sábado, 28 de setembro de 2024


Ego abatido

Eu não estava com sobrepeso, nem embriagada. A cadeira simplesmente cedeu e me derrubou. Meu amigo logo se aproximou a fim de me erguer, o garçom veio também, ambos trancando o riso, e as pessoas em volta disfarçaram, fazendo de conta que era normal uma mulher madura se esborrachar do nada.

Caí porque a cadeira devia estar mal aparafusada, ou com um pé corroído por cupins, ou o piso estava úmido, não sei, não lembro. Trouxeram outra cadeira e eu gostaria de ter ido embora, mas não fui, acionei a atriz que habita em mim e segui o papo como se o tombo não tivesse me envergonhado barbaramente.

Quedas expõem nossa vulnerabilidade. Quando eu era estudante, na PUC, corri certa vez para abraçar uma colega, mas havia chovido na noite anterior, não percebi o barro, deslizei de peixinho uns dois metros pelo lamaçal, em plena hora do recreio.

Nessas horas, é natural querer que o chão se abra e nos engula, mas somos obrigados a levantar e ignorar o desespero de existir em público, sob o julgamento corrosivo dos outros. Mais uma vez, não fizemos o suficiente para ser amados.

São lembranças que me vieram ao ler o novo livro da gaúcha Camila Maccari, Infinita, cuja narradora também se estatela ao quebrar uma cadeira de bar, com dois agravantes: ela estava desacompanhada e pesava 130 quilos. "Bem-feito", foi o que ela imaginou o mundo dizer. Quem manda comer tanto? Só podia mesmo ficar sozinha e desabar.

Estamos diante de uma plateia implacável. Antes, vivíamos em relativa segurança entre a família, os amigos e os colegas. Hoje, milhares de estranhos pescados pelas redes sociais, que desconhecem nossas dores, passaram a ditar como devemos ser e viver, e a nos ofender com uma naturalidade assombrosa a cada discordância, nos quebrando por dentro. Nossa autoaceitação que lute.

Camila é uma autora segura, fez bonito com seu livro de estreia (Dias De Se Fazer Silêncio) e agora nos traz a história de uma garota que incorporou todo o bullying que sofreu por não seguir um determinado padrão estético, e vive sua tragédia pessoal não por carregar um amontoado de quilos, e sim um amontoado de culpa - que é, no fim das contas, a gordura fatal de todos nós. _

MARTHA 


28 de Setembro de 2024
CAPA

Novas diretrizes

As principais alterações no regulamento do Miss Universo começaram em 2012, ano em que a competição completou 60 anos. Naquela edição, passou a ser permitida a participação de mulheres transgênero. A primeira a se classificar foi a modelo Angela Ponce, representante do Miss Espanha, em 2018.

A maior leva de mudanças, no entanto, ocorreria mais tarde, em 2022, quando a empresária tailandesa Anne Jakapong Jakrajutatip, uma mulher trans, comprou a Miss Universe Organization, empresa que detém o concurso. Figura de destaque da televisão local e defensora dos direitos LGBT+, ela foi a primeira mulher a assumir a direção da disputa. Na sua gestão, foi estabelecido que mulheres casadas, divorciadas, grávidas e mães poderiam participar do Miss Universo a partir de 2023.

Um dos momentos mais emblemáticos das regras anteriores do concurso para o Brasil foi em 2002, quando a gaúcha Joseane Oliveira teve seu título retirado após ser revelado que era casada. Agora, reconhece Luana Cavalcante, o trabalho de Anne lhe possibilitou tirar do papel os planos de ser miss:

- Graças às mudanças de regras que ela propôs, hoje mulheres como eu têm infinitas possibilidades pela frente. Expresso o meu profundo respeito e agradecimento a ela, que é uma mulher visionária.

Para alguns missólogos e admiradores do universo miss, as novas diretrizes vão contra a essência da franquia, enquanto outros enxergam que as alterações são um avanço na busca por inclusão. Sobre a importância de tornar o concurso mais abrangente, o CEO do Miss Universe Brasil, Gerson Antonelli, afirma que é uma mudança que valoriza a diversidade:

- Não existe um limite para a participação da mulher no Miss Universe, que é uma plataforma de integração e diversidade com representatividade. Não se pode limitar o potencial de uma mulher, não interessa sua idade, estado civil ou classe social.

A mudança mais recente no regulamento ocorreu em setembro do ano passado, quando a organização mundial colocou fim ao limite de idade - que era até os 28 anos - para as participantes. Os efeitos dessa diretriz começaram a aparecer neste ano: em abril, a modelo argentina Alejandra Rodríguez, 60 anos, venceu a edição do Miss Universo da província de Buenos Aires, embora não tenha conquistado a coroa nacional; na Ásia, ainda há chances de que uma mulher de 80 anos seja a nova Miss Coreia do Sul, já que a modelo Choi Soon-hwa, que também é mãe e avó, estará na competição marcada para o dia 30 de setembro. Seu nome já está gravado na história como a participante mais velha a disputar uma etapa do concurso de beleza até o momento.

Histórico internacional

A coroa entregue a Luana Cavalcante ainda tem um brilho a mais por pertencer a uma Miss Pernambuco pela primeira vez. Com essa responsabilidade adicional, a modelo já está em preparação para o Miss Universo 2024, que ocorre no dia 16 de novembro, no México.

Conta a seu favor a experiência como modelo internacional desde os 18 anos, período em que esteve em mais de 30 países e chegou a trabalhar junto de marcas como Gucci e Dolce & Gabbana. Há cerca de cinco anos, ela se divide entre o Brasil e a Itália, onde mora com o marido e o filho. Também ajuda o histórico como atriz, carreira em que estreou em 2022 na produção de Hollywood Battle for Saipan. Mais recentemente, esteve no elenco de Filhos do Mangue, filme de Eliane Caffé premiado com dois kikitos no 52º Festival de Cinema de Gramado - e ela estava na serra gaúcha para prestigiar.

Sobre os pontos fortes da brasileira, Gerson Antonelli ressalta sua "presença cênica excepcional" e boa articulação na oratória:

- Ela é assertiva, concisa naquilo que fala, atualizada, antenada e com muita experiência internacional, essas são as qualidades principais. Beleza é inegável, mas a inteligência e a maneira como se porta é excepcional, digna de um título de Miss Universe.

Para Luana, seu maior trunfo é a resiliência:

- Sou disciplinada, tenho determinação e amo tudo o que faço. Só me envolvo em projetos em que acredito. A seguir, Luana fala sobre a coroação, as mudanças do regulamento do concurso e o legado que espera construir como a 70° Miss Universe Brasil.

Letícia Paludo

28 de Setembro de 2024
J.J. CAMARGO

E algumas especialidades, por transitarem na faixa estreita que tenta separar expectativa de vida e fantasia, são ainda mais desconcertantes.

Dezenove anos depois da graduação, encantado com o entusiasmo dos que trabalhavam com transplantes, e tendo feito um treinamento específico, resolvi embarcar nessa locomotiva sem ter a menor ideia de que aquele era um caminho sem volta. Em parte pelo fascínio de sentir-se instrumento de protelação da morte, mas muito pelo vínculo de dependência afetiva com os que tinham sido agraciados por um tempo extra, importando pouco quão curto esse tempo fosse.

