sábado, 29 de maio de 2021


29 DE MAIO DE 2021
J.J. CAMARGO

O QUE NÃO SE APAGA

Só conseguimos mensurar o tamanho de alguém na nossa vida pela medida da falta que ele nos faz. Esse critério explica a dificuldade que algumas pessoas têm de morrer, enquanto outras são enterradas no subúrbio do esquecimento, de onde não há nada que as arranque, e o maior lamento é um suspiro dividido entre o dispensável e o constrangido.

Todos descobrimos, ao longo da vida, os modelos com os quais fomos agraciados para construirmos a memória do inesquecível, sem escaparmos da tristeza desalentada dos encontros que nunca teríamos escolhido. Isso assumido, todos compreenderão a naturalidade com que passamos a borracha nalguns personagens, sempre ricos de neutralidade e passividade, esses dois sentimentos que definem o distanciamento emocional e a apatia afetiva.

Periodicamente, sinto vontade de reverenciar a memória dos que deixaram um rastro fundo na minha história pessoal, sem que eu tivesse feito algo para merecê-los, e também por isso são considerados bênçãos do destino, seja lá o que destino signifique para cada um.

Fugindo da família, para que a seleção dos inesquecíveis não sofra o viés da tendenciosidade que os laços sanguíneos impõem, fixemo-nos em amigos, de qualquer idade, que constituem a galeria dos memoráveis. Curtimos falar deles, como se recordar passagens carinhosas pudesse, de alguma maneira, atenuar a dor da falta que sentimos.

Sentei para escrever sobre isso motivado pela proximidade da data da morte do grande Roberto Correa Chem, um dos ilustres membros da minha galeria. Imbatível parceiro das cirurgias reconstrutivas mais complexas, técnico brilhante e criativo, com um senso de humor ácido e debochado como só conseguem os muito inteligentes, plantou ao longo dos seus 66 anos respeito carinhoso, reverência espontânea e naturalmente alguma inveja daqueles que não conseguiam mais do que querer ser como ele.

Almoçávamos juntos até duas vezes por semana, sempre depois das 13h30min, quando, segundo uma teoria dele, o ambiente do refeitório ficava mais agradável "porque os chatos têm fome mais cedo!".

Sempre disputávamos quem pagaria o almoço, com um revezamento marcado pelo bom humor. Naquela quinta-feira, entrei no salão, e ele já estava lá. Sentado de costas para a porta, conversando com alguém. Passei no caixa e me antecipei no pagamento daquele dia. No final, ao descobrir o almoço já pago, fez uma reclamação exagerada e prometeu que, quando voltasse da viagem que faria no domingo, a próxima conta seria dele. Isto combinado, me despedi apressado.

Quantas coisas mais teriam sido ditas se imaginássemos que aquela seria a última vez? Na segunda-feira, com os amigos chorando abraçados a tragédia da sua morte, entrei no refeitório, mastiguei com a dificuldade de engolir pela dor física da perda, para descobrir, no final, que na quinta-feira da última lembrança, antes de sair, ele deixara pago o meu próximo almoço.

Agora, como a comprovar que as melhores lembranças voam no tempo, já se passaram 12 anos desde que Roberto Chem e suas amadas esposa e filha partiram para uma viagem de sonhos a Paris, e por razões nunca bem explicadas mergulharam 4 mil metros no Atlântico, no fatídico voo 447 da Air France, de onde ele só foi resgatado dois anos e meio depois.

Eduardo, seu filho querido e herdeiro de especialidade e caráter, se emociona ao mostrar as fotos das notas de cem dólares que ele conservava intactas protegidas pelo zíper preso ao cinto.

O corpo, com peso reduzido à metade do normal por efeito da desidratação salina, só servia para contrastar com o gigantismo da saudade dos que relembram a dor daquele 31 de maio, como se tivesse doído ainda ontem.

J.J. CAMARGO

29 DE MAIO DE 2021
FLÁVIO TAVARES

NOVAS FAÇANHAS

Em resposta à tragédia da covid-19, a pesquisa médica desenvolveu-se mundo afora e chegamos rapidamente a diferentes tipos de vacina. Sem alarde ou propaganda (pois a verdadeira ciência é silenciosa) também aqui em Porto Alegre descobriu-se agora uma das causas do contágio pelo novo coronavírus. Em pesquisas na área de periodontia, médicos e odontólogos do Hospital de Clínicas encontraram o novo coronavírus no biofilme dental - a placa bacteriana - de pacientes afetados por covid-19. Essa minipelícula é formada por bactérias, microrganismos e resíduos alimentares e o descobrimento mostra que a higiene bucal é tão importante quanto usar máscara ou lavar as mãos continuamente, além do distanciamento social. A pesquisa encontrou diferentes tipos de fungos e vírus na placa bacteriana, mostrando que o Sars-Cov2 ali se hospeda. Até falar pode contagiar.

Fatos assim são as novas façanhas que o Hino Rio-Grandense descreve como "nossas", agora no campo da ciência. É comum não dar valor ao que esteja perto. Desprezamos aquilo a que estamos habituados, como hoje usamos termos ingleses para serem entendidos em português? É o caso de "correio eletrônico", "telentrega", "fecha tudo" e "dirigindo o carro", que "traduzimos" para "e-mail", "delivery", "lockdown" ou "drive- thru". Em março, um nanossatélite desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria foi posto em órbita no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, para indicar chuva, temperatura e localização ao mundo inteiro. Até nosso comum GPS guia-se pelo minissatélite de Santa Maria. A denominação "nano" deriva de sua dimensão de apenas 10 x 10 x 22cm, tal qual caixa de sapatos.

Não festejamos, porém, por ter sido desenvolvido aqui como uma das nossas novas façanhas.

Mais do que as façanhas, porém, os lamentos dominam o dia a dia. A CPI do Senado sobre a covid-19 continua como um carnaval de sandices. Cada depoente da área governamental revela novos absurdos. A "capitã Cloroquina" desmente o general-ministro mesmo tendo sido seu "braço direito" no Ministério da Saúde. Mas nada supera o horror que envolve o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Nem a soma dos 18 ministros da era Lula-Dilma investigados pela Polícia Federal reuniu tantos ab$urdo$, envolvendo até o escritório de advocacia de Salles e de sua mãe em São Paulo.

As façanhas brotam como fantasmas!

FLÁVIO TAVARES

29 DE MAIO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

CELEBRAÇÃO NO CAMPO

O Rio Grande do Sul foi pioneiro na mobilização para combater a febre aftosa no país, ainda na década de 1960. Por isso, tem razões de sobra para celebrar o reconhecimento internacional como território livre da doença sem vacinação, oficializado na quinta-feira pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O resultado agora colhido é fruto de décadas de esforço e dedicação de produtores, poder público, veterinários e empresas do setor, que se uniram em campanhas de conscientização e de imunização do rebanho, com vitórias mas também reveses, como os surtos de 2000 e 2001. Era quando o Estado estava prestes a ter o selo da OIE, mas teve de retomar a vacinação, após curto intervalo, devido ao retorno inesperado da enfermidade.

