04
de outubro de 2014 | N° 17942
NÍLSON SOUZA
MINHA CANDIDATA
Não
estou entre os brasileiros que desconfiam dos políticos apenas porque são
políticos. Acredito, sinceramente, que deve ter muita gente boa e trabalhadora
entre os quase 25 mil brasileiros que se candidataram para os 1.709 cargos de
deputado, senador, governador e presidente da República, além de suplentes e
vices, em disputa amanhã.
Mas
também não sou ingênuo: deve ter, nesse contingente de candidatos, muita gente
atrás de poder, grana e mordomias, sem a contrapartida em suor. Pois esses
espertalhões deveriam conhecer dona Chames.
Mineira
de Santa Maria de Itabira, essa senhora de 97 anos, mãe de 10 filhos, acaba de
receber o seu diploma de bacharel em Direito pela Faculdade de Ipatinga.
Começou a estudar depois da morte do marido, com quem foi casada durante 63
anos.
Chames
Salles Rolim, filha de imigrantes libaneses, trabalhou a vida inteira na
farmácia do marido, que era ciumento e não a deixou estudar. Quando ele partiu,
ela matriculou-se na faculdade e não perdeu mais aulas. Às pessoas que
consideram a idade avançada um impeditivo para novos empreendimentos, ela
responde em francês:
–
Paresse!
Traduzindo:
preguiça, essa senhora ancestral, bem mais antiga do que a própria dona Chames.
Mario Quintana, na sua irreverência, chegou a dizer que a preguiça é a mãe do
progresso, pois, se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria
inventado a roda. Mas, falando sério, dona Chames bem poderia inspirar os
jovens estudantes que acham difícil acordar cedo para ir à escola e as pessoas
de todas as idades que só pensam em trabalhar pouco e ganhar muito.
Olhem,
por favor, para a recém-formada. Que receita de vida ela nos dá! Trabalhe a
vida toda e, depois, matricule-se numa universidade. E não deixe de concluir o
curso.
Parabéns,
doutora. Meu voto simbólico, nesta véspera de escolhas difíceis, vai para a
senhora.
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