Como sempre, a proximidade da morte, por dar a todas as coisas o valor que elas de fato têm, é um modelo pedagógico irretocável de autenticidade, esperança, persistência, humildade e gratidão. É inevitável, ao conviver com os candidatos ao transplante, ser envolvido pela intensidade e abundância desses sentimentos.

Dois estímulos impulsionam o jovem médico a trabalhar com a proximidade tão explícita da morte: a fascinante tarefa de aliviar sofrimento, com o afago emocional que isso representa; e a insubordinação à tradição milenar da medicina de apenas oferecer conforto ao paciente, sem nenhuma pretensão de opor-se à história natural das doenças, e, com essa nova atitude, provar a euforia, temporária mas real, de retardar a sua marcha inexorável.

De resto, é impossível passar ileso pela experiência de compartilhar a ansiedade da espera, a incerteza de conseguir, a alegria de estar vivo para ganhar mais um dia de esperança ou a terrível dor da família de ter perdido a corrida desesperada contra o tempo. Ou pior ainda, receber o precioso órgão e, por estranha ironia, ser vítima de complicações inesperadas e, perdendo-o, perder-se.

Ouvindo o Valter Garcia descrever a odisseia que significou, ainda na década de 1970, implantar o transplante renal, que recém engatinhava no mundo, e forçar essa pretensão num hospital tão pobre que não tinha mais do que uma modesta diálise peritoneal, deixou evidente uma sensação que encheu o Teatro do Centro Histórico da Santa Casa de Porto Alegre: estávamos diante de um tipo que se alimentava das dificuldades para aumentar sua gana de fazer acontecer.

E de repente ficou claro que o relato dos 6 mil casos de transplante de rim, alvo original daquela homenagem, era apenas a consequência dessa gana. O olho brilhando de uma centena de cúmplices daquela proeza, espalhados pelo salão, era o jeito didático de dizer que ele nos representava e, com sua simplicidade comovente, confirmava o que a Santa Casa, durante seus 221 anos, tem ensinado a cada uma das suas crias: uma medicina de qualidade faz da competência e disponibilidade o seu modelo de propaganda silenciosa. Não importando o quanto seja complexo o que se tenha feito, nunca desistirmos de tentar fazê-lo melhor, fazendo de cada falha o despertador da gana de recomeçar.

Certamente por isso é tão pouco produtiva a busca de pretensiosos entre transplantadores. _

J.J. CAMARGO

Golpes cada vez mais convincentes

Uma senhora paranaense de Toledo, de 79 anos, caiu em um golpe por acreditar que namorava o empresário Elon Musk. Gastou R$ 4 mil em cartões da Apple. Ela ainda se confundiu, achando que o suposto namorado era dono da Apple. Na verdade, a empresa foi fundada por Steve Jobs. Musk é dono de companhias como a rede social X, a espacial SpaceX e a automotiva Tesla.

É bom ver uma octogenária com coragem de amar e iniciar um relacionamento. É triste ver o quanto a ingenuidade é explorada pela perversidade de estelionatários.

Antes de rir da situação, do sofrimento alheio, que tenhamos compaixão: hoje qualquer um pode ser ludibriado pela inteligência artificial.

Mesmo sem jamais crer no contato um tanto inimaginável de Musk, num conto de fadas faraônico, todo mundo pode se atrapalhar com a clonagem do WhatsApp de um amigo. Relatarei uma experiência pessoal.

Quando um afeto me reivindicava socorro, eu costumava me certificar de que não era um golpe - e, veja bem, acabamos de passar por uma enchente e acompanhar muitos colegas e conhecidos atravessarem sérias dificuldades financeiras com a perda da casa - sugerindo que me mandasse um áudio. A voz comprovava a veracidade da urgência.

Isso não mais funciona. Eu percebi no momento em que meu amigo Beto disse que não conseguia quitar um boleto devido a limite bancário. Ele me prometeu que devolveria o dinheiro no dia seguinte.

Estranhei o teor das mensagens, já que em nosso passado nunca me pedira um favor, muito menos de natureza financeira. Não desfrutávamos de tamanha intimidade, mas vá lá que fosse o seu desespero falando.

- Consegue fazer um pagamento pra mim? Fiz dois pagamentos hoje. Meu limite excedeu, amanhã libera. Eu faço de volta sem falta, tá? Tentei ligar. Ele não me atendeu e, imediatamente, enviou um print de tela de computador em que apareciam janelinhas com várias pessoas. Demonstrava assim que participava de uma reunião.

Esclareceu:

- Estou numa call! Solicitei, então, um áudio. Recebi dois áudios dele, com sua voz. Ainda que abafada e metálica, era a voz dele.

- Preciso de sua ajuda. - Queria um favor! Parecia que se tratava de um fato sincero. Questionei o número da conta. Ele ansiava por mil reais.

Daí ele começou a alegar que eu tinha que pagar um boleto diretamente. Insistia que não fizesse um Pix, que debitasse a fatura à parte. A minha credulidade se despediu no ato. Uma conta com o nome dele e o CPF fazia sentido, um boleto anônimo jamais.

Abandonei a conversa sem dó nem piedade. Aguentei dentro de mim a culpa por não ajudar, porém não me restava mais certeza de nada. A desconfiança prevaleceu. Três horas depois, ele avisou que seu número no WhatsApp tinha sido invadido.

Por muito pouco, não sucumbi ao engano. Se tivesse mais pressa e menos questionamentos, seria vítima da tramoia. O que chama atenção é que houve print de tela de uma call, houve áudios, não dá mais para se fiar em provas. Tudo é passível de falsificação. _

CARPINEJAR 



28 de Setembro de 2024
ARTIGOS

Eleições: exercício democrático!

Dom Jaime Spengler - Presidente da CNBB e arcebispo metropolitano de Porto Alegre

A democracia, busca de consensos e soluções, passa pelo chão das cidades! O bom político é capaz de dar o primeiro passo para que as diferentes vozes sejam ouvidas; é operoso, construtor de grandes objetivos, com olhar amplo, realista e pragmático.

A melhor maneira de ensinar democracia é nos municípios, pois é neles que o trabalho prático e o resultado de uma eleição têm a melhor visibilidade. As eleições oferecem uma oportunidade de avançar no processo de renovação de lideranças políticas, de jovens talentos e de pessoas comprometidas com a luta pelos direitos da cidadania no contexto democrático e republicano.

As prefeituras têm responsabilidades relevantes: assegurar creches, pré-escola e Ensino Fundamental, garantir parte dos serviços do SUS, regular o uso e a ocupação do solo urbano, investir em infraestrutura urbana, regular o transporte coletivo, promover a coleta de lixo e sua destinação, apoiar a segurança pública municipal.

Pela política nas cidades passam pautas decisivas: a reapropriação dos recursos públicos para a população; a ocupação justa do solo; as necessárias mudanças nas favelas e a redução de moradias precárias; infraestruturas que minimizem as consequências de catástrofes naturais; enfrentamento das epidemias decorrentes da proliferação de mosquitos; coleta de lixo; defesa ambiental; acesso de todos a educação e saúde; ações eficientes em prol da segurança pública.

Para superar toda forma de corrupção, é necessário acompanhar, vigiar e analisar criticamente os atos dos escolhidos para o serviço público. A corrupção anda de mãos dadas com o autoritarismo das "autoridades", a ganância dos fracos travestidos em poderosos e a pouca inteligência dos controles. Ela destrói a sociedade, abala a representatividade, esfacela os caminhos da democracia.

