sábado, 8 de abril de 2023


08 DE ABRIL DE 2023
CHACINAS EM SC

Por que os ataques a escolas se repetem?

Fatores culturais e sociais existentes na sociedade brasileira podem estar relacionados ao aumento de ocorrências como o ataque a crianças em uma escola de educação infantil em Blumenau, em Santa Catarina, na quarta-feira. É o que apontam especialistas em saúde mental e em comunicação nas mídias digitais.

Para a psicanalista e psicóloga Marina Pombo, pós-graduada em Saúde da Criança com transversalidade em Violência e Vulnerabilidade, o que está ocorrendo no Brasil é um fenômeno social, e não algo relacionado à saúde mental de forma individualizada. Ela afirma que o tecido social no país está extremamente violento:

- Não se fala mais em mediação e em conversa. Temos um tecido que fala muito da individualização das causas, de cada um por si, e esse movimento vai fazendo um pouco do movimento contrário do que as escolas fazem. A escola sempre precisa ter um pensar no bem em comum, em prol de todos, na inclusão e na equidade.

Segundo Marina, o motivo de os ataques ocorrerem em escolas está ligado ao lugar desse espaço na sociedade. É onde se tem diálogo e questionamentos.

- É onde se intervém em relação ao aluno que faz bullying ou que está sendo agressivo. A escola ainda é um lugar onde tem alguém observando e intervindo, dizendo que não pode bater no coleguinha porque ele não emprestou o estojo, por exemplo. E isso na sociedade de adultos está precarizado por conta de anos com discurso de violência - explica Marina.

A psicóloga fala que hoje a sociedade está reforçando a cultura da violência e diminuindo os espaços de diálogo, reforçando a exposição maior de agressividade e ódio. Marina reforça que há uma epidemia de ataques em curso, importada dos Estados Unidos, onde casos como o ocorrido em Blumenau se repetem.

Intolerância

O aumento da intolerância e da cultura de violência "importada" também é ressaltado pelo psiquiatra forense Thiago Fernando da Silva, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo ele, o cenário se agravou nos últimos anos porque a "cultura da violência passou a ser glamourizada", com mais discursos de intolerância, menos espaço para resolução de conflitos de forma amistosa e incentivo a políticas públicas de maior acesso a armas.

Pesquisador de mídias digitais e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Marcelo Fontoura explica que casos como o de Blumenau podem ter ligação com o crescimento e a radicalização de grupos de ódio. O docente relata que pesquisas recentes indicam a existência de conexão entre esses grupos online quando se trata de conduta extrema:

- Mas não podemos reduzir só a isso porque estes grupos, normalmente, têm milhões de pessoas. Não significa dizer que alguém por circular lá fará isso. A questão é que algumas pessoas estarão predispostas.

Fontoura salienta que as redes sociais são ferramentas que podem auxiliar no processo de radicalização, mas não o único motor. Segundo ele, geralmente a pessoa com acesso às redes já tem questões pessoais que a deixam propensa.

- A rede social não transforma as pessoas: é a pessoa quem dá o primeiro passo - reforça.

 ALINE CUSTÓDIO

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