sábado, 22 de fevereiro de 2025



07/02/2025 - 16h00min
Martha Medeiros

Longa vida àqueles que ainda vivem para nos inspirar

Somos seres domesticados que cumprem o script universal e que precisam desesperadamente de transcendência, portanto, saudemos os talentos multiculturais que nos salvam da brutalidade e da tacanhice

Lembro das risadas que Ney Latorraca provocava em novelas que iam ao ar logo após o telejornal onde Gloria Maria exibia suas primeiras reportagens. Nos intervalos, os bordões criados pela equipe de Washington Olivetto nos induziam a escolher determinada marca de geladeira ou de lingerie, e depois, tevê desligada, era a hora de escutar Gal Costa ou bailar com Rita Lee, mulheres modernas que também devem ter lido as crônicas, contos e poemas de Marina Colasanti, que abriu tantas portas para nós. 

É um baque chegar nesta fase da vida sabendo que amanhã ou depois virá a notícia de mais uma baixa entre aqueles que fizeram parte da nossa história. Estão nos deixando, um a um. Eles adoecem, eles envelhecem – assim como nós. Perdê-los é perder-se também. 

O paradoxo é que, mesmo abalados por esta “renovação de estoque” (assim Millôr Fernandes designava o processo de nascimento e morte), ainda assim, só temos a celebrar. Tivemos a honra de sermos todos contemporâneos. Cada época tem seus ícones, e minha geração foi bem sortuda com o elenco que lhe coube. Que tipo de existência teríamos sem os craques da Tropicália e do Asdrúbal, sem Domingos Oliveira, sem Antonio Cícero? Os dias se tornam inúteis se não escutamos uma canção ou lemos um poema de algum mortal que ajuda a nos formatar.  

Quem primeiro me alcançou um livro de Marina Colasanti foi minha mãe, eu tinha 20 anos, e a partir daí Marina também assumiu, para mim, um papel maternal. Ambas – mãe em contato direto e escritora em contato indireto – foram os faróis que me conduziram na vida: Martha, é por aqui. 

Hoje sei que de nada vale o empenho diário – trabalhar, sobreviver, cuidar dos outros, cuidar de si, sofrer, resistir – se não formos compensados por momentos de plenitude, em que nos conectamos com as ideias e os sentimentos de estranhos que iniciam um diálogo secreto conosco e fazem nossa consciência se expandir. 

Às vezes, quando fico sem ânimo com o rumo que o mundo está tomando, me pergunto por que estou mofando dentro de um apartamento, cumprindo horários e compromissos repetitivos a fim de manter a ordem social, em vez de viver de forma mais lúdica, em simbiose com a natureza, livre das agendas e das expectativas dos outros? 

Não há resposta certa, todo cotidiano é imperfeito: nenhuma maneira de existir atende 100% às nossas necessidades. Então passamos a vida tentando nos adequar, até que chega o dia em que o esforço não é mais preciso. Fim.

Em que tudo isso vai dar, afinal? Em nada. Somos seres domesticados que cumprem o script universal e que precisam desesperadamente de transcendência, portanto, saudemos os talentos multiculturais que nos salvam da brutalidade e da tacanhice. Longa vida àqueles que ainda vivem para nos inspirar. 


22 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Caminhos do desejo

Existe uma expressão urbanista para caracterizar aquela trilha aberta pela população nos parques e praças: caminhos do desejo. São atalhos feitos por dentro do gramado, contrariando o desenho do passeio público. Costumam servir para ganhar tempo e encurtar os passos.

Por mais que tenha a orientação clara das calçadas, o fluxo transgride e inventa um novo roteiro. De tanto ser percorrido, abre-se uma senda de terra batida. É possível visualizá-la de longe. Caminhos do desejo representam o que todos vivemos nas amizades.

Ainda que você dê um sábio conselho, alerte sobre os perigos, pese os prós e contras do dilema, certamente o amigo não seguirá suas palavras. Nada o fará se desviar da determinação dele em direção ao precipício.

Qualquer argumentação racional e serena não substitui o impacto da experiência pessoal. O sujeito precisa mesmo quebrar a cara e juntar os seus cacos em vitral para aprender a lição. Só a experiência ilumina a verdade. Só a experiência apura os ouvidos. Só a experiência catequiza.

Sua retórica bonita não convencerá ninguém, seus pareceres fundamentados encontrarão as paredes da obsessão. Você pode ter passado por uma situação semelhante, um sofrimento parecido, estar falando do lugar da ferida, e o amigo não acatará a sua versão dos fatos.

Acreditará que com ele será diferente, que contará com mais sorte do que você, desprezando estatísticas e evidências. É o que mais acontece nos nossos afetos: ser refutado, e continuar junto.

É uma falácia supor que os amigos pensam igual, sentem igual. O que mantém os laços é que eles nunca se separam, apesar das divergências latentes, apesar de quem se confidenciou nunca adotar a orientação confiável da parceria.

Irei ilustrar a provação com um exemplo comum.

O amigo amarga um relacionamento tóxico, um cativeiro emocional, é humilhado com frequência pelo seu par, constrangido a pedir licença para poder se manifestar, recebe gritos e depreciações em troca de uma atenção apaixonada e incondicional.

No primeiro término, ele solicita a sua opinião. Você diz para aproveitar a oportunidade de livramento, explica que a pessoa não o merece, que ele mudou para pior com a família e com o seu círculo de contatos mais próximo. Só falta soletrar: não volte!

Na semana seguinte, o amigo some porque realizou exatamente o oposto - estabeleceu a reconciliação. Resta conviver com o casal e permanecer disponível na retaguarda. Não tem como ficar ofendido, não tem como se afastar, não tem como se ver desvalorizado e ludibriado.

Os enganos do romance são maiores do que os acertos das amizades. Lealdade é aguentar o erro de quem você ama, suportar a mancada, penar lado a lado, e depois confortar como se fosse uma novidade, como se nada tivesse sido dito antes.

Jamais cutucar o orgulho com "eu avisei!". 

CARPINEJAR

22 de Fevereiro de 2025
ANDRESSA XAVIER

Canudos e algemas

É preciso começar a separar o joio do trigo no noticiário sobre o presidente dos Estados Unidos. Donald Trump é um estrategista, um maestro. Ele sabe do poder que tem e do quanto uma declaração em redes sociais pode pautar a imprensa e os cidadãos. É a famosa cortina de fumaça, que acoberta temas realmente importantes chamando atenção para os mais populares e polêmicos, aqueles que dão o que falar. É quase como um passe de mágica. Quando estamos todos olhando para um lado, o movimento vultoso acontece e nem notamos.

As declarações, assim que um governo se inicia, são importantes de se acompanhar para saber o rumo que um país tomará. Todos prestam atenção nas declarações. Acontece que quando há bravata, muita coisa fica no discurso, para o bem e para o mal.

Ninguém pode dizer que houve estelionato eleitoral nos Estados Unidos. Trump, o outsider de 2016, já era velho conhecido quando foi escolhido novamente em 2024. Ele prometeu tudo o que está fazendo agora, e teve apoio dos norte-americanos, é preciso dizer. Quando disse que retiraria imigrantes ilegais do país, ganhou uma boa parcela da população. O mesmo ocorreu em relação à melhoria da economia e do poder de compra, aproveitando um ponto fraco do governo anterior, que remetia à sua oponente, Kamala Harris.