A atividade política é uma nobre forma de caridade! É preciso alimentar a esperança! E "quando se tem esperança, confia-se em algo que nos transcende" (B.-Chul Han)! 


A armadilha da popularidade

O compromisso primeiro de todo bom governante é buscar um alto índice de aprovação, certo? É, mas não deveria ser. O compromisso fundamental dos grandes governantes deveria ser fazer um grande governo, daqueles que se enraízam décadas à frente, ainda que à custa da popularidade momentânea, em troca de benefícios de longo prazo.

O governante que só pensa na sua aprovação popular antes de tudo é um populista. Ele hesita em adotar medidas duras, mesmo que necessárias, porque vão lhe custar votos. Como é mais fácil, e delicioso, abrir as burras públicas para espalhar agrados do que dizer não, esse governante age de olhos fixos nas próximas eleições. No governo passado, Jair Bolsonaro furou o teto de gastos em R$ 795 bilhões ao longo de quatro anos. Grande parte desse valor foi gasto em 2022, na tentativa de se reeleger. Além disso, Bolsonaro empurrou algo como R$ 120 bilhões em precatórios, uma conta que está sendo paga agora.

Lula também é obcecado pela popularidade e, por isso, resiste em admitir a necessidade de cortes e de mexer na estrutura do Estado. Vamos admitir: só bebês molhados gostam de mudança. A imensa maioria dos eleitores também vê o setor público como uma fonte de recursos inesgotáveis que brotam do nada e demonstra pouco apreço à austeridade. Compreensível, porque o bacana é proclamar, como no governo Dilma, que "gasto é vida". Mas há gastos e gastos. Saber cortar é uma arte que diferencia gestores medíocres daqueles que não temem perder pontos de aprovação agora para recolher os frutos de decisões difíceis lá adiante.

Veja-se o caso do governo Temer. Talvez ninguém tenha sido tão impopular como ele, por razões que vão desde o seu linguajar empolado até as trapalhadas com a JBS. Mas foi em seu governo que duas reformas cruciais, a da Previdência e a trabalhista, ganharam forma. Ao fim do mandato, Temer dificilmente se elegeria síndico de prédio, mas a estabilidade econômica e o nível de emprego de hoje devem muito a sua impossibilidade de reeleição.

No extremo oposto, temos Vladimir Putin. Ele engajou o país numa guerra que já matou dezenas de milhares de russos e ucranianos e abriu um fosso com o Ocidente, mas segue enfileirando uma reeleição atrás da outra. Apesar da sua popularidade, a Rússia e o mundo, seguramente, não estão melhores. Aqui do lado, na Argentina, em contrapartida, há uma experiência que merece atenção - um governante amalucado que repete "no hay plata". Até agora, Javier Milei sobreviveu. Se a Argentina sair do coma, pode ser uma nova era para o velho populismo latino-americano: o governante que mexe a fundo as estruturas do Estado e ainda assim segue com alta aprovação. _

MARCELO RECH 


28 de Setembro de 2024
CONSELHO EDITORIAL

Professora, pesquisadora e membro do Conselho Editorial da RBS

A desinformação climática e o papel do jornalismo

Nos últimos dias, mais uma vez enfrentamos, no Rio Grande do Sul, catástrofes climáticas, que são cada vez mais recorrentes. Desta vez, chuva intensa e forte inundou o sul do Estado, causando sérios problemas e, em muitas cidades, pânico. E, novamente, como em maio deste ano, vimos a desinformação tomar conta das plataformas de redes sociais, gerando ainda mais caos.

A desinformação envolve um conjunto de conteúdos problemáticos que geram dúvidas e ações, muitas vezes erradas, e que são diretamente potencializados, legitimados e amplificados pelas plataformas de mídia social. São, por exemplo, postagens que as pessoas recebem em grupos de amigos no WhatsApp, ou mesmo em páginas do Instagram, já cheias de curtidas, compartilhamentos e outras estratégias que reforçam a impressão de veracidade.

A desinformação floresce e circula com mais rapidez no vácuo informativo em situações de crise, como as tragédias climáticas que vivemos. A preparação para a ação e a resposta a esses eventos, portanto, precisam envolver estratégias de comunicação. Mais do que isso, é necessário desenvolver estratégias que vão além do uso das redes sociais para disseminar informações ou verificar desinformação. Conteúdos gravados para mídias sociais circulam em momentos diversos, nem sempre sendo exibidos a todos ou no tempo adequado. Uma notícia solicitando a evacuação de um local no Instagram, por exemplo, pode chegar às pessoas após o fato ocorrido ou quando a evacuação já não é mais necessária. É preciso ir além da checagem, que ajuda, mas não preenche o vácuo do qual a desinformação se alimenta.

Assim, é necessário trazer o jornalismo de volta como uma estratégia central, pois é o espaço de construção e, sobretudo, de verificação e apuração dos conteúdos essenciais para a comunidade. É preciso trazer a mídia tradicional, que independe dos algoritmos de visualização, das curtidas e compartilhamentos, e que é capaz de um alcance muito maior. É preciso construir um sistema de comunicação em muitas frentes de colaboração, capaz de preencher o vácuo informativo e permitir que nossas futuras ações sejam rápidas, conscientes e eficazes. Precisamos nos preparar. _

CONSELHO EDITORIAL

28 de Setembro de 2024
NOTÍCIAS

Nova reitoria da UFRGS toma posse e celebra eleição com paridade

Ensino Superior

Primeira iniciativa envolve criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade e da Secretaria Especial de Mudanças Climáticas

A chegada dos novos gestores foi comemorada e aplaudida de pé pelo público. Os convidados celebraram a primeira eleição da universidade com paridade, quando votos de alunos, professores e técnicos administrativos têm o mesmo peso. A primeira ação da nova reitora foi entregar ao Conselho Universitário (Consun) os projetos de criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, da Secretaria Especial de Mudanças Climáticas e da Coordenadoria de Educação Básica. Marcia e Costa receberam itens simbólicos dos servidores, como um pedaço de grade, representando a abertura das portas da universidade.

O discurso da reitora foi marcado pela ênfase na participação da comunidade na administração e na necessidade de ações para enfrentar as emergências climáticas. A professora de Física destacou que a universidade é o local onde se cria, protege e espalha o conhecimento, e possui duas características: ali, as revoluções nascem, e as pessoas se renovam.

- Esse é meu plano, aqui do sul do Sul: utilizando nossos polos de extensão, que já estão sendo mapeados, juntando com a Pró- Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, vamos criar os meios para trazer um novo olhar não só para a UFRGS, Porto Alegre, RS e Brasil, mas para o mundo. E vamos fazer isso porque temos de resolver os problemas da democracia, da distribuição de renda e das mudanças climáticas - afirmou, destacando a biodiversidade do Brasil como alternativa para resolver problemas.

Prioridades

Necessitando de grandes reformas há anos, o Instituto de Artes ainda não tem um destino certo. A ideia é que parte das atividades seja levada para o antigo prédio da Medicina.

Anunciado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, o campus em Caxias do Sul não é confirmado por Marcia.

