeza é de que Rodrigo Fantinel não vai continuar.

A principal novidade entre os anúncios do dia foi a indicação da vereadora Mônica Leal (PP) para a Secretaria de Transparência e Controle. Na eleição de outubro, Mônica ficou na primeira suplência.

Outro suplente acomodado no governo é Cassiá Carpes (Cidadania), que será secretário de Administração e Patrimônio. A transferência para o PL não garantiu a permanência de André Barbosa, que contava com a indicação do partido.

Melo decidiu manter Liliana Cardoso na Cultura, Adão de Castro Júnior na Mobilidade e Alexandre Aragon na Segurança. Confirmou, também, o que a coluna havia informado em relação à Procempa, que continuará sendo comandada por Letícia Batistela.

O procurador concursado Jhonny Prado, que atuou como chefe de gabinete do prefeito no período eleitoral, assumirá a Procuradoria-Geral do Município (PGM). _

aliás

Os últimos nomes do secretariado de Melo, que já tem 21 titulares confirmados e uma interina, deverão ser anunciados nesta terça-feira, véspera da posse. Ao longo do mês de janeiro serão preenchidos os cargos de segundo e terceiro escalões, de forma a contemplar os 11 partidos e os vereadores da base do governo. Cada vereador terá direito a indicar, no mínimo, 10 afilhados para cargos em comissão.

MIRANTE

A patrulha falou mais alto do que a qualidade técnica: a veterinária Lisandra Ferreira Dornelles caiu antes de assumir. O PL retirou o apoio à indicada pela vice Betina Worm para cuidar dos animais. Interinamente, a própria Betina ficará no Gabinete da Causa Animal.

Lisandra Dornelles foi desconvidada porque em suas redes sociais foram encontradas publicações de cunho esquerdista, como em defesa do empoderamento feminino e no voto em Lula. Outro "pecado": foi casada com o vereador Alex Fraga, do PSOL.

Marido de Leite vai morar no RS e clinicar em Porto Alegre

De maleta, jaleco e estetoscópio, o médico Thalis Bolzan, marido do governador Eduardo Leite, está de mudança para Porto Alegre.

Ele tinha dois empregos em São Paulo, um como gerente médico de uma indústria farmacêutica e outro na Central de Regulação do Estado. Pediu demissão do segundo, que era presencial, e seguirá se dividindo entre o trabalho remoto e o consultório.

- Vou defender meu mestrado no início de 2025 e conseguirei iniciar os atendimentos em Porto Alegre já em fevereiro - contou Thalis à coluna.

Pediatra, ele vem há alguns anos se dedicando a estudar sobre obesidade e suas complicações associadas, além de distúrbios metabólicos e emagrecimento saudável. Já fazia esse trabalho com crianças e adolescentes e agora também atenderá adultos. _

Fantinel e a certeza do dever cumprido

A despeito dos bons resultados obtidos em sua gestão, o secretário da Fazenda de Porto Alegre, Rodrigo Fantinel, foi informado de que não continuará no cargo.

Em carta aos funcionários, Fantinel disse que sai com a certeza do dever cumprido. Na despedida, o agora ex-secretário afirmou que encerrava seu ciclo de quatro anos com superávits e recorde de investimentos em 2022 e 2023.

"A Fazenda não existe mais para arrecadar, hoje ela existe para ajudar Porto Alegre a se desenvolver", escreveu. 

Prefeita de Pelotas assume no Piratini

A atual prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), não terá férias depois de transmitir o cargo a Fernando Marroni (PT). Paula foi nomeada para o gabinete do governador Eduardo Leite, na função provisória de secretária-executiva de Relações Institucionais. Mais tarde, irá para o secretariado de Leite.

Funcionária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Paula está sendo cedida para o governo do Estado e receberá uma gratificação de confiança correspondente ao valor da FG Superior 13 (R$ 12 mil). _

Sete ex-ministros da Justiça divulgaram manifesto em defesa do decreto do presidente Lula que regulamenta lei de 2014, sobre uso de armas pelos agentes de segurança pública. Governadores do Sul e Sudeste repudiam o decreto.

POLÍTICA E PODER

31 de Dezembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

A agenda mundial que se inicia

Ao olhar para 2024, a agenda geopolítica foi intensa. Internacionalmente, houve mudanças históricas nos poderes, manifestações em diversos países, ascensões e quedas de líderes e novos conflitos.

Olhando para a América do Sul, pode-se destacar as eleições na Venezuela, por exemplo, em que até hoje não foram apresentadas as atas da vitória do ditador Nicolás Maduro. Na Bolívia, uma tentativa de golpe de Estado e de derrubar o presidente Luis Arce. No Uruguai, o pupilo do ex-presidente Pepe Mujica, Yamandú Orsi, foi eleito presidente.

Na América Central, Claudia Sheinbaum foi eleita a primeira mulher na presidência do México. E nos Estados Unidos, já na América do Norte, a eleição do republicano Donald Trump para o seu segundo mandato à frente da maior potência do mundo.

Na Europa, observou-se avanço de partidos de direita. Na França, instabilidade política durante todo o ano. No Reino Unido, um trabalhista assumiu o posto de primeiro-ministro.

Ainda no velho continente, persiste a guerra entre Ucrânia e Rússia.

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e os grupos terroristas Hezbollah e Hamas. Também ocorreu, recentemente, um conflito na Síria, que resultou na queda do ditador Bashar al-Assad.

Internacionalmente, acordos multilaterais foram firmados entre países.

O que olhar daqui para frente

Muito do que ocorreu em 2024 seguirá na pauta de 2025.

