quarta-feira, 4 de setembro de 2024


04 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

Será o último capítulo?

Será o derradeiro capítulo de uma das maiores tragédias gaúchas? Onze anos depois, podemos finalmente ter justiça no caso da Boate Kiss, um incêndio em que 242 jovens, na maior parte universitários, morreram sufocados, sem chance de socorro, e 636 ficaram com sequelas devido à queima de espuma acústica por artefatos pirotécnicos lançados do palco.

Podemos finalmente ter paz. Paz e justiça é o que centenas de famílias, uma cidade inteira e o nosso Estado aguardavam ansiosamente.

Ninguém mais aguentava tanta impunidade. Uma omissão histórica vergonhosa, barulhenta e incômoda, cheia de reviravoltas e frustrações.

O Supremo Tribunal Federal (STF) não concordou com o Tribunal de Justiça (TJRS), que havia anulado o júri realizado em dezembro de 2021 sob a alegação de problemas técnicos - o julgamento mais longo da história do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul resultara na condenação dos quatro réus a penas de 18 a 22 anos de prisão.

O ministro Dias Toffoli reverteu, em despacho dessa segunda-feira, a nulidade do júri do caso da Boate Kiss, atendendo a recursos do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e do Ministério Público Federal (MPF). Também determinou o retorno à prisão dos quatro réus.

Entre os próximos e hipotéticos passos, pode ocorrer eventual necessidade do posicionamento de Dias Toffoli em plenário, para aval da turma do STF. Em seguida, o processo regressa para as tratativas finais do TJRS.

A notícia coincide com a demolição do prédio onde funcionava a casa noturna em Santa Maria. Será transformado em memorial em homenagem às vítimas, com o objetivo de preservar a memória e conscientizar a população sobre prevenção. O espaço contará com um jardim circular ao centro, rodeado por 242 pilares de madeira, com suportes de flores, eternizando o nome de cada vítima.

Era a última pedra a ser derrubada do ignominioso passado.

- É um alívio, mesmo sabendo que foram dois anos absolutamente desnecessários, que somente apertaram ainda mais a nossa dor. Se a gente não corresse atrás, não gritasse, não cobrasse, nada seria feito. Foi uma pequena grande vitória de uma batalha que vem consumindo nossas sanidades e velhices - diz Flávio Silva, da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

Aliás, pedras formam a simbologia da perda de Flávio. A filha Andrielle partiu quando ela comemorava 22 anos na Kiss, com as amigas. Foi um aniversário que se converteu em impactante velório.

A despedida de sua filha se desenrolou na véspera da tragédia, durante um almoço familiar no pátio de casa, numa pacata quinta-feira. Enquanto ele preparava e temperava os galetos, Andri cortava a grama e montava a churrasqueira. Ele se lembra da adolescente animada, colocando caprichosamente um tijolo sobre o outro. Parecia que ela construía o seu futuro, tinha recém sido aprovada no vestibular para Design Industrial. Com longos cabelos pretos caindo na testa, um piercing brilhando no lábio, ela ria. Flávio ainda chora com aquele riso. _

CARPINEJAR

04 de Setembro de 2024
MÁRIO CORSO

Reveses da demência

Existe um incremento de pedidos de tratamento psicológico por um motivo específico: como lidar com a demência dos pais. São filhos exaustos e confusos. Geralmente já peregrinaram por médicos, que pouco puderam fazer a respeito de seus pais. Quando há um remédio, é apenas para retardar o inevitável.

Essa condição é consequência de uma boa notícia: estamos vivendo mais. Porém, nem sempre corpo e cérebro andam no mesmo compasso. Enquanto houver equilíbrio é uma felicidade, os avós poderem acompanhar a vida de seus netos. O convívio entre gerações é história viva.

Para a maioria tudo termina bem, mas, para outros, chega uma conta pesada. Exige uma maturidade, que nem sempre temos, para assistir ao declínio físico dos nossos pais. Os gigantes que nos cuidaram, que nos erguiam nos braços, agora se seguram nos nossos. Mas é da vida, e é um prazer estarmos ali. Já, para o declínio cognitivo deles, é ainda mais difícil, não temos defesa.

O inimigo é desleal, impalpável, se esgueira pelos cantos das palavras. Parece que não entendemos bem o idoso, e deixamos por isso mesmo. Custamos a acreditar no lento desligamento deles. Apelamos ser estresse, um sentido vago que diz tudo e nada.

É comum que os declínios comecem por uma queixa repetida de estar sendo roubado. A reclamação é genérica, mas existe forte convicção que algo está lhe sendo subtraído, e que alguém seria o culpado. De certa forma, o idoso tem razão, a vida como ele conhece está indo embora. O tempo é um ladrão impiedoso.

Um dia chegamos em sua casa, para uma combinação, e o idoso está surpreso. Teima que não foi avisado. Tem certeza que ninguém lhe falou nada do assunto. Se nega a ver no telefone suas próprias mensagens sobre o evento.

Importante notar que, primeiro, ele não está mentindo; segundo, é bem provável que ele não esteja em condições de fazer uma reflexão sobre o acontecido. Por favor, não insista. Ele realmente não tem registro das conversas anteriores.

Aqui entra nossa maturidade. Saber lidar com alguém que não conserva memórias recentes. Sem meias palavras, é enlouquecedor, pois foge a tudo que é razoável. Enfrentamos a crueldade de assistir à perda de um ente querido em conta-gotas. _

MÁRIO CORSO

04 de Setembro de 2024
EDITORIAL

EDITORIAL

Perspectivas positivas

O bom momento da economia nacional é um alento para o Rio Grande do Sul em sua luta para se recuperar dos prejuízos causados pela enchente de quatro meses atrás. Como virou rotina no pós-pandemia, a atividade no país surpreendeu e, no segundo trimestre de 2024, voltou a crescer acima do esperado. Conforme o IBGE, de abril a junho, o PIB do país avançou 1,4% ante o intervalo de janeiro a março. A mediana das expectativas era de 0,9%. No acumulado do ano, a alta chega a 2,9%. A despeito de uma possível desaceleração no segundo semestre, os resultados deflagraram novas rodadas de revisão para cima das projeções do PIB para o fechamento de 2024. Agora, situam-se ao redor de 3%.

Seria bem mais penoso para o Estado se reerguer se a atividade econômica no restante do país cambaleasse. O RS é um dos mais importantes produtores de alimentos, e o desemprego baixo e a renda em elevação impulsionaram o crescimento de 1,3% no consumo das famílias no segundo trimestre. A indústria avançou 1,8% e sabe-se que o Estado é um dos principais polos fabris do Brasil. Outra boa notícia veio da formação bruta de capital fixo, que mostra o ritmo dos investimentos produtivos. Subiu 2,1%. O Estado é um relevante fabricante de bens de capital. Sinaliza demanda aquecida.

Outros indicadores regionais, no mesmo sentido, apontam para uma retomada, embora o Estado siga distante de um reerguimento pleno e o ritmo de recuperação seja diferente entre os setores. O próprio IBGE mostrou que, em junho, a indústria gaúcha cresceu 34,9% ante maio. No mês da enchente, o tombo foi de 26,2%. Conforme a Fiergs, a produção também subiu em julho e as perspectivas são mais positivas para o restante do ano. Também em julho, o RS abriu 6,7 mil empregos com carteira, após perder 30,5 mil entre maio e junho. O desempenho da Expointer, com um novo recorde de comercialização, de R$ 8,1 bilhões, é outra evidência da volta da confiança. Assim como a expectativa de uma safra de grãos de verão de 35 milhões de toneladas.