O certo agora é que se descortinam novas oportunidades para o setor de proteína animal, principalmente para as carnes suína e bovina. Com este passaporte de qualidade, o Rio Grande do Sul passa a ter a possibilidade de abrir novos mercados, mais exigentes e que pagam mais. Uma variedade maior de produtos também poderá ser exportada, como carne com osso. É uma circunstância que tende a gerar mais renda no campo para os criadores e mesmo mais empregos e investimentos na cidade, pelos efeitos positivos nos frigoríficos e em toda a cadeia de fornecedores de insumos e serviços. Estima-se que, apenas na carne suína, exista o potencial de agregar até R$ 1,2 bilhão em negócios por ano.

Deixar de aplicar a vacina no rebanho, entretanto, também exige uma série de cuidados. Será preciso redobrar esforços na vigilância e rigor nos cuidados sanitários, tanto por parte dos criadores quanto do setor público, para minimizar qualquer risco de retrocesso. Após os episódios frustrantes de 2000 e 2001, o Estado avançou em pontos importantes. Melhorou a estrutura, investiu em digitalização, treinamento e travou-se um longo debate, à espera por dar passos seguros, como o momento certo para retirar a barreira da vacina. A situação epidemiológica tranquila nos países próximos do Rio Grande do Sul é outro fator positivo.

O novo status sanitário, até então limitado a Santa Catarina, agora também é ostentado por Rio Grande do Sul, Paraná, Acre, Rondônia e parte do Amazonas e de Mato Grosso. É, sem dúvida, um marco histórico para a pecuária do Brasil, um dos maiores produtores de proteína animal do planeta. É relevante lembrar que o Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa data de 1992. Ao longo desse período, atravessou diferentes governos como política de Estado e o resultado, mesmo com percalços pelo caminho, é a inegável certeza de que o país caminha para vencer uma das mais temidas doenças da pecuária mundial.


29 DE MAIO DE 2021
O PRAZER DAS PALAVRAS

O legado de mestre Luft

Neste dia 28 de maio, para comemorar devidamente o centenário do professor Celso Pedro Luft, de quem até hoje sou aluno, escrevo este balanço do legado que ele deixou para todos os que estudam e se interessam pela nossa língua. Comemorar, como diz o termo, implica memória, e acho oportuno que as gerações que até hoje se beneficiam do que ele deixou avaliem o tamanho da dívida que temos para com ele; dito de uma forma que certamente o faria sorrir, conhecem o milagre, mas não conhecem o santo.

Seus livros - Primeiro, temos todas as obras que publicou, obviamente a parte palpável e visível deste patrimônio: gramáticas, dicionários, manuais, ensaios sobre linguagem - a relação é grande demais para esta singela coluna, mas todas elas indispensáveis para quem estuda ou leciona o Português. Não posso viver sem elas; só para constar, tive de comprar pela segunda vez os dois Dicionários de Regência, o Guia/Manual de Ortografia e o ABC da Língua Culta para substituir os exemplares que destruí pelo uso.

Indagação constante - Como todo grande mestre, porém, foi também muito importante - talvez até mais importante - a atitude de constante indagação que ele incutiu em seus discípulos, entre os quais me incluo. Em aula, a cena era clássica: ele parava no meio da fala e se voltava para o quadro- negro, absorto, imerso num de seus habituais silêncios - e voltava deles entusiasmado, compartilhando com a turma uma ideia inovadora sobre aquilo que estava explicando, com maior poder explanatório, deixando claro que não devíamos nos satisfazer com o sistema de regras petrificadas que sufocavam as aulas de Português sob um manto de chumbo.

Banco de dados - Sua influência, porém, passou muito além dos muros da Universidade. Dono de uma sólida formação clássica, era leitor incansável dos autores brasileiros e portugueses de todas as épocas, conhecedor profundo, portanto, de uma tradição que considerava não como modelo ou fonte de regras para a língua atual, mas, bem pelo contrário, como um tesouro extremamente rico de variantes e experimentos coletados ao longo dos quase mil anos de vida do nosso idioma. Como ninguém conhecia o Português mais do que ele, tornou- se uma espécie de oráculo de Delfos, um arquivo vivo e confiável para os pesquisadores, que recorriam a ele para ampliar os dados que precisavam para confirmar suas teses.

Ensino da língua - Apesar de ser criticado por uns e aplaudido por outros pela postura modernizante que adotou no seu livro Língua e Liberdade, de 1985, nunca teve dúvidas sobre a verdadeira função do professor de Português: para ele, a escola sempre será o lugar em que a criança vai aprender a variedade padrão do idioma (que ele chamava de "culta") porque ela, além de ser uma condição sine qua non da sociedade democrática, é a chave de todo o conhecimento e de toda a arte literária da nossa civilização.

Por isso, a tarefa fundamental do professor, segundo ele, é justamente diminuir a diferença entre a língua que o aluno trouxe de casa e a língua que a escola deve ensinar. Esta meta é fundamental, mas deve ser atingida com tolerância, sem correções humilhantes: "Quaisquer que sejam as deficiências ou distância da língua culta padrão que o aluno apresenta chegando à escola, é com esse material disponível que o professor deve começar o seu trabalho. E trabalhar em cima disso, não partir de uma linguagem ideal, contra a língua do aluno, para tentar impingi-la a este". Muitos tomaram essa observação como um ataque à língua culta e uma defesa do laxismo, mas mestre Luft, serenamente, desarmou na lata esta interpretação: "Idealista eu sou, confio nas pessoas enquanto seres perfectíveis: o impulso de ascender cultural, social e economicamente é normal em todo ser humano. Por que não haveria nas pessoas o desejo de ascender em linguagem?".

Legado - Por tudo isso, Celso Pedro Luft deixou uma marca indelével no estudo e no ensino do Português no Rio Grande do Sul - um caráter único, peculiar, que não se encontra nos demais estados. Isso não teria ocorrido sem ele, sem suas virtudes pessoais: Luft foi o único gramático de renome que reuniu a formação sólida de um filólogo clássico, a atitude eternamente investigativa de um cientista, a valiosa experiência de um professor e o bom-senso e a tolerância de um homem sábio. Sem exagero, posso dizer que jamais houve aqui alguém de sua estatura. Tivemos muita sorte em tê-lo entre nós.

CLÁUDIO MORENO

29 DE MAIO DE 2021
+ ECONOMIA

Um prédio com destino insólito

O prédio de quatro andares que por muitos anos abrigou a sede da rede de lojas Empo, na Avenida Assis Brasil, em frente ao Viaduto Obirici, em Porto Alegre, teve um destino inusitado. Tornou-se a mais nova - e a maior - unidade do Anexxo Selt Storage, rede de espaços destinado à armazenagem do que não cabe mais em casa ou nas empresas, o que cresceu na pandemia.

Com dois locais já lotados, a empresa precisava de mais capacidade. O edifício de 5,4 mil m2 tem 500 unidades, entre armários de 1 m2 e minidepósitos de dois a 50 m2. Com investimento de R$ 16 milhões, o prédio passou por remodelação para cumprir padrões internacionais de qualidade. O Anexxo foi criado pelo empresário Alexandre Logemann em 2017 com base na armazenagem popular nos Estados Unidos. A tendência de imóveis compactos no Brasil abriu esse mercado também por aqui. Os boxes podem ser alugados pelo tempo que for preciso e devolvidos quando o espaço extra não for mais necessário.