No combo, porém, vieram outras medidas, como o retrocesso nas políticas de diversidade e sustentabilidade. Dia desses Trump foi às redes sociais oficiais da Casa Branca para simplesmente anunciar a volta do uso de canudos plásticos. É muito claro que ele quer provocar, afrontar, como se estivesse na 5ª série. Quer irritar quem sabe que um canudo demora mais de 400 anos para se decompor e que sabe que o plástico vai parar no oceano e ameaça a fauna. Ele sabe que consegue atingir o objetivo.

O pacote inclui a busca ativa a imigrantes ilegais, com direito a postagens sobre algemas e correntes, mostrando como as pessoas serão retiradas do país. Para induzir que as pessoas pensem que todos são criminosos, publica também rostos ligados ao Estado Islâmico e a estupro de crianças, horrorizando e conseguindo apoio de quem, obviamente, não quer conviver com os criminosos.

Mesclando problemas reais e fictícios e criando seus próprios inimigos, o presidente da nação mais poderosa do planeta usa métodos pouco ortodoxos para conseguir o que quer, incluindo ameaça a outros países, mudança de nomes de territórios e definições de gênero. Com a chance de melhorar muitos aspectos da vida das pessoas, prefere mesmo é lacrar e defender políticas que fazem o mundo, influenciado pelos Estados Unidos, dar passos atrás em avanços que tinham sido importantes até agora. 

ANDRESSA XAVIER

22 de Fevereiro de 2025
MARCELO RECH - Marcelo Rech

Para onde vai o golpe do Pix?

Temos um sistema bancário mais moderno que muito país do Primeiro Mundo, nos orgulhamos do Pix e da fiscalização do Banco Central, e agora mergulhamos na era da inteligência artificial, mas nada disso resolve um tormento na vida do brasileiros. Os golpes digitais só são possíveis porque há algo de muito errado com a abertura e manutenção de contas bancárias no Brasil.

Até 2019, para abrir conta em banco, o candidato devia apresentar no mínimo documento de identificação, dados pessoais e comprovante de endereço e, algumas vezes, de renda. Em setembro de 2019, o Conselho Monetário Nacional publicou a Resolução 4.753 e flexibilizou os requisitos. Desde lá, os bancos podem, de acordo com o perfil do cliente, estabelecer suas próprias exigências. A ideia podia ser bem intencionada - adaptar o sistema para o mundo digital. Mas a prática se revelou um território fértil para vigaristas, que usam a torto e a direito dados falsos ou roubados para abrir contas fantasmas que receberão os produtos de estelionatos ou desvios digitais.

Em tese, não poderiam existir contas em nome de laranjas no Brasil. Aliás, conta anônima nem mais na Suíça, exatamente porque se prestam a lavagem financeira. Então, como é possível que alguém mantenha por aqui uma conta falsa ou em nome de terceiros? O Brasil tem cerca de 170 bancos. Se alguns deles não são capazes de rastrear os verdadeiros donos de contas, o modelo de abertura foi obviamente ultrapassado e apropriado pela tecnologia do crime. Na era da inteligência artificial, quando os estelionatários disparam milhões de ligações diárias para os incautos, seguimos à mercê de uma legislação frouxa e que, com apenas cinco anos, envelheceu precocemente.

Ter acesso ao sistema bancário é uma forma de cidadania e, no Brasil, milhões de cidadãos honestos seguem destituídos desse direito básico porque não cumprem todas as exigências bancárias. Mas essa incapacidade não justifica que outros milhares de brasileiros, sobretudo os menos letrados e mais idosos, sejam diariamente ludibriados por vigaristas que, no fundo, também enganam os bancos e comprometem sua credibilidade.

Reconheça-se que os chamados scams são uma praga mundial e louve-se o esforço de conscientizar os correntistas, ajudando-os a identificar possíveis fraudes. Mas é preciso exterminar o problema na origem. Se e quando forem eliminadas as contas fantasmas, os golpistas é que sofrerão um golpe. As polícias e a Receita atuarão com mais agilidade e poderão seguir sem dificuldades a trilha do dinheiro para fazer a festa contra vigaristas. Com o crime organizado arrombando a porta, o que ainda estamos esperando? 

MARCELO RECH

22 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO RBS

O ápice da crueldade

Zero Hora cometeu um equívoco, na edição de sexta-feira, ao estampar em chamada de capa que Israel recebeu os corpos de "quatro reféns falecidos em cativeiro". O que ocorreu, na verdade, foi a entrega dos corpos de quatro pessoas assassinadas pelo grupo terrorista Hamas, após serem sequestradas no infame ataque de 7 de outubro de 2023 e levadas para a Faixa de Gaza. Acontecimentos devem ser definidos pelos termos corretos. Não foram vidas que simplesmente expiraram, mas mortes causadas pela violência e pela crueza de extremistas que não hesitam em massacrar quem quer que seja para alcançar seus objetivos ideológicos e políticos.

O acordo de cessar-fogo firmado em janeiro previa a troca de reféns inocentes capturados em 2023 por prisioneiros palestinos mantidos encarcerados por Israel. Sem pudores, os membros do Hamas já vinham transformando a libertação dos apanhados mantidos vivos em espetáculos grotescos de propaganda e humilhação. Neste episódio de quinta-feira, porém, chegou-se ao ápice da crueldade, com a exposição em regozijo dos caixões em público. O ato foi classificado como "abominável" pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 

A Cruz Vermelha também condenou firmemente a encenação, lembrando que a devolução de restos mortais, se realizada com um mínimo de humanidade, deveria ser feita com respeito aos mortos e aos enlutados. Foi uma perversidade chocante, mas talvez não surpreendente. A malignidade demonstrada pelo Hamas nada mais foi do que uma demonstração do que seus membros são capazes de cometer em nome da sua causa de ódio a Israel.

Shiri Bibas, 32 anos, e os filhos Kfir, de oito meses, e Ariel, de quatro anos, além de Oded Lifshitz, 83 anos, um ativista pela paz, estavam entre os cerca de 250 sequestrados pelo Hamas em outubro de 2023. Foram levados do kibutz Nir Oz, durante o ataque do Hamas contra o território israelense. Três dos quatro corpos tiveram a identidade atestada, mas os restos que seriam de Shiri Bibas não são da mãe das duas crianças, confirmou o exército de Israel. São uma família e um país dilacerados, que seguem à espera de uma despedida adequada de seus entes queridos.

Espera-se que o episódio não volte a desencadear a guerra na Faixa de Gaza, provocada pela selvagem investida do grupo terrorista há 16 meses, que deixou 1,2 mil mortos - entre eles crianças, mulheres e idosos indefesos. O ataque desencadeou uma óbvia resposta de Israel na defesa de seu direito de existir. Um conflito que, como todo confronto bélico, tem excessos e faz vítimas inocentes. Muitas delas são palestinas, empregadas como escudo pelo Hamas, que, em desrespeito ao valor da vida, não titubeia em sacrificar o seu próprio povo em prol da sua causa. A guerra que eles causaram, sabendo que haveria reação israelense, é prova dessa indiferença.

