sábado, 7 de janeiro de 2023


07 DE JANEIRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

APÓS O PESADELO

Depois da tempestade vem a bonança, reza o velho refrão. A regra, porém, não se encaixa no cotidiano do início do novo ano e do novo governo federal.

Os temores sobre distúrbios em Brasília na posse de Lula e Alckmin não se confirmaram, ainda que as tais "redes sociais" bolsonaristas insistam no absurdo de que tudo o que a TV mostrou ao país foi uma "farsa".

O pesadelo dos quatro anos de confusão do anterior governo, entretanto, não terminou com a viagem de Bolsonaro a Orlando, nos EUA, para lá divertir-se com as invenções de Walt Disney. De fato, ele fugiu para não passar a faixa presidencial a quem o derrotou na eleição. A alternativa, porém, significou muito mais. Nem a cadelinha levada pela primeira-dama (num gesto ridículo) manchou a cena em que o cacique Raoni subiu a rampa ao lado de Lula e uma catadora de lixo, negra, nele colocou a faixa, símbolo do poder.

Os discursos lidos por Lula foram uma crítica aos problemas gerados nos quatro anos anteriores e um compromisso de solucioná-los. Erradicar a pobreza e a fome, por um lado, e, por outro, defender o meio ambiente e conter o perigo das mudanças climáticas são compromissos a não esquecer jamais. Ao nomear Marina Silva como ministra do Meio Ambiente, Lula mostrou que quis acertar.

A revogação das facilidades dadas por Bolsonaro ao porte de armas e compra de munição completa o quadro de otimismo e revela a opção da sociedade para viver em paz, longe da sanha do ódio.

Surge uma dúvida, porém: poderá Lula governar com 37 ministros, sendo que o primeiro escalão não cabe sequer na Esplanada dos Ministérios, em Brasília?

Aumentar o número de ministros pode não ser a forma de melhor governar, mas só uma tentativa de obter maioria no Congresso. De fato, assim ressurge (ou continua) a carcomida politicalha da partidocracia brasileira.

O pesadelo dos quatro anos anteriores terá sido apenas uma pausa no sonho?

A crise do clima segue como pesadelo maior da humanidade. A seca atual é a cicatriz visível do horror gerado por nosso desdém pela vida no planeta.

Além disso, desperdiçamos água e o racionamento ameaça o Rio Grande inteiro. No estuário do Guaíba, acumulam-se bancos de areia e captar água torna-se difícil. Mas seguimos lavando carros com água potável?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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