sexta-feira, 31 de janeiro de 2025


31 de Janeiro de 2025
CARPINEJAR

A senha da mala cinza. Quando o casal se ama, gafes são histórias divertidas. O medo logo vira crise de riso. A apreensão logo vira cumplicidade. As falhas se tornam repertório de como o par se compreende e se ampara.

Talvez nem a alegria seja tão inesquecível quanto passar vergonha junto. É um elo inquebrantável de humanidade e simpatia, uma prova simbólica da ausência de competição. Pois nenhum dos dois pretende ser melhor do que o outro e contar vantagem, mas demonstrar um esforço para ser melhor para o outro, apesar dos defeitos, na complementação de personalidades.

Estávamos chegando ao hotel de Miami depois de longa noite de viagem. O primeiro impulso brazuca é cair no mar e não desperdiçar a estada em dólares. Ninguém cogitava dormir ou recuperar o jet lag. Só que não acertávamos a senha para abrir a mala cinza de Beatriz. A senha que sabíamos de cor não funcionava.

Desandamos a assistir a tutoriais no YouTube, mas as lições soavam enigmáticas e misteriosas. O código deixava marquinhas, e precisávamos encontrar diferenças entre as sombras dos números sob a luz do celular.

Desistimos dessa operação 007. Não atingimos tanta perspicácia. A facilidade dos instrutores dos vídeos nos irritava ainda mais.

Beatriz decidiu buscar o auxílio da recepção. De tanto apertar 9 ou 1, acabou por ligar para a polícia. Até entender que era a polícia, não a recepção do hotel, demorou bastante. Ela já tinha exposto toda a narrativa da mala travada. Desligou por constrangimento pelo engano. Bateu literalmente o telefone no gancho, sem se despedir.

Daí eu falei que a polícia poderia nos rastrear, que tudo o que ela havia dito talvez fosse interpretado como um pedido de socorro disfarçado, que o encerramento abrupto da ligação fez a conversa parecer muito suspeita.

Nossa preocupação multiplicou de tamanho. Beatriz apenas desejava trocar de roupa e ir para a praia. Eu já estava de sunga. A novela se arrastava contra os nossos propósitos.

Minha esposa foi procurar ajuda no corredor, explicou a situação para a camareira. Ela prometeu providenciar técnicos do hotel. Eu permaneci com a mala no meu colo, testando códigos. Comecei a fazer infinitas versões de fileira a fileira.

De repente, entraram no quarto três capangas, três armários, e ficamos em dúvida se era a polícia ou o hotel.

Graças a Deus eram representantes do hotel. Eles avançaram na minha direção. Deduzi que destruiriam a mala. De qualquer forma, no desespero, segui tentando números aleatórios, até que a mala abriu. Houve o clique redentor.

Eu gritei: - I did it! (Eu consegui!). Só que os funcionários pensavam que eu estava pelado segurando a mala na poltrona. Do ponto de visão deles, não me viam de sunga, as pernas e o peito se mostravam livres.

Foi quando um deles exclamou, fechando os olhos com as mãos:

- You can get dressed now, please. (Agora você pode se vestir, por favor.) _

CARPINEJAR


31 de Janeiro de 2025
MARCO MATOS

Memória

Até quando vamos lembrar das coisas que vivemos e jamais gostaríamos de esquecer? É preciso partir da ideia de que nenhuma lembrança é eterna. Ou a gente esquece, ou morre com a gente.

Tenho medo de esquecer.

O esquecimento é um dos piores castigos pra qualquer pessoa. A vida é tão rápida que as memórias são pedacinhos da gente distribuídos ao longo tempo.

Esquecer é apagar o que existiu, é jogar fora a conexão com o que forma a gente, a nossa personalidade é baseada nas memórias. As lembranças moldam nosso padrão de comportamento. É através delas que é possível compreender quem a gente é, o que nos trouxe até aqui. O que seria (ou será) de nós sem essas informações?

Eu não estou preocupado com a história, com os fatos marcantes do mundo. Eu não quero esquecer jamais o que aconteceu comigo. O ruim e o bom. Muitas lembranças da minha infância são péssimas, mas até disso eu quero seguir lembrando sempre que for preciso.

Perder a lucidez me assusta.

Eu não consigo imaginar o que é viver no esquecimento de uma doença. Sinto calafrios ao imaginar essa possibilidade, não tenho dúvida de que esse é meu maior temor.

Haverá de existir um sistema de inteligência artificial, um medicamento, uma terapia capaz de prevenir isso no futuro próximo. Fica meu apelo à ciência: debrucem em estudos, pesquisas, tentativas. Por favor, encontrem uma saída.

Lembrar também é viver. Que sentido a nossa existência teria se não existissem as memórias? Pense como seria viver hoje sem lembrar de nada que aconteceu ontem? De que adiantaria ser feliz agora? Eu tive uma avó que esqueceu de tudo. Lembro como se fosse ontem. Nunca senti tanta angústia.

Ver alguém não reconhecer os próprios filhos, netos. Não saber nada de si. Não saber onde está. Não ter ideia de nada que acontece naquele espaço. Tudo é desconhecido. As referências não existem. Não há um cheiro, um rosto, um toque que te conecte com o teu eu. Não há mais vida, mesmo vivo.

Perder a memória é desumano. É uma condição que vai contra a beleza de estar vivo. É duvidar de si. Esquecer o passado é jogar-se num abismo branco, sem fundo, sem som, sem nada. É a ausência de tudo.

Não me importa se os outros vão lembrar de mim depois que eu partir, eu só peço para que eu mesmo lembre de mim até o dia de morrer. 

O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

MARCO MATOS


31 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

A capacidade de crescer mais

A economia interna aquecida ao longo do ano fez o país encerrar 2024 com a geração de 1,69 milhão de empregos com carteira assinada, conforme os dados do Novo Caged, divulgados ontem. Foi um número 16% acima de 2023 e o quarto exercício consecutivo com mais contratações do que demissões, após a onda de dispensas causadas pela pandemia em 2020. A despeito do abalo da enchente histórica, o Rio Grande do Sul, da mesma forma, teve saldo positivo de 63,5 mil vagas. Um feito, levando-se em consideração as preocupações com a extensão dos reflexos da tragédia climática.

A robustez do mercado do trabalho brasileiro deveria ser merecedora apenas de celebrações. Significa, afinal, mais gente empregada e com renda, gerando demanda adicional na indústria, no comércio e nos serviços. O paradoxo, no entanto, está nas percepções de que o ciclo não é tão virtuoso assim. A razão para a desconfiança está nos alertas de que o Brasil vem crescendo além de sua capacidade. Ou seja, de uma forma que gera inflação e cria efeitos colaterais. O IPCA, de fato, estourou a meta e encerrou o ano em 4,83%, e estima-se que o PIB avance 3,5%, ante projeções iniciais de apenas 1,5%.

A força surpreendente da economia doméstica, bem acima das estimativas de um ano atrás, é um dos fatores que levaram o Banco Central (BC) a iniciar uma nova sequência de alta de juro. Na quarta-feira, o BC voltou a elevar a Selic em mais um ponto percentual, para extorsivos 13,25% ao ano, com a sinalização de o choque monetário continuar em março, com uma alta da mesma magnitude. Capital mais caro tende a esfriar a economia e, por consequência, a inflação.