Haverá eleições presidenciais no Chile e na Bolívia. Novos primeiros-ministros surgirão no Canadá e na Alemanha. Na Argentina, a eleição de meio de ano definirá postos na Assembleia e no Senado. Posses nos Estados Unidos e no Uruguai. O primeiro, conta com relações com todo o planeta, e o segundo com vínculos históricos com o governo brasileiro.

Também haverá desdobramentos do importante acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia (UE), firmado ainda em 2024 depois de anos de tratativas entre os países.

No caso do Brasil, por exemplo, o país vai liderar pela segunda vez a presidência rotativa do Brics, grupo de países emergentes. Belém, capital do Pará, será sede da COP30 e irá debater importantes assuntos sobre mudanças climáticas.

Além destas, outras agendas se formarão. A coluna reuniu abaixo 10 pautas que merecem atenção a partir do ano que se inicia. _

Principais pautas da geopolítica de 2025

Donald Trump assume, pela segunda vez, a presidência dos EUA. Entre as medidas que prometeu implementar, estão deportação de imigrantes ilegais, aumento do protecionismo, taxação de produtos chineses, saída do Acordo de Paris, entre outras.

Em outubro, terá eleições no Canadá. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, mira a sua quarta disputa. Hoje, o país vive uma crise política e econômica.

De 1º de janeiro a 31 de dezembro, o Brasil exercerá a presidência rotativa do Brics. A última vez que o país presidiu o grupo foi há seis anos.

Belém (PA) será a sede da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, prevista para novembro. São esperados mais de 40 mil visitantes.

Em fevereiro, a Alemanha definirá o próximo chefe de governo. A disputa será, basicamente, entre o bloco conservador de centro-direita e o atual chanceler Olaf Scholz, que tenta reeleição. A candidata da ultradireta Alice Weidel, por exemplo, defende sair da UE.

Em agosto, a Bolívia vai às urnas para decidir o próximo presidente. Evo Morales ratificou sua candidatura, porém a Justiça proibiu que um presidente cumpra mais de dois mandatos. No mesmo partido, está Luis Arce que tentará a reeleição.

Em novembro será a vez do Chile escolher seu novo presidente. Os principais nomes: Antonio Kast, do Partido Republicano, e Evelyn Matthei, da União Democrática Independente. Gabriel Boric não disputará, pois no Chile não existe reeleição imediata.

O foco da Argentina para 2025 é com as chamadas eleições de meio de ano, que irão eleger os próximos integrantes do Congresso. Atualmente, Javier Milei não conta com a maioria do parlamento e seu grande desafio será fortalecer o número de aliados, tanto no Senado quanto na Câmara.

Yamandú Orsi toma posse como presidente do Uruguai em março. Ele substituirá o atual líder Luis Alberto Lacalle Pou. Orsi é apoiado pelo ex-presidente Pepe Mujica e promete ações sociais e econômicas.

Em 2024, o Mercosul e a União Europeia (UE) chegaram à conclusão de um acordo comercial. Porém, a entrada em vigor depende de etapas formais. Diante da burocracia, o processo não deve finalizar antes da metade de 2025.

INFORME ESPECIAL

sábado, 28 de dezembro de 2024


Martha Medeiros
22/11/2024 - 09h00min

Aceito com serenidade as derrotas mínimas, a fim de me poupar para as derrotas máximas. Minha disposição para o bate-boca é zero. Quem dirige um carro, busca um espaço destinado aos carros, mas há quem subverta a norma.

Eu precisava estacionar em um quarteirão onde raramente havia vaga disponível, então saí de casa com antecedência: imaginei que teria que dar voltas e voltas até conseguir encaixar meu carro entre outros dois. Porém, contrariando minha expectativa, logo encontrei um espaço perfeito para meu veículo, só que havia uma senhora em pé, plantada bem ali, sobre o asfalto, no espaço da vaga, olhando ansiosa para os lados. 

Dei uma buzinadinha sutil para avisá-la que ocuparia a vaga e que ela deveria subir até a calçada. Ela não me deu bola. Dei ré até me aproximar dela, abri o vidro: vou estacionar, a senhora poderia dar licença? Ela respondeu: estou guardando o lugar para meu marido, ele logo vai chegar.

A mulher estava em pé, no meio da rua, entre dois carros estacionados, guardando a vaga, impedindo que qualquer outro carro – no caso, o meu – se apropriasse daqueles cinco metros que seu marido viria a ocupar quando chegasse. Ela parecia um cone.

Absurdo, eu sei, mas minha disposição para o bate-boca é zero. Dei mais umas voltas no quarteirão e depois de 10 minutos encontrei outra vaga. Esqueci da mulher e do seu papel impróprio de bloqueador humano. 

Até que escutei de um amigo uma história similar. Ao entrar no estacionamento de um shopping lotado, em meio às voltas que se dá no subterrâneo, ele visualizou uma vaga livre, com um homem ali em pé, parado. Meu amigo fez sinal de luz. O cara não se mexeu. Meu amigo abriu o vidro e pediu licença. 

O cara se fez de surdo. Até que a situação ficou insustentável e o homem “estacionado” disse que não sairia dali até que o carro do seu filho chegasse. Estava guardando o lugar. Não há nenhum cartaz nos postes ou nas garagens públicas que diga que não se pode colocar um corpo humano guardando o lugar de uma vaga. 

É questão de bom senso, porém o bom senso anda desprestigiado. Quem dirige um carro, busca um espaço destinado aos carros, mas há quem subverta a norma: vence quem tiver a empáfia de se declarar dono do pedaço. 

É assunto de importância? Nenhuma. Importam as queimadas, as mudanças climáticas, as guerras estúpidas. Mas é no dia a dia que a gente enfrenta o mundo. Eu aceito com serenidade as derrotas mínimas, a fim de me poupar para as derrotas máximas. Mas meu amigo, aquele que tentava estacionar no shopping, não foi tão benevolente. Não desistiu. Brigou pela sua vaga. 