- O que dá para dizer é que nós ficamos animados com o espaço que vimos e com ânimo da cidade em tentar fazer isso acontecer. _

Luz ficará mais cara com bandeira vermelha patamar 2

Cobrança adicional

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou na sexta-feira bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de outubro. Será o maior patamar de cobrança adicional na conta de luz desde abril de 2022, quando a bandeira "escassez hídrica" estava em vigor. Para o próximo mês, serão cobrados R$ 7,877 a mais para cada cem quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Os fatores que acionaram a bandeira vermelha patamar 2 foram: risco hidrológico (GSF) e o aumento do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) - valor da energia elétrica calculado para a energia a ser produzida em determinado período. As previsões de baixa afluência para os reservatórios das hidrelétricas e a elevação do preço do mercado de energia elétrica em outubro levaram ao resultado.

Estimativas apresentadas na semana passada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) já apontavam que o PLD de outubro deve superar os R$ 500 por megawatt- hora (MWh).

Houve uma sequência de bandeiras verdes - iniciada em abril de 2022 e interrompida em julho de 2024 com bandeira amarela.

Em agosto, houve bandeira verde em agosto e a vermelha, patamar 1, em setembro.

Inflação

O acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 representa um acréscimo de 0,45 ponto percentual sobre o IPCA. A projeção de impacto na inflação é da CM Capital. O sistema de bandeiras tarifárias, criado em 2015, vai atingir em outubro a marca de 60 acionamentos na classificação amarela, vermelha 1, vermelha 2 ou, a de maior impacto, bandeira de "escassez hídrica". _

Como funciona o sistema tarifário1397124194

O sistema de bandeiras tarifárias indica aos consumidores os custos da geração de energia no país, e visa a atenuar os impactos nos orçamentos das distribuidoras de energia.

Antes, o custo da energia em momentos de mais dificuldades para geração era repassado às tarifas apenas no reajuste anual de cada empresa, com incidência de juros.

No modelo atual, os recursos são cobrados e transferidos às distribuidoras mensalmente por meio da "conta Bandeiras".

As cores verde, amarela ou vermelha (nos patamares 1 e 2) indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração, sendo a bandeira vermelha a que tem custo maior, e a verde, sem custo extra.

Segundo a Aneel, as bandeiras permitem ao consumidor um papel mais ativo na definição de sua conta de energia. "Ao saber, por exemplo, que a bandeira está vermelha, o consumidor pode adaptar seu consumo para ajudar a reduzir o valor da conta", avalia a agência.

Fernanda Polo Isabella Sander

Agora, será preciso olhar dados com lupa

O efeito líquido das sinalizações da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) sobre os recursos da ajuda ao Estado foi um aumento da desconfiança sobre a efetiva compreensão da situação do Rio Grande do Sul e do que será de fato pago até o final do ano.

Foi preciso esperar quase 24 horas para que o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, se manifestasse oficialmente sobre o cancelamento de créditos extraordinários federais que incluem a ajuda ao RS.

Quando o fez, garantiu que não haverá "cortes", mas "cancelamentos". Na próxima semana, para quando está prevista a publicação do resultado do Tesouro Nacional de agosto, será preciso conferir se, além dos R$ 7,2 bilhões destinados a leilões de arroz que não precisaram ser desembolsados e devem ser retirados das previsões, alguma outra dotação será "cancelada".

A publicação está atrasada devido a uma greve dos funcionários de carreira da pasta. À agência especializada em finanças Bloomberg Línea, Ceron estimou em R$ 10 bilhões o volume de créditos cancelados. Em tese, faltariam ainda R$ 2,8 bilhões.

Em vez de encerrar a novela detalhando o que fica e o que sai do que a STN chama de "despesas relacionadas à calamidade no RS", Ceron adiou o suspense em uma semana, porque na mais recente prestação de contas existem outras ações com grandes diferenças entre a dotação e o pagamento. E muitas sem empenho, o que é outro sintoma de risco de efetivação.

Algumas, claramente, são iniciativas que exigem mais prazo, outras não. A coluna deixa registrada a situação atual para comparar com a da próxima semana. Só então será possível saber exatamente o tamanho e o impacto dos cancelamentos. _

Como fábrica alagada se reergue

Quase destruída pela enxurrada, a Della Nonna, fábrica do 4º Distrito acumula prejuízo de cerca de R$ 3,5 milhões. Parada até agosto, a empresa teve ajuda, mas "sem linha de crédito, teria fechado", afirma o dono Sergio Sbabo.

No entanto, só há cerca de dois meses o empreendedor conseguiu contratar financiamento em bancos públicos. A Della Nonna tinha pendências e, enquanto não as quitasse ou renegociasse, não teria acesso ao crédito.

- Nos bancos privados, tive enorme dificuldade de colocar o passivo em dia. Consegui renegociar com juro de mercado. A partir daí, consegui acesso aos bancos públicos para tentar (as linhas de financiamento do) BNDES.

Em agosto, a Della Nonna retomou parte da produção.

- É outra empresa. Vamos voltar de maneira mais enxuta. Estamos revendo os custos fixos. _

"R$ 7,2 bi de arroz nunca foram do RS"

Para o economista Marcelo Portugal, os R$ 7,2 bilhões que estão previstos para leilões de arroz e devem ser o maior valor "cancelado" pela Secretaria do Tesouro Nacional são uma perda relativa:

- Os recursos para leilões de arroz nunca foram para o RS. Eram uma desculpa para beneficiar empresas do restante do país. Poderiam ser usados para outra finalidade no Estado, mas talvez seja melhor cortar, antes que sejam usados para outra coisa e aumentem o déficit.

Portugal tem longa trajetória de defesa de ajuste fiscal. _

Apoio tecnológico para indústrias

Depois de apoiar empresas afetadas pela enchente, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) fez nova parceria com a Federação da Indústria do Estado (Fiergs) e o Senai-RS. Desta vez, com o programa MetaIndústria estendido a médias, pequenas e microindústrias.

O foco é ajudar o empreendedor a incluir novas tecnologias no processo produtivo, como computação na nuvem, robótica e inteligência artificial. Será apresentado na segunda-feira no Instituto Senai de São Leopoldo, às 9h. _

Uma ação de limpeza da Transpetro tirou de praias da Região Sul mais da metade do lixo encontrado em 13 pontos do país. Do total de 5,7 toneladas, 2,9 t foram recolhidas em Tramandaí, Grande (SC) e Roccio (PR). Parte do material foi para cooperativas de reciclagem e o lixo não reciclável, encaminhado para empresas de limpeza.

GPS DA ECONOMIA 


28 de Setembro de 2024
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Passou da hora de o governo impor limites à jogatina online

A próxima semana será pródiga em anúncios de medidas para colocar tranca nas portas arrombadas pelas chamadas bets no Brasil. São mais de cinco anos de corpo mole por parte do Executivo e do Legislativo, até se chegar à constatação de que a jogatina online passou de todos os limites do razoável e ameaça a estabilidade financeira das famílias e o equilíbrio emocional dos jogadores, sobretudo os de classes mais baixas, que se endividam na esperança do ganho fácil.

Em 2023, Lula chegou a mandar uma medida provisória para o Congresso, à época mais preocupado com a arrecadação, já que nem as bets nem os ganhadores recolhem impostos sobre o que arrecadam. O Congresso se omitiu, a MP caducou e as apostas cresceram em níveis exponenciais.

Agora, o governo planeja proibir o pagamento de apostas com o cartão do Bolsa Família. A Federação Brasileira dos Bancos quer que seja vetado o pagamento de apostas com Pix. Cogita-se também a proibição de uso do cartão de crédito para pagar os jogos.

