sábado, 8 de abril de 2023


08 DE ABRIL DE 2023
FLÁVIO TAVARES

PÁSCOA OU COELHINHO?

A Páscoa cristã tem origem na Pessach judaica, que simboliza a libertação de 400 anos de escravidão no Egito e a travessia do Rio Vermelho rumo à Terra Prometida. As datas quase coincidem, tal qual agora.

No cristianismo, a Páscoa significa a ressurreição de Cristo, ainda que muitos pensem que é só empanturrar-se de chocolate. No judaísmo, é o ressurgir da liberdade para o povo de Israel.

Não é só isso, porém, que aproxima as duas datas. A última ceia de Cristo com os apóstolos foi um jantar de Pessach e aí está a fonte teológica dos católicos e luteranos. Leonardo da Vinci imortalizou a cena numa pintura cuja reprodução adorna a maioria dos lares no Ocidente.

Em suma: no fundo, trata-se de uma só data que, de forma diferente mas próxima, festeja a ressurreição, pois libertar-se da escravidão é, também, uma forma de ressuscitar.

É assim que, no rito católico, o papa lava os pés de pessoas do povo numa demonstração da humildade que deve pautar nossas vidas. Nos últimos anos, com o papa Francisco, o lava-pés deixou de ser apenas um ritual a esmo e se transformou num exemplo concreto de serviço à vida.

O papa Francisco é hoje o grande defensor da preservação do meio-ambiente e um crítico acérrimo das desigualdades sociais oriundas do capitalismo predatório. Veio dele a grande ressurreição do cristianismo após o aggiornamento de João XXIII, que iniciou a libertação da Igreja das amarras medievais da escuridão.

Por isso, a Páscoa é ressurreição em tudo. O "coelhinho" é apenas um símbolo da fertilidade reproduzida em cada um de nós. É impossível, porém, não mencionar a brutalidade vil da chacina de Blumenau (SC), onde um homem pulou o muro de uma creche e - a machadadas - assassinou quatro criancinhas. Depois, fugiu em motocicleta e se entregou à polícia.

Tudo é grotesco e terrorífico, gerando perplexidade, pois não há explicação para o assassinato de quatro inocentes absolutos. Cabe, no entanto, pesquisar as causas profundas que geraram um episódio em que a maldade e o ódio se uniram, tornando impossível qualquer tipo de interpretação da chacina.

Dizer que o criminoso é um psicopata não explica sequer a sordidez da bandidagem. Às vésperas da ressurreição da Páscoa, o crime torna-se ainda mais brutal em si mesmo.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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