sábado, 8 de maio de 2021


08 DE MAIO DE 2021
MARTHA MEDEIROS

Mães pandêmicas

Todas as mães merecem beijos, mimos, afagos neste domingo, mas presto reverência, hoje, às mães que ficaram mais de um ano com crianças em casa, crianças estudando a distância, crianças sem praticar esportes, crianças sem ver os amigos, crianças que ainda não entenderam direito o que está acontecendo.

Sou mãe de adultas - a essa altura, uma sorte. Se fosse mãe de pequenos, não sei se teria conseguido, talvez tivesse entrado em curto-circuito, sei lá. Que bom que as mães são fortes e seguram a barra (claro, os pais têm participação nisso, mas é maio, não agosto, aguardem sua vez).

Parabéns, mães de crianças de dois anos que providenciaram máscaras divertidas e inventaram "bailes à fantasia" em plena segunda-feira à tarde. Parabéns, mães que não puderam festejar o aniversário de cinco anos de seus pimpolhos e providenciaram encontros por Zoom com tios e primos segurando balões e assoprando velinhas. Parabéns, mães de filhos de sete anos que tiveram que lidar com a interrupção do ano letivo, com a frustração da garotada por não começar a trajetória escolar, por não socializar, por não fazer novas amizades, iniciação fundamental de todo ser humano.

Parabéns, mães de meninas que sonhavam em dançar balé, que queriam aprender a jogar tênis, que já tinham descoberto a porta da rua e tiveram que voltar para dentro de seus quartos e aguardar por um tempo indefinido.

Parabéns às mães que tiveram que explicar aos filhos que existe outro tipo de cancelamento: o dos sonhos, o dos projetos, o do crescimento através das vivências fora do lar, em bairros vizinhos. Parabéns às mães que conseguiram fazer com que eles se interessassem por livros, uma escapada que trará consequências magníficas no futuro.

E o que dizer sobre aulas online? Meu respeito às mães sem opção: tiveram que sair para trabalhar, deixando os jovens alunos se virarem em frente ao computador. E também às que puderam trabalhar em home office e que arranjaram uma horinha para fazer os deveres do colégio com seus filhos desmotivados, que deram a eles explicações a fim de ajudá-los a amadurecer em meio ao caos.

Parabéns às mães de adolescentes que os seguraram em casa, que evitaram que eles aglomerassem, que tentaram proporcionar bons momentos entre quatro paredes que substituíssem os encontros da turma, as festas de 15 anos, as viagens para a praia. Parabéns às mães com imaginação, às mães com paciência, às mães que se empenharam além de seus limites, ao contrário de mães que foram desafiadas de outra forma - são muitas as que, como eu, estão há mais de ano sem ver um filho ou filha que vive fora do país.

É dia de celebrar todas as mães e sua sanidade colossal para enfrentar esse período tão enlouquecedor.

PS: Beijo especial à mãe de Paulo Gustavo e a todas que vêm passando por perdas semelhantes. A essas, resta o consolo de terem feito sua parte com todo amor.

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