Cria-se assim a aparente contradição de que notícias boas como alta do emprego e da atividade são mal recebidas e frustrações causam alívio. A reação aos números do Caged de dezembro, isolados, é ilustrativa. O último mês do ano, por fatores sazonais, como a dispensa de trabalhadores temporários, costuma ter mais demissões do que admissões. O saldo negativo foi de 535 mil postos, mas a expectativa era de 400 mil. O resultado menor, por talvez ser um sinal de desaceleração da economia, com reflexos benignos na inflação e no aperto monetário, ajudou o Ibovespa a subir ontem quase 3% e influenciou na queda dos juros futuros.

Surpresas positivas que estressam e decepções na atividade e no mercado de trabalho que resultam em melhora de indicadores financeiros não são exclusividade do Brasil, mas aqui parece ser uma relação mais exacerbada. A saída para uma alta de 3,5% no PIB não gerar tantas inquietações é elevar o potencial de avanço da economia. Ou seja, criar condições para que um crescimento da atividade neste patamar, ou mesmo maior, não signifique pressão inflacionária. 

Para isso é necessário equilíbrio fiscal, fator que ajuda a manter juros em níveis mais civilizados e beneficia investimentos produtivos, que ampliam a capacidade de oferta da economia, como novas e mais modernas fábricas. Passa também por reformas que ataquem o custo Brasil e elevem a produtividade da economia e por um melhor ensino, para formar capital humano mais qualificado. Assim o país poderia crescer mais e de forma sustentável, sem os reiterados voos de galinha sucedidos por crises e desacelerações bruscas. _

OPINIÃO RBS

31 de Janeiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Lula diz não ter plano de corte e dólar... recua

Era previsível que uma das primeiras perguntas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na entrevista de ontem fosse sobre o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que na véspera elevou o juro em 1 ponto percentual e antecipou outra paulada "da mesma magnitude" na próxima reunião, no dia 19 de março.

- Não esperava milagre - disse Lula, que criticou duramente o antecessor, Roberto Campos Neto, por elevar a Selic.

Durante a entrevista, o dólar, que retomara o patamar de R$ 5,90 antes do início, voltou ao de R$ 5,80. Com um detalhe: chegou a reduzir a alta de 0,7% para 0,3%, mas voltou à de 0,5% depois de Lula afirmar:

- Se depender de mim, não haverá outra medida fiscal.

O câmbio fechou com oscilação para baixo de 0,24%, a nona seguida, na maior sequência desde 2017, acumulando queda de 3,53%. Ajudou o fato de Lula ter ressalavado que, se houver necessidade de redução de gastos, "vamos sentar e discutir".

Tom tranquilo ajudou

Mesmo com a afirmação de Lula de que a polêmica proposta de isentar de Imposto de Renda para quem ganha mais de R$ 5 mil está em "reformulação" e vai para o Congresso, economistas atribuíram parte do alívio ao tom tranquilo usado pelo presidente.

E, embora tenha reiterado que Galípolo terá "toda a autonomia", Lula disse que "o povo e o Brasil esperam que a taxa de juro seja a menor, dentro do possível, para que possa haver mais investimento e crescimento sustentável, para gerar mais emprego".

Depois de ser acusado de minar seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e virtual sucessor para disputar a Presidência, Lula também fez um desagravo:

- As pessoas que passaram o ano inteiro falando do famoso déficit deveriam pedir desculpas a Haddad, dizer "a gente não acreditou em você, a gente duvidou de você". As pessoas que falam coisas erradas não têm hombridade para dizer "nós erramos".

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) abaixo do esperado também contribuíram para acalmar o câmbio. _

Não foi só o mercado de câmbio que teve alívio ontem. Ainda mais intensa foi a reação da bolsa de valores, que andava murchinha. O Ibopesva teve uma disparada de quase 3% (2,7%). Até os juros futuros tiveram redução forte.

Duas multinacionais brasileiras reconstroem escola na Capital

Maior instituição municipal de ensino de Porto Alegre, a Escola Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, teve de ser reconstruída depois da enchente. Para fazer a obra de R$ 8,8 milhões, uniram-se duas multinacionais brasileiras, Gerdau e Ambev, com participação de Movimento União BR, Dolphin e Brasil ao Cubo.

A Ambev foi responsável pela gestão da obra, incluindo a criação de quadras esportivas profissionais, revitalização estrutural e escadas de emergência.

A Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço que nasceu não muito longe dali, na Avenida Voluntários da Pátria, fez doações com o Movimento União BR, especializado na criação de hubs emergenciais, que atua no Estado desde setembro de 2023. A Dolphin foi responsável pela revisão elétrica.

A iniciativa tem apoio e tecnologia da Brasil ao Cubo, construtech que integra a Gerdau Next, braço de novos negócios da Gerdau. A obra levou 80 dias.

Segundo Paulo Boneff, líder global de responsabilidade social e desenvolvimento organizacional da Gerdau, a escola ficou dias inundada, o que corrompeu a parte elétrica.

O estrago foi tamanho que foi preciso refazer as estruturas de sustentação da escola, relata o executivo. Também foi preciso refazer os banheiros, quase destruídos, e trocar o piso de todas as salas de aula.

- O retorno à escola é uma ação de apoio à educação e, indiretamente, para as famílias e a economia - diz Boneff. _

Governo cumpre meta fiscal, mas resultado não é o suficiente

Para efeito de cumprimento do arcabouço fiscal, o rombo nas contas do governo federal foi de R$ 11 bilhões, ou 0,09% do PIB. Como havia margem de tolerância de até 0,25% do PIB, pode-se dizer que, sim, o governo cumpriu a meta.

Contabilizadas despesas como a ajuda ao RS, que ficaram fora desse cálculo, o rombo foi de R$ 43 bilhões, equivalente a 0,36% do PIB, acima da margem de tolerância. Analistas consideram o resultado positivo, porque "salva" o arcabouço fiscal. Mas não é suficiente. O resultado líquido é que o governo precisou se endividar em mais R$ 43 bilhões. E para estabilizar a dívida são necessários superávits estimados de 1% a 2,5% do PIB. _

Mercado discute postura de Galípolo na presidência do BC

No day after da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) comandada por Gabriel Galípolo, o mercado discutiu se o novo presidente do Banco Central (BC) atuou como "falcão" ou "pomba". A primeira característica (hawk/hawkish) é ser duro, pegar pesado na taxa de juro ante risco inflacionário; a segunda (dove/dovish) é ser suave, menos agressivo no controle da alta de preços. E qual foi o comportamento de Galípolo e sua diretoria, afinal? Cada um vê de uma forma.

- O tom da decisão foi hawkish, destacando a conjuntura da política econômica nos EUA e a desancoragem das expectativas de inflação dos agentes econômicos no Brasil - avalia Raphael Vieira, colíder de Investimentos da Arton Advisors.

- Dada a desancoragem das expectativas, acho perigoso o BC correr o risco de ser lido como dovish, e ele tomou esse risco - opina Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

É importante entender por que a classificação "falcão" ou "pomba" importa. Neste momento em que o Brasil vive risco inflacionário, ter uma imagem hawkish contribuiria para a percepção de que o BC "fará o necessário" para frear a alta de preços. Ser dovish agora seria contraproducente, porque o país paga caro, sob a forma de juro alto, para controlar a economia. A percepção de um BC suave contribuiria para reduzir a potência da política monetária, já sob certa desconfiança.