Ainda assim, há fatores condicionantes que atrasam a reabilitação econômica e limitam a possibilidade de o Estado tirar melhor proveito do cenário nacional. Entre eles, as dificuldades para as empresas afetadas acessarem crédito para retomar operações. A infraestrutura ainda longe de ser completamente recuperada também atrapalha o escoamento e o recebimento de insumos e bens finais. Negócios ligados ao setor de serviços, como o turismo, dependem da reabertura do aeroporto Salgado Filho.

O efeito colateral de uma economia mais aquecida pode ser a volta do aumento do juro básico. O PIB robusto fortalece a aposta de que o Banco Central possa elevar a Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, nos dias 17 e 18 deste mês. A taxa atual, de 10,5% ao ano, já é asfixiante. 

Elevá-la para esfriar a atividade e reverter expectativas de alta de preços pode ser prudente considerando-se a conjuntura nacional, mas não favoreceria o Estado no momento em que os gaúchos reúnem forças para se reerguer. Ajudaria se o governo federal indicasse maior convicção em racionalizar gastos para arrefecer as pressões inflacionárias que levam ao aperto monetário. 



04 de Setembro de 2024
DANO AMBIENTAL - Jhully CostaE 

DANO AMBIENTAL

Como a seca em diferentes regiões do país afeta o Estado. Fenômeno climático dificulta o controle das queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. Consequências têm sido observadas em cidades gaúchas e especialistas alertam para degradação da qualidade do ar. Fumaça é observada no RS desde agosto, e sua presença deve se intensificar hoje.

O período de seca que afeta diferentes Estados e dificulta o controle das queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal vem gerando impactos em áreas não atingidas diretamente por esses problemas. Um exemplo é a fumaça que tem sido vista no RS desde agosto. As situações podem ter reflexos futuros, ainda difíceis de prever.

Além do grave dano ambiental que as queimadas causam, o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), comenta que a situação também gera riscos à saúde, já que a qualidade do ar está "imensamente degradada em algumas regiões" - o que pode agravar condições respiratórias, conforme pneumologistas consultados por Zero Hora.

Assim como o RS, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Amazonas, Rondônia e Acre registraram a fumaça pelo menos uma vez ao longo de agosto. O fenômeno decorrente dos incêndios pelo Brasil e em países vizinhos, como Paraguai, Argentina e Bolívia, retornou ao território gaúcho ontem, e sua presença deve se intensificar hoje.

- A fumaça vai ser mais grave ou mais notável quando tivermos frentes frias sobre o Uruguai, Rio da Prata e Argentina, porque aí o vento de Norte e Noroeste vai carregar a fumaça da Amazônia e da Bolívia para o RS - diz Seluchi.

Conforme o meteorologista, a vantagem do RS é a alternância no tempo, o que não ocorre nos Estados que estão dentro da área mais seca do Brasil. Seluchi destaca que a situação da fumaça está estabilizada, com pouca previsão de mudança, uma vez que setembro deve ser um mês seco, e o que poderia apagar os focos de incêndio, melhorando a qualidade do ar, seria a chuva.

Os especialistas consideram improvável que haja outros impactos a curto prazo no Rio Grande do Sul. Na visão de Pedro Maria de Abreu Ferreira, professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, a probabilidade de focos de incêndio migrarem do Centro-Oeste para o território gaúcho é praticamente nula, devido a distância.

Outros riscos

Ferreira ressalta que a época de seca no norte do Brasil ocorre agora, durante o inverno - período que costuma ser bastante chuvoso no Sul. Já a estiagem, chega ao território gaúcho no decorrer da primavera e do verão, causando problemas como falta de água e quebra de safra, mas sem relação direta com incêndios.

Professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS, Valério Pillar acrescenta que o RS passou por um período chuvoso, então vegetação e solo ainda estão muito úmidos. Isso torna o cenário diferente do restante do país, onde uma seca histórica atinge mais da metade dos Estados.

Nas condições atuais, não há risco dessas queimadas se estenderem para cá - destaca.

Entretanto, não há como saber quais os possíveis efeitos futuros da manutenção dessas queimadas e da entrada de fumaça na atmosfera para o RS, pondera Ferreira. _


04 de Setembro de 2024
ELEIÇÕES MUNICIPAIS  Marcelo Gonzatto

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Aos 90, Eva é a candidata mais velha do RS em 2024

Nascida em 1934, pouco depois da conquista do voto feminino, ela concorre pela primeira vez. Filiada de longa data e ativa socialmente, tentará uma vaga na Câmara de Vereadores de Santiago

Quando Eva do Amaral Facim nasceu, em abril de 1934, as mulheres recém haviam conquistado o direito de votar no Brasil, graças a meio século de mobilização de movimentos sociais.

Passados 90 anos, a idosa é uma das quase 10 mil candidatas do gênero feminino em busca de um cargo público no Rio Grande do Sul nesta eleição - e a mais velha entre todos os concorrentes registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo Estado. Ela disputa, pela primeira vez, uma vaga na política, para vereadora em Santiago, na Região Central, pelo PDT.

No distante 20 de abril de 1934, quando Eva veio ao mundo, Getúlio Vargas vivia as últimas semanas de seu governo provisório, antes de ser reempossado em eleição indireta e dar seguimento à chamada Era Vargas.

Na Alemanha, Adolf Hitler se preparava para assumir o comando do país ao unir as funções de presidente e chanceler. A população gaúcha mal contava 3 milhões de pessoas, e a expectativa média de vida no país era inferior a 40 anos. Natural de São Francisco de Assis, logo aos 16 anos Eva começaria a trabalhar como professora ensinando não apenas crianças a ler e a escrever, mas também adultos analfabetos.

Lecionava na escola Vista Alegre. Sempre amei trabalhar. Dava carinho e conhecimento aos meus alunos pra que se tornassem pessoas maravilhosas. Hoje, tem professores da Universidade Federal de Santa Maria que fui eu que alfabetizei - vangloria-se a candidata nonagenária.

Eva se aposentou do magistério, mas não da missão de seguir ensinando - embora tenha trocado as letras pelos temperos:

- Agora sou professora de culinária. Fiz vários cursos. Minhas amigas vêm aqui em casa, faço muita compota e ensino a elas. Então, considero que continuo sendo professora.

Pecuária e árvores

A candidata concilia o trabalho como criadora de gado, em uma fazenda que ainda supervisiona pessoalmente, com outras paixões, como plantar árvores e ceder mudas a outras pessoas interessadas em deixar o planeta mais verde. O hábito remonta a uma antiga tradição familiar.

- Meu finado pai tinha um sistema: quando a minha mãe engravidava, ele escolhia uma muda. Quando o filho nascia, ele plantava. Eu fui uma muda de cedro, que é uma madeira dura, forte. Então, amo árvores, tenho um viveiro e faço mudas pra dar para as pessoas. Agora mesmo tenho 60 mudas de pessegueiro para os vizinhos - conta a professora aposentada.

No outro extremo do ranking etário, a Justiça Eleitoral contabiliza 21 candidatos de 18 anos na disputa pelo voto dos gaúchos nestas eleições. Essa é a idade mínima estipulada legalmente para tentar uma vaga como vereador. _

Ambição é apresentar projetos de proteção à população idosa

Eva conta que a decisão de entrar para a vida política na terceira idade, quando muitas pessoas estão mais interessadas em uma rotina sossegada, veio a partir de um convite do diretório municipal da sigla.