Minutos depois, o garoto aguardado pelo pai apareceu com seu veículo e, petulante, gritou para meu amigo: vaza!! Ele não vazou. Chamou os seguranças. E estacionou. Perdeu um tempinho, mas fez o que devia. É o super-herói de pessoas como eu, desabilitadas para as disputas prosaicas. Só ocupo vagas que não me obriguem a me exaltar.  



Martha Medeiros
29/11/2024 - 09h32min

Essa crônica é um tutorial sobre conversar

A graça está em dar seu recado com clareza e depois, elegantemente, passar a chance ao outro de mostrar seu talento

Essa crônica é um tutorial sobre conversar. Me inspirei nos garotos que, na praia, não costumam ficar deitados sobre uma canga, se bronzeando. Eles querem movimento, e quando enxergam uma bola, se reúnem com quem estiver em volta e montam ali mesmo um time de cinco ou seis contra ninguém: passam a bola um para o outro pelo prazer da troca. A bola é a metáfora perfeita para este assunto.

Talvez você conheça um homem que, mesmo sendo generoso e inteligente, não entendeu direito como funciona o mecanismo de dar uma, duas, três embaixadinhas com a palavra e passar a bola adiante. Ele retém a bola e dá 12, 20, 35 embaixadinhas, enquanto os parceiros aguardam de braços cruzados, e por vezes até desistem da brincadeira, se dispersando. A roda só se mantém quando todos têm o mesmo protagonismo, a troca precisa ser ágil.

Falo de conversas em grupo. Cinco pessoas, dois casais, três ímpares, um par, não importa. Ninguém pode reter a bola por muito tempo, ou o jantar desanda, a conversa entedia. 

A graça está em dar seu recado com clareza e depois, elegantemente, passar a chance ao outro de mostrar seu talento. Alguns segundos são suficientes, daqui a pouco a bola volta para você. Vai à praia hoje? Observe.

Tenho absoluto fascínio pelos garotos que batem bola em círculo à beira mar. São os mestres da diplomacia, adolescentes já manifestando o adulto que serão. Todos com domínio de suas habilidades, sem a compulsão de reterem a bola a ponto de desprestigiarem os parceiros. Todos têm a mesma oportunidade de mostrarem seus dotes, sendo que o principal deles nem é a destreza, e sim a arte de conviver.

Mas e se você for um Gabigol entre amadores, um Vini Junior entre pernas de pau? Maior será sua dignidade ao se igualizar e manter a bola por pouco tempo em seus pés. O encontro nunca serve para projetar um só, e sim para confirmar a disponibilidade do grupo em repartir os holofotes e permitir que a verdade sobressaia: somos todos iguais, mesmo aqueles que parecem mais iguais do que os outros.

Meninas são craques em bate-bolas com tempo repartido, observe-as em bares e cafés: elas sabem que têm muito a dizer, e todas mantêm-se interessadas umas nas outras. Duas, três embaixadinhas falando de si mesmas, e passam a bola. Às vezes com uma ligeireza que induz a achar que falam todas ao mesmo tempo – ainda assim, todas têm a sua vez.

Meninos, não retenham a bola com exagero, não se concentrem tanto em si mesmos e em suas histórias prolongadas, aprendam a repartir. A bola logo voltará a seus pés. Joguem-na para frente com paciência e desprendimento, assistam a habilidade de quem está jogando junto e permitam que a vida seja divertida para todos. 



28/12/2024 - 15h21min
Martha Medeiros

Meus votos para o seu 2025

Retire os obstáculos que te paralisam: preguiça, pudor, medo do fracasso, medo do sucesso, procrastinação, falta de autoconfiança

Que você mantenha a orquestra tocando, não importa o drama ao redor.

Que você tenha dezenas de novas primeiras vezes. Que saiba diferenciar um influencer de um nonsenser.

Que continue sabendo escrever à mão.

Que envelheça sem perder o borogodó.

Que receba outra chance (você ainda não estragou tudo).

Que saiba diferenciar o que é excessivo do que é essencial.

Que em vez de prestar tanta atenção nos milhares de seguidores, você responda com mais presteza a mensagem privada que alguém te enviou.

Que a maturidade te dê experiência no combate (entra ano, sai ano, e a vida continua difícil).

Que quando se sentir muito angustiado, perceba logo que a saída é mudar de ponto de vista.

Que você não ria do que não é engraçado. Não precisa ser simpático com idiotas.

Que você encontre o amor que mereça.

Que você saiba ser adorável com quem está conversando. Uma dica: faça perguntas.

Que você consuma coisas boas. Livros, comida, música, pessoas, postagens. Seja exigente.

Quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso

Quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso

Que descubra a solução para a maioria dos problemas de relacionamento: controlar o ego.

Que você se recuse a confrontos. Gaste sua energia dançando.

Que seja sempre franco, assim nunca terá medo de ser desmascarado.

Que você ria com seus amigos até quase explodir.

Que você retire os obstáculos que te paralisam: preguiça, pudor, medo do fracasso, medo do sucesso, procrastinação, falta de autoconfiança.

Que compreenda que felicidade não significa a mesma coisa para todos.

Que você busque mais conhecimento e menos crenças.

Que você aceite que agora você é assim, não importa como você era antes.

Que você não leve nenhum tombo. Quebrar a cara, acontecerá às vezes, mas quebrar uma perna, evite a qualquer custo.

Que não se preocupe tanto com o que não lhe diz respeito (mas política, diz).

Que não seja irritantemente bonzinho, boazinha. Ninguém vai para o céu. Ninguém.

Que você procure entender o mundo em que vive antes de julgar os que são diferentes de você. Se for imprescindível julgar, julgue pelo conjunto da obra, e não pelo que aconteceu hoje de manhã.