Talvez o melhor resumo tenha vindo de Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine:

- Mantém o tom hawk, pois sinaliza a continuidade do aperto monetário enquanto a inflação não convergir para a meta. Ao mesmo tempo, o comitê mostrou preferência por ganhar graus de liberdade diante das incertezas globais e domésticas. Nesse sentido, o documento é menos hawk do que o anterior (que comunicou o choque de juro), mas definitivamente não é dove. _

Que ave é esta? argumentos de "falcão"

A citação da desancoragem das expectativas de inflação, ainda muito acima da meta.

O alerta sobre o papel da política fiscal e "seu impacto sobre a política monetária e os ativos financeiros".

argumentos de "pomba"

Ter deixado em aberto a decisão da segunda reunião à frente, de 7 de maio.

A citação de possível baixa da inflação a desaceleração da atividade econômica doméstica, ainda não caracterizada.

GPS DA ECONOMIA


31 de Janeiro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Como o projeto de Leite se encaixa na união PSDB-PSD

A citação de Eduardo Leite por Gilberto Kassab como um dos possíveis candidatos a presidente em uma aliança de centro e como um dos "líderes do futuro" não é só simpatia. Mais do que afinidade, é um indício do quão avançadas estão as negociações entre PSDB e PSD para juntarem as três letras que têm em comum. Desde 2021 Kassab tenta atrair Leite para o PSD.

Leite resistiu pelo apego ao PSDB, único partido de sua vida, mas, com o resultado de 2022, quando os tucanos elegeram apenas 13 deputados federais, o pragmatismo falou mais alto. Conscientes do risco de desidratação, os principais líderes da sigla concordaram em discutir a fusão ou incorporação a outro partido.

Nos últimos meses, os possíveis parceiros foram caindo por diferentes motivos e restaram duas opções: o PSD e o MDB. Ficaram pelo caminho o União Brasil, o Republicanos e o Podemos. Com os outros médios ou grandes, como PL, PT e PP, a união não chegou a ser cogitada.

Ainda que os dois estejam no governo do presidente Lula, o MDB ocupa posições estratégicas e teria mais dificuldades para se desapegar do poder, principalmente com as famílias Barbalho e Calheiros dando as cartas.

No PSD, Leite não seria candidato natural à Presidência. O nome citado em primeiro lugar por Kassab é o do governador do Paraná, Ratinho Júnior, que já é do PSD, está no segundo mandato, tem altos índices de aprovação e um pai comunicador que ajudaria a alavancar a possível candidatura. Só que Ratinho pode preferir o Senado, onde teria eleição garantida.

Prioridade ao Rio Grande do Sul

Sendo candidato ou não, Leite quer trabalhar pela construção de uma candidatura de centro e fazer o sucessor no Rio Grande do Sul. Como Tarcísio Gomes de Freitas tende a disputar a reeleição em São Paulo, Leite acredita que há um amplo espaço entre o PT e o bolsonarismo para construir uma candidatura de centro e frear o crescimento de outsiders como Pablo Marçal.

O governador deixa claro que não existe um compromisso formal de apoiar o vice Gabriel Souza, mas diz que o considera o mais preparado para defender o legado do seu governo. _

Governador e prefeito vão à Holanda aprender sobre prevenção às cheias

Na segunda quinzena de fevereiro, o governador Eduardo Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, irão à Holanda ver de perto obras de prevenção contra cheias que podem ser replicadas no RS.

O governador viajará acompanhado do secretário Pedro Capeluppi (Reconstrução). Melo levará Germano Bremm (Meio Ambiente) e o presidente do Dmae, Bruno Vanuzzi.

O prefeito embarca no dia 19 de fevereiro e retorna em 1º de março. Leite viaja no dia 18 e volta dia 26, porque antes de Amsterdã fará parada em Estocolmo para participar da Techarena, maior feira de tecnologia e negócios da Escandinávia. Dessa feira, participarão o presidente da Invest RS, Rafael Prikladnicki, empreendedores gaúchos e representantes do Instituto Caldeira e da organização do South Summit. A Invest RS está articulando a agenda em Estocolmo com o Caldeira. _

Mais especialistas em hospitais de 18 municípios gaúchos

A secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, assinou ontem contratos com 19 hospitais de 18 municípios para a ampliação dos serviços de especialidades. A contratação foi viabilizada por meio do Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), do Ministério da Saúde.

Entre as instituições de saúde, estão hospitais de Alvorada, Camaquã, Cacequi, Bagé e Ijuí.

O programa tem como meta reduzir a fila de consultas e procedimentos especializados, como oncologia e cardiologia, por meio de contratos com médicos especialistas. A proposta prevê que pacientes com suspeita de câncer, por exemplo, obtenham o diagnóstico em até 30 dias. _

Tribunal de Justiça aprova quatro listas tríplices

Em uma tacada só, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça escolheu ontem as listas tríplices para quatro vagas de desembargador abertas em 2024. Duas são da cota da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) e duas do Ministério Público.

As listas serão encaminhadas ao governador Eduardo Leite, a quem caberá escolher os desembargadores. _

Decisão libera projeto do Dmae

O projeto que transforma o conselho deliberativo do Dmae em órgão consultivo e altera a estrutura de cargos já pode voltar ao plenário da Câmara de Vereadores. O efeito suspensivo foi publicado no final da tarde de ontem. A proposta é da prefeitura.

O documento é assinado pelo desembargador Eduardo Delgado, da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, relator da ação.Na decisão, o magistrado diz que não houve máculas no processo legislativo do projeto.

A votação foi suspensa depois que o juiz Gustavo Borsa Antonello acolheu pedido da vereadora Natasha Ferreira (PT) e determinou que o texto fosse debatido por 90 dias antes de ser votado. O argumento era de que a lei orgânica de Porto Alegre prevê três meses para debate prévio de propostas. _

OAB-RS

Lista 1

Alexandre Gastal

Cristiane Nery

Arnaldo Guimarães

Lista 2

Cristiane Nery Isabel Borjes Arnaldo Guimarães

MP-RS

Lista 1

Márcio Gomes João Pedro Xavier Luiz Fernando Calil

Lista 2

João Pedro Xavier Vera Lúcia Sapko Márcio Gomes

POLÍTICA E PODER

Espaço aéreo de Washington é um dos mais complexos dos EUA

O espaço aéreo na região de Washington, onde ocorreu o choque entre o avião da American Airlines e o helicóptero Blackhawk das forças armadas, é um dos mais complexos dos Estados Unidos. São vários os motivos:

O tráfego é muito intenso na área. Além do Aeroporto Nacional Ronald Reagan, que recebe voos domésticos, há outros dois grandes terminais na região, entre eles o internacional Dulles.

Além de voos comerciais, há muito tráfego de aeronaves militares, com helicópteros das forças armadas e da Guarda Civil, que costumam utilizar como rota o Rio Potomac. Voam baixo, na linha de aproximação e decolagem dos voos comerciais.

Há ainda várias bases aéreas na região e o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos EUA. Por fim, zonas de exclusão aérea devido aos prédios sensíveis como a Casa Branca, o Capitólio e o Pentágono.

