terça-feira, 30 de setembro de 2014




════════════════════════════
É impossível deixar de sentir saudades!

Graciela da Cunha


═══════════════════════



════════════════════════════
Continue sua vida, espalhando amor,
sem esperar recompensa...
Graciela da Cunha


═══════════════════════













DOCE ENCANTO POESIAS GERA MAGIAS.

DEIXA A CENA PERFEITA PARA UM ENCONTRO.
DOS DEUSES E HOMENS ARTICULANDO E DANDO
PODERES PARA SELAR CORPOS E ALMAS.
NA BRISA DAS DIVINDADES SÓ  O AMOR NO COMANDO 
COMPORTA E SUSTENTA LEVEZA DE SENTIR E TROCAR 
SENTIMENTOS QUE ELEVA E TRANSCENDE AO INFINITO.
AMOR BONITO DE DENTRO PARA FORA. . .
NÃO DEMORE.  




segunda-feira, 29 de setembro de 2014






.







29 de setembro de 2014 | N° 17937
ARTIGOS - CLÁUDIO BRITO*

VOTO PORQUE QUERO

Não mergulho nas diferenças entre sufrágio e voto. Não traduzo o que seja direito subjetivo de participação nas decisões políticas e o instrumento dessa participação. Outros fizeram-no muito bem, como o promotor de Justiça Rodrigo Zilio em seu livro Direito Eleitoral. Ele esclarece que existe a obrigação formal de o eleitor comparecer a uma seção eleitoral no dia do pleito, para votar ou justificar o fato de não fazê-lo.

A obrigação é formal e se restringe ao alistamento e ao comparecimento. Justificar a ausência é muito simples, tem prazo elástico – dois meses – e, na falta de uma explicação, paga-se a multa, que é uma ninharia. E, mesmo comparecendo, quem disse que há obrigação de votar? Há uma tecla do voto em branco e ainda pode-se anular o voto, inventando-se um número qualquer. Voto nulo ou branco são o não voto. Desde quando, então, o voto é obrigatório?

Considero obrigatório o meu voto. É um dever, porque quero votar. Devo usar a prerrogativa que a Constituição confere aos cidadãos. Quem não vota sempre será governado pelos que votarem. Optar por não votar é permissividade. É entregar o ouro aos bandidos sem lutar. Nesse sentido, de uma obrigação moral e cidadã, construída pelo eleitor para consigo, admito, há o dever de votar.

Quando propago que o voto é uma faculdade, um direito, uma escolha, jamais uma obrigação, nem de longe estou pretendendo desestimular o comparecimento e mesmo o voto. Percebam que o ato de votar não tem o peso de uma obrigação indesejável. É bom querer votar. É preciso querer votar. Votar conscientemente, livre de obrigações e de estorvos pessoais.

Dizer por aí que votar é cumprir uma ordem é o jeito ardiloso de se causar desencanto no eleitorado. Se liberdade é um bem indispensável e fundamental, temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para preservá-la. Comparecer à urna, escolher os candidatos após cuidadoso exame de seus currículos e biografias e votar por respeito às convicções que nos servem de bússola, isso é construir e manter a democracia. A isso me obrigo, voto porque quero.

*JORNALISTA



29 de setembro de 2014 | N° 17937
ARTIGOS - PAULO BROSSARD*

O DEBATE QUE NÃO HOUVE

Poucos dias nos separam da eleição presidencial e três são os candidatos possíveis de serem eleitos. Contudo, até agora não ouvi uma voz a respeito da eleição e dos que a ela concorrem, seus atributos, merecimentos ou deficiências, enfim de suas credenciais, como se fosse irrelevante a escolha do primeiro e maior de seus condutores, pelo menos dos que detêm em suas mãos a maior soma de poderes públicos durante certo tempo; nem é por acaso ser denominado de primeiro magistrado do país e simultaneamente chefe do Estado e da nação, quando na maioria dos Estados são distintas umas das outras as atribuições, bem como seus titulares; por motivos semelhantes, também se diz do presidente ser um ditador por tempo certo, sem falar na ampla irresponsabilidade a ele imanente.