Leite entrega casas em Estrela vestido de bandeira do RS

Chamou a atenção de quem acompanhou a entrega de mais 86 casas temporárias em Estrela a vestimenta do governador Eduardo Leite: uma camiseta polo nas cores e formato da bandeira do Rio Grande do Sul. A camiseta, de gosto duvidoso do ponto de vista estético, foi presente de uma família de admiradores.

Das 500 casas temporárias previstas para nove municípios já foram entregues outras 30 em Encantado e mais 28 em Cruzeiro do Sul. As próximas entregas devem ser realizadas em Arroio do Meio (40), Rio Pardo (39), São Jerônimo (18) e Triunfo (48). Eldorado do Sul será contemplada, mas a prefeitura ainda não indicou o terreno. _

Macaé Evaristo tentará desmistificar o conceito de direitos humanos

Duas semanas depois de ter sido nomeada pelo presidente Lula, Macaé Evaristo tomou posse nessa sexta-feira como ministra dos Direitos Humanos. No palco estavam, além de Lula, Anielle Franco - pivô da queda do ministro Silvio Almeira, acusado de assédio moral e sexual -, as outras quatro mulheres que integram o primeiro escalão e a primeira-dama Janja da Silva.

Negra, professora, assistente social e deputada estadual licenciada, Macaé tem uma trajetória de vida ligada à educação (foi secretária municipal em Belo Horizonte e estadual em Minas). No discurso de posse, disse que um dos seus desafios é desmistificar os direitos humanos, já que hoje existem distorções em relação ao seu significado:

- Infelizmente, na sociedade brasileira muita gente tem a concepção de que direitos humanos é uma coisa de quem defende bandido. _

Trensurb está sob nova direção

Com o aval do ministro Paulo Pimenta, o jornalista Nazur Garcia foi nomeado na sexta-feira diretor-presidente da Trensurb.

Servidor de carreira há quase 40 anos, Nazur tem o aval das principais forças políticas do PT e já trabalhou em diferentes áreas do governo, cedido pela Trensurb. Agora, assume como comandante no lugar de Ernani Fagundes, que vinha acumulando o cargo com o de diretor de Operações desde que Fernando Marroni saiu para concorrer a prefeito de Pelotas.

Nazur também assessorou a maioria dos ex-presidentes, mas fez uma espécie de pós-graduação nos quatro meses em que trabalhou com Pimenta na Secretaria de Apoio à Reconstrução. _

mirante

Foi nessa sexta-feira o grande ato de fim de campanha da Maria do Rosário (PT), no Largo Zumbi dos Palmares. A coluna deu a entender que seria na próxima.

Nas cinco maiores cidades do Estado, Eduardo Leite e Gabriel Souza estão, teoricamente, em lados opostos. Gabriel foi a Santa Maria fazer campanha para Giuseppe Riesgo e Leite apareceu na TV pedindo votos para Rodrigo Decimo.

Gabriel Souza ainda não apareceu na propaganda de Sebastião Melo.

Dinho se livra de condenação

O ex-vereador de Porto Alegre e ex-jogador de futebol do Grêmio Edi Wilson Jose dos Santos, conhecido como Dinho, foi absolvido pela Justiça da condenação por desvio de aproximadamente R$ 100 mil dos cofres públicos.

Em novo entendimento, o Tribunal de Justiça removeu as acusações contra Dinho por falta de provas de que ele tenha participado do esquema de rachadinha, que entre 2015 e 2017 desviou R$ 8 mil por mês do salário de uma assessora. _

POLÍTICA E PODER

INFORME ESPECIAL
Rodrigo Lopes

O jornalismo que importa

Este sábado, 28 de setembro, é o Dia Mundial da Notícia. Como ocorre a cada ano, a data marca uma iniciativa que une cerca de 800 empresas de comunicação mundo afora - entre elas o Grupo RBS - para chamar a atenção para a importância do jornalismo profissional na garantia da democracia e da liberdade de expressão para a sociedade.

O projeto é da Canadian Journalism Foundation (CJF) e da Associação Mundial de Jornais - Fórum Mundial de Editores (WAN-IFRA - World Editors Forum). "Escolha a verdade", diz o slogan da campanha.

Em maio, o Rio Grande do Sul viveu sua maior tragédia climática - e sabemos o quanto a desinformação tentou fazer morada em meio ao drama humano.

Foi o jornalismo profissional que serviu como canal de informação confiável, antídoto contra mentiras, além de mobilizar a sociedade e amalgamar a solidariedade entre os gaúchos em sua hora mais difícil.

No sul do mundo ou em outras partes do planeta, a imprensa tem sido colocada à prova por inúmeros fenômenos: mudanças climáticas, regimes autocráticos e potenciais ditadores, que desafiam liberdades. Conflitos armados, como no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia, desafiam os jornalistas a cultivarem a independência, o rigor na apuração e a fidelidade aos fatos. Além disso, há o impacto das novas tecnologias e as chamadas big techs, que pressionam modelos de negócio das empresas de notícias.

- Num mundo sobrecarregado de informações e acontecimentos, muitos deles desafiantes, os cidadãos precisam de fatos, certezas e perspectivas. O jornalismo de qualidade oferece isso e muito mais. No Dia Mundial da Notícia, reunimo-nos como cidadãos para lembrar por que esse jornalismo é importante e por que vale a pena apoiar meios de comunicação éticos, confiáveis ??e que buscam a verdade - avalia Martha Ramos, chefe editorial do Fórum Mundial de Editores.

Neste 28 de setembro, nós, jornalistas, nos damos as mãos para reafirmar nosso compromisso inabalável com os fatos, com a responsabilidade, com o profissionalismo, com a apuração correta e com a sociedade. Verdade importa. _

Opinião dos profissionais

A coluna publica ao lado trechos de textos de opinião de diversos jornalistas de diferentes veículos de comunicação do mundo todo, em que falam sobre a defesa da liberdade de imprensa e do jornalismo independente, sério e profissional. Entre eles, representantes de Filipinas, África do Sul, Nicarágua, Brasil e Egito. Todos eles fazem parte do World News Day 2024.

"O ano de 2024 está testando nossas sociedades modernas de maneiras que esperávamos que nunca se repetissem. Ao redor do mundo, regimes autocráticos e potenciais ditadores desafiam liberdades que atravessam fronteiras, raças e religiões. Nesse turbilhão, é o jornalismo, baseado em fatos e evidências, que tem o dever permanente de defender os valores sobre os quais nossa civilização foi construída. Em todo o mundo, são os jornalistas que vivem a sua responsabilidade de honrar este vínculo sagrado com os nossos públicos e as nossas comunidades."

Por Maria Ressa, diretora do site Rappler (Filipinas) e Prêmio Nobel da Paz 2021.

"Todos os nossos jornalistas foram forçados ao exílio para continuarem a fazer jornalismo livremente, e as nossas fontes independentes de informação são perseguidas e ameaçadas. No entanto, as notícias que continuamos a publicar sobre a corrupção pública, os conflitos internos dentro do regime, o expurgo de altos funcionários, o êxodo em massa de quase 10% da população e a utilização da Nicarágua como trampolim para a ilegalidade da deportação de migrantes para os Estados Unidos, são histórias que ninguém ouve na imprensa oficial."

Por Carlos F. Chamorro, jornalista investigativo nicaraguense, editor do site Confidencial.