Dona Eva é filiada ao partido há muito tempo, participa das discussões municipais, já integrou comissões do Sindicato Rural de Santiago. É uma pessoa que pega no batente - avalia o advogado e companheiro de legenda Paulo Cesar Garcia Rosado.

Segundo ela, a candidatura também é uma forma de homenagear o marido, Ivo, já falecido, simpatizante do trabalhismo.

- Ele amava o partido, mas nunca chegou a se candidatar. Então, resolvi fazer isso também por respeito a ele - revela a produtora rural, que não teve filhos.

A idosa se desloca sem grandes dificuldades, fala de modo acelerado e, até pouco tempo atrás, ainda dirigia pelas estradas do município. Agora, prefere andar na carona.

Diz que vai fazer campanha apenas divulgando seu nome, sem bater de porta em porta, para receber os votos por merecimento e não por pedi-los.

Entre suas ambições, caso consiga se eleger, está elaborar projetos que aumentem a proteção aos idosos. Garante que não faltará disposição.

- Amo a vida, amo as pessoas, amo trabalhar. Não tenho empregada, eu mesma cozinho. Agora mesmo estou com uns 40 vidros de doce de laranja prontos - conta a candidata, que na sequência se despede:

- Agora preciso ir, estou com a caminhonete carregada de sal e de medicamentos para o gado. 


04 de Setembro de 2024
EM FOCO - Anderson Aires

EM FOCO

Desempenho brasileiro foi puxado por indústria e serviços. Pela ótica da demanda, destaques foram os consumos das famílias e do governo, além do aumento dos investimentos. A alta abre espaço para que a economia suba até 3% em 2024

PIB do segundo trimestre cresce 1,4%, acima das expectativas

Com desempenho que superou expectativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024 ante o acumulado dos três meses anteriores. O dado foi divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço foi puxado por altas nos serviços e na indústria. No lado da demanda, os destaques foram os consumos das famílias e do governo, além da reação dos investimentos.

Em valores correntes, o PIB, que representa a soma dos bens e serviços produzidos no país, totalizou R$ 2,9 trilhões no segundo trimestre. O mercado financeiro projetava alta de 0,9% a 1%. O resultado de 1,4% é o maior desde o quarto trimestre de 2020.

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirma que, "com o fim do protagonismo da agropecuária, a indústria se destacou nesse trimestre, em especial na eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e na construção". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado.

Segundo Lula, foi "mais uma notícia boa para a economia". "Crescimento que se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida. Sem bravata e mentiras. É isso que importa", escreveu em rede social.

Fatores

No entendimento do IBGE, condições do mercado de trabalho, juros mais baixos e crédito disponível estão entre os principais fatores que incentivaram a expansão no segundo trimestre.

O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal avalia que parte da alta acima do esperado pode ser explicada por fatores pontuais, como aumento das transferências do governo e queda do juro. Mas aponta que essa subida não é algo isolado e deve ser analisada de maneira mais alongada. Faz parte de um movimento observado desde meados de 2020 e início de 2021, diz.

Mesmo com variabilidade entre os trimestres, o país apresenta crescimento acelerado desde a saída da pandemia. Esse processo ocorre diante de fatores ligados à oferta, como o aumento de produtividade das empresas após a crise, mas principalmente ligada ao consumo, segundo Portugal:

- Quem puxou o PIB para cima foi o consumo das famílias. E o consumo das famílias foi puxado para cima em parte porque melhorou o mercado de trabalho, em parte porque o governo está se endividando para trazer receita futura para o presente, para gastar mais.

Ele diz que o fato de o avanço da economia estar muito mais ligado ao consumo pode prejudicar um crescimento mais estrutural nos próximos anos. Sobre o efeito da inundação no RS no PIB nacional, o professor avalia que a rápida recuperação em alguns setores e regiões menos afetadas pelo evento climático acaba mitigando esse impacto.

Movimento espalhado

O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, destaca que o resultado positivo foi espraiado, pegando a maior parte dos setores, com exceção da agropecuária, que sofre com entressafra. Agostini afirma que o movimento espalhado é resultado da consolidação da melhora no acesso ao crédito, do juro mais baixo, de programas de renegociação de dívidas e da ampliação de emprego e renda.

Ele faz uma ressalva em relação à parte do aumento do consumo do governo, que acende alerta no ambiente fiscal. _

Nos próximos meses, avanços e desafios

Com o Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado no segundo trimestre, cresce a aposta do mercado em economia fechando 2024 com crescimento próximo dos 3%. Mesmo com desaceleração projetada para os próximos trimestres, economistas ouvidos por Zero Hora afirmam que os resultados registrados até agora abrem espaço para esse cenário.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que parte do ritmo da atividade atual é transmitido para o próximo período, permitindo estimativas mais otimistas. A agência de classificação de risco ajustou a projeção de PIB de 2024 de 1,9% para 2,8%.

A professora de Economia do Insper Juliana Inhasz também afirma que o desempenho do segundo trimestre coloca as projeções de PIB mais próximas dos 3% ao ano. No entanto, alerta para perigos que seguem no radar, como estiagem e custo da energia elétrica no país. Isso somado à perda de força em ações de transferência de renda cria ambiente para desaceleração da economia no segundo semestre.

Juro básico

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o resultado do segundo trimestre deve fazer com que o governo promova nova estimativa de arrecadação de receitas e projetou PIB acima de 2,8% no ano.

O avanço do PIB acima do esperado também eleva a expectativa de aumento do juro básico, diz Juliana:

- Acho que o mercado já está muito pacificado com duas coisas. A primeira é que o juro não cai mais este ano e a segunda é que ele tem probabilidade muito grande de alta. 

sábado, 31 de agosto de 2024



31 de Agosto de 2024
MARTHA

Em desenvolvimento

Ha. Ha. Ha. Deu tudo errado.

"Em desenvolvimento" era uma falácia daqueles tempos em que se torturava jovens nos porões, era o que os generais garganteavam enquanto batiam continência para os patrocinadores. Enrolation para inglês ver e as criancinhas se iludirem. Encerrada a ditadura, veio um período de esperança, até que testemunhei o impensável: o Brasil tirou a bermuda e vestiu terno de missa, colocou uma Bíblia embaixo do braço e varreu os poetas de suas cabeceiras. 

Menos samba no morro, nem pensar topless na praia, bye bye irreverência. Já não percebo em nós, como nação, um caráter solar, apenas devoção à poeira do passado e apego à escravidão. Éramos tão apaixonados pela vida, mas a hipnose tecnológica acabou com nossos olhos nos olhos e, como se tudo não passasse de um game, extraímos das telas digitais um país ainda mais violento e que despreza a inteligência, só pontua na ignorância.

Talvez meus óculos estejam embaçados, talvez só tenha me restado o saudosismo do retrovisor. O que enxergo na minha frente, agora, é um país careta que se empolga com gente sem ética, um país que promove queimadas, um país apequenado pelo uso criminoso das redes, gigante que não honrou sua sina, perdeu-se do seu destino. Meio ambiente, arte, criatividade, faceirice, tudo engolido por Vossa Excelência o dinheiro, o poder, a indústria, o mercado, a internet, o escambau. Adeus, berimbau.

