sábado, 1 de abril de 2023


01 DE ABRIL DE 2023
FLÁVIO TAVARES

ABERRAÇÕES EM SÉRIE

Em plena sala de aula, um menino de 13 anos assassinou a facadas uma professora de 71 e feriu outras três em São Paulo. Os escabrosos detalhes impõem pesquisar as origens do horror e levam a uma pergunta: em que sociedade vivemos hoje, para que um guri imberbe, ainda pré-adolescente, transforme-se em requintado criminoso?

Sim, pois a morte a facadas é requintada em si, exige presteza manual e alguns longos segundos para insistir na morte. Não é como um tiro, em que se aperta o gatilho e a bala faz o resto. A facada exige repetição contínua.

Mais ainda: como um guri de 13 anos pode ter acumulado desgostos e incertezas que geram ódio e despertam a maldade de Caim que levamos dentro de nós? Trata-se de um caso patológico, dirão todos.

Mas a patologia assassina não nasce ao acaso. Suas raízes profundas estão no dia a dia, nas "redes sociais" e naquilo que mais ocupa nosso interesse, que é a televisão. Após o trabalho diário, é a TV que nos dá lazer e descanso, mas nela somos levados a um mundo de violência. As "séries" televisivas (ou até as novelas) exibem tiros e traições e, mesmo com o triunfo do bem, o desenrolar violento vai habitar nosso inconsciente.

Nada, porém, supera a maldade dos videojogos (que dizemos "videogames", em inglês, numa violência ao nosso idioma), em que ganha quem "mata mais" na tela do celular. Na tenra infância, isso passa a ser um convite para matar de verdade na vida adulta

É a banalização da vida em forma contínua.

Outro fato recente chama atenção. Também em São Paulo, um juiz acorrentava a própria esposa para, a socos, obrigá-la ao ato sexual, em um sadismo aberrante substituindo a beleza do erotismo. Mais nauseabundo é que o crime seja praticado por um magistrado, cuja missão é julgar os demais.

Indago: pode a aberração guiar alguém encarregado de definir o certo e o errado para toda a sociedade?

A tentativa de assassinato contra três jovens judeus na Cidade Baixa, em Porto Alegre, em 2005, só agora foi a julgamento. "Mas a cicatriz não se apaga", disse Rodrigo Fontella Matheus, um dos jovens quase mortos por usarem quipá, o gorro religioso judaico. Tão funda foi a ferida que Rodrigo foi morar em Israel. Um dos três atacantes chama-se Israel Silva, numa aberrante contradição.

Flávio Tavares escreve neste espaço aos finais de semana.

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