O acontecimento da última quinta-feira torna a demonstrar a brutalidade dos terroristas e confirma que uma paz duradoura na região depende do alijamento do Hamas do controle sobre Gaza. A solução mais viável para a convivência harmoniosa entre israelenses e palestinos tem como base a construção do respeito mútuo entre os dois povos. Trata-se de um objetivo que deve ser buscado de forma incansável, com o apoio da comunidade internacional. Esta saída, no entanto, depende do fim do domínio do Hamas no enclave, uma vez que o grupo tem como princípio fundador a busca pela extinção de Israel. Não é possível construir a desejada coexistência pacífica se, em uma das partes que deveriam buscar o consenso, reina o arbítrio de um movimento sanguinário que nega o direito de o outro existir. _

OPINIÃO RBS


22 de Fevereiro de 2025
POLÍTICA E PODER

Polo incentiva prefeitos a buscarem investimentos

O secretário apresentou o Plano de Desenvolvimento do Estado e ressaltou os cinco "habilitadores" que o balizam: capital humano, infraestrutura, recursos naturais, inovação e ambiente de negócios.

O que os prefeitos podem fazer? Polo citou a celeridade na liberação de licenças entre as medidas práticas possíveis, mas lembrou que a escolha de uma empresa depende de um conjunto de fatores, como segurança, qualidade de vida, adequação de terreno, boas escolas e oferta de mão de obra qualificada.

Nos dias 8 e 9 de abril, aproveitando o South Summit, Polo e a Invest-RS vão se reunir com os secretários municipais de Desenvolvimento para uma imersão no plano estadual, mostrando as oportunidades que estão no horizonte.

- O Estado fez vários movimentos para garantir mais competitividade. Vamos ter bons anúncios nos próximos meses - disse o secretário. _

Dez anos da arte de Graça Craidy contra o feminicídio

Para que seu grito seja compreendido, a artista carrega nos tons, exagera no preto e no vermelho, esboça corpos disformes, esconde rostos atrás de mãos que ocultam a identidade. Na apresentação do trabalho, a artista - que também escreve com maestria - começa assim:

"Estarrecida. Injuriada. Furiosa. Foi assim que me aconteci no dia em que soube que quem matava as mulheres era o homem que elas mais amaram, o pai dos seus filhos, o príncipe com quem viveriam felizes para sempre. Desde que caladas, submissas e cientes da sua inferioridade". _

Estudantes recebem auxílio para comprar material escolar

O governo pagou também o Prêmio Engajamento, de R$ 150, para os estudantes que realizaram as provas do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul em 2024. Nesta modalidade, foram 16.014 bolsas, com um investimento de R$ 2,4 milhões. _

Rosane de Oliveira


22 DE FEVEREIRO DE 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A agonia de Francisco

Desde a renúncia de Bento XVI, a primeira em quase 600 anos, em 28 de fevereiro de 2013, a porta de saída da Santa Sé já não é vista como escândalo. Antes de Josef Ratzinger, o último Papa a abrir mão do cargo fora Gregório XII, em 1415. O papa alemão reabriu a porteira para o entendimento de que os pontífices, embora representantes de Deus na terra, são, sobretudo, limitados pelo tempo da existência.

No Vaticano, cada vez que a fumaça branca sai da Capela Sistina, há uma sensação entre os cardeais que mistura júbilo e preocupação. Há, claro, a esfera celestial da escolha de novo sucessor, mas, ao mesmo tempo, um sentimento de compaixão: o Papa é prisioneiro do trono de São Pedro. Um cargo vitalício, perpétuo.

Como enviado da RBS ao Vaticano, testemunhei a agonia de dois papas. Bento XVI renunciou aos 85 anos, alegando falta de forças físicas e mentais. Viveu recluso como papa emérito, até a morte, aos 95 anos. João Paulo II, seu antecessor, foi até o fim, aos 84 anos, carregando a cruz. Padeceu sob o peso do Parkinson em uma via crucis pública, acompanhada ao vivo pelo mundo.

Francisco, 88 anos, está há uma semana sem aparecer diante do rebanho, o que levanta rumores e fake news. Sua agonia mergulha a Igreja em um período sempre dramático, o crepúsculo de um pontificado. Além de todos os mistérios que envolvem a tradição católica, a agonia de um papa sempre levanta o estupor, o absurdo de que, embora quase santos, sejam demasiado humanos. _

Eles matam crianças

Abominável, monstruoso, inaceitável. Faltam adjetivos para caracterizar o que o grupo terrorista Hamas protagonizou nas últimas 24 horas, em meio ao frágil cessar-fogo que vigora. Precisou a organização extremista exibir os caixões pretos em um palco, após um desfile mórbido por Khan Yunis, para o mundo lembrar que, sim, eles matam crianças.

Kfir Baba tinha oito meses e meio quando os terroristas do Hamas invadiram Israel e devastaram o kibutz de Nir Oz em 7 de outubro de 2023. Ariel, seu irmão, tinha quatro anos. As crianças e seus pais, Shiri Bibas e Yarden, também foram feitos reféns. Todos foram carregados para dentro de Gaza vivos.

O Direito internacional proíbe tratamento cruel, desumano ou degradante, garantindo respeito pela dignidade na entrega de corpos, mesmo em situações de conflitos armados - sejam vítimas civis ou militares. Mas como falar de Direito se estamos nos referindo a terroristas?

Ainda na quinta-feira, quando a cena dos caixões voltando para Israel escandalizava qualquer pessoa com o mínimo de empatia, uma surpresa macabra ainda estava por vir. No final da noite no Oriente Médio, os médicos forenses de Israel descobriram que os restos mortais entregues como sendo de Shiri, a mãe, não correspondiam aos da refém.

O grupo terrorista diz que os restos mortais de Shiri teriam se misturado com o de outras pessoas no momento de sua morte - que, afirma, sem provas, ter sido provocada em bombardeio israelense. Quanto horror!

Onde está o corpo? O que foi feito? Até quando? São perguntas que qualquer ser humano, independentemente da religião, raça ou ideologia, deveria se fazer. _

Entrevista -Priscila Couto -Líder de Segurança e Confiabilidade do Google na América Latina

"A grande preocupação é como identificar conteúdo fraudulento"

Em 11 de fevereiro, foi comemorado o Dia da Internet Segura. A data dedica-se à conscientização sobre o uso ético e responsável da internet. A coluna conversou com Priscila Couto, líder de Segurança e Confiabilidade do Google na América Latina sobre o assunto.

O que é uma internet segura para o Google?

É a experiência que garante ao usuário que, enquanto ele está utilizando os nossos produtos, terá informações corretas. É também a garantia de que os dados que ele disponibiliza e que, eventualmente, estejam sendo ali utilizados, o serão de forma adequada, garantindo que toda a regulamentação sobre o tema, independentemente do país, está sendo cumprida. Temos todos os cuidados com a proteção de dados, com privacidade e preocupação em fazer com que essa experiência seja segura para as diferentes faixas etárias. Temos experiências customizadas para crianças de diferentes faixas etárias.

Poderia dar um exemplo?

A maior preocupação durante viagens é o que farei com o meu celular. Pensando nisso, lançamos no Brasil o Google Protect para dispositivos Android. Infelizmente, o país vem sofrendo muito com assaltos na rua, roubo de celular. Nossos times conseguiram criar esse app que, por meio de inteligência artificial, reconhece se o aparelho for pego de forma abrupta e tiver velocidade na sequência. Ele bloqueia o aparelho. Além desse, tem outros dois: o bloqueio remoto, para quando você esquece o aparelho no ônibus ou no restaurante. E o bloqueio de dispositivo offline. O sistema Android entende que ele está offline por muito tempo, o que pode ser algo estranho, e bloqueia o equipamento, por segurança.