Não será o político A, B ou C que fará a mágica de tirar um país novo da cartola. Será, sim, o abc da sala de aula, caso levemos a sério, pra valer, o que lá se aprende e se discute, sem enganação ou censura, sem atraso ou mitificação. Eu já não terei a honra de viver no país que sonhei, então só me resta torcer para que todas as crianças recebam educação ampla, decente e prioritária, para que elas consigam, finalmente, ver o potencial extraordinário de sermos um país desenvolvido se cumprir. _

MARTHA

31 de Agosto de 2024
CARTA DA EDITORA - Donna Beauty Pompéia

As histórias das belezas

Mesmo de pijama, a energia da Alice Bastos Neves e da Kelly Costa segue lá em cima. Independentemente se o seu time é dos que aproveitam o fíndi para descansar, fazer festa ou os dois, a Pompéia está contigo em qualquer momento.

Um pijama confortável é algo essencial, além de ser uma peça que pode ser mais descontraída, tornando a hora de dormir mais divertida. A dica é se atentar na escolha do tamanho: a sugestão é optar por peças que sejam de um a dois números maiores do que aquelas que você costuma utilizar no dia a dia.

Essas e outras peças de pijama podem ser encontradas nas lojas, no site lojaspompeia.com.br e no aplicativo. Visite a loja no Shopping Iguatemi (Av. João Wallig, 1.800, 1º andar), de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 11h às 22h. _

Inspiradas no livro do historiador italiano Umberto Eco, A História da Beleza (Record, 440 páginas), aproveitamos a proximidade do aniversário de um ícone internacional para embarcar em uma viagem no tempo com muitas camadas sociais. No dia 19 de setembro, a modelo britânica Twiggy completa 75 anos de vida e, com um recorte a partir da década de 1960, quando ela tornou-se um dos símbolos do movimento dos sixties e da contracultura, revisitamos em três páginas a moda e os estereótipos que resultaram em muitas das pressões sofridas pelas mulheres, assim como posicionamos no espaço e no tempo conquistas que precisam ser relembradas, reforçadas e mantidas. 

Para esta edição, a repórter Letícia Paludo conversou com profissionais da área da sociologia, do direito e da saúde para debater a transformação pela qual passamos no nosso visual, muitas vezes como um espelho de mudanças na sociedade e na economia (mais espaço no mercado de trabalho, por exemplo). Mas, claro, que também reverberaram novas patrulhas - da popularização do biquíni à chegada das balanças aos banheiros das residências, com a tal independência cobrando seu preço.

Na passarela de Donna, saudaremos Twiggy com seus olhos expressivos e sua minissaia, os avanços na medicina, as leis aprovadas, a beleza da autoestima e mulheres que entraram para a história por abrir caminho para futuras linhas do tempo, que exaltarão a liberdade de ser quem se quer. _

Zero Grau

Collab - Tendências - Novidades

A influenciadora Malu Camargo fez uma parceria com a Youcom para uma coleção cápsula exclusiva, com 24 peças, entre jeans, blusas, e acessórios, em que propõe uma pegada urbana, romântica e sensual. A linha está disponível nas lojas físicas, no aplicativo e no site da marca youcom.com.br.

A próxima edição da feira Zero Grau já tem data confirmada. De 18 a 20 de novembro, as tendências e os lançamentos em calçados e acessórios para outono/inverno de 2025 poderão ser vistos no Serra Park (Viação Férrea, 100, em Gramado). O evento funcionará de segunda a terça das 9h às 19h, e na quarta, das 9h às 17h. Mais informações no perfil @feirazerograu.

Lançamento - feirinha Matilda - Moda

Neste domingo, o Brick de Desapegos estará no Workroom (Cristovão Colombo, 772), das 11h às 19h, reunindo mais de 40 expositores entre brechós, moda retrô e marcas autorais. O evento é pet friendly e com entrada franca.

A escritora e delegada da Polícia Civil Roberta Trevisan lança, neste sábado, o livro Matilda e o Mistério da Biblioteca, às 15h, em uma sessão de autógrafos na Livraria Leitura do BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300, Cristal). Na história, Matilda e seus amigos investigam os mistérios que assombram a cidade e ameaçam o famoso festival de inverno.

CARTA DA EDITORA

31 de Agosto de 2024
PSICOLOGIA

PSICOLOGIA

Essa porcentagem corresponde ao chamado "tripé do desenvolvimento pleno", que abrange aspectos físicos e motores, cognitivos e socioemocionais.

- No mundo adulto, nós também exigimos resiliência, possibilidade de resolver conflitos, espírito de inovação. Ou seja, habilidades mais comportamentais que são vinculadas a essa capacidade socioemocional, cuja base estrutural também é fundamentada na primeira infância, nos primeiros seis anos de vida - contextualiza Mariana.

No entanto, o ambiente em que a criança é criada determina se ela conseguirá atingir os 90% de desenvolvimento do cérebro ou não. A CEO da entidade comenta que esse entorno envolve muitos elementos, como se a gravidez foi desejada, se há histórico de violência, se os adultos responsáveis pelo bebê o cuidam com amor, afeto, estímulos e vínculos. O ambiente escolar e as mudanças climáticas também interferem nessa formação cerebral.

- A formação do vínculo é a coisa mais importante para o bebê. É como se fosse um escudo de proteção para a criança. Se a criança tem um vínculo forte com os adultos de referência, ela vai inclusive conseguir passar por momentos de adversidade de uma forma melhor no futuro - afirma.

Da mesma forma, uma criança que nasce em um ambiente de violência, abuso, sem brincadeiras e com alto nível de estresse tóxico acaba carregando esses traumas para o resto da vida, tendo altas possibilidades de enfrentar desafios de saúde mental, segundo Mariana.

Impacto do ambiente

Esses reflexos positivos e negativos também são observados por teóricos e especialistas da psicologia. A psicóloga Lisiana Saltiel cita a psicanalista austríaca Melanie Klein, que falava sobre o quanto as relações com os pais e cuidadores são fundamentais para a criança se sentir segura ou rejeitada, por exemplo.

- A forma como a sua criança interior leu essas relações vai ser a forma como vai lidar lá na frente - sintetiza.

Lisiana também faz referência a Donald Winnicott, um pediatra que contribuiu muito com o tema, por ressaltar o quanto um ambiente acolhedor e seguro na infância pode fazer com que a pessoa seja capaz de ser autêntica na vida adulta.

- Nesse contexto, entender como você se formou, quais são seus medos, como é sua maneira de ver e lidar com a realidade, como você ama, como odeia, como reprime ou se defende de angústias, tudo isso é fundamental para a saúde mental e harmonia de suas relações - enfatiza.

Personalidade e confiança

Joana Corrêa de Magalhães Narvaez, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), acrescenta que é a partir das relações originárias e do olhar do outro que o indivíduo se constitui e aprende a ler e a traduzir a si mesmo enquanto sujeito próprio. Por isso, considera que a infância tem grande importância na formação da personalidade e da confiança básica em si e no outro, sendo capaz de gerar uma base mais estável para o desenvolvimento integral e para ter um espaço interno para aprender e crescer:

- É na dinâmica das relações iniciais que nós nos estruturamos, que aprendemos, inclusive, a sermos amados, a desenvolver e internalizar um senso de preservação, a nos valorar enquanto um corpo e psiquismo singular. A infância remete a uma fase desenvolvimental de dependência do outro e, com ela, vem um natural estado de vulnerabilidade.

