terça-feira, 15 de julho de 2014


15 de julho de 2014 | N° 17860
FABRÍCIO CARPINEJAR

Escorpiões disfarçados de siris

Raros são os que guardam segredos. Raros e invioláveis.

A maior parte dos amigos revela nossos segredos não por maldade, e sim por incompetência, absoluta inabilidade para a discrição e o respeito.

Nem são fofoqueiros, é que não conseguem conservar uma promessa e contam nossos segredos em forma de segredos para seus amigos guardarem segredo. Vão passando o segredo adiante, jurando que os demais serão capazes de sigilo (se nem eles que são próximos da fonte cumpriram a palavra, o que dirão aqueles que são distantes, sem nenhum compromisso?).

E muitos partilham com a esposa ou o marido, alegando que são a mesma pessoa e que não tem como esconder nada dentro do casamento. Não absorveram a lição básica de que segredo é prato individual, não é porção para dois.

Tudo bem, já perdoei essas figuras, esses escorpiões disfarçados de siris, esses conselheiros com complexo de agência de notícia.

São confiáveis, mas fracos.

São leais, mas carentes.

São honestos, mas burros.

São bem-intencionados, mas influenciáveis.

É necessário inteligência para se esquivar da curiosidade alheia, suportar a pressão, rechaçar perguntas, não entregar o assunto com insinuações, ambiguidades e caretas.

O segredo é a prova de QI da Amizade.

O confidente deve amar seu temperamento, não ser preconceituoso, careta e teimoso, e protegê-lo nas mais diferentes combinações sociais.


Tenho amigos maravilhosos, divertidos, carismáticos, só que não posso abrir nenhuma confidência para eles, já percebi que vacilam e sofrem de incontinência verbal. E jamais assumem a gravidade de dar com a língua nos dentes. Arrumam desculpas para romper o pacto de silêncio. Ainda se acham certos.

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