Que não caia naquele ditado enganoso, “quem vê cara, não vê coração”. O coração está na cara, sim: o olhar e o sorriso entregam tudo.

Que você encontre o que não estava procurando, e passe a considerar os acasos como bênçãos.

Que você não tenha vergonha de perguntar onde é o banheiro.

Que se deixou sua vida ser conduzida pelos outros, reassuma o volante.

Que você saiba contabilizar o que tem a perder e o que tem a ganhar diante de qualquer situação.

Que você siga seu faro.

Que sua solidão seja repleta de acontecimentos.

Que você mantenha a orquestra tocando, não importa o drama ao redor.

Que quando as coisas estiverem desmoronando, você lembre que é apenas uma fase.

Que você deseje, mas sem intransigência, sem fazer questão absoluta de nada. Deseje sem obsessão.

Que você não fique contra você em 2025. 


Dominique Wolton

Sociólogo e especialista em Ciências da Comunicação francês recebeu o título de Doctor Honoris Causa da PUCRS no início de dezembro. "Fazer mais rápido a mesma coisa não é um progresso humano"

Com 50 anos de produção acadêmica e 77 de vida, Dominique Wolton vê com preocupação movimentos recentes de flexibilização das formas de trabalho. Segundo ele, essa nova divisão gera uma falsa liberdade e implica perda de autonomia e iniciativa individual.

Isabella Sander

O senhor acompanha as mudanças tecnológicas e políticas e sua relação com a comunicação desde os anos 1970. Quais as principais transformações nesse período?

A evolução técnica favoreceu dois movimentos contraditórios. O primeiro é que cada um pode trabalhar sozinho, onde quiser, em qualquer lugar do mundo. É a individualização. O segundo é que existe uma economia de massa, onde tudo é padronizado e racionalizado. Essa é a principal contradição: podemos trabalhar em qualquer lugar do mundo, mas tudo é organizado e estruturado com muito menos liberdade do que antes. Menos liberdade porque tudo está integrado em redes e sistemas organizados.

De que forma esse movimento se manifesta mais?

É uma nova forma de divisão do trabalho. É como dizer: fique em casa, trabalhe em coworking, seja mais livre. Mas é liberdade dentro de um quadrado. E, como se pode fazer muitas coisas dentro desse quadrado, não percebemos que, na verdade, é uma prisão. Portanto, há um verdadeiro problema de empobrecimento da iniciativa individual. Perdemos em liberdade o que ganhamos em eficiência. Dizem que é maravilhoso, que é mais rápido. Sim, mas o ser humano perdeu.

Quais as especificidades no Brasil nessa transformação, na comparação com outros países?

Há apenas uma especificidade, que é haver menos indústria. Há muita agricultura. Mas a tendência é a mesma. Sempre que apresentamos a individualização do trabalho como algo que traz mais liberdade, não explicamos que essa individualização se faz dentro de um contexto de racionalização. Essa é a verdadeira tragédia do capitalismo. Tudo o que está acontecendo, chamado de racionalização do trabalho pela tecnologia, na verdade é uma perda de autonomia. Porque todos estão, digamos, separados pelo computador. Todos se acham mais livres, mas para ele todos são, na verdade, dependentes.

Com a internet e avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, o que mudou na comunicação?

Com os computadores e, hoje, com a internet, houve um progresso técnico. Significa que muito mais operações podem ser processadas em muito menos tempo. Em última análise, um trabalhador pode fazer mais coisas na mesma unidade de tempo. A falsa narrativa consiste em dizer que isso gera liberdade no trabalho. Não é porque alguém pode trabalhar a qualquer hora da noite que isso é um avanço humano. O ser humano tem necessidade de dormir, de ficar com os seus filhos, de sair. A questão mais complicada é: qual é o trabalho humano e qual é a felicidade no trabalho humano?

O que o senhor considera como progresso humano?

Fazer mais rápido a mesma coisa não é um progresso humano. Um progresso humano é quando as pessoas decidem o que querem fazer juntas, como vão dividir e organizar o trabalho. Se queremos o progresso no trabalho, é preciso trabalhar sobre a divisão do trabalho, sobre a organização do trabalho, sobre as condições do trabalho, sobre as propostas dos próprios trabalhadores, sobre as negociações entre as direções. Senão, será uma espécie de tirania silenciosa com trabalho 24 horas por dia.

Como essas mudanças afetam o jornalismo e a educação?

Os jornalistas são os primeiros afetados. Vai se dizer que não há necessidade de jornalistas, porque todo mundo tem todas as informações por conta própria. Então, cada um vai se tornar um jornalista, o que é estúpido. Aos professores se dirá que não vale a pena dar aulas o tempo todo, que basta fazer videoconferências. Cada um fica na sua casa e não teremos mais do que 10% do curso juntos. E todas as atividades serão assim. Nós iremos dessocializar os indivíduos e vamos remetê-los aos parques tecnológicos. E vamos chamar esses parques tecnológicos de socialização. É uma mentira.

? Mercosul e União Europeia anunciaram um acordo de livre comércio. De que forma isso pode incrementar a comunicação entre os blocos?

Mesmo que os mexicanos ou os brasileiros estejam muito felizes, isso não é tão bom para eles. E tampouco é bom para os europeus. Nós não teremos sucesso na agricultura mundial se ficarmos uns contra os outros. A solução é desenvolver uma agricultura que seja muito mais ecológica. E nesse aspecto, a Europa está evidentemente à frente. Como resultado, há um conflito entre a Europa e o Sul, e isso é um problema. É preciso renegociar, o que é terrível no mundo da comunicação.

Se a comunicação envolve compartilhar, negociar e conviver, como é possível se comunicar dentro de uma realidade de polarização e bolhas sociais? Se queremos uma boa comunicação e uma boa negociação, isso leva tempo. E o capitalismo detesta o tempo, ele quer velocidade para especulação. Essa é a batalha.