Pois bem, trata-se aqui e agora da escolha do presidente da República e dos governadores, como se nada significasse a incumbência. Parece que não haverá ou já houve a eleição; uma eleição às escuras. Dir-se-á a ocorrência de fato novo e relevante, o avanço sem precedente da corrupção, que poderia haver amortecido a sensibilidade nacional.

Ao que me parece, a lepra da corrupção se fez sentir em todos os níveis e graus, e talvez o silêncio tenha sido o emudecido e encabulado comentário. Enfim, é surpreendente mas imperioso se note que a senhora presidente, aliás, candidata à reeleição, não hesitou em defender como solução o debate com os fanáticos, quando o mundo inteiro, sem reserva, afirma sua decisão de enfrentá- los frontalmente.

É tempo de mudar e noto que hoje o debate eleitoral foi substituído, mas substituído pela ação do marqueteiro, que se serve de sucessivas “pesquisas de opinião” para operar. Estas que se sucedem dia a dia e mais de uma vez por dia indicariam ou pretendem que indiquem as reais tendências do eleitorado, quando, salvo erro meu, este efetivamente é o orientado, enquanto sua orientação depende do marqueteiro.


*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF

sábado, 27 de setembro de 2014


Lindo Final de semana
 Pessoinha Querida!!

É maravilhoso estar
em sintonia com pessoas, que com a
sua simples presença mudam tudo à sua
volta e revelam seu verdadeiro estado de espírito,
demonstrando o quanto é essencial caminhar
imbuído de sentimentos enaltecedores
e de sutilezas capazes de transformar
um local triste em um viveiro de
alegrias. Voce é assim, Tem
um Brilho diferente
Glória a Deus!
E por isso Amo VC


Beijos com Carinho

.


BOM FINAL DE SEMANA AMIGO!


Amigo...
Neste momento em que seus olhos
se ocupam das palavras
que meu coração resolveu improvisar...
Eu gostaria de lhe agradecer
pelas inúmeras vezes que você
me enxergou melhor do que sou.
Pela sua capacidade de me olhar devagar...
Já que nessa vida,
muita gente já me olhou depressa demais.
Eu que nem sempre soube acertar...
O que nos torna amigos
é a capacidade de sermos muitos,
mesmo quando somos dois!!


Beijos em teu coração


Bom Final de semana
A amizade é um sentimento lindo
e insubstituível,
pois é uma forma de amor
sem nenhuma pretensão.
Apenas surge e vai tomando forma
espontaneamente com base
em pontos comuns,
e quando as divergências aparecem
não há porque não expor,
dialogar e trocar experiências.
O importante na amizade
não é a quantidade de amigos
e sim a qualidade de cada um.
VOCÊ É ESPECIAL!

Beijos em teu coração




Dia Abençoado Para você !

Que seu caminho se abra
para a felicidade,
por onde você passar.
E se por ventura,
você encontrar espinhos nesse caminho,
retire-os com sabedoria
e plante nele a semente do amor...
Olhe bem a sua volta e não perca,
mesmo nos mínimos detalhes,
A beleza que Deus nos dá diariamente!
Uma dessas belezas que ele me deu de
presente foi tua amizade...
Que Deus acompanhe
sempre seus passos !

Beijos em teu coração


28 de setembro de 2014 | N° 17936
MARTHA MEDEIROS

Diga-me o que vestes

Lembro-me de uma matéria interessante que li anos atrás na revista Elle: convidaram uma estudante e uma executiva para passar 24 horas com a roupa uma da outra. Explico: a estudante, que costumava se vestir de uma maneira sexy e irreverente, teve de se vestir com o que encontrou no closet da executiva, e esta, por sua vez, teve de abandonar seu estilo sóbrio e conservador para escolher peças no closet da estudante. Resultado: viraram outra mulher por um dia.

A estudante, que adorava decote, barriga de fora e sandália de salto alto, colocou pela primeira vez um terno escuro com camisa para dentro da calça e sapato fechado. A executiva, habituada aos tailleurs bem-comportados, encarou uma saia acima do joelho, top de alcinhas, sandália gladiadora e gargantilha com crucifixo. Conclusão delas: não dá para mudar nosso jeito de ser simplesmente trocando de roupa.