Na pandemia, o uso cresceu, tanto de pessoas físicas quanto de jurídicas, com a migração de atividades para o home office e devolução dos espaços comerciais que eram ocupados. Segundo a empresa, lojas e restaurantes que foram forçados a encerrar atividades também optaram por não se desfazer do acervo, aguardando o momento de uma retomada. Outra demanda vem do forte crescimento do e-commerce, que usa esses espaços para estoque de mercadorias.

Com a nova unidade, a Anexxo Self Storage soma capacidade total de cerca de 15 mil m2. São mil boxes para locação nesse momento, e há planos de crescimento, com projeção de chegar ao final do ano com cerca de 1,5 mil. O próximo endereço já está definido: será na Avenida Azenha e terá 5,3 mil m2, com outros 500 boxes. A Anexxo já avalia outros dois pontos da Região Sul.

MARTA SFREDO

29 DE MAIO DE 2021
CHAMOU ATENÇÃO

Estátua de pé novamente

Três dias depois de ter caído em razão do vento no Litoral Norte, a réplica da Estátua da Liberdade foi recolocada junto à fachada da loja Havan de Capão da Canoa na noite de quinta-feira.

A rede varejista informou por meio de nota via assessoria de imprensa que seis profissionais da empresa responsável por construir as réplicas se envolveram nos reparos e também "revisaram e aprimoraram os itens de segurança".

A estátua tem cerca de 20 metros de altura e 3,6 toneladas, e acabou tombando inteira, descolando da base de 10 metros de altura - meteorologistas da Somar estimam que foram registradas rajadas de vento de 75 km/h na região. Um símbolo da rede de lojas, a estátua é feita em fibra de vidro.

Em conta em rede social, o empresário Luciano Hang, dono da rede Havan, comemorou a recolocação do monumento em apenas 72 horas e agradeceu à equipe envolvida na operação.

A estátua fica à beira da Estrada do Mar, na entrada secundária da cidade. A estrutura não conseguiu resistir ao ciclone extratropical que varreu a região entre o domingo e a última segunda-feira.

A queda produziu imagem impactante. Ao tombar para a frente, o monumento caiu sobre um poste de energia elétrica, que atravessou a estátua. Ninguém ficou ferido.

A reportagem de Zero Hora questionou a assessoria de imprensa da Havan sobre o motivo para a estátua não ter resistido ao vento, e se considera seguras as demais estátuas colocadas em megalojas do país - são pelo menos 65 réplicas pelo Brasil. Também questionou se as estátuas têm para-raios, mas não obteve as respostas, até a noite desta sexta-feira.


29 DE MAIO DE 2021
MARCELO RECH

Não são o povo

"Nós somos o povo", cantarolavam militantes da extrema direita enquanto invadiam o prédio do Capitólio em janeiro passado.

"Nós somos o povo", também cantarolavam militantes da extrema esquerda que capitaneavam as manifestações nas ruas do Brasil em 2013.

Sempre que ouvir alguém falar em nome do povo, desconfie de intenções autoritárias ou extremistas. Tanto os invasores do Congresso dos EUA quanto invasores de Legislativos brasileiros, entre os quais a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, afirmavam estar tomando para o povo o que pertencia ao povo. Na realidade, eram militantes de grupos radicalizados que se arvoravam, por delírio ou má-fé, em representantes da maioria sem mandato para tanto.

Quem sai à rua para protestar ou dar apoio não é o povo, mas extratos dele mobilizados por líderes políticos. Afere-se a temperatura da maioria silenciosa em pesquisas de opinião, mas ela se expressa mesmo é nas eleições. Um exemplo recente: durante três décadas, a esquerda brasileira teve a hegemonia das ruas e em 2018 acabou surpreendida pela avalanche de votos em um candidato da direita radical. Era a maioria silenciosa rejeitando a esquerda antes tão ruidosa.

Outro exemplo. Nas eleições de 1989, cobri o comício final de Lula na Praça da Sé, em São Paulo. Havia um mar de gente a perder de vista, olhos marejados pelo fervor religioso no seu líder. Lula precisou de mais três eleições para chegar à Presidência, em um figurino menos radical, porque descobriu que aqueles à sua frente na Sé podiam transbordar entusiasmo mas não representavam o sentimento da maioria da população.

Transmitir a imagem de que tem o apoio do "povo" é parte da encenação política para tentar arregimentar a maioria que não frequenta manifestações e nem dedilha com sofreguidão nas redes sociais. Em 1993, ao fazer uma série de reportagens que me valeria a condição de persona non grata em Cuba, acompanhei um comício de Fidel Castro em Havana. Um grupo de não mais de 200 apoiadores se comprimia com bandeirolas diante do palanque, onde eram banhados por holofotes para a TV oficial. Quem via a cena podia supor que uma multidão aclamava Fidel. Nas franjas dessa massa compacta, contudo, o clima era de desencanto. "Vim porque aqui ao menos tem luz", disse-me um participante agastado pelos constantes cortes de energia.

No Brasil da pandemia, os antinegacionistas se recolheram das ruas - embora para este sábado se prevejam concentrações da esquerda, o que contradiz o discurso contra aglomerações. Bolsonaro, que não liga para os contágios, vinha aproveitando para deitar e rolar em suas manifestações, como se tivesse o "povo" ao seu lado. Ele, porém, devia aprender com Lula e Fidel. A ideia de que aquela "bolha" que o aplaude é o povo, por mais sincera e ardorosa que seja, costuma ser apenas uma grande ilusão.

MARCELO RECH


29 DE MAIO DE 2021
JR GUZZO

Por que Lula "beijou a mão" de FHC

Parece que está se tornando um hábito, quando a campanha eleitoral chega mais perto. Tempos atrás, necessitado de uma imagem de "homem de centro" (ele sempre está atrás de uma imagem de "homem de centro"), o ex-presidente Lula fez o impensável: foi à casa do ex-governador paulista Paulo Maluf e ali, na frente de testemunhas e do seu então candidato à prefeitura, praticou o beija-mão completo do monstro mais horrível que o PT e a esquerda brasileira tinham criado na época. Lula apertou a mão de Maluf, deu abraço, tirou foto, como se não tivesse passado anos a fio dizendo sobre o novo amigo as piores coisas que alguém poderia dizer a um adversário.

Lula repete a dose agora, mas com Fernando Henrique. O petista é candidato de novo à Presidência da República, e seu instinto, mais as lembranças das lições de marketing que teve no passado, o conduzem a vender outra vez a imagem de político "moderado". Quem melhor do que Fernando Henrique, nesse mundinho da elite, para lhe dar uma certidão de centrista, civilizado e bondoso para todos os que estão com a vida ganha? Lá se foi Lula, então, apertar a mão, trocar altas ideias e aparecer na foto com um dos políticos brasileiros que mais desprezou, insultou e cuspiu em cima durante toda a sua carreira. Levou, até mesmo, a promessa de que FHC vai votar nele no segundo turno.

