sábado, 9 de dezembro de 2023


09 DE DEZEMBRO DE 2023
DIÁRIOS DO PODER

O gaúcho que apresentou o Pampa a Lula O futuro é logo ali na COP28

A coluna deixou, na sexta-feira, a Blue Zone (Zona Azul), da COP28, onde ocorrem as negociações, e Mergulhou na Green Zone (Zona Verde), onde qualquer pessoa pode entrar.

É muito maior, muito mais divertida e com muito mais criatividade do que a área reservada aos debates sisudos sobre o futuro do planeta. Confira 10 destaques.

1) MINI-HELICÓPTERO - Minha imaginação voou com esse protótipo de um helicóptero que transporta uma pessoa. Na verdade, é um mini-helicóptero da FlyNow, que promete revolucionar a mobilidade urbana. Atinge até 50 quilômetros de autonomia e voa a 130 km/h.

2) HADDAD - A Polícia de Dubai, conhecida por sua abordagem de alta tecnologia, acaba de adicionar um novo membro a sua frota: o Haddad, um barco policial inteligente, apresentado no evento COP28. Sim, tem o mesmo sobrenome do ministro da Fazenda brasileiro. Aliás, Haddad é um sobrenome comum em árabe e significa ferreiro. A missão do barco é clara: contribuir para a iniciativa Força Policial Carbono Zero, que visa zerar as emissões até 2030.

3) ALTA TECNOLOGIA - Estão presentes várias startups, grandes empresas, como Microsoft, Siemens e IBM, que apresentam seus programas de energia e iniciativas para uma economia sem carbono.

4) NOVA GERAÇÃO - Acompanhados da professora de Física Daniela Camargo Fernandes, os estudantes Beatriz Peres Vasconcelos, 13 anos, e Otávio Pierre, 14, representam o Colégio Magno, de São Paulo, na COP28. Na escola, eles eliminaram o plástico, os alunos contribuem no processo de reciclagem de fraldas, transformando-as em matéria-prima que produz canetas, e ainda fabricam, na escola, sabonete vegetal a partir do grão de painço.

- Um jovem não consegue fazer parte do sistema de placas solares, mas nossa escola também tem como objetivo introduzir práticas sustentáveis no mundo dos jovens - explica Beatriz.

5) ONIPRESENTE - Está muito presente o poder chinês no Oriente Médio. O pavilhão do gigante oriental é um dos maiores, destacando tecnologia e tradição. Sem dúvida, é um dos novos atores geopolíticos com influência na região.

6) PODER SUAVE - Falando em soft power (o poder suave), a Arábia Saudita se destaca como potência regional. Seu estande ocupa um prédio inteiro, que exige identificação no ingresso e esbanja tecnologia no interior: uma viagem aos primórdios da Península Arábica em vídeos projetados em paredes. A despeito do sisudo reino, é possível uma brincadeira na entrada: fugir das cascatas que correm de uma pequena cachoeira.

7) PRIMEIROS SOCORROS - A fim de tornar a experiência muito mais real, nos momentos decisivos de um salvamento, as forças de segurança dos Emirados Árabes Unidos estão desenvolvendo um software de realidade virtual que substitui um boneco ou um ser humano na hora de exercitar primeiros socorros.

8) AOS SAUDOSISTAS - Quem pensa que veículos elétricos devem ter visual arrojado ou serem parecidos com carros com design espacial, a empresa Charge decidiu transformar modelos Mustang 1967 em protótipos completamente elétricos.

9) FAZENDAS DE PLACAS SOLARES - As placas solares são parte do processo de transição energética. Uma realidade em grande escala na COP28. Masdar City, a cidade do futuro, é abastecida com uma farm (fazenda) de 88 mil painéis solares. No pavilhão de energia, é possível ver como grandes prédios podem acomodar as placas de forma a receber energia e, ao mesmo tempo, terem períodos de sombra na cobertura.

10) CRIMES CIBERNÉTICOS - Toda essa tecnologia, é claro, teria um risco: os Emirados Árabes Unidos estão preocupados com os ataques cibernéticos. Por isso, exibem na COP28 um grande esquema de segurança digital, capaz de mapear tentativas de ataques em tempo real.

Coube a um gaúcho de Júlio de Castilhos, no Planalto Médio do Rio Grande do Sul, apresentar ao presidente Lula o Pampa como um bioma.

Você deve lembrar: no último dia 2, o presidente disse, durante a COP28, em Dubai, que "descobriu até que o Pampa é um bioma". Pois foi Rodrigo Dutra, 45 anos, zootecnista e analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) há 20 anos, quem o avisou.

Começou assim: antes de embarcar para Dubai, o presidente pediu à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que convocasse os representantes dos seis biomas brasileiros para uma conversa. Pelo bioma gaúcho, o representante seria da Coalizão pelo Pampa, conjunto de 22 organizações da sociedade civil que se uniram para a defesa do território.

Rodrigo estava em Brasília e foi destacado para a reunião no Planalto. Durante o encontro, ele explicou sobre a importância do bioma, que é basicamente campestre, apontou que o Pampa tem uma biodiversidade tão rica como a das florestas e alertou que a área está sendo substituída pela agricultura, com destruição dos campos para plantio de soja e eucalipto.

- Estima-se (a destruição) em mais de 100 mil hectares por ano, isso é um ritmo maior de supressão do que Amazônia e Cerrado. É o bioma que está perdendo mais vegetação nativa do Brasil hoje. Ao mesmo tempo, é o que tem menos unidades de conservação - destacou.

O alerta chamou a atenção de Lula e Marina. Ao final da reunião, o presidente admitiu não saber que o Pampa era um bioma. Marina, segundo Rodrigo, afirmou tê-lo avisado várias vezes. - Mas ele esqueceu - teria dito a ministra.

Rodrigo, na oportunidade que teve, frente a frente com o presidente, salientou a importância de apoiar as atividades sustentáveis no Pampa, como a pecuária.

- Frisei ao presidente que o Pampa sequestra carbono. Não é só floresta: nossos campos naturais sequestram carbono, mas o depositam nas suas raízes e no solo. Nossa floresta de carbono está embaixo do solo. À medida que vai se perdendo o Pampa, vamos emitindo CO2 para a atmosfera - advertiu, e acrescentou: - Vivemos um paradoxo, o Pampa, onde a pecuária é sustentável, é destruído para plantio de árvores (eucalipto), enquanto, na Amazônia, se destrói a floresta para colocar bois.

A reunião com Lula foi em 22 de novembro. Sobre a polêmica levantada em razão da fala do presidente, Rodrigo afirma:

- Não achei ruim ele dizer que não sabia, pois o Pampa é pouco conhecido e esquecido pelos brasileiros, e até pelos gaúchos. Achei importante o presidente citar o bioma na COP e que isso se transforme em futuras ações pela sua proteção.

RODRIGO LOPES

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