Tudo isso exige bastante dos pilotos e do controle aéreo, que operam em diferentes frequências de rádio. 

Expedição ao redor da Antártica deve se encerrar hoje

A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica deve chegar hoje ao Porto de Rio Grande, no sul do Estado. Foram percorridos mais de 27 mil quilômetros ao redor do continente gelado. Os exploradores partiram do Brasil no dia 23 de novembro de 2024.

A missão foi coordenada pelo professor Jefferson Simões, da UFRGS. Ele liderou os quase 60 pesquisadores de sete nacionalidades diferentes, que por três meses navegaram a bordo do navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov.

- A circum-navegação marcou uma nova fase das atividades da comunidade científica brasileira nas regiões polares. Isso mostra o nosso protagonismo nos fóruns internacionais antárticos, o crescimento da presença brasileira e, em destaque, a presença gaúcha - explicou à coluna.

Na tripulação estão pesquisadores de Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. São 27 brasileiros vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).

- Nossa missão explorou novas áreas da Antártica, a partir do ponto de vista brasileiro. O Brasil nunca havia feito uma participação na Antártica Oriental, e isso mostra que a comunidade científica brasileira tem a capacidade de organizar, não só cientificamente, mas logisticamente, as suas missões - completou. _

O acordo possível

Apesar da fragilidade, o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, com todos os seus problemas e limitações, tem funcionado.

Com a libertação dos oito reféns ontem, já são, no total, 15 cativos que estavam nas masmorras de Gaza que conseguiram voltar para suas casas. No primeiro grupo, libertado no domingo, dia 19, eram três mulheres. No segundo, no último sábado, outras quatro. Entre os oito de agora, estão o primeiro homem, Gadi Mozes, e a soldado Agam Berger, que Israel precisou exigir provas de vida ao Hamas ao longo da semana.

A cada libertação, há uma coreografia encenada pelos terroristas para demonstrar força - homens com máscaras e fuzil em punho. Em geral, os reféns são passados das mãos do Hamas para a Cruz Vermelha, em meio a uma multidão. A confusão claramente coloca em risco a segurança dos cativos.

Em Gaza, milhares de civis palestinos estão retornando para o Norte, para o que sobrou de suas residências. Muitos encontram apenas escombros.

Libertar prisioneiros palestinos condenados por ataques em Israel traz um gosto amargo para israelenses e o repúdio das alas mais conservadoras. Mas vale lembrar que esse é o acordo possível. Em uma região marcada pelo sangue, seu cumprimento já é algo a ser celebrado. _

Entrevista - Michele Prado - Coordenadora do Stop Hate Brasil

"Há escalada de radicalização online"

A organização não governamental Stop Hate Brasil identificou 125 bandas neonazistas no país, quatro delas no RS. À coluna, a coordenadora do trabalho, Michele Prado, comenta o aumento do extremismo.

Como vocês chegaram a quatro bandas no RS?

Identificamos quatro por enquanto. Digo por enquanto porque há 47 que ainda não conseguimos identificar o local de origem. No total, mapeamos 125 bandas neonazistas no Brasil. Ontem, localizei mais uma no Rio Grande do Norte. É um trabalho de longo prazo, pode ser que surjam novas e que apareçam novos Estados.

Já foram mais bandas no RS?

Temos uma lacuna de dados confiáveis e verificáveis em relação ao extremismo, especialmente violento, racial e etnicamente motivado, que é o neonazismo. Os dados que circulam, segundo os quais haveria mil células nazistas, muitas concentradas na Região Sul, não têm base verificável. São números fictícios. Há operações policiais no Sul, mas também no interior do Pará, em Rondônia, Minas Gerais e Bahia, por exemplo. Em relação às bandas, São Paulo se destaca, concentrando grande número (45) e uma rede bem estruturada. Há indivíduos neonazistas que operam essa subcultura desde os anos 1990, que têm selo fonográfico, casas de evento e sites. Não é algo marginal, é estruturado.

Elas se conectam?

Sim, fazem álbuns em conjunto, usam vários pseudônimos, criam múltiplas bandas e gravam muitos álbuns não só com outras bandas neonazistas brasileiras, mas também internacionais. Identificamos 140 álbuns com bandas neonazis de 35 países.

O objetivo é recrutar jovens?

Principalmente jovens, que estão mais vulneráveis. Mas há pessoas de todas as idades. Na liderança, há muita gente com mais de 40 anos. Quando escutam as músicas juntos, têm uma sensação de pertencimento. Usam muitos canais no ambiente digital.

Como vocês pressionam as plataformas para que removam os conteúdos?

Muitas músicas ainda estão ativas. Estamos tentando uma reunião com Spotify. Inclusive uma das bandas tem selo de artista verificado. Esse indivíduo tem cinco bandas neonazistas e vai tocar em dois festivais neonazistas na Argentina e na Itália nos próximos meses. No YouTube, há mais ainda. O Telegram é pouco colaborativo. Discord melhorou bastante as políticas de segurança. O X está bem difícil. A Meta era colaborativa, hoje, com as mudanças em suas políticas, não sei. Há escalada de radicalização online, principalmente entre crianças e adolescentes. É uma epidemia global.

Como está o monitoramento do antissemitismo?

O antissemitismo é a porta de entrada para a radicalização. Na semana passada, houve um atentado em uma escola nos EUA cometido por um adolescente negro. Ele deixou um manifesto antissemita. Antissemitismo, racismo, é crime imprescritível e inafiançável. Se a pessoa proferir esse discurso hoje, se gravar um disco neonazi, racista, antissemita, daqui 10 anos ela pode ser processada. Precisamos com urgência de regulamentação online específica sobre extremismo violento e terrorismo online. _

INFORME ESPECIAL 

sábado, 25 de janeiro de 2025


25 de Janeiro de 2025
MARTHA

O conteúdo desta coluna reflete a opinião da autora

Telegrama para você

Telefonávamos para conversar e combinar encontros. Enviava-se cartas pelo correio, que chegavam ao destino semanas depois. E usava-se o telegrama para notícias urgentes. Pai hospital volte logo. Suprimiam-se preposições, pronomes: se pagava por palavra.

Ria-se muito em frente à televisão. Viva o Gordo, Chico City, Os Trapalhões, Armação Ilimitada, Casseta e Planeta, TV Pirata. O último capítulo da novela parava o país. Nossa propaganda era premiada no Exterior.

Viajar de avião era um evento. Serviam farta comida e bebida durante os voos. Fumava-se dentro da cabine. Aos 13, meninos e meninas já tinham dado sua primeira tragada. Saída de colégio era um fumódromo. Festivais de música e torneios esportivos eram patrocinados por cigarros.

Mertiolate ardia. Crianças tinham cáries. Não havia flúor na pasta de dente. Tomava-se menos água. As pipocas vendidas no cinema vinham em saquinhos de papel. Às vezes, o filme parava no meio e a plateia assobiava para avisar o projetista. Namoros começavam quando se pegava na mão. Mostrava-se na telona o documento de liberação do filme pela censura.

Casar virgem era comum. Não se sabia o sexo dos bebês antes de nascerem. Esperar fazia parte do viver.

