sábado, 8 de maio de 2021


08 DE MAIO DE 2021
FRANCISCO MARSHALL

OS SETE SÁBIOS

Os brasileiros, como os antigos, perseguem a sabedoria; nós, para exterminá-la, em favor da ignorância, ora garantida no poder; eles, para obtê-la e fazer do saber o farol que ilumina as ideias e a vida prática. Desse amor à sabedoria surgiu a lista dos sete sábios (hoi hepta sophoi), enunciada pela primeira vez por Platão (428-347 a.C.), no diálogo Protágoras. Esta e todas as listas posteriores foram encabeçadas pelo filósofo Tales de Mileto (624-546 a.C.), com legisladores do século VI a.C., época em que as cidades da Grécia tentavam superar a penúria e a violência da guerra civil. Para avançar, era preciso conciliar uma sociedade dividida. Hoje, queremos sabedoria para sair da crise, ou seguiremos arrastados pelo ódio dos ignorantes?

Ao longo dos séculos, a nominata variou, mas nela sempre constaram Sólon de Atenas (638-568 a.C.), um dos pais da democracia, e líderes modernizadores da sociedade. Os sábios eram aristocratas que souberam interpretar seu mundo e ceder parcelas de poder e privilégios para o povo, ora em desenvolvimento. Com suas novas leis e políticas, estruturou-se na pólis uma esfera pública agradável e produtiva, em locais de convívio, diálogo e cooperação (ágora, fontes, templos, festivais, assembleias e tribunais), ao passo em que se instituiu nova ordem política, para incluir mais cidadãos. As póleis encontraram a unidade visada e prosperaram por 150 anos, entre os séculos VI e V a.C, chegando a um dos apogeus da história da civilização, a era clássica em Atenas. Consagrou-se a liderança de sábios abrindo caminhos para o equilíbrio social (isonomia), juntamente com a soberania popular, alma da democracia. Ademais, aqueles gregos repeliram o exército persa, entre 490 e 479 a.C., dominaram a economia do Mediterrâneo com seus vinhos, óleos, naves e vasos excelentes, e produziram o legado de arte, filosofia e política que nos nutre há milênios. Tudo fruto da sabedoria que leva à democracia, e de ciências que melhoram o destino.

Ouçamos um pouco de Sólon, traduzido no livro Sólon de Atenas, a cidadania antiga, de Gilda N. M. de Barros (1999); suas reformas incluíram a repatriação dos cidadãos vendidos devido à escravidão por dívidas, ambas então abolidas. Sólon tinha asco dos arrogantes que em jantares conspiram contra o povo: "Pois não sabem conter a insolência/ nem moderar na paz do banquete as alegrias do momento./ (?) Mas enriquecem persuadidos por ações injustas", diz, no poema da Eunomia (boa norma). Abominava também a alienação dos que nem sequer curtem ou compartilham postagem: "Assim, o Mal Público chega para cada um em sua casa/ e já os portões do pátio não podem detê-lo,/ mas de um salto ultrapassa o muro elevado e sempre encontra/ mesmo aquele que, fugindo, estiver no recôndito do quarto". Só há democracia com plena participação.

Eia! É hora de sabedoria, democracia e ação, para nos livrarmos de exército invasor, de rapineiros, de zumbis usurpa-cores e da chaga letal da ignorância que ora nos atormenta. À luta, pela liberdade e pela vida!

FRANCISCO MARSHALL

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