sábado, 5 de dezembro de 2020


05 DE DEZEMBRO DE 2020
MARCELO RECH

Carta ao novo prefeito

Prezado Sebastião Melo Desde que o senhor foi eleito em Porto Alegre, já o vi ser inquirido algumas vezes sobre o seu primeiro ato na prefeitura. Além de cumprimentá-lo pela legítima vitória, eu gostaria de levantar outra questão. Em 31 de dezembro de 2024, último dia do mandato para o qual foi eleito agora, que marca o senhor espera ter deixado à cidade? Se me permite uma modesta sugestão, defina esse posicionamento, planeje e comece a plantá-lo antes mesmo do início do governo. Ali na frente já não haverá tempo hábil para colher frutos.

Em suas entrevistas, anotei que sua referência como prefeito foi Loureiro da Silva. É um bom exemplo. Ele administrou a Capital duas vezes, entre 1937 e 1943 e depois de 1960 a 1964. Pavimentou 150 vias, entre elas a Ipiranga, ergueu 85 escolas, abriu rotas como a Assis Brasil, entregou 18 praças e saneou as finanças. Foi, enfim, um ótimo gestor, embora não tenha criado um nome que transbordasse dos horizontes locais. Quem o fez, mas em Curitiba, foi Jaime Lerner, que deu novo rumo à capital paranaense a partir de soluções simples, inteligentes e, sobretudo, sustentáveis. Graças a essa marca, Curitiba atrai a atenção mundial – além das empresas e dos empregos que vêm a reboque das boas notícias.

Se me permite uma segunda sugestão, imagine Porto Alegre como uma Boston brasileira. Meu amigo David Coimbra, profundo conhecedor da alma de Boston, já descreveu uma penca de vezes a revolução urbana proporcionada pela junção de polos médico, universitário, cultural, tecnológico e esportivo naquele canto dos EUA. Respeitadas, obviamente, as proporções, Porto Alegre pode ser um hub brasileiro e latino-americano de medicina, Ensino Superior, tecnologia, cultura e futebol. Aqui, o que se faz nestas cinco áreas tem grande chance de dar certo e potencial de definir o futuro da economia, da renda e da qualidade de vida de todos os porto-alegrenses. 

Mas ainda falta muito para que as iniciativas se coordenem e a Capital ganhe o embalo definitivo destas suas vocações naturais. 

O esforço de conferir tal marca à cidade é sobretudo da iniciativa privada, e assim deve ser, mas é preciso que o poder público não atrapalhe, que retire os obstáculos do caminho e que lidere, pelo entusiasmo e inspiração, a articulação para posicionar Porto Alegre como uma referência mundial em cidade inteligente e qualidade de vida. Ser um bom zelador da Capital é sua obrigação primeira. Se não o for, cairá em desgraça. Mas se quiser que, no futuro, citem seu nome como os de Loureiro da Silva ou Jaime Lerner, minha última modesta sugestão é: pense grande.

Um abraço, parabéns e sucesso na administração.

MARCELO RECH

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