Ficou tudo extremamente barato para Lula. Não foi preciso, para embarcar FHC no seu bonde, retirar uma única sílaba da ofensa mais perversa que fez ao novo aliado - a de que recebeu dele uma "herança maldita", na passagem da Presidência em 2002. Também não há informação de que tenha feito qualquer reparo à principal palavra de ordem do PT durante o governo do ex-inimigo: "Fora FHC". Foram esquecidos, na mesma balada, as sucessivas exigências de impeachment feitas contra ele, sua demonização como líder da "direita" brasileira e mais do mesmo.

Se o próprio FHC engole tudo isso quieto e declara o seu apoio público a Lula, o que se pode fazer? Fernando Henrique está dizendo - quando se deixa de lado o discursório marca barbante que acompanha a explicação dessas "estratégias" - o seguinte: vai votar para presidente da República num político condenado legalmente como ladrão pela Justiça brasileira e pelas decisões de nove magistrados diferentes. É isso, em português claro; o resto é conversa. Obviamente, quando as coisas ficam assim, o melhor é não perguntar nada.

*Conteúdo distribuído por Gazeta do Povo Vozes - J.R. GUZZO*

sábado, 22 de maio de 2021


22 DE MAIO DE 2021
LYA LUFT

Afetos na tempestade

"Que qualidades a gente deve esperar de alguém com quem se pretende ter um relacionamento amoroso?", perguntou o jornalista. Incríveis, as perguntas que nos fazem.

Respondi o que acredito: "Aquelas que se esperaria no melhor amigo."

Pode ser um bom critério. Não digo de escolha - pois amor é instinto e intuição -, mas uma dessas opções mais profundas, arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir.

O resto, é claro, no amor seriam os ingredientes da paixão, que vão além da razão e da sensatez, passageiro terremoto de delícias que faz tudo valer a pena, que promove os maiores erros e os melhores acertos. Salva-nos eventualmente de um desacerto irremediável a sensação que vem das entranhas, ou das tripas da alma, ou do inconsciente: o nosso instinto de sobrevivência.

A velha misteriosa intuição, que às vezes falha nessa onda de euforia e susto. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. (Por isso, também, cada perda é uma pequena tragédia pessoal.)

Falo daquela pessoa para quem posso telefonar não importa onde ela esteja, nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: "Estou mal, preciso de você". (Ainda não tive de recorrer a isso, mas, se precisar, sempre haverá alguém, e isso me conforta. E pode ser um filho adulto.) E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for. Não precisamos sondar nossas tripas, interrogar nosso inconsciente, para ter um amigo e confiar nele. Em geral um olhar bom, uma conversa sossegada ou interessante, pequenas maneiras de alguém novo que se instalar na nossa vida. Com sorte, para alegria.

Mas aí vem a realidade dura: o lixo na rua ou pessoas tratadas como se fossem, a mulher parindo na calçada, as multidões enlouquecidas, as ilhas dos amantes. As brigas dos políticos, a corrupção, a vaidade, a omissão e agora a pandemia que rasteja sobre o planeta como um imenso inseto negro e carnívoro.

Por um instante a gente desliga os aparelhos, finge que nada disso existe, curte sua pequena alegria pessoal, entra no whats, no insta, ou olha as árvores tão verdes e luminosas... e vive. Do jeito que dá. Esquece as decepções, as falhas, sobretudo nossas, onde poderíamos ter agido melhor, falar na hora de falar, calar quando se devia calar... mas a gente não sabia.

Na luz que se filtra na paisagem, viramos crianças com aquele dom do encantamento, que depois serão adolescentes com suas perplexidades, euforias e medos, adultos com deveres sem conta, e por fim velhos que, se forem um pouco sábios, curtem a fase da contemplação... como faziam em meninos. A ventania (a vida real?) chega atropelando tudo: recolhem-se crianças e coisas e se olha a tempestade atrás da janela. Logo ali o grande mundo mói a vida com suas engrenagens cruéis.

Mas, naquele momento, naquela redoma de vidro simples na chuva cotidiana, fingimos estar no castelo da Bela Adormecida, ou na casa dos sete anões, ou abraçados a um melhor amigo.

LYA LUFT

22 DE MAIO DE 2021
MARTHA MEDEIROS

Vamos comprar um poeta

Sou obrigada a dar o crédito à maldita pandemia: estou lendo bem mais. Ando faminta pelas histórias dos outros, pela vida em sua amplitude e assim vou atualizando as versões de mim mesma. A leitura continua me ajudando a compreender quantos mundos cabem num mundo só. Como foi importante ler Os Supridores, do José Falero, uma espécie de Tarantino da literatura brasileira, e entender as entranhas da periferia, a atração inevitável pelo lado B, quem são essas criaturas que a gente julga sem conhecer. 

Foi bonito passar uns dias na companhia de O Avesso da Pele, livro marcante e sensível de Jeferson Tenório, e se colocar na pele do autor, na pele da maioria de nós, sair da bolha branca e parar de defender asneiras em nome de uma supremacia ultrapassada. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, nasceu clássico, com os dentes cravados na nossa ancestralidade e nas injustiças que ainda perduram, resultando num texto impactante. Não pergunto mais às pessoas "como tem ido?". Pergunto: "o que tem lido?". Pandemia pode rimar com epifania, se tivermos alma de sobra. Em vez de contabilizar mortos, podemos contabilizar ressuscitados. Entro nesta conta. Como tenho renascido.

Por fim, chego a Vamos Comprar um Poeta (editora Dublinense), livrinho com menos de 100 páginas, livraço para guardar na memória. A história criada pelo português Afonso Cruz é narrada por uma menina de cerca de 12 anos, que vive numa família regida por números, estatísticas, lucros, e que pede um poeta para levar para casa, como quem adota um cão, um gato, um animal de estimação. Uma fábula divertida, educativa e nada chata: não há uma única linha que aborreça. Chatos são os que não transcendem, não atravessam paredes, defuntos caminhantes rumo a um futuro medieval. Ter um bom livro em mãos é a prova física da esperança.

Li Vamos Comprar um Poeta em pouco mais de uma hora e ganhei anos extras de vida. Exagero, claro. Ninguém convence alguém a adquirir um livro sem fazer um pouco de alarde. Mas é preciso. O materialismo venceu. Os símbolos de status nos roubaram a pureza da rima. Os rendimentos de nossas aplicações valem mais do que uma janela inventada. O número de seguidores no Instagram importa mais que a ilusão de um amor. Robôs falam conosco pelo Twitter e respondemos. Roubam nosso tempo pelo WhatsApp e só configuramos como golpe quando perdemos dinheiro.

Para que serve a poesia? Para que serve a cultura? Caso você ainda se importe, entre em uma livraria de rua, compre seu poeta e, se sobrar uns trocados, leve também Pequena Coreografia do Adeus, da paulistana Aline Bei, que é um sol de delicadeza. Perdeu, pandemia. Com máscara, vacina e sensibilidade, venceremos.