Como evitar que essa segmentação da sociedade aumente? Ou, se não for possível evitar, como lidar com ela?

Posso estar enganado, mas penso que segmentação é a questão mais grave, politicamente, do século 21. Com os recursos tecnológicos, com o modo de vida, tudo caminha para a singularização e a segmentação. E todo mundo acha que isso é formidável. Acho que a principal ameaça que temos nos países ricos - e que não há nos países pobres, porque nos países pobres há uma solidariedade familiar e agrícola - é a segmentação das sociedades, na qual todos adoecem nas suas interações. Li uma frase há 30 anos que repito o tempo todo, porque chama a atenção para a solidão das pessoas interativas: todo mundo está sozinho, mas existe a interatividade. Então, precisamos reconstruir totalmente o coletivo. A sociedade é a mistura de todo mundo e a invenção da política para se criar uma forma de coabitar.  


28 de Dezembro de 2024
EDITORIAL

Rigor para coibir a compra de votos

Merece atenção o aparente crescimento de casos de denúncias de compra de votos nas recentes eleições municipais do Estado. Reportagem de Humberto Trezzi e Gabriel Jacobsen publicada na sexta-feira em GZH e nesta edição de Zero Hora aponta um crescimento significativo de episódios investigados pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) e pela Polícia Federal (PF) no Rio Grande do Sul em relação ao pleito de 2020. No caso da PF, aumentou o número de inquéritos, de pessoas indiciadas, de operações e de prisões de suspeitos de captação ilícita de sufrágio com dinheiro ou outros favores.

Cabe às autoridades e instituições que apuram os casos conduzirem investigações rigorosas para responsabilizar quem de fato se utilizou de meios ilegais para obter votos. Punições pedagógicas são essenciais para ficarem como exemplo, inibindo a continuidade da prática nas próximas disputas. Também preocupa que, em alguns municípios, existam indícios da participação de quadrilhas e facções nas irregularidades.

No Estado, o MPE apura 411 casos, 25% a mais na comparação com a eleição municipal anterior. A PF já indiciou 76 pessoas, ante somente nove em 2020. No país, também desperta atenção a transferência de grandes quantidades de títulos eleitorais para determinadas cidades, pequenas e médias. Ao que parece, é uma cooptação exercida por candidatos que também distribuíram dinheiro e outras vantagens para ampliar a chance de se elegerem. É outro caso que necessita de acompanhamento rigoroso. Mais de 700 municípios viram o número de eleitores crescer ao menos 10% em relação a 2020. Em 80, o aumento é ainda mais suspeito, entre 20% e 46%. Há casos de cidades com mais eleitores do que habitantes.


28 de Dezembro de 2024
NOTICIAS

Recuperação de escolas atingidas pela enchente só será concluída em 2025

Porto Alegre

Oito instituições da rede municipal que foram afetadas pela tragédia de maio ainda estão em obras ou em etapa de instalação de novos equipamentos e mobília. Promessa da Secretaria Municipal de Educação é que a maioria das estruturas estará pronta para o início do ano letivo, em fevereiro

Ian Tâmbara

Quase oito meses após a enchente histórica no Rio Grande do Sul, oito escolas da rede municipal afetadas em Porto Alegre ainda estão sendo recuperadas e não ficarão 100% prontas até o fim do ano. No início de dezembro, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) chegou a prever que as unidades ficariam prontas até o final do mês.

Conforme a Smed, foram contratadas obras de reforma para as 14 escolas que foram alagadas em maio. Das oito que têm alguma pendência, três ainda não tiveram as reformas concluídas, enquanto as demais estão na fase de instalação de equipamentos e mobília.

A escola Vila Elizabeth, no bairro Sarandi, ainda está com obras em andamento. Atualmente, a parte elétrica é instalada. Depois, ainda faltará a reforma das salas de aula e a recuperação do pátio, que foi destruído.

A escola Migrantes, no bairro São João, também passa por reforma e recebe trabalhos na rede elétrica, enquanto a escola João Goulart, também no Sarandi, já teve as aulas retomadas, mas ainda não recebeu todos os reparos. Em paralelo às atividades letivas, seguem ocorrendo obras.

Essas instituições foram as últimas a serem acessadas após a enchente, pois ficam em áreas onde a água demorou mais a baixar.

Estágio avançado

A escola que está em estágio mais avançado dos trabalhos é a Liberato Salzano, no Sarandi. Toda a estrutura do primeiro piso foi reformada e falta apenas a instalação das novas lousas nas salas de aula.

O retorno da sede provisória para a escola começou na tarde de sexta-feira. Parte das aulas estava ocorrendo em uma paróquia do bairro. Materiais e itens em geral foram levados de volta ao longo do dia.

A Smed estima que as instituições que foram alagadas na enchente e que já foram reformadas estarão prontas para o início do ano letivo, em fevereiro de 2025. _

Estado anuncia repasse de R$ 180 milhões

Júlia Ozorio

Um repasse de R$ 180 milhões para escolas da rede estadual foi anunciado na sexta-feira pelo governador Eduardo Leite. O valor será distribuído entre 2.310 instituições de ensino e disponibilizado por meio do programa Agiliza Educação.

O montante já começou a ser pago e até o dia 30 deste mês deve estar disponível para todas as escolas.

O objetivo é permitir que as equipes diretivas consigam organizar o ano letivo de 2025, além de resolver pendências antes do começo das aulas.

Conforme a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), os valores disponibilizados são divididos entre as escolas a partir do número de matrículas de cada instituição de ensino.

Esse é o nosso compromisso com a educação: investir, simplificar e transformar - afirmou o governador, em uma publicação em rede social.

