sábado, 9 de dezembro de 2023


Mais idosos na informalidade no RS

Envelhecimento da população, renda insuficiente e reforma da Previdência estão entre os motivos, avaliam especialistas

Após anos atuando no serviço público, a aposentada Mari Ângela de Melo Martins, 64 anos, trabalha de seis a oito horas por dia como motorista de aplicativo em Porto Alegre. Essa é a maneira informal que ela achou para bancar os gastos além do essencial. Com os descontos na aposentadoria, hoje, só sobra praticamente o valor para pagar a parcela do financiamento veicular. Dessa forma, sem a atividade, a idosa teria dificuldades até para bancar o básico.

Mari Ângela é uma das 289 mil pessoas com 60 anos ou mais ocupadas em situação de informalidade no Rio Grande do Sul. De 2016 para cá, o número de idosos informais cresceu 15,6% no Estado e atingiu o maior patamar em números absolutos, olhando dados fechados do terceiro trimestre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os grupos de idades pesquisados, esse é o que apresentou o maior salto no período. Crescimento da população idosa, mudanças na Previdência e necessidade de complementar renda diante de aposentadoria baixa ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.

O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que um dos fatores que explicam o avanço na quantidade de idosos no trabalho informal é a questão demográfica. Nos últimos anos, o Estado apresentou um avanço no número de pessoas nesse grupo de idade.

Dados recentes vão na linha da análise do pesquisador. O Censo demográfico 2022 apontou que a tendência de envelhecimento da população gaúcha segue acelerada. O Rio Grande do Sul tinha 2,19 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2022 - o que representa 20,15% da população. No censo de 2010, eram 1,46 milhão (13,65% do total). O dado mostra que o total de idosos no Estado aumentou 50,27% entre os dois levantamentos. Rodrigues cita que as características do mercado de trabalho também influenciam nesse cenário:

- Essas duas faixas, a que está ingressando e a que está saindo do mercado de trabalho, são as que costumam ter mais dificuldade de inserção. Tanto é que quando a gente vê aquela questão dos desalentados, alguns dos grupos que compõem são aqueles que acham que são muito novos ou muito velhos para conseguir trabalho.

No país, o avanço na população com 60 anos ou mais ocupada em situação de informalidade avança ainda mais, crescendo 38,07% entre 2016 e 2023.

Pode ser que muitas dessas pessoas com 60 anos ou mais já estejam aposentadas, mas precisam complementar a renda, que é insuficiente para conseguir sobreviver. Porque essa renda deve oscilar entre um e no máximo dois salários mínimos.

Marilane Oliveira Teixeira - Professora e pesquisadora da Unicamp

ANDERSON AIRES 

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