Em termos, em termos. As próprias protagonistas da reportagem adotaram uma postura completamente diferente na hora de se deixar fotografar e, mesmo que tenham sido orientadas pela produtora de moda, a verdade é que a roupa conduz nossa atitude, sim.

A estudante, uma clone de Miley Cyrus sempre de mãos na cintura e ar provocante, cruzou os braços docemente quando colocou o terno. A executiva, que costumava ficar encolhida em seu trajes pastéis, jogou os cabelos para trás e encarou as lentes com um olhar sedutor, digno de quem se veste para matar. Lógico que a roupa pode despertar novas facetas de nossa personalidade.

Dormir com um pijamão apeluciado e dormir com uma lingerie de renda vermelha: tanto faz? Você de legging e tênis pela manhã, de jeans e jaqueta de couro à tarde, e à noite com um vestido justo decotado nas costas. Sim, é a mesma mulher, mas são três estados de espírito diferentes.

A roupa, subliminarmente, autoriza um determinado tipo de comportamento. Os homens se sentem mais confiantes quando estão de gravata, até seu jeito de caminhar se transforma. Já as mulheres sentem-se mais joviais quando estão de camiseta e mais sensuais quando estão de preto. Coloque um longo Versace numa freira e ela subitamente esquecerá da oração da Ave-Maria, empacará em “o Senhor é convosco” e, dali em diante se pegará, cantarolando algo da Beyoncé.


Cada pessoa deve vestir-se de acordo com o que é, e não com o que que gostaria de aparentar, mas não é pecado experimentar um personagem fora do habitual: desejar ser menos tímida, ou mais séria, ou um pouco excêntrica. É uma transformação que deve vir de dentro, mas o visual ajuda. Um botão a mais aberto na camisa pode operar milagres numa alma introvertida.

27 de setembro de 2014 | N° 17935
NÍLSON SOUZA

UMA MENINA CHAMADA CONSCIÊNCIA

Ela completará 50 anos na próxima segunda-feira, mas será sempre menina – e será também eterna, creio, pois vem resistindo ao tempo e ao desencanto de seu criador. Falo de Mafalda, a genial personagem do cartunista argentino Quino, uma garotinha de seis anos que reúne lucidez, inteligência, ironia, humanismo e faz o leitor pensar e sorrir amarelo em apenas quatro quadrinhos. Mafalda é tudo de bom.

Conheci-a na década de 1970, quando visitei a Argentina pela primeira vez, em viagem de trabalho. Na época, o escriba aqui passava a sanduíches para poupar os trocados da diária. Mas o encontro com Mafalda abalou a minha poupança: deixei tudo na banca de jornal em troca de uma coleção de 10 revistas que aumentaram o peso da minha bagagem na volta. Mas valeu a pena. Ainda me lembro de pérolas da Guerra Fria, como a tirinha em que a professora de matemática anunciava para os alunos:

– Hoje vamos estudar o pentágono.

E Mafalda, com seu senso de justiça saindo pelos poros do dedo levantado:

– E amanhã o Kremlin?

Quino parou de desenhar Mafalda em 1973, mas a garota e sua turminha já tinham ganhado vida própria e conquistado o mundo. Impossível não simpatizar com aquelas crianças que interpretavam tão bem sentimentos universais:

Mafalda, questionadora dos políticos e dos poderosos, crítica das injustiças e inimiga da sopa; Filipe, angustiado com as obrigações escolares; Manolo, obcecado por negócios e pelos lucros do armazém do pai; Susanita, fútil, egoísta e invejosa; Miguelito, ingênuo e hesitante; Libertad, pequena e corajosa como a liberdade; Guile, o irmãozinho da heroína, concentrado no seu aprendizado de mundo, e mais os adultos, sempre entre o espanto e a perplexidade.


Na semana passada, reencontrei Mafalda numa livraria de Porto Alegre em álbuns de capa grossa. Não tive dúvida: levei a menina chamada consciência para passar o seu aniversário lá em casa.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014


24 de setembro de 2014 | N° 17932
MARTHA MEDEIROS

George

Há muitos e muitos anos, em um reino distante, eu fiquei com um garoto chamado George, assim mesmo, com G, mesmo ele sendo do bairro Auxiliadora. Foi o mais perto que cheguei de um americano, ainda que falsificado. Nunca mais nenhum George habitaria minha realidade – em compensação, um deles fixou residência em minhas fantasias.