MARTHA MEDEIROS

22 DE MAIO DE 2021
CLAUDIA TAJES

Leitores que viram amores

Sim, são muitos os leitores que escrevem para esculachar os colunistas. A razão costuma ser a mesma, discordância política. Uma opinião mal digerida e pronto, abrem-se as comportas do inferno. Lá vem chumbo grosso. Palavras grossas, melhor dizendo - no significado e no português. Só pode ser a emoção do embate que faz com que os xingadores surrem os colunistas e, de brinde, as regras mais elementares da gramática em seus e-mails e comentários.

Deixa para lá. Meu assunto hoje é muito mais agradável, querido, lindo, simpático, doce, gentil e delicado: os leitores que escrevem e-mails agradáveis, queridos, lindos, simpáticos, doces, gentis e delicados para os colunistas. Não necessariamente concordando com o que leram, mas argumentando com uma educação que anda meio perdida nesses dias.

Quando um e-mail assim chega, alegra o dia e faz o trabalho da gente valer a pena. Acho que falo também pelos meus colegas, muitos dos quais enfrentam agressões bem piores, caso dos que escrevem diariamente sobre política e futebol. Como qualquer leitor, também me irrito com certas coisas que aparecem em certas colunas. Mas daí a xingar quem escreveu, vai uma grande diferença. Aqui em casa, felizmente, não tem filial do gabinete do ódio.

Alguns e-mails viram amizades de caixa postal. Quando a Silvia fica muito tempo sem escrever, ela que enfrenta essa longa pandemia isolada com a filha Sabrina, eu me preocupo. Espero que as duas já estejam vacinadas. O Mauro diz que tem um stupidphone, mas confessa ser um infiel. Os mesmos e-mails que manda para mim, envia para outras - e outros. Viva o poliamor colunístico. Não sou ciumenta dos meus leitores.

No domingo das mães, a Isabel contou que aquele era o primeiro dia que passaria sem a mãe dela. Pior que essa falta vai ficar para sempre, Isabel, em todos os domingos e também nas segundas, terças, quartas etc (e a gente vai continuar firme mesmo assim). O José de Souza Mendonça mandou um e-mail que elogiava a coluna das mães, e fez isso de um jeito que me emocionou. Mais ainda quando resumiu a boa convivência em uma frase: "Não concordo com muita posição política tua, mas isso faz parte, essa divergência é o que dá graça à vida". Exato, perfeito, é isso. O respeito é possível até quando a gente discorda.

Com o Nestor Luiz Trein, que mora em Estância Velha, troquei alguns e-mails dos mais gentis até que, há algumas semanas, a esposa dele precisou vir a Porto Alegre para uma consulta. O Nestor pediu meu endereço e deixou na portaria, além do livro O Pai do Voltér, escrito por ele, um doce de laranjinha e geleias feitas pelo casal, com frutas do jardim da família. Sem falar em um sacão de bergamotas que foi devidamente degustado ao sol, como deve ser. Entre os que xingam e a doçura - literal - dos Trein, eu lá vou perder meu tempo com azedume?

Enquanto isso a CPI da Covid avança, a vacinação segue devagar e quem tem empatia continua se cuidando, e cuidando dos outros, para a situação não piorar mais. Lá fora o mundo anda feio, mas dentro da minha caixa postal ainda existe alegria e esperança.

Que tal uma dose de Shakespeare no seu dia? A maravilhosa professora Katrhin Rosenfield gravou uma minissérie para a Mínima Produtora, material precioso para os fãs e admiradores do bardo, mas também um convite para iniciantes se maravilharem com a produção shakespeareana. Para ouvir: gzh.rs/shakespeareplaylist.

CLAUDIA TAJES

22 DE MAIO DE 2021
LEANDRO KARNAL

AS RAPOSAS ALTRUÍSTAS

É muito raro um livro da área de humanas ser profundamente otimista. Lembro-me de Abundância (Peter Diamandis e Steven Kotler, Alta Books). O subtítulo não poderia ser mais chamativo: O Futuro É Melhor do que Você Imagina. O texto traz histórias interessantes sobre o uso de recursos do planeta, inclusive, com narrativa sobre a questão do alumínio inesquecível no jantar do imperador francês. Em meio a tantos catastrofismos, os autores argumentam a favor de um mundo cada vez mais próspero e abundante.

Outro livro povoado de indicativos esperançosos é Humanidade - Uma História Otimista do Homem (Rutger Bregman, Crítica). O historiador holandês começa contestando um senso comum pessimista: a teoria do verniz. Somos civilizados porque estamos bem. Chegando a guerra, a fome ou a doença, somos selvagens egoístas. O "verniz" civilizacional é fino e pode ser quebrado sempre. A base do truísmo, inspirada em clássico como Thomas Hobbes, é sobre o caráter malévolo da nossa espécie.

Com exemplos concretos, dos bombardeios de Londres na Segunda Guerra aos experimentos no campo da psicologia, o autor vai atacando a ideia de um homem ruim esperando chance de exercer sua força destrutiva. O mais curioso é o debate sobre o conhecido O Senhor das Moscas, de William Golding. A visão publicada na década de 1950 parece ser um eterno sucesso. Pegue um grupo de ordenados estudantes ingleses. Solte-os, sem autoridade, em uma ilha em situação de risco. Cai a máscara britânica e emerge o selvagem assassino. A obra ficcional deu origem a bons roteiros de cinema para exibir aquilo, afinal, que todos acreditamos: somos terríveis, no fundo, ou logo no raso mesmo. O autor ganhou Prêmio Nobel.

O livro Humanidade duvida da base real de O Senhor das Moscas. Depois de muita busca, Bregman encontrou um caso concreto: os náufragos de Tonga. Seis garotos de um internato católico saíram da ilha e acabaram naufragando próximos à deserta Ata. Enfrentaram sede, tempestades tropicais e uma perna quebrada. Custaram a conseguir fogo. Organizaram-se e sobreviveram com camaradagem e administrando os poucos recursos do lugar. Viraram amigos para sempre após terem sido resgatados, com excelente saúde, um ano depois. Uma história de sucesso e de trabalho em grupo. Nunca fez o sucesso de O Senhor das Moscas. Por que adoramos ler uma ficção pessimista e rejeitamos estudar uma história real que mostra o fracasso da teoria do verniz? É uma pergunta a que o autor tenta responder.

Claro que o livro trata das grandes experiências de maldade, incluindo nossos campos de concentração do século 20. Há casos extremos de crueldade deliberada de indivíduos e de grupos. Bregman trata um a um. O caso que mais me interessou foi o de um experimento soviético. Dmitri Belyaev, zoólogo e geneticista, encontrou-se com a estudante Lyudmila Trut. Era na Moscou de 1958. A teoria da evolução era criticada pelo Estado naquela época. Parecia uma invenção ocidental capitalista. O professor tinha uma ideia para testar com a raposa-prateada, um animal nunca domesticado e sempre agressivo. Como uma espécie perfeitamente selvagem poderia originar "cachorrinhos" dóceis?