Parece mentira, mas há documentos, testemunhos, sobreviventes: era assim mesmo. Quem viveu, lembra com saudade, mas sem perder o juízo: voltar no tempo, nem pensar. Evoluímos. Se antes varríamos para baixo do tapete os preconceitos e a alienação, hoje temos informação instantânea e escutamos a voz de todos, graças à revolução digital. Seria maravilhoso se fizéssemos bom uso dessa conexão progressista, mas o ser humano é craque em estragar tudo. 

Por ganância e irresponsabilidade de alguns, ficará cada vez mais difícil perceber o que parece mentira e o que parece verdade. Já que a desinformação produz ainda mais poder e dinheiro, seremos transformados em consumidores deliberados de falsidades e habitaremos um planeta sem alma, totalmente manipulado. Crise mundial de confiança. E a solidão se expandirá.

Não sou de fazer drama, mas dá vontade de enviar um telegrama para aqueles poucos que ainda sei o telefone de cor. Prepare malas embarque imediato montanhas. 

MARTHA

Caladas vencem?

Com muita dança e alegria, a Alice e a Kelly trazem a moda fitness para o Sextou das Gu. Com cores que são a cara do verão, elas fizeram sucesso nas escolhas de shorts, camisetas e tênis que combinam moda com esporte.

Com tecidos leves e tecnológicos, a linha não só proporciona conforto, mas também oferece versatilidade no dia a dia. O uso de acessórios como bonés, mochilas e garrafas personalizadas completa os looks, reforçando a ideia de que se vai além das atividades físicas, se tornando um estilo de vida.

Quer conhecer todas as opções de moda fitness da Pompéia? Confere as peças no site lojaspompeia.com e no app. Se ficar na dúvida de como combinar as peças esportivas no seu dia, consulte o serviço de consultoria de moda gratuito, disponível em todas as lojas da marca. Aproveita para conferir as novidades no Donna Beauty Pompéia, no Pontal Shopping (Av. Padre Cacique, 2.893, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 12h às 21h). _

Já se usava muito o termo que escolhi para o título desta carta quando a conversa tratava de pessoas que preferem não expor seus relacionamentos, e até conquistas profissionais, nas redes sociais - a vitrine contemporânea que serve de validação para tantas pessoas.

Agora, penso que a expressão vai ganhar uma amplitude também no campo da beleza: passados anos da estética do exagero (para quem? a minha opinião conta mesmo para as que curtem pesar a mão nos procedimentos?), a naturalidade tem ocupado espaço nas salas de espera e nas cadeiras de especialistas da área.

A discussão ganhou mais fôlego quando a atriz norte-americana Lindsay Lohan surgiu com aparência muito jovem, embora extramente natural, após anos de abusos de drogas para os seus 38 anos de idade. O que ela fez, afinal? Não saberemos ao certo, mas profissionais já enumeram as técnicas queridinhas para aquelas que pretendem buscar um efeito de frescor e hidratação. A famosa carinha descansada, que passados os 40 anos sentimos tanta saudade.

A conversa pode ir muito além de ácidos e agulhas, como a busca por um equilíbrio e até textos de algumas pessoas trazendo à tona que o "disfarce dos procedimentos indetectáveis" pode até provocar mais insegurança em quem não teria acesso aos milagres da juventude conquistada. Assim como a moda nunca é só uma roupa, a forma como escolhemos tratar o passar do tempo também é um ato personalidade. E quem pode dizer o que é certo ou errado? _

Agendonna - Litoral - Uma temporada fashion em 2025

Já tradicional no verão gaúcho por contar com diferentes operações gastronômicas e culturais, o Ramblas Atlântida (Av. Central, 2.060) adicionou mais um charme ao roteiro oferecido. O bairro comercial reúne cerca de 20 lojas na "calçada da moda", a passarela mais fashion do litoral gaúcho.

Além das marcas consolidadas que já fazem sucesso no espaço, como Maria Mano/ Ton Âge, Espaço Boho, Le Showroom, Loz, Mareblu, Rosangela Cecchin, entre outras, estreiam neste verão a sofisticada loja multimarcas de luxo Twin-Set Beach Club e a L`Arrive, que reúne moda, decoração e arte. Outra novidade é uma unidade do salão de beleza Raphaelli Essential Therapy. Veja mais informações no perfil do Instagram @ramblasatlantida.

Aos finais de semana, vale visitar a tradicional feira Le Marché Chic, que já citamos aqui na Agendonna.

Tendências - Chocolate Lifestyle

Localizada na Galeria Casa Prado (Rua Dinarte Ribeiro, 148), a Just Chocolate é a novidade em Porto Alegre dedicada ao universo do chocolate. Com arquitetura inspirada no minimalismo de lojas japonesas e sul-coreanas, a loja oferece produtos próprios e de marcas brasileiras premiadas que seguem o conceito bean-to-bar, elaborados do grão do cacau até a barra com rastreabilidade de origem. Outro destaque do espaço são itens de lifestyle, como camisetas (R$99), bonés (R$130) e bolsas ecológicas (R$39,90), com o design criativo da marca. De quarta a domingo, das 12h às 19h. Mais em informações em @justchocolate.

CARTA DA EDITORA 


25 de Janeiro de 2025
J.J. CAMARGO

Se pudesses escolher, o quanto viverias?

Quando estamos mais perto da morte, a família é ainda mais insubstituível

Dois cenários representam a maioria absoluta dos casos: no primeiro, prepondera a perda progressiva da cognição, que pode ser rápida quando se manifesta antes dos 70 anos, ou mais lenta naqueles casos que se superpõem à demência senil. De qualquer maneira, a alienação progressiva, corroendo os vínculos afetivos, empresta uma inegável naturalidade à terceirização dos cuidados.

Um evidente dilema se instala nas condições intermediárias, em que o nosso queridão já não é mais o mesmo, mas os períodos de confusão mental se alternam com momentos de surpreendente interação. Nesta fase, a atitude dos familiares é posta à prova quanto à resiliência e reciprocidade de afeto.

Na fase terminal da doença, em que família e paciente não mais se reconhecem, só sobram lembranças carinhosas, dolorosamente unilaterais. Mas ainda assim encontrei filhos que não aceitaram delegar o cuidado a ninguém, porque estavam convencidos de que a paciência necessária nessa missão é fruto de um afeto que não se pode comprar. 

Das muitas histórias que encontrei, me encantou a de Carlos Edu Bernardes, que não conheço pessoalmente, mas fez uma postagem que me comove cada vez que a releio: "Meu pai tem Alzheimer, e todos os dias me pergunta: que dia é hoje? Eu digo sempre que é Dia dos Pais, e lhe tasco mais um abraço!". Cara de sorte, pois teve um pai maravilhoso e ainda soube aproveitar a ventura de retribuir no final da vida dele.

Recentemente, circulou na internet um diálogo afetuoso entre um homem velho e uma moça com gravidez avançada, sentada próxima dele, no metrô. A curiosidade dele era a expressão da mais pura solidariedade: "Falta muito?". E ela, com a voz embargada: "Três meses". Então ele, com a alegria genuína de quem supõe que está ajudando, disse: "Fique tranquila, vai dar tudo certo!". "Eu sei, estou tranquila, obrigada!". Instantes depois, ela toca-lhe no braço e pede: "Pai, levante, é aqui que nós descemos".

