sábado, 5 de junho de 2021


05 DE JUNHO DE 2021
MONJA COEN

O IMPOSSÍVEL DEMORA UM POUCO MAIS

Você se considera um qualquer? A história que vou narrar é de um personagem criado por uma médica cardiologista de São Paulo, Floriana Bertini. Eu a conheci em um evento sobre resiliência, há alguns anos, em Ouro Preto. A fala dala antecedeu à minha, e aprendi que nossas hemácias são um exemplo de resiliência. Ou seja, quando precisam passar pelos capilares, veias e artérias mais finas do corpo, elas se dobram, se enrolam, se fazem pequenas. Depois, ao transitar pelas artérias e veias maiores, se abrem, se expandem. Resiliência é essa capacidade de se transformar e não ser destruída, suportando e passando por situações difíceis e desabrochando novamente.

Tudo muda.

Aretha Duarte, a primeira brasileira preta a alcançar o cume do Everest, em 23 de maio, precisou de paciência, resiliência e muito treino. Aretha estava com um grupo também preparado e experiente de montanhistas. Para ter meios financeiros, ela catou latinhas, participou de programas de TV, recebeu doações. Já era formada em educação física e guia de montanhismo. 

Não foi uma aventura qualquer. Anos de preparo. Para subir ao pico do mundo, ou seja, acima de 8 mil metros de altura, precisou ir e voltar várias vezes. Adaptar o corpo a regiões com pouco oxigênio. Foram muitas subidas e descidas. Cada vez um pouco mais alto. Antes da subida final, desceu bem abaixo das plataformas anteriores para recuperar o nível de saturação de oxigênio no sangue necessário para chegar ao cume. A força da mente, o treinamento, a equipe e a fé a mantiveram firme.

Lembrei-me do personagem Qualquerum da Doutora Floriana. Ele representa qualquer um de nós no processo de mudança de hábitos e comportamentos. Podemos chegar onde quisermos, afirmou Aretha e afirma Qualquerum. Não se atinge o objetivo em linha reta, mas numa espiral. Com subidas e descidas, conforme o modelo transteórico de James Proschaska, professor de Psicologia de Rhode Island, nos EUA. Trans de transitar entre diferentes teorias e práticas psicológicas.

Quer aprender? Procure por Qualquerum e os Processos de Mudança (2020), da Ed. Loyola, ou Qualquerum em Tempos de Coronavírus (2021), da Ás Editorial.

Vamos transformar a pandemia através de mudanças dos nossos comportamentos? Há etapas: a primeira é negar que precisamos ou devemos mudar. A segunda é duvidar. A terceira é observar, contemplar. A quarta é iniciar a jornada.

Haverá derrapadas, escorregadas, necessidade de tomar um novo fôlego e voltar ao nível anterior. Até que conseguimos atingir nossos objetivos. Mas é bom lembrar que a vitória é como uma espada - ninguém se senta sobre ela. Para se manter em forma, Aretha continuará se exercitando, se alimentando de forma saudável e auxiliando outras pessoas em suas escaladas. Precisamos uns dos outros. E sempre há mais a aprender, mais a praticar, mais a fazer.

Tudo podemos. Basta iniciar e não desistir. Corrigindo erros e faltas, nos fortalecemos e vamos adiante.

Faça sua escolha e crie causas e condições favoráveis. Será fácil? Em alguns momentos sim, em outros não. Não desista. Pode precisar de um tempo, um fôlego, uma pausa, reavaliação. Continue. Resiliência é suportar sem desistir.

"Seja a transformação que quer no mundo", falava Gandhi. "O impossível demora um pouco mais", dizia Pena Branca, na redação do Jornal da Tarde, em SP, nos anos 1960.

Mãos em prece

MONJA COEN

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