"A imprensa não é a solução para todos os dilemas do nosso tempo, mas tente imaginar um mundo sem ela. Quem depuraria entre fatos e rumores? Como confiar em algo ou em alguma instituição se não houvesse um certificado de credibilidade? Quem denunciaria o surgimento de uma nova fraude cibernética? Quem investigaria a corrupção e outros crimes quando as agências governamentais são lentas ou negligentes? Finalmente, quem exporia o poder dos autocratas corruptos e a sua ameaça às democracias?"

Por Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), membro do Conselho Editorial do Grupo RBS e colunista de Zero Hora.

"Construir, gerir e sustentar o jornalismo de serviço público local, capaz de desempenhar papéis críticos no apoio a suas comunidades, é muitas vezes uma tarefa ingrata. Em todo o mundo, o dinheiro secou à medida que o negócio do jornalismo foi ameaçado pelas grandes tecnologias, os empregos foram eliminados, a qualidade foi comprometida, os recursos foram fragmentados e o valor do jornalismo é constantemente contestado. Fechar espaços de informação é um risco elevado. Sabemos que o jornalismo independente é fundamental na defesa da verdade."

Por Fatemah Farag, fundadora e diretora do Welad ElBalad Media, do Egito. _

Zelensky se reúne com Kamala e com Trump

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, se encontrou com os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris e Donald Trump.

A democrata demonstrou apoio irrestrito à Ucrânia na guerra contra a Rússia.

O republicano afirmou ter um bom relacionamento com Zelensky e com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o que fará, segundo ele, com que consiga resolver a guerra caso vença a corrida à Casa Branca. _

Quer entender o Oriente Médio? A coluna recomenda série, filme e livros

FAUDA Série sensacional, disponível na Netflix, que revela a complexidade do conflito por meio das ações de uma unidade do exército de Israel, o sofrimento dos israelenses e palestinos, e as relações do grupo terrorista Hamas.

MUNIQUE O filme é antigo, de 2005, mas se torna muito atual diante da operação montada por Israel nesses dias, com pagers, para eliminar membros do Hezbollah. Na obra, uma missão secreta mata 11 pessoas ao redor do mundo depois que terroristas palestinos assassinam 11 atletas israelenses na Olimpíada de Munique em 1972.

DE BEIRUTE A JERUSALÉM De Thomas Friedman, do jornal americano The New York Times, o melhor livro para compreender as origens dos conflitos no Oriente Médio.

POBRE NAÇÃO De outro puro-sangue do jornalismo internacional, Robert Fisk, o livro mostra como o Líbano, conhecido outrora como a Paris do Oriente Médio, se tornou um país tampão entre Irã e Israel - além, claro, de contar as origens do Hezbollah.

INFORME ESPECIAL

sábado, 21 de setembro de 2024



21 de Setembro de 2024
MARTHA

Golpe de Sorte

Tento entender minha paixão por este cineasta que conseguiu a façanha de virar persona non grata, a despeito de toda a sua genialidade. Deve ser identificação. Allen, que já explorou assuntos como a era do rádio, o sentido da vida e da morte, as relações entre irmãs, amores em Nova York (e seu amor por Nova York), tem se fixado em um tema único: os acasos que determinam destinos. Tornou-se um obcecado pelas fatalidades, e a gente respira fundo, agradecidos. É a forma mais fácil de nos desresponsabilizar sobre o que nos acontece.

O que tiver que ser, será. É da sorte a última palavra.

Está aí um bom pretexto para não esquentar demais a cabeça e nos dedicarmos às caminhadas, à música, aos encontros, a uma noite divertida, a um romance escondido, essas sofisticações do grand monde, a vida como um baile na corte. Até que Woody Allen interrompe a orquestra e faz cair as máscaras dos dançarinos. Daí para frente, se dar bem ou se dar mal deixa de ser um resultado previsível.

Pagar à sorte sua parte no negócio não é coisa que os bem-aventurados costumam cumprir. Quem fica com os louros, como sempre, é a dedicação, o empenho, a estratégia, o suor. Desprezada, a sorte raramente é enaltecida, o que não é justo. Dizer que a sorte só acompanha aqueles que trabalham duro é uma meia-verdade. Algumas pessoas se esgotam das 7h às 22h e a sorte nem aí. Há que se bajulá-la mais.

Em Golpe de Sorte em Paris, que pode vir a ser seu último filme, Woody Allen foi moralista como não foi em Match Point. Neste mundo com escassez de finais felizes - estamos na mira dos maus e sendo abatidos à queima-roupa - é preciso dar o troco, nem que seja artisticamente. Se foi mesmo sua última contribuição cinematográfica, aplausos aos minutos finais. Basta de ver o caçador empalhar a cabeça da sua presa e pendurá-la na parede. Cedo ou tarde, o cervo tem que ser vingado.

MARTHA 


21 de Setembro de 2024
.J. CAMARGO

Esta técnica está reservada a pacientes pediátricos em uma condição tão crítica que não sobreviveriam à espera por um improvável doador cadavérico. O fato de que os doadores, por razões legais, devam ser familiares (na maioria dos casos, pai e mãe) favorece a evolução, reduzindo a probabilidade de rejeição.

A Santa Casa é o único hospital do hemisfério sul que realiza este tipo de transplante. De qualquer maneira, é uma indicação infrequente, haja vista que da nossa experiência total de 761 transplantes de pulmão (até agosto de 2024), apenas 40 envolveram doadores vivos.

O primeiro transplante desse tipo feito fora dos EUA foi realizado aqui, há exatos 25 anos, na primavera de 1999. O paciente, um menino com quase 13 anos, era a imagem mais impressionante de insuficiência respiratória. Portador de uma bronquiolite (sequela de uma infecção viral que determina severa obstrução das pequenas vias aéreas), resultando numa impressionante hiper-insuflação dos pulmões, que o obrigava a dormir ajoelhado, porque sufocava ao deitar-se.

Com apenas 12% de capacidade pulmonar e uma expectativa de vida muito curta, o transplante se apresentava como única alternativa para evitar uma morte iminente. Trabalhando mentalmente com essa possibilidade, desde que assistimos à experiência inicial do doutor Vaughan Starnes, em Los Angeles, em 1996, tínhamos agora a desafiadora oportunidade de transformar uma fantástica proposta teórica em chance real de sobrevida para um filhote caçula de pais amorosos e desesperados.

Ensaiados todos os passos, marcamos a data: 17 de setembro de 1999, uma sexta-feira, dia do aniversário da minha mãe. Por pura ansiedade, acordei muito cedo naquele dia, mas relutei em sair da cama, como se fosse possível adiar o medo que me aguardava lá fora.

Inesquecível mesmo foi a cena do trio entrando no bloco cirúrgico: o Henrique ajoelhado na maca e gritando de falta de ar, a mãe chorando porque o filho chorava, e o pai, determinado como ele só, tentando, sem conseguir, acalmar os dois.

Foi só naquele momento que tive a exata noção do tamanho da empreitada: íamos operar três pessoas da mesma família. E então, perdida a chance de recuar, fomos em frente: Henrique na sala 1, Márcia, como primeira doadora, na sala 2, e Amadeo, na sala de recuperação, aguardando a sua vez.

Como ocorre com todos os cirurgiões, começada a operação o nível de concentração sobe, e a adrenalina do medo é substituída pela endorfina que brota espontaneamente da pretensa certeza de que, calma lá, essa cirurgia nós sabemos fazer.

Sete horas depois, concluídas as seis etapas que compõem essa operação, houve finalmente tempo de perceber que, até ali, tudo estava dando certo.

