sábado, 3 de abril de 2021


03 DE ABRIL DE 2021
FLÁVIO TAVARES

OUTRA PÁSCOA?

Longe vão as Páscoas em que o Rio Grande era exemplo para o Brasil. Tínhamos a melhor e mais ampla rede escolar pública do país, com professoras bem remuneradas e havíamos desafiado e vencido o gigantesco polvo internacional de eletricidade da American Foreign and Power.

Hoje, além da pandemia, fecham-se escolas e o magistério tem de apelar a greves para sobreviver. O mais gritante sinal da decadência, porém, foi a venda da CEEE-Distribuidora por simbólicos R$ 100 mil, menos de duas camionetas. A CEEE é cobiçada há muito. No século 20, o governo Ildo Meneghetti resistiu às investidas que tentavam destruir a então Comissão Estadual de Energia Elétrica. Depois, o governador Leonel Brizola estatizou a poderosa American Foreign and Power e mostrou a rapina da empresa no envio de lucros ilegais à matriz nos EUA e noutras trapaças. Provou que ela devia mais ao governo do que o valor da indenização.

Eram tempos em que grandes empresas influíam nos governos dos EUA, e o Senado criou a "Emenda Hickenlooper", proibindo créditos a países que nacionalizassem empresas ianques. Brizola (que ampliou a rede escolar e remunerou dignamente as professoras) transformou a Comissão de Energia em "companhia" e a desburocratizou, mantendo a sigla CEEE.

A decadência começou no governo Pedro Simon, quando um descomunal roubo (que em valores atuais supera R$ 1 bilhão) abalou a CEEE. Uma CPI do Legislativo comprovou o assalto, mas até hoje (noutro século) o processo segue "em segredo de Justiça".

O bilhão roubado teria dado suporte à CEEE, evitando o brutal endividamento que, agora, passa aos novos donos.

A Páscoa é ressurreição, não chocolate, mas, agora, leva a indagar: o que busca Bolsonaro ao demitir o ministro da Defesa e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, sob pretexto de "realinhá-los"?

O ministro demitido (um general) frisou que "preservou as Forças Armadas como instituições do Estado", forma elegante de revelar que evitou transformá-las em serviçais de Bolsonaro e que foi demitido por isto. Impõe-se perguntar - o presidente busca apoio (ou conivência) das Forças Armadas numa espécie de "autogolpe" que lhe dê poderes absolutos?

Foi mera coincidência que, no mesmo dia, o deputado Major Vítor Hugo, ex-líder do governo e íntimo de Bolsonaro, tenha proposto uma lei que faz do presidente um ditador durante a pandemia?

Tudo é tão difuso nos tempos de Bolsonaro, que se pode crer, até, que coelho põe ovos de chocolate.

 FLÁVIO TAVARES

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