? Quais as principais "inseguranças" que vocês observam na internet?

Primeiro, tem o phishing, a pescaria: os famosos golpes que podem ocorrer por e-mail, por mensagem de celular, com links fraudulentos, que acabam te levando ou para supostos sites ou simplesmente capturam seus dados. Hoje, o Gmail tem filtros que trabalham de maneira incrível, conseguindo separar uma quantidade absurda de spam, que nem chegam a sua caixa principal. A grande preocupação do Google é como identificar conteúdo fraudulento. Outra coisa que nos preocupa é o gerenciamento de senha. Senha não é feita para ficar escrita em algum lugar, é feita para estar dentro de um administrador de senhas e, se possível, devem ser difíceis, complexas. Hoje, temos um gerenciador que consegue criar senhas fortes para você.

? Que outras dicas pode dar?

Se você entrar no nosso buscador e procurar conteúdo sensível na parte de imagens do buscador, vai ver que as cenas estão borradas. Qualquer imagem explícita, acidentes, por padrão, a busca borra para prevenir as pessoas de terem acesso a esse conteúdo. Quando a gente está falando sobre questões de saúde mental, se uma pessoa buscar a palavra suicídio, vai receber automaticamente o link para entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida). Outro ponto é que nós temos um aplicativo chamado Family Link. Ele funciona tanto com telefones que utilizam o sistema operacional Android quanto com telefones iOS. É um aplicativo de controle parental. Ali, os pais e responsáveis vinculam a conta desse celular da criança ou do adolescente e você vai controlar tudo. _

O TCU está ouvindo a população sobre a qualidade e a segurança das pontes em rodovias do país. Em questionário (confira em gzh.digital/tcupontes), os usuários podem descrever aspectos como iluminação, sinalização, rachaduras e largura.

INFORME ESPECIAL

sábado, 15 de fevereiro de 2025


15 de Fevereiro de 2025
MARTHA MEDEIROS

Rock in Rio 40 anos

Na época, namorava um publicitário que preferia jazz ao rock, mas gostou da ideia de fazer uma viagem de carro comigo para assistir ao Rock in Rio. Seria nossa primeira aventura on the road.

Só que havia uma questão: estávamos longe de ser milionários. Longe, daqui a Lua. Passaríamos todo o janeiro na estrada, como pagar hospedagem? Hotel seria inviável, e dormir em barraca, Deus me livre. Vamos alugar um trailer, ele sugeriu. Topei na hora. Os fogos do Réveillon ainda anunciavam a chegada de 1985 quando saímos de Porto Alegre em um Maverick vermelho, puxando um pequeno trailer caindo aos pedaços.

Foram muitos os mergulhos pelas praias do caminho. Em Paraty, andamos de roda-gigante em uma madrugada romântica, e chegamos ao Rio nos primeiros dias do festival. Como nossos ingressos eram para os shows de encerramento, desengatamos o trailer num camping em Jacarepaguá e fomos de carro até Ouro Preto, onde assistimos a um filme pornô em um cinema suspeitíssimo. É, a gente gostava de uns programas estranhos.

Voltamos para o Rio na manhã em que Tancredo Neves foi eleito presidente, e ainda deu tempo de pegar um bronzeado em São Conrado. À tardinha, já no trailer, comecei a me arrumar para nosso primeiro show. Calça branca, top, sandalinha. O namorado: "Vai ao shopping?" Ignorei a ironia e me dei mal: choveu horrores e a pista virou Woodstock. Da tal sandália nunca mais tive notícia e a calça branca virou pano de chão.

Nos dias seguintes, camiseta, jeans, tênis e rabo de cavalo. Pô, óbvio.

De todos os shows, o mais hipnótico foi o do Queen. Quando Freddie Mercury cantou Love of My Life à capela, regendo a multidão, me senti no imenso átrio de uma igreja: ajoelharia, não estivesse tão espremida. E ainda teve Yes, Rod Stewart, B-52, Nina Hagen, Ozzy Osbourne e os nossos Barão Vermelho, Rita Lee, Blitz, Lulu Santos, Kid Abelha e Paralamas. Foi tudo o que vimos - e sentimos.

Fim de festa. Aquelas mais de 200 mil pessoas - por noite - começaram a voltar para suas casas, suas cidades, assim como nós. Uma semana depois de chegar a Porto Alegre, já estava empregada de novo. O namorado? Casei com ele, tivemos duas filhas e vivemos juntos por felizes 17 anos. Ele preferiu o jazz até o fim.

Não tenho uma única foto que registre este mês de roda-gigante em Paraty, filme pornô em Ouro Preto e rock com lama até o cabelo. Não existia celular e não levamos máquina. No entanto, 40 anos depois, as cenas daquele verão nunca desbotaram dentro de mim. A memória, quando usada, dispara. _

MARTHA MEDEIROS

15 de Fevereiro de 2025
DRAUZIO VARELLA

Passos de caranguejo

Uma reflexão sobre a proposta de vender remédios nos supermercados. Na investida atual, argumentam que o lucro obtido permitiria baixar o preço dos alimentos, medida em consonância com políticas governamentais.

Prezada leitora, vamos supor que você acredite neles e que essa reivindicação seja justa e patriótica. Deveríamos aplicar a mesma lógica para padarias, empórios, lojas de conveniência e botequins, locais que também comercializam gêneros alimentícios?

Levamos anos para criar normas para que as farmácias deixassem de ser simples vendedoras de remédios. Entre várias regras sanitárias, elas devem manter de plantão um farmacêutico formado numa de nossas faculdades de Farmácia e Bioquímica.

Há anos defendo nesta coluna que o caminho deve ser o oposto do que pretendem os supermercados. Temos cerca de 93 mil farmácias espalhadas pelo país inteiro, é mais do que o dobro do número de Unidades Básicas de Saúde (UBS). O desafio deve ser como integrar as farmácias ao SUS, de modo a aproveitar suas instalações e o enorme contingente de profissionais que trabalham nelas.

Vou dar um exemplo. O programa Estratégia Saúde da Família, com equipes de agentes de saúde que batem de porta em porta para orientar e identificar os problemas da população, é considerado pela OMS um dos maiores programas de saúde pública do mundo. Pelo menos duas em cada três residências brasileiras recebem visitas regulares das equipes, que são compostas por quatro ou cinco agentes, um técnico ou auxiliar de enfermagem, uma enfermeira, um técnico em saúde bucal e um médico.

Se somarmos o número dos agentes comunitários com o dos agentes de endemias rurais, temos um contingente com mais de 400 mil trabalhadores. Quando conseguirmos juntá-los aos farmacêuticos e técnicos de farmácia, será um exército enorme prestando serviços de saúde integrados.

As doenças mais prevalentes entre os brasileiros de hoje são as crônicas, responsáveis por 80% dos atendimentos no SUS. Nesses casos, o objetivo do tratamento não é a cura, mas o controle. Como regra, controlar é tarefa mais complexa porque não se restringe a intervenções pontuais, depende de acompanhamento por anos consecutivos, eventualmente décadas.

