sábado, 14 de setembro de 2024


14 de Setembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

O "fim" da Amazônia e o impacto no RS

O pior agosto desde 2019 do ponto de vista das queimadas na Amazônia trouxe de volta o debate sobre o "ponto de não retorno" da floresta. Isso quer dizer que, a partir de determinado nível de destruição, o bioma será extinto.

E não se trata, como o cenário do oceano no lugar do Guaíba, de uma projeção de milênios. Em seu lugar, em pouco mais de 25 anos pode estar algo parecido com o Cerrado no Planalto Central do Brasil. Em entrevista à coluna em 2022, o climatologista Carlos Nobre havia exposto o tema:

- Se a gente perder a Amazônia, perde os rios voadores, o que diminui a chuva no inverno no Sul. O transporte de água para o Sul cairia entre 20% e 30%.

"Rios voadores" é o nome poético do fenômeno meteorológico que traz chuva da Amazônia para o sul do país - e também a fumaça das queimadas. Não é uma teoria: o corredor é mostrado em imagens de satélites, tanto no caso da chuva quanto no da fumaça.

"Processo irreversível de destruição"

Conforme Beto Veríssimo, cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), esse ponto de ruptura é calculado em 30% por modelagem climática. Isso significa que se o desmatamento avançar até esse ponto, mesmo que seja zerado a partir desse momento, "a floresta vai entrar em um processo irreversível de destruição".

Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Ambientais (Cemaden), neste ano 59% do Brasil está com algum grau de seca. Não é coincidência que isso ocorra enquanto o fogo consome a floresta, como explicou Carlos Nobre:

- A estação seca está de três a quatro semanas mais longa nos últimos 40 anos. No sul da Amazônia, há aumento da mortalidade de árvores típicas de clima úmido. A estação seca, que era curta e com alguma chuva, está de 2ºC a 3ºC mais quente. Antes, isso ocorria quando havia El Niño, a cada 15 ou 20 anos. No intervalo, a floresta se recompunha.

Não existe atividade econômica blindada a esse grau de risco. 

O governo federal elevou para 3,2% a projeção de crescimento para 2024. Como a meta fiscal é atrelada ao PIB, caso se confirme facilita seu alcance. E há possibilidade de que maior arrecadação compense mais gasto. Tudo em tese.

Após "pibão" e deflação, atividade cai: e agora, BC?

Não por acaso, o "consenso de mercado" de três altas seguidas de 0,25 ponto percentual no juro básico veio depois do "pibão" do segundo trimestre.

Na sexta-feira, o Banco Central (BC) informou que seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) caiu 0,4% em julho, depois da forte alta de 1,4% de junho. É o segundo sinal negativo, depois da deflação de agosto, que precede a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve iniciar "miniciclo" de alta do juro.

E agora, BC? Como justificar um aumento na taxa Selic quando o país registra deflação - ainda que quase simbólica, como a coluna destacou - e redução na atividade econômica?

O economista André Perfeito, que admite seus próprios erros, sustenta que o juro só vai subir porque o mercado tem errado ainda mais.

Por outro lado, se a primeira decisão depois do anúncio oficial do futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, contrariar o "consenso de mercado", pode gerar ainda maior desancoragem de expectativas.

Vai ser a reunião da "âncora flutuante", expressão absurda que tenta simbolizar o paradoxo atual na economia. _

Ajuda contribuiu para mitigar perda

A rede de lojas taQi, do Grupo Herval, teve alta de 10% no faturamento de maio a julho deste ano ante mesmo período de 2023. Conforme a empresa, ajudou a oferta criada para clientes contribuírem para a reconstrução. A varejista ofereceu vale-compras para materiais de construção, eletrodomésticos e itens essenciais.

A taQi teve cinco das 56 lojas atingidas pela cheia, com perda quase total em São Sebastião do Caí, São Leopoldo, Três Coroas, Igrejinha e Rio Grande, somando prejuízo de R$ 1 milhão. _

Recorde em fábrica "salva" por clientes

Após prejuízo de R$ 3 milhões da enxurrada, a Odara retoma com produção recorde de 814 mil alfajores só em agosto. ?A média de janeiro a abril era de 580 mil unidades por mês, entre próprias e terceirizadas.

Localizada no bairro Sarandi, a empresa teve de parar entre maio e junho. No período, cerca de 3,6 mil clientes "salvaram" a empresa comprando 75 mil alfajores em pré-venda e adiantando R$ 570 mil.

As entregas ocorreram em agosto, o que ajuda a explicar o recorde. Mas não só: entre julho e agosto, a Odara fechou contratos com 35 parceiros comerciais. De abril a maio, foram 15 negócios acordados.

- O acolhimento foi maior do que imaginávamos - afirma o empreendedor Jeison Scheid.

A Odara prevê faturar cerca de R$ 24 milhões neste ano e, no próximo, R$ 40 milhões. Projeta novos produtos até 2025 e estuda alimentos saudáveis. _

GPS DA ECONOMIA

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