No segundo cenário, numa condição mais fisiológica em que o paciente idoso conserva intacta a consciência da proximidade do fim, mais insubstituível é a presença da família. A confissão que se segue seria muito improvável com um cuidador ocasional: "Meu pai, no final da vida, confessou-me entre um cochilo e outro que sente estar morrendo um pouco a cada dia. Depois de mais uma soneca, e percebendo que eu ainda continuava massageando suas costas muito magras, me disse que tinha aprendido uma coisa importante nos últimos meses: ?É possível, sim, uma pessoa normal querer morrer!?. Não soube o que dizer e aproveitei que ele estava de costas para chorar em silêncio".

A proximidade da família é valorizada como em nenhuma situação quando todas as conversas passam a ter a solenidade de uma despedida e as memórias são resgatadas com a força de quem percebe que, por falta de oportunidade, aquelas revelações não mais serão repetidas.

O Leonardo, que cuidou da mãe até o fim, tomou fôlego duas vezes para me contar do último desejo dela: "Que tenhas, com teus filhos, a sorte que tive com o meu". _

J.J. CAMARGO

25 de Janeiro de 2025
ANDRESSA XAVIER

Baseado em fatos reais

Não consigo parar de pensar na dona Zeli. Ela virou, sem querer, uma personagem do Rio Grande do Sul, pelas razões mais trágicas e que mais parecem uma série ficcional. Imagino, ou tento imaginar, pelo que ela está passando. Por um lado, sobreviveu a dois envenenamentos. Por outro, perdeu marido, irmãs e sobrinha nas duas ocorrências. Penso também no menino, filho da Tatiana, que perdeu mãe e avó após comerem o fatídico bolo com arsênio na antevéspera de Natal, em Torres.

Internada, Zeli teve a vida virada de cabeça para baixo. Ela, afinal de contas, fez o bolo. A dúvida inicial é se queria matar as pessoas, se sabia que havia algo errado, se os ingredientes tinham problemas. Com o rápido trabalho de investigação, a Polícia Civil logo elucidou que se tratava de envenenamento. Os exames analisados pelo Instituto-Geral de Perícias, também com muita agilidade, indicavam a presença da substância. A possível autoria saía da Zeli e pairava na nora, Deise.

Todos ficaram acompanhando o novo capítulo querendo entender se Diego, o filho único da Zeli e do Paulo, era vítima ou cúmplice da esposa. Com o passar dos dias, soubemos que passou mal após beber um suco feito por Deise. Ele e o filho tinham, também, veneno no corpo, revelou o exame de urina. O pai dele teve o corpo exumado. Era para ter sido cremado, mas por uma burocracia, foi enterrado, o que permitiu o exame póstumo. A Deise, segundo o depoimento do Diego, ainda tentou, direto com o cemitério, mudança de sepultamento para cremação.

A Zeli, fico imaginando, vai confiar em quem agora? Em 18 dias, do bolo até a alta hospitalar, tinha perdido pessoas muito próximas. Como comer sem pensar que pode ter veneno ou que será vítima de um novo atentado? Como restabelecer a confiança nas pessoas?

No depoimento que prestou essa semana, a matriarca contou que chegou a fazer um teste de Instagram sobre psicopatia, pensando na nora. Eram oito perguntas e todas se encaixavam no perfil. Enquanto o filho segue se negando a acreditar na participação de Deise e não tira a aliança do dedo, Zeli conta que sabia da inveja e via as manipulações da nora. Daí para pensar que ela poderia envenenar a família são outros quinhentos. Coloco-me no lugar dela de novo. Quem imaginaria um roteiro digno de livros da Agatha Christie acontecendo na sua família?

A ciência pode explicar o que se passa na cabeça da Deise. O que a Zeli pensa também deve ter explicação científica, mas me causa uma tristeza enorme pensar no sofrimento de uma pessoa querida por todas as testemunhas. Ainda que não fosse, nada justificaria matar alguém dessa forma. O tema do bolo é de grande atenção do público e da imprensa. Em um mundo de redes sociais e memetização de tudo, até esse episódio vira brincadeira e piada. Faz parte, mas preciso lembrar aqui que, por mais que pareça série, estamos falando da vida real de uma família que parecia normal e que sofre um duro golpe. 

ANDRESSA XAVIER

O reinado das desconfianças

Em meio à posse nos EUA, uma ordem quase despercebida de Lula a seus ministros na reunião de segunda-feira passada revelou que o governo sofre de um vírus que acomete organizações nas quais a desconfiança é regra geral. Ressabiado pela norma da Receita que - corretamente, aliás - reforçava o monitoramento sobre movimentações via Pix acima de R$ 5 mil mensais, Lula determinou: "Daqui pra frente, nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela Presidência através da Casa Civil".

Na prática, Lula proibiu que seus ministros tenham iniciativa. Como qualquer decisão pode dar xabu no campo de batalha das redes, ninguém que tenha apreço pelo próprio pescoço se mexerá sem a anuência prévia do Planalto. O governo ficará ainda mais lento, burocrático e amarrado.

Quando uma organização, seja governo ou empresas, decreta a centralização de atos corriqueiros, ela expõe uma série de anomalias. Primeiro, evidencia que o chefe não confia nos subordinados. No caso do Lula III, nenhuma surpresa. É provável que nem Lula tenha conseguido decorar os nomes de seus 39 ministros, com alguns dos quais, provavelmente, só troque ideias na festa de Natal do Planalto. 

Não há organização funcional em que um chefe contabilize 39 subordinados diretos, ainda mais quando são tão díspares e representam tantos interesses divergentes. Num sistema assim, cuja única direção estratégica é Lula vencer a eleição de 2026, cada um age pela sua cabeça e, na dúvida, ninguém faz nada.

A centralização também é um sintoma da inexperiência de equipes, da ausência de objetivos e conceitos claros ou ainda de sua compreensão pela turma do "sim, senhor". Causas e conceitos cristalinos ganham até guerras contra inimigos mais fortes. No Vietnã, guerrilheiros mal-equipados enfiados na floresta e em túneis derrotaram a vasta máquina bélica dos EUA porque se organizavam em células com autonomia para agir de acordo com conceitos bem assimilados. Enquanto isso, não raro um oficial americano tinha de percorrer toda a cadeia de comando, às vezes até o Pentágono, e esperar uma resposta sobre o que fazer. O resultado foi o maior fiasco militar da história dos EUA.

A bateção de cabeça no Planalto só piorou quando Lula revogou a normativa da Receita. Qual mensagem equivocada, além da bagunça na gestão, Lula acabou transmitindo? Alô, fraudadores, corruptos e criminosos em geral: suas movimentações via Pix não serão atrapalhadas pela Receita. É de se perguntar também por que tantos políticos não querem mais transparência bancária. Felizmente, porém, há outros instrumentos do Fisco para, se for o caso, flagrar movimentações suspeitas. Que assim seja. 

MARCELO RECH 


25 de Janeiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Perda de tempo com medidas contra inflação

Entre segunda e terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou reuniões ministeriais para evitar erros de comunicação, depois que a manipulação de parte da oposição transformou portaria da Receita Federal em manobra para "taxar o Pix". Ponto para a oposição e a economia subterrânea, que provocaram recuo, mas aí não havia erro, apenas ineficiência.

Erro, mesmo, veio na quarta-feira. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse em programa oficial, que havia estudo de "conjunto de intervenções" para baixar a inflação. E o ministério da Agricultura informou que uma das medidas era a alteração de regras sobre validade de alimentos - um anúncio não autorizado, vetado explicitamente na véspera por Lula.