Tome o caso da hipertensão arterial, condição que pode levar a infarto, AVC, insuficiência renal e outras complicações graves. Os médicos conhecem a regra dos 50%, segundo a qual apenas metade de quem têm pressão alta sabe de sua condição; entre os 50% que recebem o diagnóstico, a metade não se trata; destes, a metade interrompe a medicação por motivos variados. Resultado final: o tratamento cumpre a finalidade em apenas 12,5% dos casos.

Tamanho fracasso é explicado pelo fato de que os medicamentos são apenas um dos componentes da abordagem terapêutica que envolve explicar a gravidade, os riscos, acompanhar a evolução e convencer o paciente a aderir à medicação com regularidade, tarefas que nós, médicos, fazemos mal.

Por outro lado, as pessoas que saem dos consultórios com uma receita vão aviá-la na farmácia. No mês seguinte, quando a medicação acabar, voltarão, quase sempre ao mesmo estabelecimento. Quem seria então o profissional perfeito para acompanhá-la?

O farmacêutico está ali, muitas vezes ocupado com tarefas burocráticas, como controlar a cor dos receituários ou o carimbo do médico. O contato entre os farmacêuticos e o paciente é oportunidade única para transmitir informações e convencê-lo a medir a pressão em casa, acessar um aplicativo ou preencher uma folha com as medições para levá-la ao médico particular ou à UBS na consulta seguinte. O farmacêutico não vai prescrever, mas fazer os controles e avisar o agente de saúde ou o médico das alterações verificadas.

Com pequenas variações, o mesmo pode ser feito com o controle da glicemia no diabetes, das crises de asma, de quadros alérgicos, de ataques epiléticos e muitos outros males.

Diante de tantas possibilidades, o Estado vai responder com a venda de medicamentos ao lado de pacotes de salgadinho e latas de cerveja? Quem vai explicar para o comprador que aquele anti-inflamatório pode causar insuficiência renal ou que aquele remédio é contraindicado para o caso dele: a moça do caixa, o rapaz do açougue? _

Doenças crônicas geram 80% dos atendimentos no SUS

Drauzio Varella

15 de Fevereiro de 2025
J.J. CAMARGO

Não se queixe do que vai piorar

A multiplicação das faculdades de Medicina não é a solução para a caótica realidade da saúde pública brasileira.

Auxiliadas por uma tecnologia cada vez mais aprimorada, as escolas passaram a oferecer uma medicina que só não era a dos sonhos porque os braços longos da tecnologia aumentaram a distância do paciente, tornando-a progressivamente desumanizada, exigindo correções de rumo para que o paciente retomasse a sua posição de figura central em todo processo.

Por evidente necessidade, programas de humanidades na saúde enriqueceram os currículos das melhores escolas, identificadas pela insistência com que passavam a considerar que o paciente e a sua doença eram figuras indissociáveis. E quem as tratasse como se fossem independentes implicaria em um de dois rótulos que ninguém festejaria: incompetente ou charlatão.

Durante algum tempo, as maiores premências da formação médica estavam relacionadas com a necessidade de residência médica como um reforço da experiência prática pós-graduação, exacerbada pela aceleração do conhecimento médico nas últimas décadas. Nos grandes hospitais, a rotina se repetia: próximo da graduação, o doutorando oriundo de escolas menores trazia no olho a angústia pela obtenção de uma vaga em residências ou estágios, consciente de que a exposição ao paciente, na sua escola de origem, tinha sido insuficiente. E a angústia era procedente, afinal, as vagas para residência não contemplavam mais que metade da necessidade.

O que não tínhamos ideia era do quanto se podia piorar o que já estava mal: a multiplicação das escolas médicas produzindo milhares de incautos formandos, procedentes de centros menores, incapazes de resolver sequer seus casos de média complexidade; e, por consequência, arremedos de escolas, mantidas por professores improvisados, com a missão inglória de habilitar jovens ingênuos com a responsabilidade de, veja só, cuidar da vida de pessoas de boa-fé, treinadas em acreditar.

Certamente dessa vilania estarão livres os hipócritas que sustentam que a produção de médicos a granel é a solução para a caótica realidade da saúde pública brasileira. Trata-se de uma tentativa frustrada de esconder a cumplicidade, visto que o real interesse é alimentar a milionária indústria criada para produzir diplomas médicos, sem nenhuma preocupação com a saúde da população mais pobre, e a ingenuidade de pais iludidos com a fantasia de que um canudo desqualificado possa abrir as portas da felicidade para seus filhos.

Explorar a compreensível obstinação de oferecer às nossas crias a senha do sucesso, mesmo que às custas de uma descarada extorsão familiar, talvez seja o crime mais hediondo, porque abusa da inocência para destruir um sonho. _

O real interesse é alimentar a milionária indústria criada para produzir diplomas médicos

J.J. CAMARGO

No fio do bigode

Se um homem pretende despertar o interesse de todos ao seu redor, dou o truque, a fórmula de sucesso: coloque um bigode. Mas não o ascendente, estilo Salvador Dalí, aquele pincel debaixo do nariz, que só vai insinuar loucura.

Nem o clássico lápis que eternizou o Rhett Butler de Clark Gable em E o Vento Levou, que marcou atores em Hollywood nos anos 1940. E ainda não o bigode Chevron, cristalizado na figura do ator Tom Selleck, em formato de divisas das Forças Armadas, cobrindo inteiramente o lábio superior.

Tampouco o bigode faroeste - meio Chevron, meio ferradura -, que se estende pelas laterais da boca.

Muito menos o bigode de Chaplin, em que as arestas são verticais, à semelhança das cerdas de uma escova de dentes presa aos lábios. Até porque esse bigode da candura foi roubado e corrompido pela carranca do líder nazista Adolf Hitler. Ao pensar nele, ninguém mais se lembra do Chaplin, apenas de Hitler.

Tem que ser o bigode reto. Nem magro demais, nem gordo demais.

Ele é uma experiência transcendente da masculinidade, desde sua adoção pelos romanos, que começaram a podar as barbas para que os inimigos não pudessem imobilizá-los nas batalhas. Ocorre uma transformação abrupta de temperamento. Você, de repente, é visto e tratado de modo diferente, mesmo que não tenha mudado em nada na sua essência.

É um efeito marcante e imediato de feedback, como pintar os cabelos, como raspar a cabeça. Não existe maneira de passar batido. Quase como uma cirurgia plástica natural, sem cirurgia. Troca-se a moldura da janela da alma.

Durante suas férias em janeiro, o governador Eduardo Leite experimentou o bigode, e não resistiu perante o alvoroço da sua audiência. Depois de postar foto nas redes sociais com o novo visual, chamou tanto a atenção que voltou para a sua tradicional barba. Por pouco, não prestava uma homenagem involuntária ao seus antecessores bigodudos no cargo: Olívio Dutra, Tarso Genro, José Ivo Sartori, Pedro Simon e Leonel Brizola.

Bigode é um escândalo. A pessoa fica ou mais malandra, ou mais rabugenta, ou mais séria. E mais alguma coisa indecifrável, enigmática.

Basta recordar as celebridades dos filmes de ação dos anos 1970: Chuck Norris e Charles Bronson. Não eram personagens de muitos amigos. Com o bigode, você envelhece. Parece que assume um segundo passaporte, uma identidade de agente secreto.