Aliviado e exausto, sentei-me no chão, um jeito pessoal de tratar o cansaço. Quando o Felicetti, parceiro de todas as horas, sentou-se ao meu lado e choramos abraçados, tive a certeza de que tínhamos feito uma coisa realmente grande. Há muito tempo aprenderamos que o choro dele era o melhor monitor do tamanho do que fizéramos.

Passados 25 anos, com o Henrique em vida plena, ficou arquivada na memória daquela sexta-feira a generosa premonição de que, um dia, o futuro haveria de dar sentido à densidade emocional do choro que choramos.

Minha mãe já não faz mais aniversários, mas sou grato pelos 22 anos em que festejamos juntos a feliz coincidência das datas. 

J.J. CAMARGO

21 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

Cosmopolita

É só saindo de Porto Alegre que você percebe o quanto a cidade é atraente. Pela variedade de pessoas, de tendências, de situações.

Eu vi um microcosmo semelhante ao da capital gaúcha em Buenos Aires. Você vê ali todo tipo de festa, de apresentações de rua, de comércio. São várias paisagens urbanas, cada bairro é uma cidade. Palermo do Jardim Botânico, do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) e do Planetário Galileo Galilei. La Boca do Caminito, com casinhas coloridas de madeira, das performances de tango e bandas portenhas, dos deuses do futebol de La Bombonera. Puerto Madero dos restaurantes na zona portuária. Recoleta das livrarias antigas e cafés charmosos.

Porto Alegre é igualmente prismática, multifacetada: distribuída pelos gostos. Não há nada grandioso, mas há um pouco de tudo. Ao mesmo tempo que abre espaço para a contemplação bucólica do pôr do sol no Guaíba e oferece uma longa orla para as caminhadas com chimarrão, é extremamente urbana, workaholic e movimentada no Centro e em bairros como Moinhos e Bom Fim.

Comporta o estilo neoclássico do Theatro São Pedro e o contemporâneo da Fundação Iberê Camargo. Você localiza bar para dançar forró, música popular, rock, sertanejo, música eletrônica. Sempre tem um cantinho para atender a um nicho. São comunidades fiéis que lotam os ambientes.

Existem as feiras orgânicas da Zona Norte à Sul, uma seita alegre, cada vez mais numerosa, com produtos naturais e sem agrotóxicos. Existem as turmas de ciclistas e de maratonistas noturnos. Existem os vendedores de artesanato, concentrados no Brique durante o fim de semana e espalhados pelos nossos pontos turísticos nos demais dias.

Existem mercadinhos com produtos autorais: papelarias, padarias, adegas. Você pode achar pelegos para as cadeiras ou os mais excêntricos tamancos. Você pode comprar saídas de praia ou ponchos. Como experimentamos todas as estações, acabamos servindo de guarda-roupa do mundo. Quer galochas para chuva? Temos. Quer conjunto térmico para neve? Temos.

O interessante é dispensar o carro e andar a esmo para se surpreender com as lojinhas. Ou com barbearias estranhas. Ou com bancas de vinis raros. Debaixo dos viadutos, em portinholas nos becos, em subsolos imprevisíveis, você vai começar alguma coleção ou ampliá-la.

Artistas de circo, de folk, de música nativista são escutados nas esquinas. O chapéu para receber moedas é o estojo do violão.

A gastronomia não foge à regra. Os paladares jamais se esgotam. Há as tradicionais churrascarias, mas também restaurantes polonês, alemão, árabe, chinês, japonês, tailandês, italiano. Ainda persistem os rodízios de filé e de pizza. Quem procura pratos fartos e baratos não sairá decepcionado com Tudo pelo Social ou Cavanhas.

Quem é de fora se sente em casa, porque encontra um pedacinho de lugar que representa exatamente a sua casa.

Ao invés de ser provinciana, como muitos ainda acreditam, Porto Alegre é cosmopolita. Uma pequena cidade universalista na América do Sul.

A saudade sempre nos lembra do valor de onde moramos e do motivo de termos escolhido esse paradeiro como matriz de nossos pensamentos e devaneios. 

CARPINEJAR

21 de Setembro de 2024
COM A PALAVRA
Paulo Artaxo - Professor do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC)

"Podemos não estar muito longe de um ponto de não retorno na Amazônia"

Um dos maiores especialistas em mudanças climáticas no país, o professor Paulo Artaxo, da USP, esteve presente na reunião entre os líderes dos três poderes na terça-feira, em Brasília, convocada para discutir a seca e as queimadas. Em entrevista a ZH, ele falou sobre o tema.

Danton Boatini Júnior

Qual a relação entre a enchente no RS e a seca histórica que o país enfrenta?

A relação é direta, no sentido de que as mudanças climáticas estão provocando aumento de eventos climáticos extremos, o que inclui cheias e grandes secas, no mundo inteiro, não só no Brasil, mas também na Europa, nos Estados Unidos, nos países da África, no sudoeste da Ásia e assim por diante. Então, estamos vendo um crescimento muito forte dos eventos climáticos extremos.

A que se deve esse cenário?

Todo evento climático extremo tem várias razões, não é uma única. No caso das chuvas intensas no Rio Grande do Sul, isso se deveu, além de um maior volume de vapor d?água sendo transportado para o Estado, à presença de um grande centro de alta pressão estacionário sobre o Estado de São Paulo, que fez com que todo o vapor d?água que iria subir e desaguar em toda a região sul do Brasil, infelizmente, essa quantidade gigantesca de água, desaguasse no Rio Grande do Sul. Então, isso é um reflexo da mudança da circulação atmosférica na América do Sul, junto ao maior fluxo de vapor d?água para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para a região sul do Brasil.

Qual a dimensão desta seca?

Isso foi compilado pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e também por pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), que mostraram que esta é a seca mais forte dos últimos 120 mil anos na Amazônia. Foram feitos muitos estudos que mostraram claramente que o novo normal da floresta amazônica é um normal onde haja muito mais eventos extremos, não só secas, mas também grandes cheias dos rios. Tivemos, em 2022, enchentes importantes no Acre, em várias regiões da Amazônia, e agora estamos tendo o Rio Madeira com cerca de 70 centímetros de profundidade, quando ele deveria estar nessa época do ano com mais de dois ou três metros. Então, esses eventos climáticos extremos estão sendo provocados pelas mudanças climáticas.

Qual o impacto do atual cenário para os nossos biomas?

A ciência tem mostrado que podemos não estar muito longe de um ponto de não retorno na Amazônia, onde o avanço do desmatamento e o avanço das mudanças climáticas podem comprometer o mecanismo de reciclagem de chuvas na região. Se você compromete esse mecanismo, pode haver um colapso do ciclo hidrológico que mantém a floresta. Temos de ficar atentos, temos de zerar o desmatamento da região amazônica, bem como acabar com a exploração de combustíveis fósseis no planeta todo e no Brasil em particular.

Tem se falado muito em aumentar pena contra crimes ambientais. Deveria haver punição também aos países que desmatam?

Não há dúvida nenhuma. Os compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa do Acordo de Paris hoje são completamente voluntários, não um commitment (compromisso, em inglês). Temos de mudar isso para que haja um sistema que possa punir, por exemplo, os Estados Unidos, por não reduzir as suas emissões. Isso, do ponto de vista diplomático, é extremamente difícil de ser implementado, por causa do sistema de como a ONU funciona. Mas muita coisa, por causa da emergência climática, vai ter de ser mudada, e isso é uma delas.