É por isso que situações traumáticas vividas nessa fase podem deixar marcas futuras. Joana explica que o trauma é justamente uma carga excessiva que o psiquismo não consegue processar. Assim, ambientes inseguros e com base afetiva imprevisível são mais suscetíveis a moldar pessoas com mais medos, mais inseguranças sobre si mesmas, mais baixa autoestima, maior defensividade e potencialmente mais vazios.

- É na infância que vamos criando um espaço psíquico para aprender a nomear e processar as necessidades e as emoções próprias em uma narrativa simbólica. Uma pessoa que teve uma infância preservada e integral tem campo mais fértil para desenvolver mais confiança em si e no outro. Nesse sentido, uma base segura de apego inicial confere continência psíquica, para melhor transitar pelos afetos e processar emocionalmente as vicissitudes da vida - comenta.

Repetições

Isso não significa, contudo, que uma pessoa que viveu situações potencialmente traumáticas não possa, ao longo da vida, revisar a forma relacional inicial para buscar estar em uma posição mais confortável em suas relações. Até porque, na fase adulta, é muito comum que o indivíduo repita lugares nas relações e configurações dinâmicas as quais foi apresentado inicialmente, mesmo de forma inconsciente.

Conforme a professora Joana, essa revisão pode ser feita por meio de novas configurações relacionais, da psicoterapia ou da análise, por exemplo:

- A criança que nos habita ou a criança que fomos é tão constitucional que é naturalmente explorada nos nossos processos. Há de poder se resgatar aspectos que em uma etapa de mais vulnerabilidade nos foram tão constituintes e marcaram a nossa base de funcionamento. Então, é muito importante nos apropriarmos de pontos que nos são mais primitivos ou para os quais regredimos quando sob pressão emocional. 


31 de Agosto de 2024
J.J. CAMARGO

Quem sabe o senhor o convence!

Fui vê-lo, e o encontrei de braços cruzados, resistindo aos apelos cheios de diminuitivos da enfermeira, que pretendia puncionar uma veia para iniciar a quimioterapia.

- Bom dia, seu Firmino, eu sou o doutor José Camargo. - Ah, a minha neta me falou que o senhor é o manda-chuva aqui!

- Não se impressione com isso, seu Firmino, porque ninguém me obedece!  Bueno, aí pouco adianta! Não lembro, nesses anos todos, de uma conquista mais rápida: em 30 segundos de conversa ele já tinha me fisgado.

E o encanto tinha razões de sobra: o convívio social das grandes cidades impõe regras de civilidade que inclui um exercício básico de hipocrisia, indispensável a um relacionamento polido, ainda que às custas do sacrifício da espontaneidade. E aquele homem tosco, mas de uma pureza comovente, nunca precisara aprender que na presença de um desconhecido temos que ser cuidadosos, porque não temos a menor ideia de como ele seja, do seu estado de espírito, das imprevisíveis oscilações de humor, ou de que demônios o incomodam.

E não faria o menor sentido explicar que, na verdade, é exatamente nos nossos melhores dias que estaremos mais vulneráveis, porque a leveza da felicidade interior nos induz a supor que, naquele dia e lugar, todos devam estar igualmente exultantes. E porque nem lembramos mais do quanto as pessoas rindo na rua nos irritavam naqueles dias em que o mundo parecia ter conspirado para acabar conosco.

Quando me sentei para ouvir a história da vida do Firmino, mais pude invejá-lo, por ter chegado aos 88 anos vivendo na sua pequena comunidade, onde ninguém jamais esteve atormentado pelos melindres da sociedade urbana, uma comunidade preocupada o tempo todo apenas em ser, sem o desperdício de aparentar. E nada é mais previsível nesta condição do que a reciprocidade de afeto.

O relato do que a vida fora de casa lhe fraudara nesses 15 dias em que estava no hospital era puro sentimento, e por isso seu drama pessoal não podia ser incluído nos complexos algoritmos da medicina baseada em evidências, essa que aprendemos a usar como construção de um modelo a ser cumprido na orientação terapêutica de uma determinada doença, mas que não considera o que pensa dela o portador.

- Doutor, se o senhor manda alguma coisa, me ajude. Eu já vivi demais, já perdi minha velha, e não quero morrer nesta cidade barulhenta que nem me deixa dormir, que era o único jeito de não pensar o quanto estou sozinho. E se o senhor é mateador, sabe o quanto é ruim não ter ninguém para passar a cuia.

Não fiz mais do que abraçá-lo, antes de sair para assoar o nariz no corredor. _

J.J. CAMARGO

31 de Agosto de 2024
CARPINEJAR

Não troque o amor pela paixão

Não troque um amor por uma paixão. Nunca será uma troca justa, até porque a paixão sempre terá a vantagem do inexplorado, da aventura, da novidade. A paixão é como uma droga forte que cria dependência.

Você só irá querer o vício, não mais a sua vida. Já o amor é uma tranquilidade muito mais simples de se romper. Pois ele é feito de continuidade, de harmonia, de hábitos. Não tem como competir com a idealização, com a fantasia, com a emoção dos extremos.

A aproximação apaixonada é uma projeção - não tem como descortinar, em pouco tempo junto, se a ousadia não é um desequilíbrio, se a intensidade não é um transtorno de quem não se valoriza, se a entrega não é um desvio patológico de comportamento. Bem pode se apaixonar pela doença de alguém jurando que são virtudes exclusivas de uma atração por você. Até descobrir que a pessoa é assim com todo mundo, não somente com você.

Sair do amor não é uma escolha sábia, posto que o encontro de alma é o mais difícil. Não esqueça que você conhece a paz daquela companhia há vários anos, e talvez esteja optando por ficar com quem você conhece há alguns dias.

Química é passageira, efêmera. O respeito ao seu espaço e seu jeito de ser é duradouro. Estabelecer uma amizade funda e constante representa um acontecimento raro na existência, impossível de reprisar.

Não troque o amor pela paixão. Não troque um casamento que deu certo por uma incógnita. A paixão é vaidade: você se sente bonito. O amor é verdade: a relação que é bonita.

No amor, já teve seus defeitos acolhidos. Na paixão, você é uma miragem. Não tem noção de como será recebido quando expuser os seus medos, as suas limitações, as suas manias. É o equivalente a adotar uma medicação sem consultar um médico.

E a paixão não vai desembocar num outro relacionamento. Você vai sair do amor para estar sozinho novamente, não para se casar melhor. Trata-se de um ciclo de obsessão, de uma magia inexplicável, de uma loucura sem precedentes, mas voltará à normalidade e a luz das janelas apresentará os rostos desprovidos de maquiagem da fissura.

Uma hora terminará, e você se verá obrigado a se ocupar com as demais fontes de sua felicidade. Com o fim do monopólio de atenção, como reagirá ao abandono? Pense um pouco mais adiante. Você age pelo instinto e acaba desprezando um amor que demonstrou total confiança. 

Se você colocasse na balança a intimidade conquistada entre adversidades e alegrias, jamais a descartaria pela paixão.Não jogue fora, por uma dúvida excitante, um casamento de tantos anos, uma convicção testada, aprovada, consolidada em viagens, em experiências familiares, em provações e doenças superadas lado a lado.