Trata-se de uma escolha rara, corajosa e ousada hoje em dia, por isso divide as opiniões. Tanto que é mais fácil localizar uma galocha na rua do que um bigode.

Mas, se o governador quiser realmente subir de fase no game da aparência, atrair os holofotes para si, monopolizar a curiosidade, recomendo adotar a suíça.

Você não envelhece, você se torna pré-histórico. Vira o marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil, após liderar o movimento que resultou na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.

Você se converte instantaneamente na efígie de uma nota de 500 cruzeiros de 1981. Ou, indo mais fundo no tempo, de uma cédula de 20 mil réis de 1924. 

CARPINEJAR 



15 de Fevereiro de 2025
COM A PALAVRA - Com a Palavra - Isabella Sander

Neurofisiologista francês de 59 anos pesquisa sobre o impacto dos dispositivos eletrônicos no cérebro de crianças e adolescentese os benefícios da leitura no desenvolvimento cognitivo

"O tempo de tela está destruindo o cérebro das crianças"

Escritor e pesquisador, Michel Desmurget busca mostrar, de um lado, os riscos do consumo de aparelhos como celulares e tablets para um cérebro em desenvolvimento e, de outro, os benefícios do hábito da leitura como forma de estimular a cognição e a inteligência emocional.

Por que você decidiu estudar o impacto do uso de telas nas crianças?

Este é um problema de saúde pública. Como neurofisiologista, sei que o desenvolvimento do cérebro depende de como ele é "alimentado". Fiquei furioso ao perceber a enorme lacuna entre o que a literatura científica dizia sobre o impacto das telas e as informações imprecisas difundidas na mídia. Há alguns anos, videogames violentos eram exaltados, e redes sociais eram vistas como benéficas para o aprendizado. A discrepância era absurda. Não sabemos tudo, mas sabemos bastante, e o que estava sendo propagado não correspondia às evidências científicas. Felizmente, as pessoas estão mais conscientes, pois os efeitos começaram a ficar visíveis.

Quais os desafios ao educar crianças em uma sociedade cujo uso da inteligência artificial é crescente?

O problema das telas segue a mesma lógica. Quando damos um tablet a uma criança ou adolescente, esperamos que seja usado para algo produtivo, como leitura ou aprendizado. Mas todos os estudos mostram que isso raramente acontece. Em vez disso, passam horas assistindo a vídeos no TikTok, Netflix ou jogando games violentos. Isso é natural, pois essas plataformas foram projetadas para estimular o sistema de recompensa de forma irresistível. Um livro nunca competirá com a Netflix nesse aspecto. Com a inteligência artificial, ocorre o mesmo. 

Ela pode ser uma excelente ferramenta para ajudar a resolver problemas, mas, na prática, crianças e adolescentes a utilizam para que faça o trabalho por eles. Isso gera dois problemas: primeiro, a IA pode errar; segundo, mesmo quando acerta, o estudante não aprende nada. Se não treinamos o cérebro, ele não evolui. O risco é que, coletivamente, fiquemos cada vez mais dependentes da IA, enquanto ela se torna mais inteligente. O importante não é que o ChatGPT resolva um problema de matemática, mas que os estudantes compreendam o processo. A menos que queiramos uma sociedade onde sejamos o mais burros possível, sem entender nada e apenas perguntando ao ChatGPT para fazer tudo por nós - e não acho que essa seja uma boa perspectiva.

O Brasil aprovou lei proibindo o uso de celulares nas escolas, inclusive no recreio. Proibir é uma boa ideia?

Há estudos mostrando que adolescentes, mesmo sem receber nenhuma notificação ou som, olham para o celular de 200 a 300 vezes por dia. É o que os americanos chamam de Fomo (medo de ficar de fora). Apenas o fato de o celular estar na mesa, desligado, reduz sua capacidade de entender e memorizar uma aula. Se você está na universidade e há alguém ao seu lado usando o celular, seu cérebro pensa: "Essa pessoa pode ter uma informação que eu não tenho." Isso atrapalha sua concentração. Mesmo que você tente focar, seu cérebro diz: "Ei, você pode estar perdendo algo." Além disso, há essa ideia de que as novas gerações conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. Isso é um mito.

Por quê?

O cérebro só pode fazer uma coisa por vez. Se um aluno usa o celular durante a aula, é um desastre. Não há um único estudo que demonstre um efeito positivo do uso do celular em aula. No máximo, alguns mostram que não há efeito nenhum, mas a maioria aponta prejuízos. Sobre a proibição, o cérebro jovem é muito mais sensível a esse tipo de estímulo. Para os jovens, a exposição excessiva pode causar disfunções no sistema de recompensa, o que está ligado à aprendizagem e a vários tipos de vícios. É como o álcool. Todos aceitam que há uma idade mínima para beber, porque sabemos que o impacto no cérebro jovem é mais prejudicial do que no cérebro adulto. Com as telas, acontece o mesmo. Por que não tomar medidas para proteger os jovens?

Por que a leitura é melhor para uma criança do que, por exemplo, assistir a um bom filme ou usar outras ferramentas pedagógicas digitais?

Ninguém discute que alguns filmes são obras de arte, mas não é a mesma coisa assistir a um filme de vez em quando e se afundar em vídeos, séries da Netflix e outras coisas estúpidas. Estudos compararam crianças que leem bastante e assistem pouca televisão ou filmes com crianças que assistem muitos filmes e séries e leem menos. Há uma grande diferença nos resultados escolares, no vocabulário e no conhecimento geral. Mesmo considerando um documentário educativo, há dois fatores principais que explicam a superioridade dos livros.

Quais são eles?

O primeiro é a riqueza da linguagem. Estudos mostram que até os livros infantis contêm mais vocabulário e estruturas gramaticais mais complexas do que qualquer conversa oral. O segundo é a profundidade do processamento cognitivo. A leitura permite um nível mais profundo de compreensão porque você pode voltar ao texto, reler, desacelerar quando necessário. O cérebro processa a informação de maneira mais detalhada.

Um estudo mostrou que, pela primeira vez, os não leitores são maioria no Brasil. Como reverter essa situação?

Isso está acontecendo em todo o mundo. A leitura e o aprendizado da leitura exigem esforço, mas o primeiro passo não deve ser impor uma obrigação. Sabemos que ler é útil para a vida da criança, mas dizer a ela "se você ler bastante, terá boas notas e um bom emprego" é inútil. A única maneira de desenvolver a leitura é através do prazer. Sem prazer, não há leitores.

Até quando manter a rotina de ler junto com a criança?

Não pare até o final do Ensino Fundamental. Nesse período, é importante dar à criança alguns livros que sejam muito fáceis e alguns muito difíceis. Se todos forem difíceis, ela não entenderá nada e será frustrante e inútil. Se for fácil demais, ainda haverá algumas palavras que a criança não conhece, e ela poderá entender pelo contexto e apreciar a história. Mas, se você continuar lendo com ela, poderá trazer algumas coisas mais difíceis que ela não conseguiria ler sozinha. É bom ter alguns rituais. 