O experimento começou com os pesquisadores colocando as mãos protegidas por grossas luvas nas gaiolas dos animais. Se a raposa hesitasse um pouco antes de morder, era separada para reprodução. A maioria mordia imediatamente. Em quatro gerações de raposas um pouco mais "dóceis", surgiram as primeiras ninhadas com filhotes que abanavam o rabo e ficavam felizes com a presença dos tratadores. Avançando gerações, as raposas passaram a ter comportamentos de cachorros domésticos e levavam um caráter juvenil por mais tempo: brincavam mesmo na vida adulta e atendiam por nomes.

No congresso internacional de geneticistas, em 1978, 20 anos de pesquisas com raposas-prateadas vieram ao conhecimento geral. Mais tarde, as transformações físicas das raposas amistosas foram ficando evidentes. Estudos posteriores, como o de Brian Hare, demonstraram a sobrevivência do mais amigável na espécie humana, quase repetindo as raposas. Brian foi até a fazenda das raposas que já estavam na geração 45. Fez testes e descobriu que as raposas, selecionadas pela amistosidade, tinham desempenho superior no item inteligência ao das mais ferozes. A docilidade estimulara muitas coisas no cérebro das raposas. No estudo de Brian, o mesmo tinha ocorrido com os seres humanos e ajudava a explicar a redução das várias espécies de Homo que existiram. As mais violentas desapareceram, as mais sociáveis prosperaram. Seria, a rigor, um experimento científico sobre a superioridade das pessoas negociadoras sobre as agressivas.

Meu objetivo hoje? Estimular que você leia e chegue a suas próprias conclusões. Que analise cada argumento e pense sobre nossos vernizes ou constituições anteriores. Seríamos bons ou ruins por natureza? Devemos seguir os argumentos duros de Richard Dawkins (O Gene Egoísta, Companhia das Letras) ou as reflexões de Rutger Bregman. Eu só tenho uma certeza: ler obras variadas, contrapor argumentos e pensar de forma autônoma não me torna uma pessoa boa ou ruim, porém, com certeza, mais capaz de argumentar. Então, para todos os humanos, bons e ruins, segue minha recomendação: leiam para pensar melhor! A esperança está sempre em pensar.

LEANDRO KARNAL

22 DE MAIO DE 2021
FRANCISCO MARSHALL

A VERDADE

O elemento que ora nos governa (!), atormenta e expõe à morte, aos milhares e ainda impunemente, adora fundamentar-se na passagem bíblica, do evangelho de João (8:32), que diz: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". A frase foi escrita em grego, idioma dos evangelhos, e conecta-se tanto ao contexto doutrinário desta literatura religiosa quanto ao da história e dos significados desse idioma edificado por poetas e filósofos, muito antes do advento do cristianismo. Vale ler a frase e refletir sobre as questões: o que é a verdade? Como se conhece a verdade? Quem será libertado? Do que ou de quem a verdade liberta? É pauta atual, quando apuramos verdades sobre a tragédia que ora flagela brasileiros.

Para o evangelista João, a verdade está em Cristo ("Eu sou o caminho, a verdade e a vida", 14:6) e no conhecimento de que ele é o filho de deus, mas especialmente na mensagem religiosa e na potência divina, apresentadas como as verdades que devem ser reconhecidas. O personagem atual, cioso de seu eleitorado crente, faz alusões ao seu nome Messias, e escora-se em João para simular ser núncio de verdades, malgrado sua pregação de intolerância, ódio, armas e morte, em tudo oposta à mensagem evangélica. Parece, nesse caso, referir-se à ambição do tirano, de ser o senhor e juiz daquelas verdades que querem se impor como poder e violência.

A palavra grega para verdade, todavia, diz muito mais, e João, o autor que começa falando de arché e logos ("No princípio era o verbo", 1:1), não pode desconhecer o sentido clássico do conceito, cimentado na filosofia de Platão. Alétheia, em que o alfa (a) privativo antecede aquilo que é negado, léthe, o esquecimento: alétheia significa recusar que algo fique esquecido ou abandonado e desvelar, porque este algo tem a sua essência de realidade e se manifesta como fenômeno, quando desocultado. Logo, a verdade decorre de se eliminar o esquecimento. É o que fazemos ao pesquisar e evidenciar o passado (verdades do direito e da história), ou ao investigar e descobrir as causas (verdades da filosofia e da ciência), ou ao adquirirmos consciência de que algo é soberanamente real (verdades da vida e da política).

Eis-nos, pois, diante de senda que pode levar a verdades que libertam. Jazem hoje finados mais de 440 mil concidadãos. Todos assistimos a uma sequência de atos malignos e irresponsáveis que ampliaram o poder letal do vírus e que agora podem ser arrolados como provas de uma verdade que tem que ser formulada com toda a clareza; há autoria e culpa, causa e consequências, fim da vida e colapso da pátria: genocídio brasileiro. Pior: segue atuante a dupla força letal que provoca tanto luto, o coronavírus e seu promotor, e projeções já indicam números ainda mais assombrosos para os próximos meses. Urgem remédios: impeachment, saber e vacina.

A verdade que nos liberta vem da força de fatos que não podem ser esquecidos e exigem um caminho que nos devolva a luz à vida. Então os que sobrevivermos, já libertos, gozaremos do mais verdadeiro alívio, a vitória do amor e a graça da vida.

FRANCISCO MARSHALL

22 DE MAIO DE 2021
CRISTINA BONORINO

MÁSCARAS

Para as pessoas que mentem e, quando confrontadas com a mentira, negam o que falaram mesmo que esteja registrado em áudio ou vídeo, não há limite. A não ser que se coloque um. Deve dar uma liberdade, eu acho, mentir sem consequências. A maioria das pessoas se constrange ao mentir. Os polígrafos (detectores de mentira) são baseados em alterações fisiológicas: quem mente tem aceleração de batimentos cardíacos, perspira. Mas você pode ser treinado para controlar isso e mentir com mais tranquilidade; ou você pode ser um sociopata, e isso vem então naturalmente. A máscara que usam não é de tecido.

Pensei nisso hoje quando, entre palestras e reuniões, lia mensagens de amigos que moram nos EUA e na União Europeia. Para eles, a vida recomeçou. Podem fazer reuniões presenciais, viajar, ir a restaurantes. Estados como Massachussets e cidades como Los Angeles vivem vários dias sem uma única morte por covid-19. Em Nova York, o turismo recomeçou. Visitantes recebendo vacinas como prêmio para ajudar a retomar as atividades na Grande Maçã. Liberdade conquistada por imposição de meses de isolamento e vacinação ampla.

A vida no Brasil continua um pesadelo, sem sinal de melhora - muito pelo contrário. Quem mora no país vive hoje tragédias, perde pessoas queridas, corre riscos. Por que, pergunto, escolhemos isso para nós? Dia após dia, revolta assistir, na TV, aos responsáveis por ignorarem os cientistas mentindo placidamente. Mentirem que não promoveram tratamentos errados, que não incentivaram aglomerações, que não buscaram vacinar a população.

Até quando vamos permitir que essas pessoas não apenas claramente despreparadas, mas também desinteressadas em nossas vidas, seja as responsáveis por elas?