Um caso será sempre um caso, jamais um casamento. A paixão não se transformará num novo amor. É uma porta de saída, não de entrada. Quem está apaixonado por você não suportará a estabilidade, a calma, o silêncio - tudo que havia de sobra no seu relacionamento.

A saudade dói quando vira arrependimento. _

CARPINEJAR

31 de Agosto de 2024
ANDRESSA XAVIER

Meu nome é Enéas

Quem não se lembra dele? Com 15 segundos de propaganda em rádio e TV nas eleições em que participou, Enéas marcou seu nome para uma geração. Não me refiro às ideias nem ao viés ideológico, mas a uma marca, mesmo que com votações simbólicas nas três tentativas de se eleger presidente.

Agora pense em dois ou três jingles marcantes dos últimos anos nas eleições a prefeito ou governador. Garanto que eles vêm à cabeça rapidamente e vão demorar algumas horas para serem esquecidos. Lembrei até os de senador e alguns de vereador! Mas se eu lhe pedir para pensar em propostas com início, meio e fim, tenho certeza de que a memória vai demorar um pouco mais para conseguir processar. É delas que eu quero falar. Das ideias!

Quantas vezes ouvimos candidatos jogarem ao vento suas propostas prontas para a saúde e a educação, por exemplo. Se prestarmos bem atenção, são coisas macro, sem detalhamento. "Vou melhorar a questão da saúde", diz um deles. É vago. "Vou criar mais vagas em creches", promete outro. É insuficiente. O que é a "questão da saúde", afinal? Pode ser fila, pode ser leito, pode ser convênio, posto, unidade básica de saúde, contratar mais médicos, ampliar horários de atendimento nos bairros e até um novo hospital.

A campanha já está nas ruas. Aliás, foi-se o tempo em que essas aparições relâmpago tipo a do Enéas ou do E-e- eymael eram a única forma de chamar atenção do eleitor. Passou também o tempo em que o eleitor aceitava respostas pela metade. As redes sociais, para o bem e para o mal, têm forte papel nesse momento em que todos os candidatos têm sua própria forma de chegar ao eleitor. Para além do vidro do carro adesivado ou das bandeiras dos políticos nas esquinas, todo mundo tem mil opções no seu celular, especialmente nos seus grupos de afinidade no WhatsApp. Isso sem falar no jornalismo profissional, com a cobertura das eleições pelos diferentes veículos de comunicação.

Na sexta-feira começou a propaganda eleitoral no rádio e na TV. Agora é o momento para, em alguns segundos ou minutos, cada postulante aos cargos de prefeito e vereador se apresentar. É pouco tempo para eles mostrarem ideias, mas alguns sinais podem ser observados, como a postura e o tema priorizado ali, que é normalmente a bandeira de quem fala. Eles precisam dizer pelo que prometem trabalhar. Com mais tempo, nas entrevistas e nos debates, preste também atenção nas ideias para melhorar as cidades. Analise se elas param em pé, se parece que é possível executar, se eles dizem os prazos e de onde viria o dinheiro para tirar do papel. Preste atenção. Pesquise, se informe. Não deixe para pensar nisso só em outubro. _

ANDRESSA XAVIER

31 de Agosto de 2024
REFLEXO NOS GAÚCHOS

REFLEXO NOS GAÚCHOS

Possibilidade levantada por especialistas em meio à tragédia climática tem sido confirmada com estudo inédito do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Levantamento segue sendo realizado e pode ser respondido por maiores de 18 anos que tenham resididido no RS durante a calamidade

- O TEPT tem uma janela de intervenção. O que classicamente a gente vê é que, depois de um ano, pouca gente consegue uma recuperação completa. Existe essa janela de prevenção e ainda estamos nela - destaca, completando que o ideal é que o trabalho comece em até três meses após os eventos traumáticos, mas dentro de um ano ainda é possível ter o tempo de resposta.

Em meio às mudanças climáticas, em 2017 a Associação Americana de Psicologia cunhou o termo ecoansiedade. De acordo com a psiquiatra do Hospital São Lucas e coordenadora de saúde global da Escola de Medicina da PUCRS, Ana Sfoggia, a denominação é tida como um guarda-chuva para diferentes sentimentos, como o de ecoluto, ecotrauma e solastalgia (emoção que causa sensação melancólica, nostálgica, quando o ambiente em que a pessoa vive é afetado).

- Antes de ser atingida, a pessoa pode ter a ecoansiedade e emoções climáticas. No momento em que ela é afetada, acaba tendo uma validação do medo. A gente tem também os impactos diretos de quem perdeu coisas, perdeu pessoas - explica Ana. _

Os sinais foram confirmados por 778 de 1.846 moradores do RS ouvidos entre 7 de junho e 19 de julho deste ano. Essa possibilidade já havia sido trazida por especialistas em meio à tragédia climática e se confirmou com dados encontrados no estudo dirigido pela professora do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psiquiatria Psicodinâmica do HCPA, Simone Hauck.

A pesquisa é realizada de forma online e é aberta para maiores de 18 anos. Até o momento, já recebeu em torno de 5 mil respostas, predominantemente de Porto Alegre e Canoas, mas conta com contribuições de dezenas de outras cidades gaúchas, como da Região dos Vales, sul do RS e área central.

Nos dados analisados com 1.846 pessoas, um dos fatores levados em consideração é o nível de gravidade dos sintomas de TEPT. Os casos moderados a muito graves representam mais da metade, com 53,8%.

Previsto para durar em torno de um ano, o estudo segue aberto. Além de ser maior de idade, para participar é necessário ter residido no RS no período da enchente.

- É importante que as pessoas sigam respondendo e participando para vermos como vai evoluir essa questão ao longo do tempo - diz Simone.

Monitoramento

- É necessário fazer o monitoramento das pessoas. Em Santa Maria houve reorganização dos serviços (após o incêndio). No Hospital Universitário foi criado acompanhamento a longo prazo dos sobreviventes. Na prefeitura também foi estruturado um serviço com foco mais psicossocial, com familiares e vítimas. _

Bianca Dilly

CONEXÃO BRASÍLIA
Conexão Brasília - Matheus Schuch

Lula dará mesmo autonomia plena ao novo presidente do BC? Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar "olha, tem de aumentar o juro", ótimo, aumente. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, é um brasileiro que gosta do Brasil.

A declaração do presidente Lula, na sexta-feira, sobre seu escolhido para comandar o Banco Central, vai na contramão do recente histórico de críticas ao patamar da Selic. Lula mudou completamente de ideia? Ou escolheu mandar um recado enviesado?

Elogiar publicamente a "competência" de quem ele próprio escolheu é mais do que esperado. É preciso notar que, para Lula, "gostar do Brasil" significa trabalhar pelo crescimento do país. Mas há vários caminhos para este sucesso, e muitas vezes a receita defendida pelo petista é muito diferente do roteiro perseguido pelo BC.

O costume do presidente em disparar indiretas é bem conhecido por seus auxiliares. Recentemente, incomodado com o que considerava um excesso de viagens de ministros, Lula convocou os integrantes do governo para uma reunião e disse a pessoas que nada tinham a ver com o caso que deveriam ficar mais tempo em Brasília e cuidar de suas verdadeiras atribuições.

Mas não é apenas a mania de mandar recados que causa desconfiança. Mesmo após indicar Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do BC, Lula manteve críticas contundentes sobre a manutenção de juros altos. Estaria agora todo o problema resolvido com a saída de Roberto Campos Neto da presidência?