Então, todos paramos e sentamos no sofá para ler. Para colher os impactos positivos da leitura, você não precisa ler cinco horas por dia. Algo entre 20 e 30 minutos por dia tem um impacto enorme a longo prazo. O pior que se pode fazer é dizer "você vai ler por 15 minutos e depois pode ver Netflix ou jogar videogame", porque isso transforma a leitura em uma punição. E o tempo de tela está destruindo o cérebro das crianças. 


15 de Fevereiro de 2025
ANDRESSA XAVIER

Questão de prioridade

Mais do que evitar aulas nos dias mais quentes do ano no Rio Grande do Sul, o pedido do Cpers de adiamento do retorno do ano letivo expôs uma situação grave, mas já conhecida da comunidade escolar. O problema na estrutura das escolas ficou escancarado. Há prédios sem fiação elétrica adequada e sem ventilação mínima para turmas que têm até 30 crianças e adolescentes. O futuro da nação, como diz o clichê, está ameaçado.

Ouvimos algumas explicações do governo do Estado ao longo da semana. Nenhuma delas me convenceu de que a educação é mesmo a prioridade. Se fosse, teria atenção máxima e investimento. Se fosse, não teríamos apenas um quarto das escolas com ar-condicionado. Se fosse, não haveria 800 escolas com problemas elétricos. Se fosse, não haveria prédios com telhado quase desabando ou sem lâmpadas nas salas de aula. Se fosse, não haveria um bebedouro para todos os alunos dividirem, nem banheiros sem portas.

Acredito quando se diz que as sementes estão sendo lançadas e que demoram para dar frutos. Na educação é complexo e demorado mesmo. Só que está demorando demais. Não há uma grande entrega, uma grande revolução visível. Nos bastidores se garante que sim, há muitos projetos que vão melhorar a situação a médio ou longo prazo. Até lá, teremos mais uma geração tratada com descaso.

Empresas trabalham com metas e planos bem-definidos e utilizam dados para fazer análises e traçar objetivos claros. O governo deveria copiar o modelo. Sem isso o problema não se resolverá e veremos tudo de novo no próximo ano.Para além da falta de negociação entre governo e professores, que é outro capítulo com erro de cálculo, estamos falando de uma situação que está posta e que nos acostumamos a não cobrar, a não ver, a achar normal.

A Secretaria de Obras diz que fez uma revolução na forma de contratar empresas para resolver os problemas estruturais. Eu acredito, mas a régua anterior era muito baixa. A Secretaria da Educação diz que os índices vão melhorar, e eu quero crer nisso. Sigo acreditando, porém, que a resposta tem de ser imediata.

O governo justifica que o Estado vinha de uma série de problemas, com atrasos de pagamentos de salários e de fornecedores. É verdade, mas Eduardo Leite está em seu sétimo ano de mandato. A herança maldita já não pode mais ser desculpa para patinarmos em uma área tão importante.

Se é prioridade, quero muito ver a meta de escolas com ventilação adequada, nem falo de ar-condicionado em todas, mas de ventiladores, até o fim de 2025. Se é prioridade, quero ver os índices do Ideb melhorando na próxima avaliação. O mesmo vale para o déficit de vagas nas creches de Porto Alegre, uma Capital que tem mais de 3 mil crianças sem ter onde estudar. Se é prioridade, quero ver os governos entregando resultados. O federal, o estadual, os municipais. O que estamos esperando? _

ANDRESSA XAVIER

15 de Fevereiro de 2025
MARCELO RECH - Marcelo Rech

A nova etiqueta

A Celia Ribeiro, madrinha dos bons modos, que me perdoe, mas enveredo hoje na área dela para elencar minha lista de 10 maus hábitos do mundo digital. Faça a sua e poste nas redes.

O disperso - Vá lá que o medidor de Ibope de uma palestra comece a despencar quando a audiência baixa os olhos e passa a conferir seus WhatsApps. Mas checar o celular numa conversa a dois - e responder longamente a uma mensagem - deveria ser considerado delito de deseducação sem direito à fiança.

O grosseiro - Uma nação de sem noções acha que e-mail e WhatsApp são sanitários públicos nos quais despejam ofensas, palavrões e grosserias a interlocutores. Contra esses, o antídoto é ignorar, bloquear, silenciar, assoviar e não perder mais tempo com baixarias.

O inconveniente - A menos que seja íntimo, ninguém mais liga diretamente para outro celular sem antes perguntar se a outra pessoa pode atender. Nem chefe faz mais isso - só golpistas e outros xaropes que parecem ignorar que celular passou a fazer parte do corpo, o que inclui estar no meio de uma fala importante em uma reunião ou dormir ao lado do aparelho.

O bobo da corte - Coloca, em nível máximo, toques de celular surrealistas, de modo que, quando estiver naquela reunião na firma e o fone tocar, todos se divirtam com o som de mugidos ou gemidos - e os chefes possam olhar, entre compungidos e irritados, para o vivente.

O preguiçoso - Não tem tempo para escrever mensagens de WhatsApp e grava longas perorações que considera relevantíssimas para os outros, que, naturalmente, devem ter tempo de sobra para ouvi-las.

O insubmisso - Espalha memes de suas teses em grupos que vedam manifestações que fujam ao tema central. Na falta de semancol, angaria antipatias às teses ao violar regras básicas de convivência.

O dono do mundo - Sem ligar para o entorno, faz chamada de vídeo com familiares e fala em voz alta em locais públicos. Imagina que todos em volta querem saber do furúnculo do Betinho ou das dificuldades para cobrar uma dívida.

O ingênuo - Repassa as mensagens assim que as recebe. Acredita em tudo que lê, especialmente se a mensagem diz que alguém poderoso não quer que ele tenha conhecimento daquele conteúdo. É o inocente útil, alegria das fake news.

O esperançoso - Distribui 112 fotos iguais do filho recém-nascido e espera receber 112 joinhas de volta de gente que não vê há 15 anos. Empaca caixas de mensagem alheias com textos e memes de bom-dia, boa-tarde, boa-noite, boa-semana, feliz dia disso ou daquilo - e vibra quando alguém, penhorado, retribui.

Por fim, duas regras simples, extraídas das leis de trânsito: na dúvida, não ultrapasse, e se beber, não tuíte. 

MARCELO RECH


15 de Fevereiro de 2025
INOVAÇÃO

South Summit Brazil 2025 divulga lista de palestrantes da edição

Inovação

A menos de 60 dias da sua quarta edição, o South Summit Brazil volta ao Cais Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre, com compromisso de debater a resiliência e a reconstrução na retomada do Estado após os eventos extremos de 2024.

As programações ocorrem de 9 a 11 de abril com cinco grandes áreas pautando a temática da edição: sustentabilidade, digitalização, ecossistema, mudança social e The Edge (relacionado à biotecnologia, indústria 5.0 e experiência físico e digital).

Os ingressos para o South Summit 2025 já estão à venda e podem ser adquiridos no site southsummit.io, nas categorias: attendee (R$ 880), business (R$ 3.899) e executive (R$ 5.499), no segundo lote. Também há possibilidade de lotes corporativos.

Grandes nomes do setor estão entre as presenças confirmadas. Entre eles, Leandro Balbinot, CTO da Amazon/Whole Foods; Felipe Feistler, gerente-geral da Shein; Ricardo Cappra, fundador do Cappra Institute; Gonzalo Muñoz, fundador do Sistema B, movimento global de empresas com foco em desenvolvimento socioambiental; Taneha K. Bacchin, professora associada de Design Urbano na Delft University of Technology, especialista em cidades-esponja e reconhecida por projetos em ecossistemas frágeis e resiliência climática. 