Os valores podem ser usados para despesas de custeio, como compra de materiais didáticos e produtos de limpeza, contratação de serviços de pintura e de reparos básicos em redes hidráulicas e elétricas, compra de materiais permanentes, como equipamentos para laboratórios de ciência ou de informática, compra de itens para cozinhas e aquisição de brinquedos para áreas infantis, entre outros.

Os diretores precisam apresentar um plano de aplicação dos recursos às Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) dentro de 180 dias.

Conforme o governo estadual, desde 2021 o Agiliza Educação já repassou R$ 322 milhões às escolas estaduais. _

Câmara diz seguir orientação do governo sobre emendas

A Câmara dos Deputados enviou, na noite de sexta-feira, novos esclarecimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a emendas parlamentares. Na segunda-feira, o ministro Flávio Dino suspendeu o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão e determinou investigação da Polícia Federal (PF).

A suspensão se deu a partir de um pedido do PSOL e sob alegação de que os critérios de transparência e rastreabilidade previstos em lei não estavam sendo cumpridos. Dino condicionou o desbloqueio à identificação dos parlamentares responsáveis pelas indicações.

Mais cedo na sexta-feira, a Advocacia da Câmara havia enviado um documento ao STF afirmando ter cumprido as determinações de Dino e solicitando o desbloqueio.

No entanto, Dino considerou a resposta insuficiente e deu prazo até as 20h para que a Casa respondesse "objetivamente" sobre as indicações.

Alegação

Na nova manifestação, de 16 páginas, a Câmara alegou que "limitou-se a cumprir as orientações técnicas dos ministérios da Fazenda, do Planejamento e Orçamento, da Gestão e Inovação, da Secretaria de Relações Institucionais e da Casa Civil da Presidência da República, bem como da Advocacia-Geral da União, sobre a forma pela qual deveriam ser encaminhadas as indicações". A alegação é de que uma portaria publicada do governo viabilizou que líderes partidários se apresentassem como autores de indicações de emendas - ou seja, sem que os verdadeiros proponentes fossem identificados.

Afirmou ainda que, até o dia 25 de novembro, ainda não havia lei promulgada que regulamentasse as emendas de comissão e que as regras estabelecidas valem apenas para 2025.

Os recursos que foram bloqueados por Dino estavam previstos para serem pagos até o fim do ano.

O impasse acentuou a tensão entre Judiciário e Congresso. Na quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada. Na conversa, segundo o jornal O Globo, Lira externou a insatisfação do Congresso com a situação, sobretudo em relação à determinação de investigação pela PF.

A crise também pode contaminar a votação do orçamento de 2025, que ficou para fevereiro. O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), relator do tema, disse que só colocará a matéria para votar quando as regras das emendas estiverem pacificadas e quando não houver "fogo cruzado" entre os poderes. 



28 de Dezembro de 2024
FINANÇAS PESSOAIS

5 aplicativos para ajudar a reorganizar as contas

Que tal começar o ano com dívidas, gastos e ganhos revistos e devidamente planejados? ZH compilou uma série de apps que podem ajudar na tarefa. Todos têm funcionalidades como sincronização de contas e cartões, relatórios e lembretes de pagamentos

Fernanda Polo

Desejos de mudança de vida e planejamentos costumam acompanhar a chegada de um novo ano. O momento pode ser uma boa oportunidade para repensar despesas, organizar gastos e quitar dívidas - e a tecnologia pode ser aliada nessa tarefa.

ZH lista, nesta página, cinco aplicativos para assumir o controle das finanças pessoais em 2025. A curadoria é de Wendy Haddad Carraro, educadora financeira e professora de Ciências Contábeis na UFRGS.

Os apps disponibilizam recursos como sincronização automática com contas e cartões, relatórios e lembretes de pagamentos, facilitando a compreensão da situação financeira.

- Um dos pontos-chave para dominar e cuidar das finanças é ter o controle. Sempre recomendamos que as pessoas façam, com planilha, com aplicativo ou até mesmo no papel, mas não adianta só anotar, tem de fazer análises. Os aplicativos nos ajudam a saber onde estamos gastando mais percentualmente em relação aos meses anteriores, o que dá também para fazer em planilha, embora nem todo mundo tenha essa habilidade - ressalta a educadora financeira.

Os programas estão disponíveis para Android e iOS e oferecem recursos básicos gratuitos - ferramentas extras podem exigir cobranças. A professora avalia que, em alguns casos, o investimento vale a pena, pois facilita na hora de realizar um controle mais minucioso - especialmente se a pessoa não consegue fazê- lo de forma mais disciplinada. A recomendação é explorar as opções disponíveis.

- É importante a pessoa incluir isso na sua rotina. O aplicativo não vai fazer sozinho, ele pode fazer importação de extratos e a integração entre os diferentes bancos, mas, se a pessoa não estiver ali, ativa, não vai adiantar nada - destaca Wendy. _ 



28 de Dezembro de 2024
EM FOCO

EM FOCO

Apurações no Ministério Público Eleitoral que podem levar à cassação de políticos eleitos em outubro cresceram 25% na comparação com o pleito de 2020. Denúncias incluem compra de votos por meio de Pix e até distribuição de gasolina

Investigações de corrupção eleitoral disparam no Estado

Gabriel Jacobsen

A compra de votos é prática recorrente no Rio Grande do Sul, a julgar pelo volume de relatos desse tipo protocolados na Justiça Eleitoral e investigações abertas pelo Ministério Público Eleitoral (MP) e Polícia Federal (PF). Moradores de diferentes cidades procuraram também o Grupo de Investigação da RBS (GDI), que reúne, nesta reportagem, mensagens de políticos prometendo dinheiro a eleitores e gravações com pessoas que dizem ter apoiado candidatos em troca de favores.

