sábado, 8 de junho de 2019


08 DE JUNHO DE 2019
PIANGERS

Mau pressentimento

Estamos no trem que leva turistas para Machu Picchu, o célebre destino inca que atrai jovens e senhores de todas as partes do mundo, um lugar que carrega misticismo e aventura e, por causa de uma promoção de passagens aéreas que caiu no meu e-mail, nos atraiu também. Estamos apenas eu e minha esposa, as meninas ficaram em casa com minha sogra, e de lá mandam notícias pelo WhatsApp misturando emojis com figurinhas engraçadas. Percebo que, depois dos emojis, as figurinhas são o novo jeito jovem de se comunicar.

Estou com o coração apertado. Já são cinco dias longe de casa e distante das meninas, porém, mais do que isso, uma sensação ruim nos acompanha. Antes mesmo de vir pra cá eu estava com um mau pressentimento. Pensei em cancelar a viagem. Antes, perguntei para a minha esposa se estava insegura com a viagem, e ela disse que não. Acredito no instinto dela e, assim, achei melhor manter os planos. Pois bem, agora que estamos no Peru, ela disse que estava com um mau pressentimento desde antes da viagem. Pombas! Agora que ela me avisa!

Quando penso de forma racional, sei que este trem é seguro; que os aviões que pegaremos têm grande probabilidade estatística de chegarem a salvo; que não há perigo real nesta viagem. Não irei me jogar de uma tirolesa nem dormir no meio da selva. Minha mãe mandou mensagem ontem avisando que um terremoto matou pessoas a algumas centenas de quilômetros de onde estamos. Depois, minha filha mais velha disse, em ligação telefônica, que também está com um mau pressentimento. 

Ora, não estou em um lugar perigoso. Estamos em uma das cidades mais visitadas do mundo. Por qual razão estamos todos com um pressentimento ruim? Existe mesmo essa coisa de premonição? O que significa algo que não pode ser explicado cientificamente? Essas coisas se amontoam e neste exato momento escrevo estas palavras sem saber bem se é uma forma de alívio literário ou um pedido de socorro. Estarei vivo quando você estiver lendo esse texto? Voltarei a escrever semana que vem nesta coluna? Tudo não passa de angústia boba?

Acredito que o medo nos lembra do que realmente importa. Quando estou angustiado só quero paz, uma casa com quintal, netos espalhados pela sala em um almoço de domingo, todo mundo feliz. Não consigo ver maior sucesso na vida do que isso. Sei que todos queremos sair da nossa zona de conforto, vencer nossos medos, provar que todos os mau pressentimentos estão errados.

Acho que é bonito quando isso acontece. E se, junto com o desafio dos nossos medos diários conseguirmos voltar pra casa depois disso, para os abraços de quem amamos, então me parece que deu tudo certo. Vai dar tudo certo.

PIANGERS

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