sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016


05 de fevereiro de 2016 | N° 18436
ESPECIAL

PROJETO DE DRENAGEM TEM OBRAS ADIADAS


PROMETIDAS PARA MARÇO, intervenções no valor de R$ 237 milhões não têm mais previsão. Enquanto isso, Porto Alegre amanheceu mais uma vez embaixo d'água

Anunciado como “o maior projeto de drenagem da história” da Capital pelo prefeito José Fortunati em julho de 2015, o DrenaPOA não tem mais previsão para sair do papel. As obras, que poderiam amenizar alagamentos – como o que paralisou Porto Alegre na manhã de ontem – começariam no mês que vem, mas os processos licitatórios foram suspensos no final de 2015. 

Seriam investidos R$ 237 milhões em recursos federais, obtidos por meio do PAC Prevenção. O problema é que o valor foi reajustado devido a uma lei que alterou o índice de Benefício e Despesas Indiretas (BDI) das empresas – taxa somada ao custo de uma obra para cobrir gastos indiretos que tem o construtor – e não há garantia de que será liberado pelo Ministério das Cidades.

Enquanto isso, as casas de bombas seguem parando por falta de luz – apenas três das 21 têm geradores –, e os arroios continuam com problemas de drenagem. Apesar da chuva atípica de ontem – 90mm em três horas, quase a média histórica de fevereiro, que é de 108,6mm – e dos resquícios da tempestade da semana passada em bueiros e bocas de lobo, as dificuldades para escoar a enxurrada foram as mesmas de sempre. Cinco casas de bombas ficaram sem energia, e o Arroio Sarandi transbordou. Na Avenida Sertório, um homem foi visto em um caiaque para conseguir se deslocar. Ao menos 44 pontos alagaram na Capital.

– O ritmo das obras se dará conforme o repasse do governo federal – afirma o diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Tarso Boelter.

CRISE ECONÔMICA AGRAVA DÚVIDAS SOBRE VIABILIDADE DA PROPOSTA SAIR DO PAPEL


Segundo ele, novos editais devem ser publicados em março. As empresas terão 45 dias para se inscrever. Só aí o projeto anunciado por Fortunati terá chance de aplicação prática. Mas, como o país está em crise, é possível que o PAC Prevenção fique para depois, admite o DEP. E não há plano B. Com orçamento anual de R$ 45 milhões, o órgão municipal não tem condições de bancar sozinho o DrenaPOA.

– Brasília empurrou os prazos em razão da crise. Estamos atacando neste momento só questões emergenciais, como arroios obstruídos – diz Boelter.

A primeira fase do projeto para mudar a drenagem de Porto Alegre abrange três frentes: obras nas bacias hidrográficas dos arroios Areia (R$ 107 milhões) e Moinho (R$ 40 milhões), e a reforma de cinco casas de bombas (R$ 42 milhões) das 13 com ampliação prevista. Vencida a morosidade, o plano deve beneficiar 500 mil pessoas. A promessa é eliminar alagamentos em regiões como a da Avenida Nilo Peçanha, onde já ocorreram mortes em enchentes.

Além de caras, as intervenções também são complexas. O Arroio Areia, por exemplo, precisa de pelo menos quatros anos e meio para ser remodelado. Obras nas casas de bombas e no Arroio Moinho, de três anos. O doutor em hidrologia e coordenador do Núcleo de Águas Urbanas da UFRGS, Joel Goldenfum, afirma que a escassez de dinheiro poderia ser contornada com trabalho coordenado municipal:

– Enquanto o DEP vai em uma direção, as secretarias de Obras e Viação e do Meio Ambiente vão para outra. Falta articulação, parece que só se preocupam com isso quando acontecem os eventos.

Prefeito em exercício, Sebastião Melo alega que o Executivo foca em “ações de médio e longo prazo” e que não há verba para resolver todos os problemas.

mauricio.tonetto@zerohora.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

14 de Setembro de 2024 MARTHA Mar e sombra Entre tantos títulos, cito dois: o magnífico Misericórdia, da portuguesa Lídia Jorge, e Nós, da b...

Postagens mais visitadas