Eu não costumava assistir ao seriado Plantão Médico, então fica difícil dizer em que momento George Clooney entrou na minha vida, só sei que foi pela porta dos fundos e se instalou no sótão do meu imaginário. Não vi tantos filmes dele como gostaria. Aliás, nunca o considerei fabuloso como ator. Se dependesse de mim, ele tomando Nespresso já seria suficiente para levar um Oscar.

O que, afinal, fez de George Clooney o Clark Gable da nossa geração? O rostinho bonito ajudou, sem dúvida, mas é hora de darmos o devido valor a um atributo mais importante do que beleza: carisma. Sem carisma, você até faz filmes, fotos e publicidade, mas não faz história.

George Clooney virou um ícone porque parece ter nascido com mais de 30 anos e já com alguns fios prateados no cabelo – não passou pela desengonçada e petulante adolescência, ou passou tão discretamente que ninguém viu. Jamais foi capa da Capricho. Se foi, não me contem, não estraguem este meu obituário.

Maduro, sim, mas nada emburrado. Inteligente, divertido e independente, nunca foi de levar Hollywood muito a sério. Gosta de trabalhar com os amigos (ele, Matt Damon e Brad Pitt não se desgrudam), de se aventurar como diretor e produtor (sem fazer feio), de ser ativista em causas humanitárias e sempre que pode se refugia em sua residência às margens do lago de Como, e não numa cobertura em Los Angeles, o que diz muito sobre seu refinamento. A única coisa que me parecia cafona em seu histórico era aquela insistência em se manter solteirão.

Um homem precisa se garantir, mesmo diante de um desafio intimidador.

Feito, George. Você já era chique, agora é perfeito. Aos 53 anos, escolheu uma linda e discreta advogada libanesa com o seu mesmo coeficiente de classe. Se serão felizes para sempre é um assunto que não nos diz respeito e talvez nem a vocês – coisa mais antiga assinar compromisso com a eternidade. O que importa é que a partir de sábado você deixará de vez a turma mal-afamada dos galinhas.

Eu falei obituário alguns parágrafos atrás? Agora é que percebi. Ato falho. George Clooney não morreu, está apenas casando, o que não muda nada no universo das fantasias femininas, onde todos entram sem aliança.

Mas, para quem não se conforma e acredita em milagres, não custa rezar. Ainda faltam três dias.


terça-feira, 23 de setembro de 2014



●┼●●┼●
BOA TARDE!


Sonha acordada e faz planos mirabolantes.
Inventa novas cores pra enfeitar o desenho,
que é sempre dos mais bonitos.
Espalha palavras doces pelo caminho
e espera que as letras sejam devoradas.
E são...sempre são...
Beijãooooo
______________________________



Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e viver com ousadia. 

Pois o triunfo pertence a quem se atreve
e a vida é muito bela para ser
insignificante.

Charles Chaplin



sábado, 20 de setembro de 2014



Mas não sinta solidão, não sinta nada: 
você só tem olhos que olham o momento presente, 
esteja ele — ou você — onde estiver. 
E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar.
Não há memória, também. 
Você nunca o viu antes. 
Tenha a forma que tiver

(Caio F. Abreu)

E que você sinta vontade de precisar de mim.
Mas não só quando houver necessidade,
Que você sinta isso mesmo tendo passado um dia inteiro
Comigo, que não veja e nem sinta as horas passando quando
Estiver ao meu lado, e que nunca seja suficiente o tempo
Que passarmos juntos, que você sempre
Sinta vontade de mais, mais e mais.





No amor ninguém pode machucar ninguém;
cada um é responsável por aquilo que sente
e não podemos culpar o outro por isso...
Já me senti ferida quando perdi o homem
por quem me apaixonei... Hoje estou convencida
de que ninguém perde ninguém,
porque ninguém possui ninguém...
Essa é a verdadeira experiência de ser livre:
ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la.