O mal-estar entre Lula e o atual presidente do BC, indicado por Jair Bolsonaro, está longe de ser apenas divergência no campo partidário e ideológico. O petista já disse que "não se pode ter um BC que não está alinhado aos desejos da nação", e acusou Campos Neto de agir como político mesmo quando o BC tomou decisões unânimes sobre manutenção da Selic - inclusive com os votos de Galípolo e outros diretores indicados por Lula.

Sob o comando de seu escolhido e com três novos diretores que indicará até o final do ano, a promessa de autonomia plena será colocada à prova. Difícil acreditar que Lula não vai pressionar para que a vontade do governo seja implementada. 

CONEXÃO BRASÍLIA

31 de Agosto de 2024
CONEXÃO BRASÍLIA

Conexão Brasília - Matheus Schuch

Lula dará mesmo autonomia plena ao novo presidente do BC?

- Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar "olha, tem de aumentar o juro", ótimo, aumente. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, é um brasileiro que gosta do Brasil.

A declaração do presidente Lula, na sexta-feira, sobre seu escolhido para comandar o Banco Central, vai na contramão do recente histórico de críticas ao patamar da Selic. Lula mudou completamente de ideia? Ou escolheu mandar um recado enviesado?

Elogiar publicamente a "competência" de quem ele próprio escolheu é mais do que esperado. É preciso notar que, para Lula, "gostar do Brasil" significa trabalhar pelo crescimento do país. Mas há vários caminhos para este sucesso, e muitas vezes a receita defendida pelo petista é muito diferente do roteiro perseguido pelo BC.

O costume do presidente em disparar indiretas é bem conhecido por seus auxiliares. Recentemente, incomodado com o que considerava um excesso de viagens de ministros, Lula convocou os integrantes do governo para uma reunião e disse a pessoas que nada tinham a ver com o caso que deveriam ficar mais tempo em Brasília e cuidar de suas verdadeiras atribuições.

Mas não é apenas a mania de mandar recados que causa desconfiança. Mesmo após indicar Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do BC, Lula manteve críticas contundentes sobre a manutenção de juros altos. Estaria agora todo o problema resolvido com a saída de Roberto Campos Neto da presidência?

O mal-estar entre Lula e o atual presidente do BC, indicado por Jair Bolsonaro, está longe de ser apenas divergência no campo partidário e ideológico. O petista já disse que "não se pode ter um BC que não está alinhado aos desejos da nação", e acusou Campos Neto de agir como político mesmo quando o BC tomou decisões unânimes sobre manutenção da Selic - inclusive com os votos de Galípolo e outros diretores indicados por Lula.

Sob o comando de seu escolhido e com três novos diretores que indicará até o final do ano, a promessa de autonomia plena será colocada à prova. Difícil acreditar que Lula não vai pressionar para que a vontade do governo seja implementada. _

CONEXÃO BRASÍLIA

31 de Agosto de 2024
POLÍTICA E PODER - Política e poder

Reconstrução sem disputas

Pense numa arquitetura política sofisticada a ponto de uma proposta para a recuperação do Rio Grande do Sul colocar do mesmo lado os ex-governadores Antônio Britto, Olívio Dutra, Tarso Genro, Germano Rigotto e José Ivo Sartori, grandes empresários, capitaneados por Jorge Gerdau Johannpeter, intelectuais como Luiz Osvaldo Leite, Jorge Furtado e Gilberto Schwartsmann, figuras do mundo jurídico, como o ex-ministro Nelson Jobim, professores e líderes religiosos.

O resultado dessa articulação é um "movimento cívico" que propõe ao presidente Lula a criação de uma Agência Interinstitucional de Recuperação e Desenvolvimento do RS.

Uma primeira versão da carta que está sendo escrita a várias mãos foi apresentada a Lula por Tarso Genro quando o presidente esteve no Rio Grande do Sul. Assim que concluídos os retoques de redação e consolidadas as assinaturas, um grupo irá a Brasília formalizar a entrega. Além de Tarso, trabalham na coordenação da proposta os economistas João Carlos Brum Torres e Ana Severo, o sociólogo Zeca Martins, o engenheiro Fernando Mattos, o ex-secretário de Administração Jorge Buchabqui, a jornalista Sandra Bitencourt, o empresário José Paulo Soares Martins e o arquiteto Telmo Magadan.

Ideia é unir esforços da União, Estado e municípios

Pela proposta, caberá à agência, como alta autoridade federal, formular a concepção das ações da União, de forma coordenada com o Estado, municípios e setor privado, e a execução de um plano estratégico de longo prazo para a estruturação econômica e socioambiental do Rio Grande do Sul.

Gerdau não só está empenhado pessoalmente na iniciativa, como faz a ponte com outros empresários e dirigentes de federações empresariais. Ele e Tarso vêm se reunindo para avaliar um caminho comum, no que ambos reconhecem ser um momento decisivo para o futuro do Estado. _

Confira trechos do documento que propõe a criação de uma Agência de Reconstrução e Desenvolvimento:

A proposta de criação de uma agência substitui com vantagem a Secretaria de Apoio à Reconstrução, criada em caráter emergencial, e que deve ser extinta em 11 de setembro, porque a medida provisória não foi votada.

aliás

Como Leite articulou a vinda do ministro da Agricultura à Expointer

Bateu na trave

Dono da Be8, o empresário Erasmo Battistella, que colocou seu jato à disposição para trazer o ministro da Agricultura ao Rio Grande do Sul, é do time que acredita na necessidade de passar por cima das divergências para colocar o interesse público em primeiro lugar.

Por pouco, Porto Alegre não escapou do corte de um dos 36 vereadores, formalizado recentemente. A revisão foi necessária porque, pelo Censo de 2022, a Capital perdeu população.

Na atualização populacional feita pelo IBGE e divulgada na quinta-feira, a Capital voltará a ter o número de habitantes necessário para ter até 37 vereadores, mas o que vale é o número de 2022. _

Passou da conta

O ministro Alexandre de Moares passou da conta com o conjunto de decisões que envolvem a suspensão do X no Brasil. É certo exigir que Elon Musk cumpra as leis brasileiras se quer ter negócios no país, mas o bloqueio das contas de outra empresa, a Starlink, só porque o dono é o mesmo, não tem sentido.

Na queda de braço entre o ministro turrão e o bilionário birrento, o Brasil fica sem uma das redes mais populares do planeta e se alinha com as ditaduras onde a população está impedida de acessar o X, como China e Coreia do Norte. _

mirante

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vem a Porto Alegre na próxima semana para reforçar a campanha de Maria do Rosário à prefeitura de Porto Alegre. A dúvida é se ajuda ou atrapalha.

O sucesso da Expointer, que esteve ameaçada de não ser realizada ou de ser adiada por causa da enchente, é fruto do trabalho de todos os envolvidos na organização. Esse espírito precisa estar presente em todos os atos da reconstrução do RS.

Os produtores gaúchos foram dormir com a informação de que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, não viria para a Expointer. O governo federal seria representado pelos ministros Paulo Pimenta e Paulo Teixeira, que já estavam em Esteio. A justificativa oficial era de que não havia avião disponível para trazer o ministro.

Ao saber que esse era o motivo e convencido de que a ausência do titular da Agricultura não só tiraria o brilho da inauguração da feira como frustraria os produtores que esperavam dele anúncio de medidas concretas, o governador Eduardo Leite entrou em campo.