A semana de tiro no pé terminou com nova reunião no Planalto e o anúncio de que o governo pode baixar imposto de importação caso o preço lá fora esteja menor do que aqui dentro. Vai ser preciso procurar muito. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos. E boa parte dos preços que subiram muito aqui aumentaram também lá fora.

Se há um sinal positivo é o de reconhecer que a inflação está alta e que muitas famílias enfrentam preços que subiram muito acima da média - cada padrão de consumo tem a sua variação específica. Por exemplo, o café subiu porque repetidas secas e inundações prejudicaram a oferta global. O que o governo Lula pode fazer, além de preservar a Amazônia? Nada.

O óleo de soja é mais didático: um dos motivos do aumento é a alta do dólar, já que o grão tem cotação internacional. Nesse caso, a medida mais eficaz seria equilibrar as contas públicas, pois foi a crise de confiança fiscal que ajudou a levar o câmbio para R$ 6 e além. Mas isso está em discussão no Planalto?

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta dar racionalidade. Avisou que a mudança no prazo de validade de alimentos não vai prosperar. Depois de dois equívocos em sequência, o governo comete não um erro de comunicação, mas de gestão: cria expectativa de solução de problemas insolúveis. As "medidas" ensaiadas terão efeito pequeno ou nenhum, e pode ocorrer mais desgaste, agora com consumidores (ou eleitores). _

Primeiro conflito entre Trump e Musk

Apareceu a primeira treta entre o presidente Donald Trump e o "first buddy" (primeiro amigo) Elon Musk. Trump anunciou com estardalhaço uma iniciativa de US$ 500 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões, quase um terço do PIB do Brasil ou quase todo o da Noruega). Trata-se da Stargate, de infraestrutura para inteligência artificial, que tem como sócios OpenAI (dona do ChatGPT), Oracle, Softbank e MGX. Musk cravou, em sua rede:

- Eles não têm, de fato, esse dinheiro.

Existe uma treta anterior entre Sam Altman, dono da OpenAI, e Musk, que apoiou a criação da empresa, depois acionou Altman na justiça por abandonar o desenvolvimento de tecnologia de forma não lucrativa para ganhar dinheiro - a primeira parte é um fato. E fez reparos também a outros potenciais investidores:

- O SoftBank tem menos de US$ 10 bilhões garantidos. Tenho isso de boa fonte.

Ao duvidar da capacidade de os envolvidos fazerem os aportes necessários, Musk mina a credibilidade de Trump. O que disse o presidente? Que está tudo certo. Musk integra o governo como chefe do Departamento de Eficiência Governamental, cuja sigla em inglês é Doge, nome da memecoin que apoia. Será tudo uma piada? _

Além de equilibrar as contas para moderar o dólar, economistas destacam que o governo poderia administrar menos estímulos ao crescimento para segurar o repasse de preços. Não ao ponto de gerar recessão, mas para desacelerar.

Trump suaviza e dá alívio a dólar

O real é a segunda moeda que mais se valorizou entre 118 nos primeiros 24 dias do ano, empatado com o peso da Colômbia. As duas moedas ganharam 5,3%, só atrás do rublo russo, que se apreciou 9,8%.

O levantamento é da Austin Rating, com base na Ptax, taxa média de câmbio do Banco Central (BC), não de fechamento. Na sexta-feira, o dólar encerrou em R$ 5,918, variação para baixo de 0,13%. Durante o dia, teve mínima de R$ 5,867. A diferença foi atribuída a desconfiança do mercado com medidas de combate à inflação.

Em entrevista à Fox News na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que preferiria não "ter de impor" tarifas à China. A porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Mao Ning, afirmou que a cooperação comercial e econômica entre China e EUA "é mutuamente benéfica e vantajosa para todos". _

Reação em cadeia

Moeda %

Rublo (Rússia) 9,8

Real (Brasil) 5,3

Peso da Colômbia 5,3

Won (Coreia do Sul) 3,3

Kina (Papua) 3,2

Zloty (Polônia) 2,9

Rand (África do Sul) 2,8

Fonte: Austin Rating

GPS DA ECONOMIA

25 de Janeiro de 2025
INFLAÇÃO

Governo quer reduzir imposto para baratear os alimentos

Ideia é mexer na alíquota de importação de produtos que estão mais caros no mercado interno do que no Exterior. Planalto, que teme desgaste pela escalada dos preços, também quer estimular a produção e baixar os custos de mediação. Tabelamentos estão descartados, de acordo com a Casa Civil

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou na sexta-feira que o governo federal quer reduzir o imposto de importação de alimentos que estiverem mais caros no mercado interno em relação ao Exterior. De acordo com ele, não há justificativa para o país ter produtos com preço acima do patamar internacional.

- Todo produto que o preço externo estiver menor que o interno, vamos atuar. O preço se forma no mercado. Se tornarmos mais barata a importação, vamos ter atores do mercado importando - afirmou Costa, após reunião de ministros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O setor de alimentos foi o principal responsável pela alta de 0,11% em janeiro do IPCA 15, considerado a prévia da inflação. O tomate, por exemplo, ficou 17% mais caro no período, enquanto o preço do café aumentou 7%. O governo federal teme desgaste diante do impacto sobre as famílias.

Segundo Costa, além de mexer no imposto, o governo ainda vai buscar estimular a produção e atuar para reduzir custos de mediação. Ele descartou, no entanto, qualquer "medida heterodoxa", como criação de uma rede estatal de alimentos ou de subsídios.

- Não haverá congelamento de preços, tabelamento, fiscalização, não terá "fiscal do Lula" nos supermercados e nas feiras - assegurou.

O ministro também afirmou que a ideia é manter diálogo com produtores, redes de supermercados e frigoríficos para discutir alternativas de como garantir a redução nos preços dos alimentos.

Por outro lado, a expectativa do governo federal é positiva para a produção de alimentos em 2025, em meio à esperada supersafra no ano, o que deve colaborar na redução dos preços da comida. A safra em geral, segundo ele, deve crescer 8,2%, e o arroz, 13%.

- (Será) diferente do que aconteceu em 2024, quando o ano foi extremamente severo do ponto de vista climático, regiões fortemente produtoras de alimentos, a exemplo do Rio Grande do Sul, sofreram muito - disse Costa.

Novo Plano Safra

Também presente na reunião, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o presidente determinou que o governo já comece a discutir um novo Plano Safra que estimule a produção de alimentos. Fávaro alegou que o Brasil é exportador de alimentos e, portanto, não pode um produto nacional estar mais caro no país do que no cenário internacional. _

Portabilidade no vale-refeição

A regulamentação de uma lei de 2022 que permite a portabilidade do vale-refeição e do vale-alimentação ajudará a baratear o preço da comida, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A lei permite que o trabalhador escolha a empresa gestora dos tíquetes - que atualmente é definida pelos recursos humanos de cada empresa. A regulamentação depende do Banco Central (BC).

Para Haddad, maior concorrência entre as bandeiras de vale-alimentação e vale-refeição poderá resultar na redução das taxas de cartões. De acordo com o ministro, isso, em tese, barateará o preço dos alimentos, tanto nos restaurantes quanto nos supermercados. A lei também prevê que as máquinas serão obrigadas a aceitar todas as bandeiras de cartões, em vez de serem atreladas apenas aos estabelecimentos credenciados. 



