sábado, 7 de outubro de 2023


07 DE OUTUBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

O PETRÓLEO É NOSSO

O título deste artigo resume a grande "batalha" da segunda metade do século 20 no Brasil. Quando a Petrobras completa 70 anos, rememoro a tempestuosa época em que a exploração do petróleo aparecia como a redenção nacional que abriria um novo tempo de riqueza e fartura ao Brasil e a seus habitantes.

No entanto, a campanha "O petróleo é nosso" levou à prisão milhares de brasileiros no governo do general Eurico Dutra, que triunfou na primeira eleição após o final do Estado Novo. Se o petróleo significava a redenção econômica, qual o motivo dessas prisões?

A pergunta soa como inexplicável e sem sentido, mas naqueles anos de inícios da Guerra Fria, tudo o que significasse mudança na economia ou no comportamento social era "coisa de comunista" e "a serviço da União Soviética". Além disso, o Relatório Link, produzido por um geólogo norte-americano, afirmava "não haver petróleo no Brasil" e que as jazidas terminavam na Venezuela, a quilômetros do nosso país.

Assim, os Centros de Defesa do Petróleo eram considerados antros comunistas, que buscavam apenas substituir-se ao Partido Comunista, ilegal desde 1947. Mesmo que figuras exponenciais do Exército participassem da campanha "O petróleo é nosso", como o general Horta Barbosa, a iniciativa foi tachada de "comunista" pelos governos da época. Aqui no RS, o governador Valter Jobim reprimiu com rigor os Centros de Defesa do Petróleo.

O esdrúxulo preconceito só foi quebrado com a eleição de Getúlio Vargas à Presidência. Mas mesmo assim, o próprio Getúlio (que implantou a Petrobras) foi cuidadoso no anteprojeto enviado ao Congresso, que, de fato, não instituía o monopólio estatal. Para discordar de Getúlio, a feroz oposição conservadora propôs emendas que implantavam o monopólio do Estado, aceitas e ampliadas pelo governo.

O estilo getuliano de governar fez nascer a Petrobras, e a prosperidade do petróleo perdurou até que se descobrisse o Petrolão, o escândalo que nos governos do PT quase quebrou a maior empresa do país.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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