sábado, 4 de novembro de 2023


04 DE NOVEMBRO DE 2023
CRUZEIRO REAL

Nota que homenageou o gaúcho há 30 anos virou item de colecionador

Cédula que fazia referência ao RS começou a circular em outubro de 1993, abrindo as portas ao que viria a ser o Plano Real

Em 29 de outubro de 1993, começava a circular a nota de 5 mil cruzeiros reais (Cr$). Conhecida como "o gaúcho", estampava em um dos lados a figura típica do Rio Grande do Sul, com a mirada no horizonte e as ruínas de São Miguel das Missões ao fundo.

No verso, o personagem aparecia montado, preparando-se para um tiro de laço. Há três décadas, a cédula, assim como as demais do Cruzeiro Real, ajudaria a enterrar o período da hiperinflação, ao abrir as porteiras para que a atual moeda, o Real, fosse efetivada no ano seguinte.

Para se ter uma ideia, antes do Real a inflação era tamanha que as manchetes de jornal já indicavam: do anúncio, feito em junho, até outubro, a nota que referenciava o Rio Grande do Sul somou nada menos do que 60% de desvalorização. Era pouco para os padrões da época, já que naquele ano a inflação acumulada ficaria abaixo de 1.000%, o que só havia acontecido uma vez nos cinco anos anteriores.

Com Cr$ 5 mil, em junho, comprava-se 100kg de costela bovina. Quatro meses depois, apenas 20kg. A nota estreou no mercado valendo US$ 30. Ainda assim, três gaúchos e um "lobo-guará" (a moeda de Cr$ 100, mesma ilustração da atual nota de R$ 200) eram suficientes para pagar o salário mínimo de novembro, cotado a Cr$ 15.021.

Bicho-papão

Na época, o rendimento mensal oficial do país era atualizado com mais frequência. Em dezembro, por exemplo, foi necessário incluir no maço de notas ao menos sete "Mários de Andrade" (o escritor modernista que emprestava rosto e chapéu à cédula de Cr$ 500) para arcar com os Cr$ 18.760 mensais a que os trabalhadores tinham direito.

Era um dos efeitos da corrosão do poder de compra, abocanhado a cada 24 horas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), à época, também denominado de "bicho-papão". Hoje, não mais que o "fantasma" da hiperinflação.

RAFAEL VIGNA

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