15 de Fevereiro de 2025
VOLTA ÀS AULAS -Sophia Lungui

Proibição de uso de celulares ainda gera dúvidas na prática

Um dos temas mais discutidos no retorno do ano letivo, a restrição dos dispositivos levanta questionamentos entre profissionais da educação e pais. Embora haja uma série de recomendações por parte do MEC, o documento divulgado pede que as instituições criem seus regulamentos internos.

Com o início do ano letivo, entraram em prática as novas regras que restringem o uso do celular nas escolas. Trata-se de um dos temas mais discutidos nesta volta às aulas, levantando questionamentos por parte de pais, alunos e escolas. Isso porque a legislação traz orientações, mas deixa a cargo de cada instituição definir como serão as regras, na prática.

No final de janeiro, o Ministério da Educação (MEC) lançou guias acerca do uso dos dispositivos nas escolas. O documento pede que as instituições criem suas diretrizes e regulamentos internos.

"Desenvolver normas sobre o uso de dispositivos alinhadas à legislação" e "estabelecer espaços seguros e/ou estratégias para o armazenamento de dispositivos dos estudantes durante o horário escolar" estão entre as orientações.

De acordo com a assessora jurídica do Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe/RS), Letícia Dalcin, cada estabelecimento de ensino tem autonomia para fazer suas próprias regras em relação à proibição, inclusive em relação ao local onde ficará guardado o celular, por exemplo, uma das principais dúvidas que surgiram.

- Algumas vão permitir que o celular fique na mochila. Outras, disponibilizar um espaço para guardar. Podem ter uma caixa ou escaninho dentro da sala de aula, por exemplo - explica.

Esse seria o ideal para as ins­tituições, conforme Letícia. Outra alternativa é ter armários personalizados, com chave ou senha individual. No caso das escolas que optarem por ter um armário fora da sala para armazenar os dispositivos, por outro lado, quaisquer problemas que possam ocorrer - como furtos ou danos nos aparelhos - ficam sob responsabilidade da escola.

Ela ressalta que as regras devem ser aplicadas não somente para smartphones, mas para outros dispositivos portáteis pessoais, como consta na lei. Isso inclui tablets, relógios inteligentes e notebooks. 

Pontos que podem fugir às regras

Conforme o MEC, as exceções à lei são as seguintes:

Uso para fins pedagógicos, com autorização de profissionais de educação

Para garantir acessibilidade e promover a inclusão

Para atender às condições de saúde dos estudantes

Para assegurar direitos fundamentais

Escolas e famílias em adaptação

Quanto ao uso dos dispositivos nos horários de recreio e intervalo, trata-se de algo ainda confuso. A lei determina que fica vedado o uso nestes momentos, mas não dá detalhes sobre como deve ser feita essa restrição. Alguns gestores ainda não sabem como irão implementar essa medida.

- Ainda estamos vendo como fazer em relação a corredor, pátio e recreio - conta a vice-diretora do Colégio Estadual Protásio Alves, Kátia Martini.

Para a gestão da escola em Porto Alegre, o mais importante é promover o diálogo com os alunos. Nas próximas semanas, as turmas serão orientadas a respeito das novas regras, com o intuito de conhecerem a nova lei e sua importância.

- Se a escola quiser restringir o uso durante recreio é possível, a lei dá amparo legal para isso. Mas acredito que as escolas devem avaliar. Se durante as aulas está funcionando bem essa restrição, se os alunos estão cumprindo as regras, talvez as instituições flexibilizem o uso no recreio - ressalta a advogada Letícia Dalcin.

No Protásio Alves, os estudantes poderão levar dispositivos para a escola, mas deverão deixá-los desligados dentro da mochila durante as aulas. Se tocar o celular no meio da aula, por exemplo, o professor deverá anotar os nomes dos estudantes que desrespeitaram as regras, e eles serão chamados para conversar com a equipe de orientação educacional.

Segundo Letícia, também fica a critério de cada instituição a penalização, caso as medidas sejam desrespeitadas. Em geral, os pais dos alunos do Protásio Alves consideram positiva a legislação, desde que os estudantes possam utilizar o celular na entrada e na saída da escola.

- Como vai fazer quando ele estiver fora da escola, como vai me avisar as coisas? Se ele perder o ônibus, por exemplo? Temos que ter como nos falar. Se for desse jeito, eu apoio - diz Carla Dias, mãe de um aluno do 1º ano do Ensino Médio.

É o que pensa também Enilda Ferreira Soares, avó de um estudante do mesmo ano. Na Escola Estadual de Ensino Fundamental William Richard Schisler, também na Capital, já havia medidas para restringir o uso do celular em sala de aula há pelo menos dois anos.

Segundo a diretora, Santina Corrêa Galli, boa parte das crianças nem levou o dispositivo no primeiro dia de aula. 


15 DE FEVEREIRO DE 2025
GUERRA COMERCIAL

GUERRA COMERCIAL

Chefe do Executivo criticou o protecionismo de Donald Trump, disse que levará queixa à OMC e que cobrará tarifas de produtos importados dos EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não tem relacionamento com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que qualquer taxação de produtos brasileiros nos EUA, como o aço, por exemplo, poderá ter como reação a taxação de produtos norte-americanos no Brasil. É a primeira declaração mais dura do governo brasileiro desde que o novo presidente norte-americano abriu a guerra comercial.

Em entrevista à Rádio Clube do Pará na manhã de sexta-feira, Lula disse, em relação à taxação do aço brasileiro, que o Brasil deverá "reagir comercialmente", "denunciar na OMC (Organização Mundial do Comércio)" ou "taxar produtos que a gente importa deles".

- Enquanto os EUA tiverem a relação civilizada e harmônica com o Brasil, está tudo bem. Agora, ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se taxar, vamos reagir comercialmente ou vamos denunciar na OMC ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles. A relação do Brasil com os EUA é muito igualitária. Eles importam US$ 40 bilhões. Nós importamos US$ 45 bilhões - disse.

Trump assinou, na segunda-feira, duas ordens executivas impondo tarifa de 25% sobre aço e alumínio de todos os países globalmente. O Brasil, segundo maior fornecedor de aço para os EUA, é um dos atingidos.

Cautela

O governo brasileiro está discutindo como reagir em relação ao caso. Os principais conselheiros escolhidos por Lula para discutir o tema até aqui foram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento. Todas as manifestações anteriores do governo foram apaziguadoras, com objetivo de ganhar tempo e estudar alternativas.

Lula disse que o relacionamento entre Brasil e EUA é entre os países, não entre os presidentes, e afirmou não ter conversado com Trump:

- A democracia não está mais valendo tanto. Eles, que defendiam o mercado livre, agora estão defendendo o protecionismo. É os EUA para os americanos, tudo para os americanos, vou taxar todos os produtos, vou tomar a Groenlândia, anexar o Canadá. Me preocupo com isso porque o que está em risco no mundo é a democracia e eles estão agora negando tudo isso.

Lula esteve em Belém, na sexta-feira, para fazer a divulgação de investimentos do governo federal na capital do Pará, que sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro. Ele visitou as obras do Parque da Cidade, espaço que sediará a programação. 

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