Leite ligou para o ministro e ouviu dele a confirmação de que estava com dificuldade para vir. Pediu que Fávaro aguardasse um instante que iria viabilizar uma forma de trazê-lo para Esteio.

Em contato com o presidente da Cotrijal, Nei Mânica, os dois combinaram de falar com o empresário Erasmo Battistella, da Be8, para ver se ele podia emprestar seu jato. Prontamente, Battistella, que tem excelentes relações tanto com o governo estadual quanto com o federal, colocou o avião à disposição do ministro. Na abertura da Expointer, Leite e o ministro sentaram-se lado a lado e conversaram amistosamente. _

POLÍTICA E PODER
 31 de Agosto de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A má política de Mr. Musk

Elon Musk, dono do X, o antigo Twitter bloqueado na sexta-feira pela Justiça brasileira por descumprir a lei, gosta de arvorar-se como paladino da liberdade de expressão, enquanto, na verdade, está preocupado apenas em fazer política - a seu modo, imaginando-se acima dos marcos legais dos Estados nacionais.

Acusa o ministro Alexandre de Moraes e o Palácio do Planalto de censura, embora cumpra, com rigor - e principalmente em silêncio -, decisões de governos que lhe são simpáticos.

Os rompantes pela suposta liberdade de expressão que defende não são vistos em países como Turquia, Índia e Arábia Saudita - nesse último, aliás, a monarquia teocrática é uma das acionistas da plataforma.

Em 2023, o governo de Narendra Modi, na Índia, proibiu a exibição e menções na rede social de um documentário da rede BBC sobre a omissão das autoridades sobre uma revolta em Gujarat, que resultou na morte de mil muçulmanos, em 2002. O que fez Mr. Musk? Bloqueou perfis que indicavam o link do trabalho. Disse que "não poderia violar as leis do país". Tempos depois, na mesma nação que experimenta a deterioração da liberdade de expressão, acatou a ordem do governo para remover contas de jornalistas críticos ao presidente. Na Turquia de Recep Tayyip Erdogan, não é diferente.

Não soa estranho Musk fazer gritaria apenas contra governos e órgãos judiciais de blocos supranacionais ou países onde há consolidadas regras de regulação das redes sociais, como União Europeia, Reino Unido e Austrália? O Brasil engatinha para algo semelhante. Estranho Musk não se preocupar com as mensagens de ódio, o racismo, a desinformação, a pornografia e a apologia ao nazismo que pululam em sua plataforma. Não, o que ele faz não é lutar pela liberdade de expressão. É política. Má política. _

Kamala Harris esteve à vontade e suave em sua primeira entrevista. Kamala Harris, e seu candidato a vice, Tim Walz, concederam a primeira entrevista juntos desde a confirmação de seus nomes para a corrida eleitoral.

Kamala se mostrou firme, esteve suave e à vontade durante os 30 minutos de conversa com a rede CNN.

A vice-presidente nunca esteve "olho no olho" com Trump. Recentemente, o ex-presidente fez falas em que contestou a identidade da adversária, afirmando que ela se apresenta como "negra", mas que, antes das eleições, não se identificaria assim. Ela respondeu:

- O mesmo manual velho e cansado. Próxima pergunta, por favor - afirmou, em tom cômico.

A entrevistadora retrucou: - É isso? E ela respondeu:

- É isso. Contudo, ainda no começo da entrevista, a candidata foi questionada sobre políticas públicas e como seria seu primeiro momento na Casa Branca. Kamala apresentou respostas simples, como:

- Há uma série de coisas no primeiro dia - disse.

Relação com Biden

Kamala foi interpelada sobre como foi o momento em que Biden a avisou que estava saindo da corrida.

- Era um domingo. Minha família estava conosco, incluindo minhas sobrinhas, e tínhamos comido panquecas. Estávamos sentadas para um jogo, o telefone tocou e era Joe Biden. Disse o que tinha decidido. E perguntei: "Você tem certeza?". Ele disse: "Sim".

O vice

Governador de Minnesota, Tim Walz passa a imagem, como alguns analistas apontam, do "tiozão" que é técnico de futebol, com características amigáveis. Por diversos momentos enquanto ele falava, Kamala o observava com orgulho, mostrando que há parceria entre os dois. _

Entrevista - Diego Ramos Coelho

Especialista em Relações Internacionais e diplomata de carreira

"Conflitos atuais são fruto de fraturas, mas estão regionalizados"

Especialista em Relações Internacionais e diplomata desde 2010, Diogo Ramos Coelho lança o livro Mundo Fraturado, com uma análise profunda dos desafios que afligem o planeta. Atualmente, é chefe da assessoria de Relações Internacionais do Ministério do Planejamento e Orçamento. Ele conversou com a coluna.

? No livro você fala sobre o aumento dos conflitos, ascensão de líderes autocratas, desinformação e polarização. Há um mal-estar civilizatório?

Sim, esse mal-estar é fruto de uma dinâmica entre o que chamo de forças de coesão, que estruturaram a ordem liberal na qual vivemos, e o que chamo de forças de dissonância. Há essa briga entre o lado que estruturou essa ordem liberal e um outro que forma essas fraturas. Essa briga de forças tem causado essa apreensão e um pouco desse mal-estar.

? É possível comparar a situação com o período pré-Segunda Guerra?

Sim, é possível compararmos com os anos 1920, que também foi momento de crise, de apreensões, de angústias, que, infelizmente, resultaram em uma catástrofe. Mas tenho esperança de que consigamos contornar essas fraturas atuais.

? Há dois grandes conflitos em curso: entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio, além da possível retomada de Taiwan pela China. Onde você acha ser mais provável o início da Terceira Guerra Mundial?

Ainda não está nesse ponto de ruptura. Podemos olhar para a ordem atual como fraturada, há indícios de que aquela coesão à qual estávamos acostumados na década de 90, no começo de 2000, não exista mais. O mundo hoje é muito mais multipolar. Toda ordem multipolar é um pouco mais instável do que uma ordem na qual só há um grande ator poderoso. A multipolaridade pode ser muito bem-vinda quando você tem mais uma heterogeneidade na divisão do poder, mas à medida que os pontos de poder se multiplicam, isso também pode causar instabilidades. Os conflitos são frutos dessas fraturas, mas ainda estão regionalizados. Eles ainda não adquiriram um caráter sistêmico.

? Vários países emergentes ou economias em ascensão questionam a ordem liberal e o próprio equilíbrio de poder. Já não representa o mundo atual?

Questionam, por exemplo, a configuração do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Já não é um equilíbrio de poder hoje. Alguns países têm um papel e influência marcantes nas relações internacionais. Então, um dos argumentos que trago é que toda ordem nunca é mantida sem a colaboração de outros Estados. A manutenção de uma ordem não depende de uma potência hegemônica. Depende de colaboração entre atores, até para que seja considerada legítima.

? Sobre o tema ambiente, o que observamos são boas intenções e conversas, mas pouca efetividade. Por quê?

É necessário trabalhar dois aspectos: do papel das instituições internacionais ou, mais amplamente, dos regimes internacionais. Fazer com que 190 governos concordem com algo é tarefa muito difícil. Essa dificuldade é inerente ao sistema internacional. Mas é importante observar que, embora não consiga avançar na velocidade e na abrangência necessárias para combater um problema urgente, é possível identificar consensos ao longo do processo. _

INFORME ESPECIAL

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