As promessas envolvem dinheiro, combustível para veículo, vagas hospitalares e até doação de animais para festas. Conforme a lei, os dois lados dessas negociações estão sujeitos a processos judiciais. Os suspeitos são investigados por captação ilícita de sufrágio (também chamado corrupção eleitoral), enquadrado no artigo 299 do Código Eleitoral, que prevê reclusão de até quatro anos e pagamento de multa a quem "dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita". Além disso, quem compra votos pode ser punido também com cassação e inelegibilidade por oito anos.

O número de investigações do Ministério Público Eleitoral que podem levar à cassação de eleitos cresceu 25% este ano, em relação ao pleito de 2020. Até o momento, são contabilizadas 411 ações para anular eleições de políticos ocorridas em 2024, movidas pela instituição ou por políticos adversários do suposto infrator.

Ainda que sejam maioria, nem todos os processos são por compra de votos - há também abuso de poder econômico e outras irregularidades.

Na Polícia Federal, aumentaram todos os indicadores: de inquéritos, indiciados, operações policiais e prisões, conforme números da Divisão de Repressão a Crimes Eleitorais.

Na Justiça

Cresceu também o número de ações de investigação judicial eleitoral - tipo de processo que pode levar à cassação do eleito e inelegibilidade dele por oito anos.

- Uma das grandes novidades em 2024 é que, havendo cassação do prefeito eleito, não há mais posse do segundo colocado. É preciso realizar nova eleição - ressalta o promotor Rodrigo López Zilio, coordenador do Gabinete de Assessoramento Eleitoral (Gael).

As estatísticas de processos judiciais fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) abrangem compra de votos, abuso de poder econômico e similares. Uma das hipóteses para o crescimento da demanda judicial é que 2020 foi ano de pandemia e escassa campanha eleitoral nas ruas.

O GDI apurou casos de compra de votos em várias regiões do Estado. Confira, na página ao lado, alguns desses relatos. Os nomes dos eleitores serão preservados. _

Investigações abertas pela Polícia Federal

2020 2024

Inquéritos 186 208

Indiciados 9 76

Prisões em flagrante 1 6

Prisões preventivas ou temporárias 0 9

Operações policiais 0 8

Investigações abertas pelo Ministério Público Eleitoral

2020 327

2024 411

Ações analisadas pela Justiça Eleitoral

2020 158

2024 167

Fontes: MPE, PF e TRE-RS

Confira alguns casos

Situações que estão sob apuração ocorreram em várias regiões

candidato seria financiado pelo contrabando

Dois dias antes das eleições deste ano, a Polícia Federal (PF) desencadeou a Operação Los Intocables, para investigar delitos de corrupção eleitoral e falsidade ideológica eleitoral (caixa 2) em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste. Policiais federais cumpriram três mandados de busca e apreensão na residência e no comitê de um candidato a vereador, além de um posto de combustíveis. Ele teria distribuído gasolina por meio de vales, às vésperas da votação de 6 de outubro.

A investigação teve início a partir de informações de que o candidato estaria realizando doações a moradores, em troca de votos. Há suspeita de que ele seja financiado por contrabandistas. A PF diz que identificou "a atuação ativa e permanente de indivíduos com vasto histórico criminal na campanha do candidato investigado, inclusive por meio de doações em dinheiro".

A PF acrescenta ainda que há indícios de que o custeio do combustível doado teria sido proveniente de uma contabilidade paralela de campanha, com provável origem em crimes. A investigação foi repassada ao Ministério Público Eleitoral, com o fim de avaliar possível abuso de poder econômico, o que poderá ocasionar a cassação do registro do candidato.

O vereador alvo da operação é Cleber Custódio (PDT), eleito em 2020 e que tentava a reeleição, mas não teve êxito. Ele é proprietário de uma marmoraria.

o que diz

A reportagem tentou contato com o vereador Cleber Custódio, mas não o localizou nos telefones que estão em seu nome.

Prefeito eleito é alvo de duas investigações

Em Arroio do Sal, no Litoral Norte, a suspeita de compra de votos recai sobre o prefeito eleito Luciano Pinto da Silva (Republicanos) e um primo e cabo eleitoral dele, o contabilista Marcus Vinícius de Souza Viana. Foram abertas duas investigações, uma pelo Ministério Público e outra pela Polícia Federal (PF).

A reportagem contatou eleitores que apresentam supostos comprovantes de Pix, no valor de R$ 100, que teriam sido repassados por Viana. Uma das que admitem ter vendido o voto é uma adolescente de 16 anos. Ela diz que soube que pagavam por eleitor e mandou mensagem ao próprio candidato. Luciano teria pedido a ela que falasse com Viana. - Não deu nem dois minutos e Marcus (Viana) me ligou. Perguntou quantos eleitores tinha na casa e depois pediu minha chave Pix - disse.

Outra eleitora, de 20 anos, também afirma que recebeu ligação de Viana, após mandar mensagem a ele avisando que votaria em quem lhe ajudasse. - Escrevi que não tinha em quem votar e que meu marido e eu iríamos votar em quem nos ajudasse. Aí ele me ligou, confirmou, pegou meu Pix e mandou R$ 100 - relata.

Outra eleitora disse ter mandado mensagem direto ao candidato a prefeito: "Tô indo ver com minha família. É 10. E vamos lutar para dar certo". O número que seria de Luciano, então, responde: "Já foi feito. 100".

O que dizEM

O advogado de Luciano, Vanir de Mattos, diz que não tem receio nenhum de que seu cliente seja condenado: - É um movimento político dos adversários do Luciano. Não há absolutamente nada que comprometa ele.

O advogado de Viana, Sérgio Teixeira, diz que a quebra de sigilo vai comprovar que não houve compra de votos: - Os alegados Pix são para pessoal que trabalhou na campanha ou prestadores de serviço. A nossa prova é muito mais robusta que a dos que acusam.