O prefeito de Porto Alegre, num gesto teatral que imita os que removem as máscaras nos EUA hoje, dá um patético exemplo. Não pode reivindicar essa liberdade quem não fez o trabalho duro de suportar o desgaste de ser impopular ao priorizar saúde versus o lucro de alguns. Faz isso plenamente ciente de que não temos nem perto da segurança das cidades americanas que investiram pesadamente em medidas de isolamento e vacinação. Ou seja, continua colocando pessoas em risco.

Desde o início da pandemia os cientistas avisavam que a solução era isolamento, estudar a doença e desenvolver vacinas. Hoje isso está tão claro que tantos mentirosos correm a apagar publicações. O problema está longe de acabar - teremos de lidar com as sequelas dos pacientes de covid-19 que sobreviveram. Mas, a cada passo que damos, ainda há quem ignore e minta. Apenas quando pararmos de mentir para nós mesmos de que isso é normal é que algo vai mudar.

CRISTINA BONORINO

22 DE MAIO DE 2021
DRAUZIO VARELLA

CORONAVÍRUS E GRAVIDEZ

Mulheres grávidas correm risco maior de apresentar quadros graves de covid. Felizmente, seus bebês dificilmente ficam doentes ou desenvolvem quadros de insuficiência respiratória.

Amostras colhidas da placenta, do cordão umbilical e do sangue materno mostram que o coronavírus raramente se transmite para o feto. Alguns dados preliminares, no entanto, revelaram que o vírus pode provocar pequenas alterações placentárias, de significado incerto.

No decorrer da gravidez normal, o consumo de oxigênio aumenta por duas razões principais: 1) o crescimento do útero empurra o diafragma e reduz o volume ocupado pelos pulmões; 2) o oxigênio inspirado precisa ser dividido entre a mãe e o feto.

Por essa razão, gripe na gravidez aumenta a probabilidade de complicações respiratórias, hospitalizações, parto prematuro e morte fetal, como ficou demonstrado na epidemia de H1N1 (gripe suína), ocorrida em 2010.

Em setembro do ano passado, foi publicada uma revisão de 77 estudos (metanálise) realizados com gestantes hospitalizadas, por diversos problemas de saúde. As que receberam o diagnóstico de covid apresentaram risco de ir parar na UTI 62% mais alto. Entre elas, a probabilidade de intubação e ventilação mecânica foi 88% maior.

Esses resultados foram confirmados pelo Centers for Diseases Control, dos Estados Unidos, num levantamento realizado entre 400 mil mulheres com teste positivo para covid, das quais cerca de 23 mil estavam grávidas.

A relação entre covid e parto prematuro foi avaliada em 4 mil mulheres, num estudo conjunto realizado nos Estados Unidos e no Reino Unido. Cerca de 12% das inglesas deram à luz antes de completar 37 semanas de gestação, número que nos Estados Unidos chegou a 15,7%. As porcentagens esperadas de prematuridade nesses dois países são de 7,5% e 10%, respectivamente.

A infecção pelo coronavírus na gestação chega a aumentar três vezes o risco de parto prematuro. A maioria dos casos ocorre em mulheres infectadas no último trimestre, quando o feto tem boas chances de sobrevivência.

Um estudo comparou 179 bebês nascidos de mães com covid, com 84 filhos de mães com teste negativo. Até os dois meses de vida, não houve diferenças no grau de desenvolvimento. Não está claro o papel protetor dos anticorpos que o feto recebe passivamente da mãe.

Esses dados servem de base para a inclusão das gestantes nos grupos prioritários para a vacinação contra a doença. No entanto, como os estudos conduzidos para comprovar a eficácia das várias preparações não incluíram gestantes, faltam dados para definir a melhor estratégia.

Apesar dessa restrição, a maioria dos infectologistas recomenda a vacinação, uma vez que a covid pode provocar danos muito mais graves, do que os improváveis efeitos colaterais das vacinas existentes. Mais de 20 mil mulheres já receberam as vacinas Pfizer e Moderna; até agora, não apareceram eventos indesejáveis nas que engravidaram ou estavam grávidas.

DRAUZIO VARELLA

22 DE MAIO DE 2021
MONJA COEN

O VAZIO INTERIOR

Geralmente falamos de encontros inter-religiosos. Pessoas de diferentes tradições se encontram em momentos específicos e cada representante de uma ordem fala, comenta, ora, medita, abençoa.

Nos dias 14, 15 e 16 de maio, participei do VIII Encontro Zen da América Latina e encontrei praticantes e mestres de vários países. Um encontro singelo, em espanhol. Houve até mesmo gravações de contos zen, filmados como cinema mudo, que todas as três noites nos alegraram com sua inocência e profundidade.

O último professor palestrante foi um padre zen católico que vive a 40 quilômetros de Bogotá. No Mosteiro Salmos.

S de sentar-se

A de atenção plena, presença pura

L de libertação

M de meditação

O de oração

S de silêncio

Padre Victor Moreno Holguin é o guardião desse lugar, onde leva praticantes que para lá se dirigem a abismar-se no silêncio, a encontrar o vazio interior e se perguntar do que é feito esse vazio, esse nada tudo. Ir além das palavras e do discurso para dar um salto no vazio, encontrando a realidade mais profunda no tempo e no espaço. Lançar-se à presença sagrada que é amor, onde este nada, este vazio está repleto de amor.

Em sua jornada espiritual, padre Victor encontrou uma mestra zen, na Europa, e se encantou com as práticas que "me devolveram meu centro. E o centro é a luz, é Jesus".

Houve quem o questionasse, se estava misturando Zen com Cristianismo. Enviaram cartas ao Vaticano. E o jovem padre foi explicar que era 100% cristão e 100% zen.

Como poderia ser isso? Além das dualidades.

No dia 6 de agosto de 2017, ele oficiou parte da celebração da Transfiguração de Cristo na Basílica de São Pedro, em Roma. E lá, fez todos os participantes sentarem-se em Zazen. Aprofundando o silêncio interior e apreciando o encontro, a entrada no que Santa Tereza chamava da quarta morada. O padre citou a santa: "Para entrar no castelo interior, temos de ir além das palavras. A quarta morada é a experiência mística do abismar-se, do maravilhar-se com e através do silêncio".

Ao explicar a seus superiores do seu encantamento com o Zen, lembrou que mais profundos do que os encontros inter-religiosos seriam encontros intrarreligiosos, em que nos abrimos para viver a experiência religiosa de outros grupos e pessoas: "Vivo sua experiência profunda, sem deixar de ser quem sou".

Padre Victor disse que ele é um religioso bilíngue e lembrou que Madre Maria de Nazaré foi quem ensinou seu filho a meditar e a orar. É preciso ir buscar no mais profundo, no mais íntimo do ser - pois ali habita o amor sagrado.

Isso não significa dizer que você é uma pessoa ecumênica e que aceita todos os credos e todas as práticas. O encontro intrarreligioso só pode ocorrer depois de você encontrar seu eu verdadeiro, fazer e manter seus votos através de alguma tradição espiritual. Só então poderá vivenciar outras tradições, sem nunca deixar de ser quem verdadeiramente é e sem abandonar seus votos profundos.

Não é turismo espiritual, curiosidade. É procura e é encontro. Você sabe quem você é?

