sábado, 1 de dezembro de 2018


01 DE DEZEMBRO DE 2018
PIANGERS

Estes somos nós


"Como é estar morrendo?", ela perguntou ao senhor com câncer. "Parece que estou cercado de pequenos pedacinhos de vida", ele disse. "Estes pedacinhos de vida estão voando ao meu redor e eu estou tentando agarrá-los. Quando minha neta dorme no meu colo, eu tento agarrar a sensação da respiração dela em cima de mim. Quando eu faço meu filho rir, tento agarrar o som dele rindo, o som do ar saindo do seu peito".

"Mas os pedacinhos se movem rápido demais agora. E eu não consigo agarrar todos. Sinto eles escapando pelos meus dedos. Em breve, onde costumava ter minha neta dormindo e meu filho dando risada, não vai sobrar nada", disse o senhor. "Sei que quando você é jovem parece que você tem todo o tempo do mundo. Mas você não tem. Eu digo: pare de ficar fingindo o tempo todo. Agarre os momentos da sua vida. Agarre enquanto você é jovem e ágil, porque antes de você perceber será velho e lento. E não haverá mais momentos pra agarrar".

É um diálogo de um seriado chamado This Is Us. Um seriado que me faz chorar em todos os capítulos. Demorei um tempo pra assistir, não tem na Netflix, imaginei que era só um drama familiar bobo. Talvez seja. Mas me conquistou. Fala sobre um filho que morre no parto, um pai que se foi, uma mãe que guarda segredos, uma avó que recebe uma segunda chance. Fala sobre irmãos gêmeos que se amam, um filho adotivo, um pai que abandonou e depois se arrependeu. Fala sobre as perdas que sentimos, e as que nem sentimos mas nos farão lamentar um dia. Fala sobre irmãos que estão sempre competindo, dificuldade de perder peso, melhores amigos que ficam com a sua mulher, um pai adotivo que se sente inseguro o tempo todo. E acho que tem um pouco de cada um em todos nós.

Acho engraçado quando perguntamos para alguém que está morrendo qual é a sensação. Quais os arrependimentos? O que faria diferente? Perguntamos para pessoas que estão desenganadas o que fariam, pois pensamos que nós mesmos poderíamos fazer algo diferente. Nosso erro é perguntar para as outras pessoas. Esquecemos que todos estamos morrendo.

"A vida é cheia de cores e cada um de nós chega e adiciona um tinta, uma pincelada. Mesmo que não seja muito grande, a pintura vai sendo pintada por todo mundo, pra sempre, em todas as direções", diz um personagem em outro episódio. "Essas cores que colocamos serão misturadas com as cores que outras pessoas pintarão. Até que não somos mais cores diferentes, somos uma coisa só. Uma pintura. Pessoas vão morrer nas nossas vidas, pessoas que amamos, no futuro, talvez amanhã, talvez em alguns anos. E se uma pessoa morre não quer dizer que não está mais na pintura".

Suas cores continuam lá. Aquilo que fazemos todos os dias contribuem para essa pintura coletiva que é a vida. Que seja um quadro bonito.

PIANGERS

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