Paulo Coelho







21 de setembro de 2014 | N° 17929
MARTHA MEDEIROS

Obrigação

Uma pesquisa revelou que 61% dos eleitores rejeitam a obrigatoriedade do voto. A desilusão com a política é apontada como um dos motivos. Sendo o voto um instrumento de transformação, eu jamais abriria mão dele, mesmo que fosse opcional, mas concordo: quem dera todos votassem por consciência em vez de fazerem uni-duni-tê em frente à urna apenas por dever cívico. Obrigação é uma palavra que me arrepia. Desde garota. Passei a infância desejando crescer porque intuía que a espontaneidade vivia no lado maduro da existência.

Sei que cada criança processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem-criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades. Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus sentimentos e pensamentos.

Não queria fazer nada por obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”.

Obedecia militarmente “a hora certa” de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse custoso cumprir. Só era custoso entender.

Pior do que me comportar como “todo mundo” era viver uma afetividade também regida por regras. Não parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos.

Ai de mim se gostasse mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar. Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não questionava. Só questionava o que me parecia facultativo.

Apesar dos meus “facultativos” não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – benfeita, diga-se, ou não seria quem sou.

Mas quem eu sou mesmo? Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.



21 de setembro de 2014 | N° 17929
ANTONIO PRATA

Garagem

Sempre achei acordar um negócio terrível. Seja cutucado pela luz ou estapeado pelo despertador, abro os olhos com um profundo sentimento de injustiça: por que já?! Por que eu?! Tende piedade, Senhor, dai-me mais cinco minutinhos – e abençoai, se tiverdes tempo, o inventor da “Função Soneca”.

Quando eu era adolescente, pensava que o problema fosse a escola. Afinal, quem quer sair da cama às 6h da madrugada pra estudar adjuntos adnominais e alcalino-terrosos? (Melhor ficar adjunto do travesseiro, como que embalado por alcaloides-celestiais.)

Anos mais tarde, já livre da gramática e da tabela periódica, passei a achar que o sofrimento viesse dos freelas chatos que eu tinha que encarar, logo depois do café: um capítulo sobre sustentabilidade na produção de celulose pro livro comemorativo de vinte anos de uma fábrica de guardanapos; a matéria 10 programas nota 10 neste Dia das Crianças, pra revista Kids; a revisão dos textos publicitários a serem estampados sobre a imagem de crianças loiras correndo num parque, no fundo de uma caixa de cereais – “Funflakes é pura diversão!”.

Agora, porém, virando de um lado pro outro na cama, dividido entre a preguiça e a culpa, tento amaldiçoar alguma tarefa enfadonha que supostamente me aguarda na primeira esquina depois da escova de dentes, mas não encontro nada horroroso por lá. Hoje é quinta, dia de escrever a crônica. Gosto de escrever a crônica.

Da sala, vêm os gritinhos da minha filha. Tenho saúde, amor, amigos, uma churrasqueira e, além de tudo, faz sol lá fora, esse sol da primavera que não está aí para solapar ninguém, mas para deixar o céu mais azul e a grama mais verde, como no parque em que corriam as crianças loiras, na caixa de “Funflakes”. Acordar, no entanto, não é “pura diversão!”: acordar continua sendo um saco.

Sei que reclamo de barriga cheia. 99% da humanidade desperta pra vidas bem piores que a minha. Passam os dias a apertar parafusos, cruzam montanhas atrás de água, fogem de balas e leões. Um terremoto na Conchinchina, contudo, não nos impede de reclamar da nossa dor de dente. Acordar é a minha dor de dente.

Olha, eu não faço o tipo blasé, que se arrasta por aí com a cabeça baixa e um olhar superior, como se a inteligência levasse inevitavelmente ao niilismo e o comentário mais sagaz sobre a existência fosse o bocejo. Desconfio desses tipos, aliás: acho que o que move essas casmurrices é muito menos um arraigado ceticismo do que um apurado senso estético. “um homem com uma dor”, escreveu Leminski, “é muito mais elegante/ caminha assim de lado/ como se chegando atrasado/ andasse mais adiante”.). Não, não faço esse tipo. Uma vez acordado e de banho tomado, existir me parece um programa bem razoável. O meu problema não é no carburador, é no motor de arranque.