25 de Janeiro de 2025
POLÍTICA E PODER

Ministra detalha programa para apressar consultas especializadas

O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado a aderir ao programa, que tem por objetivo reduzir a fila de consultas e procedimentos especializados, por meio de contratos com médicos especialistas.

Segundo a secretária Arita Bergmann, no prazo de um ano devem ser atendidas 283 mil pessoas que estão na fila de consultas em áreas como traumatologia e oftalmologia, duas das mais demandadas. 

Nome de biblioteca

A entidade decidiu dar o nome da primeira-dama à biblioteca em agradecimento pela ajuda dela na liberação do terreno de propriedade da prefeitura, onde a nova sede foi construída. _

MIRANTE

Natural de Uruguaiana, o procurador-geral de Justiça, Alexandre Saltz, receberá o título de Cidadão de Porto Alegre. A homenagem foi proposta pelo vereador Moisés Barboza, do PSDB.

A deputada estadual Laura Sito (PT) pediu à secretária Raquel Teixeira que olivro Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva e que deu origem ao filme, seja disponibilizado nas bibliotecas de todas escolas estaduais.

Santa Casa lamenta não ter sido incluída na agenda

- Queremos continuar sendo o maior prestador de serviços do SUS no Rio Grande do Sul. O que será que falta para merecermos o olhar do governo Lula e seu Ministério da Saúde? - questiona Mattos. 

Rosane de Oliveira



25 de Janeiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Tensões à vista para o Brasil

Entre os assuntos da política externa que envolvem a volta de Donald Trump à Casa Branca, estão possíveis conflitos armados no continente americano, com respingos no Brasil.

O primeiro é a retomada do Canal do Panamá. O republicano já afirmou várias vezes antes da posse e na cerimônia o desejo de retomar o controle do local e disse que não deixaria de empregar forças armadas para isso. O segundo, na avaliação de analistas militares, é consequência do primeiro: a possível reação do ditador venezuelano Nicolás Maduro diante disso. Em 2023, Maduro insinuou anexar Essequibo, território que pertence à Guiana.

O jornalista Vitor Netto conversou sobre o tema com o professor Eduardo Svartman, doutor em Ciência Política e professor da UFRGS. O pesquisador avalia que, por enquanto, o discurso do novo governo dos Estados Unidos está focado em México e Panamá:

- É evidente que esse tipo de tensionamento na região não interessa ao governo brasileiro, porque cria instabilidade, que pode se desdobrar em algum tipo de conflito e, consequentemente, em refugiados e presença de potências extrarregionais. Nada disso interessa ao Brasil.

Svartman comenta que, até o momento neste mandato, Trump não falou sobre a Venezuela:

- É importante lembrarmos que, no outro governo Trump, houve uma tentativa de mudança de regime na Venezuela. O secretário de Estado dos EUA gravou um vídeo fomentando que as pessoas se rebelassem, enquanto o governo reconhecia aquele que os EUA identificaram como o legítimo representante do povo venezuelano. Houve movimentação nesse sentido, que acabou não sendo bem sucedida, não mobilizou tropas, mas não se pode descartar algo nesse sentido.

Reflexos no país

Sobre o território de Essequibo, o professor avalia como possível um cenário de conflito armado:

- É importante que tanto a diplomacia quanto a defesa no Brasil estejam acompanhando esses cenários e fazendo gestões para que a situação não se degenere. A Venezuela aparentemente ainda não está no radar de Trump, mas pode vir a estar, o que traria consequências para o Brasil para além do número de venezuelanos que, por causa da prolongada crise no país vizinho, busca uma vida melhor aqui no Brasil. _

Fórum da Liberdade

Expedição ao redor Antártica chega à estação brasileira

A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica chegou, na quinta-feira, à Estação Comandante Ferraz. Agora, a tripulação segue rumo ao Brasil, com a previsão de chegada na quinta-feira.

Na Estação Comandante Ferraz, sob responsabilidade da Marinha, desembarcou um pesquisador e também materiais de carga.

A expedição conta com mais de 60 tripulantes, de sete países. _

Entrevista - Roberto Uebel - Professor de Relações Internacionais ESPM-SP

"Há espaço para diversificar mercados"

As manifestações do governo Donald Trump nos EUA levantam mais preocupações geopolíticas do que econômicas na opinião do professor de Relações Internacionais Roberto Uebel, da ESPM-SP. A seguir, trechos de uma entrevista à coluna.

Que oportunidades o Brasil pode aproveitar a partir do provável acirramento comercial entre EUA e China?

Observando-se os dados do comércio exterior do Brasil para os Estados Unidos e a série histórica do primeiro governo Trump - entre 2017 e 2024 -, é possível ver que há setores que se pode priorizar na relação com os EUA ou buscar novos parceiros em detrimento de uma eventual imposição de tarifas. O Brasil tem uma relação de déficit comercial com os EUA, ou seja, importamos mais do que exportamos. Então, aquela fala polêmica de Trump, segundo o qual o Brasil depende mais dos EUA do que o contrário é uma meia verdade quando se fala da perspectiva comercial.

E em relação ao RS, na questão com a China, o cenário pode nos favorecer?

Para a China, sobretudo, exportamos soja. Para os EUA, temos um volume menor, mas com características mais diversificadas. Em 2024, os três produtos que o RS mais exportou para os americanos foram tabaco, armas e pastas químicas de madeira, que somaram valores de mais de U$ 500 milhões. É um valor muito menor do que os bilhões de dólares que exportamos à China. O RS também pode entrar nesse balanceamento, em eventual tensão comercial entre China e EUA. Há espaço para diversificar nossas exportações para outros mercados.

O Brasil corre o risco de estar nessa lista dos países sobretaxados por Trump?

Há risco, não diretamente ao Brasil, mas sim ao bloco do Brics. Trump não falou explicitamente sobre o Brasil, mas mencionou o bloco do qual fazemos parte, ameaçando que, caso o Brics adote outra moeda de referência para as transações comerciais, os países membros poderiam sofrer algum tipo de sobretaxação ou de tarifa extra por parte dos EUA. Não me parece que o Brasil especificamente esteja no radar dessa nova política comercial do governo Trump.

Do discurso de Trump, o que traz mais riscos ao Brasil?

O que me preocupa de fato são questões geopolíticas. Se o Brasil, seguindo o movimento de adotar uma outra moeda para as transações comerciais no Brics e sofrer pressão por parte dos EUA, isso pode prejudicar nossa balança comercial. Temos uma relação deficitária comercialmente falando com os EUA? Temos. Tanto o Brasil quanto o RS. Mas esse déficit vem diminuindo desde 2017. Então, mesmo durante o governo Trump, que lá atrás aplicou tarifas para produtos importados, conseguimos reduzir esse déficit. Hoje, essa relação consegue melhorar. Acho que as preocupações que temos neste momento são mais de ordem geopolítica ou geoeconômica do que preocupação puramente comercial. Porque se olharmos tanto o Brasil como o RS, exportamos produtos que eles tendem a consumir mais com a nova política do governo Trump. _

Colaborou Guilherme Jacques

INFORME ESPECIAL 

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