"EM TODAS AS ELEIÇÕES É ASSIM AQUI"

Em Caraá, também no Litoral Norte, mais de 20 pessoas declaram ter vendido apoio nas urnas para o vereador mais votado, Fabiano Santos (Republicanos). Os depoimentos constam em inquérito aberto pela Divisão de Repressão a Crimes Eleitorais da Polícia Federal (PF), que investiga suspeita de corrupção eleitoral. O político também é alvo de pedido de cassação por parte do Ministério Público.

Santos é servidor público municipal e trabalha com operação de máquinas. Conforme depoimentos de eleitores à PF, ele teria prometido ajuda por meio de máquinas pertencentes a um familiar (para consertar estradas) e saibro. Há ainda indícios de que ele teria pago por votos em transferências via Pix.

O GDI obteve cópias de diálogos por WhatsApp entre moradores de Caraá e o político. Em uma das conversas, uma eleitora se oferece para conseguir dois votos (dela e de uma amiga), desde que ele consiga ajuda.

Santos pergunta "Quanto?" e ela responde "300" para ela. O candidato baixa a oferta para R$ 300 pelos dois votos, e ela aceita. Depois exibe o Pix recebido em nome dele. A reportagem conversou com a eleitora, que confirma ter recebido o dinheiro do vereador. - Eu sou uma dos mais de 40 que foram prestar depoimento, confirmando que venderam voto. Em dinheiro e material para casa - admite.

Outra eleitora, dona de casa, diz que recebeu R$ 150 via Pix. Afirma que escutou comentários de que Santos estava pagando por voto. Uma amiga teria recebido e repassado a ela. - Pobre precisa de dinheiro, né. Aqui sempre deu compra de voto. Em todas as eleições é assim. Não tem risco de eu ser presa, né? Porque aí vai precisar de um ônibus para levar essa cambada de gente, pelo amor de Deus - justifica.

O que diz

Procurado pela reportagem, Fabiano Santos informou que foi aconselhado pelos advogados a não se manifestar ou comentar o processo.

Eleitor pediu R$ 350 por 10 votos

A Justiça Eleitoral investiga suspeitas de que o vice-prefeito eleito de Veranópolis, na Serra, João Guilherme Mazetto (PSD), comprou votos no fim de agosto, durante a segunda semana da campanha. A ação, movida pela chapa derrotada, se baseia em trocas de mensagens pelo WhatsApp nas quais o suposto negócio é acertado e em dois comprovantes de transferência Pix que estariam relacionados ao crime.

Os indícios anexados na ação de investigação apontam que, em um primeiro momento, um eleitor procurou Mazetto e pediu dinheiro em troca de votos, mas ele sugeriu que procurasse Moisés Pertile, então coordenador da campanha e presidente municipal do PSD. Conforme os diálogos, Pertile teria acertado com o eleitor a compra de sete votos pelo valor de R$ 200. "Boa noite, Moisa (Moisés Pertile). Tudo certo. Tava falando cm Mazetto. E ele mandou fala cntg cara tenho 7 voto garantido (...) Eu pedi pra ele me arruma 200 pila pra coloca gasolina. Cm eu preciso d ajuda de vcs e cm vcs precisam da minha família pra apoia vcs", escreve o eleitor, que nas mensagens seguintes já encaminha a sua chave Pix.

A resposta de Pertile, conforme diálogos de Whatsapp extraídos pela PF, sugere concordância com o negócio: "Olá. Sim. Farei o Pix."

A conversa seguiu e o eleitor indicou que precisava de R$ 350, sugerindo conseguir, em troca, 10 votos para a chapa de Mazetto. "Já mando os outros 150", acrescenta o número atribuído a Pertile.

O QUE DIZEM

A defesa de João Guilherme Mazetto e Moisés Pertile afirma que não houve compra de votos e que as duas transferências por Pix se referem a doações motivadas por "solidariedade". - Nós entendemos que isso tem mais a ver com solidariedade, piedade e comoção do que com uma má-fé. Não vejo (na conversa) o objetivo de comprar votos daquela pessoa (o eleitor). Sobretudo porque a questão eleitoral surge depois (no diálogo) - argumenta Rafael Morgental, advogado que representa os dois acusados.

Facção teria apoiado campanha

Em São Borja, na Fronteira Oeste, a Polícia Federal (PF) investiga suposta interferência de uma facção criminosa nas eleições municipais. A apuração, com o MP, identificou apoio material e financeiro de pessoas ligadas ao grupo criminoso a um candidato a vereador do município. Às vésperas das eleições de 6 de outubro, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, além do afastamento de sigilo de dados dos suspeitos.

O investigado é Celso Andrade Lopes (PDT), vereador que não conseguiu se reeleger, mas ficou como suplente. O MP move ação contra ele por abuso de poder econômico e captação ilícita de sufrágio (compra de voto). Dono de restaurante e hotel, o político teria feito distribuição de material de construção, de próteses dentárias, de dinheiro e de cestas básicas em troca de votos. Teria usado também cabos eleitorais não declarados.

A representação do Ministério Público fala explicitamente em vínculo com a organização criminosa de atuação dominante na Fronteira Oeste. A investigação aponta que a quadrilha teria captado votos em troca de cestas básicas e financiamento ilícito de gastos de campanha de Lopes.

O promotor Valmor Junior Cella Piazza, de São Borja, pede a cassação da diplomação de Lopes e sua inelegibilidade, além de multa.

O que diz

Procurado, Celso Lopes alegou: - Fico grato pela oportunidade de me defender, mas fui aconselhado pelos advogados a não me manifestar. Nem fomos citados no processo ainda, mas vamos nos defender. 

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