Pensando bem, não há nada de estranho nisso. Sou um carro a álcool do fim dos anos setenta. Antes de ir pra rua, tenho que ficar um tempo na garagem, esquentando. Sou um velho Passat verde. Não, Passat é muita presunção, sou uma Brasília, uma velha Brasília bordô. Talvez escreva sobre isso, mais tarde. Mais tarde: agora, aperto a “Função Soneca” do despertador e viro de lado, agradecendo ao Senhor por mais cinco minutinhos nas brumas dessa garagem.

21 de setembro de 2014 | N° 17929
FABRÍCIO CARPINEJAR

O coração cuspindo

Quando você não tem como resgatar uma história de amor, meu amigo, meu irmão, o coração vai cuspindo.

O coração está gripado. Está doente. Você respira bem, mas o coração não. Não criaram uma aspirina para o coração. Não tem como tomar um remédio. Ou esquecer.

Seu coração cospe o nome dela, as imagens dela em cada tentativa de romance.

As mulheres com quem vai sair não notarão o seu peito apertado. O seu peito confrangido. O seu peito constrangido. O seu peito doendo a falta de esperança. Mas, entenda, seu coração vai cuspir muito ainda. Talvez seja pneumonia do coração.

Seguirá com a vida porque não tem o que fazer: ela arrancou o futuro da relação, a esperança, ela não mudará, continuará lhe destratando, sendo grosseira, muda, fria, insensível.

Ela não dará jamais as respostas que deseja. A saúde que espera. O arrependimento que anseia. Cuspirá, meu querido. Nas calçadas e nos canteiros, cuidando para não ser visto.

Um exorcismo que não termina, fracassando para jogar fora o excesso não vivido a dois. Sofre da nostalgia do que não viveu e não viverá mais.

Ela não merece seu amor - o que agrava a sua angústia. Pertencimento e merecimento não andam lado a lado, descobriu isso, infelizmente.

Você já cansou de rezar. A tosse é o cansaço da memória. O cansaço do silêncio. O cansaço de Deus. O cansaço da insistência: esta insistência cansada na desistência. O amor pulsa inteiro entre palavras quebradas. O amor bate inteiro com a fé estraçalhada.

Tudo foi piorando de tal forma que ou você afundava junto com ela, humilhado, ou você emergia, sozinho e ferido. Todo amor a uma mulher deve coincidir com o amor à vida.

Seu coração tosse quando janta acompanhado em um restaurante diferente e percebe que sua ex poderia gostar de um prato, da decoração, quando seu pedido no cardápio é mais o pedido dela do que o seu, quando você tem vontade de sair dali para contar para ela que precisa conhecer um novo restaurante, que é a sua cara.

Mas ela não escutará você. Porque estará de mau humor, estará cobrando novamente, sempre insatisfeita, sempre infeliz. Você tentou fazê-la feliz e ela somente lhe machucou.

Já conclui que ela odeia sua felicidade, ama seu amor e odeia sua felicidade. Não dará importância à sua poesia, aos seus detalhes, ao tempo que leva reunindo a saudade de lugar a lugar para oferecê-la.

Seu coração tosse sem parar quando busca se envolver com uma pretendente. Depois da euforia do sexo, da inconsciência do sexo, ficará com uma vontade imensa de se isolar e mandar a companhia embora. Terá que ser educado para disfarçar a tosse e não transmitir a sensação que usou a pessoa. Você vem se usando, não usando ninguém.

A tosse é indelicada e convence seu rosto a mergulhar na tristeza. Não consegue conversar, pois seu coração quer cuspir. De novo e de novo. Você não fala mais com ela. Você não telefona. Você não manda mensagens. Você não tem nenhum motivo ou pretexto. A tosse é a paixão sufocada. A paixão por dentro sem voz, sem comunicação, sem nada.


Ela tampouco imagina que seu coração está cuspindo. Seu coração cospe. Intervalos longos em que o mundo para e desaparece. Seu coração resmunga. Seu coração não é seu, ainda é dela, até quando?

sexta-feira, 19 de setembro de 2014








Postagem em destaque

04 de Setembro de 2024 CARPINEJAR Será o último capítulo? Será o derradeiro capítulo de uma das maiores tragédias gaúchas? Onze anos depois,...

Postagens mais visitadas