Mãos em prece

MONJA COEN

22 DE MAIO DE 2021
J.J. CAMARGO

VIDAS SUSPENSAS

QUE VOLTEMOS A PENSAR NA DOR DOS OUTROS, ESSES ANÔNIMOS QUE TÊM SONHOS IGUAIS AOS NOSSOS E NECESSITAM DESESPERADAMENTE DA NOSSA SOLIDARIEDADE

A construção básica de felicidade começa com autonomia. Nada nos deixa mais vulneráveis do que a sensação prolongada ou permanente de dependência, qualquer que seja, emocional, física, afetiva, ou econômica.

Se esta dependência for por coisas materiais, ela pode manter-nos em estado de constante aflição, porque afinal não dá para ser feliz permanentemente acuado pelo assédio dos credores. Mas sempre será possível dar a volta e libertar-se, reforçando a convicção de que uma das maravilhas de se ter dinheiro é a naturalidade de podermos, por exemplo, expressar a nossa opinião mesmo correndo o risco de perder o maldito emprego.

Um grande e inesperado choque para os muito ricos que, por um golpe do destino, foram colocados numa lista de espera para transplante é descobrir-se pela primeira vez impotente, porque ali o futuro não pode ser comprado e, pior do que isso, a sobrevivência depende da generosidade alheia, este sentimento sempre visto por eles como uma evidência de fraqueza.

Nestes 30 anos trabalhando com transplante de pulmão, fui algumas vezes apresentado a uma forma insólita e atroz de humilhação: aquela que não depende do quanto podemos comprar, mas a que resulta da submissão à opinião dos outros porque, por falta de fôlego, perdemos a condição de argumentar; ofegantes e desmoralizados, nos submetemos.

Neste ano da peste, houve uma queda substancial dos doadores em todo o mundo e tem sido uma experiência dramática o convívio com os pacientes da lista de espera que foram perdendo parceiros pelo caminho, aumentando a angústia de quem já se estressava pela espera indefinida, agora agravada pela informação de que a roda tinha parado de girar. É duro compartilhar esta premência com quem está correndo contra o tempo, em que cada semana que passa significa a redução da chance de se conseguir um doador, e onde a escassez das doações de órgãos é sentida como uma peça solta na engrenagem da esperança. A queda dos transplantes dos diferentes órgãos variou de 26% a 60%, para desespero de 60 mil brasileiros.

O que se aguarda com sofreguidão é que a retomada da vida interrompida coloque a sociedade nos trilhos, que viver se imponha como prioridade e que voltemos a pensar na dor dos outros, esses anônimos que têm sonhos iguais aos nossos e necessitam desesperadamente da nossa solidariedade para continuar a viver e sonhar.

A Nathaly tem 40 anos e um sonho: "Tudo que eu mais quero é ficar boa, vacinar logo e conseguir realizar o transplante, que a cada dia parece mais longe. Só quero poder cantar uma música, terminar uma frase sem tossir, tomar um banho demorado sem sufocar, ir à praia sem me preocupar se vou conseguir caminhar do mar até onde está a barraca, poder voltar a sair na rua sozinha sem medo de passar mal, amarrar o tênis sem parecer que corri uma maratona. Enfim, eu só quero respirar, sem ter que convencer meu pulmãozinho de que se ele não permitir que o ar entre, morremos os dois".

J.J. CAMARGO

22 DE MAIO DE 2021
PAULO GERMANO

O melhor tipo de música

Faz mais de 300 anos que a chamada "classe média culta" diz que a música popular, aquela consumida pelas massas, que hoje toca no rádio o dia inteiro, não passa de lixo.

- Bom mesmo era o som da minha época - e blá-blá-blá.

Nada mais arrogante. Aliás, o sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002) explicou as razões dessa arrogância - ou seja, por que a elite intelectual prefere não se misturar com o som do povão.

Bourdieu dizia que a cultura, antes de mais nada, é um elemento de distinção social. Quer dizer: a gente se utiliza dela para se sentir parte de um grupo descolado, sofisticado, maneiro, hype. Quando a música se massifica e é consumida pelo grande público, ela perde esse valor. Vira coisa de chinelão.

O problema é que os chinelões são visionários: 20 anos depois, o som deles vira cult, e lá vai a elite intelectual reconhecer seu valor - porque, obviamente, aquele som sempre foi bom. No início do século passado, samba era música de malandro. Na década de 1960, só alienado gostava da Jovem Guarda. Nos anos 1980, diziam que o rock ofendia a MPB. E, nos anos 1990, quem tivesse mais de 20 anos e gostasse de Mamonas Assassinas era abobado.

Sempre foi assim. Hoje você vê as orquestras tocando Johann Strauss (1825-1899) e acha muito chique, mas, no século 19, também era coisa de chinelão. Strauss, um gênio, sofria com o desprezo da burguesia e com a popularidade das próprias músicas, que só faziam sucesso em bailes. Na Áustria daquele tempo, as valsinhas de Strauss eram de gosto tão duvidoso quanto hoje são, por exemplo, Os Barões da Pisadinha.

Você já ouviu Os Barões da Pisadinha, imagino.

São eles que cantam aquela, que é meio forró, meio sertanejo, meio tecnobrega, que diz assim no refrão: "Eu já te superei / Certeza, eu superei / Mas não manda mensagem outra vez / Senão, recairei". Percebe-se claramente que ele não superou coisa nenhuma - se tivesse superado, não teria medo de recair.

E o autor vai brincando com essa ambiguidade durante a música. É o que chamam, em psicanálise, de denegação: a pessoa nega a realidade, se recusa a aceitar o que está sentindo - é um mecanismo de defesa, todo mundo já fez isso. Portanto, logo no início da letra, Os Barões da Pisadinha parecem muito seguros: "Já tem uma semana que eu tô limpo de você / E de olhar os seus stories não sinto saudades".

Não é uma maravilha de frase? Me diga, qual é a prova mais irrefutável, nos tempos atuais, de que alguém finalmente conseguiu se livrar de uma paixão? Isso só ocorre quando as aparições virtuais da outra pessoa deixam de ser uma obsessão, um fantasma, um gatilho para sofrer. Só que a letra continua: "Zero curtidas, zero vontade de te ver / De beijar sua boca e dormir de conchinha sem roupa / E fazer um love, um love com você".

Completamente apaixonado, coitado. Tanto que o próprio título da canção já avisava: Recairei.

Milhões de pessoas se identificaram com essa música - e o melhor nem é a letra, é a melodia mesmo -, porque ela propõe uma abordagem original para um assunto batido: a dor de amor. Escute Os Barões da Pisadinha. Você tem sorte de viver na época deles, porque, daqui a 20 anos, ouvindo qualquer canção horrível por aí, poderá encher a boca para dizer:

- Bom mesmo era o som da minha época.

*O colunista David Coimbra está em licença médica - PAULO GERMANO | INTERINO

Postagem em destaque

04 de Setembro de 2024 CARPINEJAR Será o último capítulo? Será o derradeiro capítulo de uma das maiores tragédias gaúchas? Onze anos depois,...

Postagens mais visitadas