sábado, 12 de junho de 2021


12 DE JUNHO DE 2021
J.R.GUZZO*

Um crime contra o país

O Supremo Tribunal Federal tem se mostrado cada vez mais como protetor do crime no Brasil. O ministro Edson Fachin proibiu os voos de helicóptero da polícia sobre as favelas do Rio de Janeiro; o único direito que ficou garantido, no caso, foi o dos criminosos, que agora estão protegidos de ações policiais capazes de revelar suas posições no território que ocupam. O ministro Marco Aurélio soltou um dos maiores traficantes de droga do país; o homem fugiu no ato, e nunca mais foi encontrado.

Agora é a vez da ministra Rosa Weber, que deu ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), um dos políticos brasileiros mais enrolados com suspeitas de corrupção no uso de verbas públicas no combate à covid-19, o privilégio de não ser interrogado nesse picadeiro de circo que “investiga” a pandemia no Brasil.

A ministra Weber deu um argumento espantoso para a sua decisão: o governador, segundo ela, não pode sofrer “constrangimentos” na CPI da Covid. Por que não? Só porque está metido na operação Sangria da Polícia Federal? Só porque precisa esconder as responsabilidades diretas do governo do Amazonas no sinistro colapso do fornecimento de oxigênio em Manaus?

Todos os inimigos do presidente da CPI, do seu relator e da bancada da esquerda que controla os chamados “trabalhos” têm sido insultados em público, das formas mais grosseiras que se possa imaginar, pelos inquisidores. Ninguém, no STF ou em qualquer outra entidade de oposição ao governo, se lembrou até agora de mexer uma palha em favor dos seus direitos. Por acaso eles não estão sendo constrangidos da maneira mais agressiva, cínica e desleal em seus interrogatórios? Por que o governador do Amazonas não pode ser constrangido, mas a dra. Mayra Pinheiro pode?

Há desculpas vagas de que ouvir o governador na CPI poderia ferir a “independência de poderes”. Como assim?

Alega-se, também, que o governador do Amazonas está sendo investigado pela polícia e, se fosse ouvido na CPI, poderia incriminar a si mesmo. Um administrador minimamente honesto não teria problema nenhum em responder a qualquer pergunta, na CPI ou onde for. Se não fez nada de errado, por que está se escondendo? 

Quanto à possibilidade de “incriminação”, estamos diante de uma piada vulgar. Não é exatamente esse o propósito declarado dos donos da CPI – incriminar os adversários?

Desde o seu primeiro dia, essa CPI tem sido um espetáculo inédito, mesmo para os padrões de safadeza da vida política brasileira, em matéria de hipocrisia, de desrespeito ao público e de desonestidade em estado bruto. Como definir esta aglomeração, quando o presidente da CPI é um político desse mesmíssimo Amazonas, envolvido nas piores denúncias de roubalheira na área da saúde?

É óbvio que o STF está agindo e vai agir como aliado vital dessa gente. Seu objetivo e seus interesses têm sido os mesmos – governar o país sem a necessidade de ganhar eleições.

J.R. GUZZO*

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