segunda-feira, 9 de novembro de 2020


07 DE NOVEMBRO DE 202
FLÁVIO TAVARES

MACHOS COM X 

Não é falha ortográfica. Consciente do erro, escrevo "maxo" e não "macho" para abordar o machismo ainda dominante em pleno século 21. Tento ir ao "X" da questão e saber por que a mulher continua apontada como única geradora dos conflitos.

A sentença de um juiz de Santa Catarina que inocentou um "machão" acusado de violar uma jovem modelo, ajuda a entender o aumento dos feminicídios. Mata-se por ser mulher, tal qual os nazistas matavam judeus unicamente por serem judeus.

Não se busca punir crime algum. Basta ter sexo diferente do masculino para "merecer castigo" - eis a explicação dos crescentes feminicídios na sociedade atual. A sanha surge da visão doentia em que desejo e ódio se entrelaçam e se confundem.

Já superamos a arcaica visão do velho Código Civil (em que o homem era "cabeça do casal"), mas a cabeça das pessoas pouco mudou. Agora, para absolver o réu e culpar a vítima, o juiz aceitou, de fato, o aberrante neologismo jurídico do "estupro culposo", muleta capenga que imita a diferença entre homicídio culposo (sem intenção de matar) e homicídio doloso (com plena intenção).

A modernidade não evitou que a mulher continue a ser vista como mero objeto exposto em vitrine. A gênese talvez venha da Bíblia, em que Eva (nascida da costela de Adão) é enganada pela serpente. Mas isto ali está para mostrar a doce e sensível alma feminina, engrandecida pela maternidade, nunca para fazê-la inferior.

Em sábia alegoria, o pintor Iberê Camargo dizia que "mulher bonita é a prova da existência de Deus". A beleza alheia, porém, além de admiração, gera ódio e inveja por não sermos os únicos belos no mundo?

Em gesto machista, o advogado do réu humilhou a jovem vítima, com o silêncio do juiz e do promotor. Ao longo do país, porém, imprensa, rádio e TV repudiaram o comportamento e o Conselho Nacional de Justiça analisará o caso. Tudo porque nada é mais belo do que o erotismo do amor e nada é mais criminoso do que a violência da perversão, ainda mais com beneplácito da Justiça.

Eis o "X" da questão.

Defender a integridade familiar não se confunde com o crime. No fundo, foi assim que o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou à Justiça, agora, o senador Flávio Bolsonaro por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, no escândalo das "rachadinhas", em que o filho 01 do presidente da República (quando deputado) se apropriou de parte dos salários de funcionários do Legislativo estadual. A investigação durou dois anos.

A prole presidencial, porém, segue mandando no Planalto.

Jornalista e escritor -FLÁVIO TAVARES

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