O que a crise climática de 2024 nos diz sobre o futuro?

O Brasil é um dos países mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, pela sua localização tropical. Temos cidades como Teresina, Palmas e Cuiabá que já vivem no limiar superior de temperatura, e, com o planeta três graus mais quente, que é para onde estamos caminhando com as emissões que temos hoje, essas cidades podem vir a se tornar muito difíceis, do ponto de vista de habitabilidade. Isso é uma coisa que nós, como brasileiros, temos de pensar muito cuidadosamente, ponderar as nossas emissões de gases de efeito estufa, com estes cenários que podem comprometer o futuro do nosso país, e trabalhar para que a gente possa efetivamente reduzir as emissões, se adaptar ao novo clima e, basicamente, tomar posição de liderança na construção de um planeta mais sustentável.

Você participou, na terça-feira passada, de uma reunião com o presidente Lula e com os presidentes dos demais poderes. Qual mensagem você levou a eles?

Levei uma mensagem de que o Brasil tem tarefas urgentes para serem cumpridas. O Brasil tem um potencial enorme de se tornar, no futuro, uma potência em termos de energias renováveis, mas isso depende das políticas públicas que o Executivo, o Judiciário e assim por diante vão ter de implementar. Então, é um desafio grande para o país, mas o Brasil não pode fugir desta responsabilidade.

Como avalia a resposta do poder público até o momento?

Na terça-feira, já foram assinadas várias medidas provisórias, uma delas aumentando os recursos para o Ibama e para o Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais). Outras estão em estudos. Há hoje uma pressão popular muito grande. Os eventos no Rio Grande do Sul e a seca da Amazônia estão mostrando que a sociedade não está tolerando mais o descaso com o meio ambiente. E isso pode ser um ponto de virada para o governo brasileiro.

O início da primavera, neste domingo, pode trazer alívio no cenário de seca e queimadas?

No caso da Amazônia, espera-se que as chuvas só comecem efetivamente no final de novembro. Então, ainda temos um mês de outubro inteiro de secas. Isso pode levar a um recorde absoluto de áreas desmatadas e de queimadas na Amazônia em 2024, o que é evidentemente uma questão muito ruim para o atual governo. 


21 de Setembro de 2024
DITORIAL

Aquecimento global, consequência local

Se os riscos relacionados às mudanças climáticas há não muito tempo pareciam algo distante e de pouco interesse do eleitor, está claro que o cenário se alterou radicalmente. Os gaúchos passaram em maio pela maior enchente da história do Estado e, há poucos dias, sentiram os efeitos da temporada de queimadas sem precedentes no país, com a fumaça e a fuligem tomando conta do céu, fenômeno que em seguida se transformou em uma chuva suja.

O aquecimento global e suas consequências deixaram de ser algo que poderia ser considerado abstrato e estão cada vez mais se materializando na forma de destruição, perdas econômicas e transtornos de toda ordem, inclusive com a deterioração da qualidade do ar. Caberá aos prefeitos eleitos em outubro a tarefa de liderar pelos próximos quatro anos as ações de adaptação de suas cidades aos efeitos das mudanças climáticas.

O tema passou a ser central para o eleitor de algumas cidades. Pesquisa realizada pelo instituto Quaest no final de agosto mostrou que o enfrentamento a enchentes e alagamentos é a maior preocupação dos porto-alegrenses. Foi apontado por 33% dos entrevistados como a grande inquietação. Superou com folga saúde (13%), segundo ponto mais citado. Passou a ser dever dos candidatos, portanto, formular e apresentar planos consistentes para fazer frente a eventos climáticos extremos. No caso da Capital, Zero Hora publica nesta edição (leia nas páginas 4 e 5) as propostas dos quatro principais concorrentes à prefeitura.

Se é um tema que se tornou prioridade e decisivo para o futuro das cidades, convém ao eleitor comparar as ideias para ter melhores subsídios para definir o voto. E, depois, cobrar o eleito para que cumpra as promessas. Atenção semelhante deve ser dada aos vereadores, responsáveis por elaborar leis. A edição da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2021 do IBGE mostra o quanto é preciso avançar em normas. O levantamento apontou que apenas 140 dos 497 municípios gaúchos tinham a prevenção de enchentes contemplada no plano diretor. Só 11 tinham leis específicas para prevenir danos de inundações.

Pelas diferentes características geográficas, cada região tem preocupações específicas. Nos municípios da Serra, como Caxias do Sul, a proteção de encostas é o grande ponto de atenção. Nos Vales, discute-se a necessidade de transferir áreas urbanas para outros locais mais altos e seguros, protegidos de enxurradas. Na Região Metropolitana, a construção e o reforço nos diques surgem como prioridade. Não deve ser esquecido ainda que, nos últimos anos, o Estado foi castigado por estiagens severas, o outro extremo do clima. A prevenção a secas é outra pauta que preocupa os gaúchos e segue à espera de um enfrentamento à altura.

O eleitor está atento. Aguarda propostas viáveis e cada vez mais vai cobrar a preparação das prefeituras tanto para prevenir calamidades quanto para dar uma pronta resposta assim que os fenômenos ocorrem. O poder público municipal, afinal, é sempre o primeiro a ser acionado quando há desastres de qualquer natureza. 


21 de Setembro de 2024
CRIE O IMPOSSÍVEL

CRIE O IMPOSSÍVEL

Caravanas de reforço escolar começam a circular pelo RS

Iniciativa da ONG Embaixadores da Educação conta com o apoio da Secretaria Estadual da Educação. Objetivo é levar aulas de revisão e estímulo para alunos gaúchos antes do Enem. Serão 50 encontros em 30 municípios que ocorrem até 24 de outubro

Integrando as ações do Crie o Impossível deste ano, as caravanas de reforço escolar presencial começarão a circular pelo Rio Grande do Sul a partir de terça-feira. A iniciativa promovida pela ONG Embaixadores da Educação conta com o apoio da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e busca levar aulas de revisão, estímulo e motivação para estudantes de todas as regiões antes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A RBS será apoiadora do evento, reforçando a parceria iniciada em 2022.

Segundo Guilhermina Abreu, cofundadora e CEO da ONG Embaixadores da Educação, três vans - cada uma com dois professores e times do Crie o Impossível e da pasta estadual - percorrerão o Estado.

Serão realizados 50 encontros até 24 de outubro. As caravanas passarão por Porto Alegre, Guaíba, Canoas, São Leopoldo, Bento Gonçalves, Carazinho, Vacaria, Caxias do Sul, Erechim, Soledade, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Bagé, Santana do Livramento, Uruguaiana, São Luiz Gonzaga, São Borja, Santa Rosa, Palmeira das Missões, Três Passos, Osório, Gravataí, Estrela, Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul, Santa Maria, Cruz Alta, Ijuí e Santo Ângelo.

Além das caravanas, são realizadas aulas, transmitidas ao vivo pelo canal da Seduc no YouTube, com acesso gratuito. Além da Seduc, que apoia a etapa do reforço escolar, diversos parceiros estão envolvidos na causa. Na frente dos kits e auxiliando com o espaço físico, está o Instituto Caldeira. Os clubes Grêmio e Internacional, assim como o Grupo RBS, estão mobilizados. 

Postagem em destaque

  Ter consciência do próprio valor tem sido nossa maior conquista, mas dispensar reforços é soberba Ainda que eu tome conta de mim, não me s...

Postagens mais visitadas