sábado, 9 de novembro de 2019


Um ano de mistério no Vale do Taquari

Cinquenta e cinco rosas brancas foram arremessadas no gramado de um condomínio em Anta Gorda, no Vale do Taquari, em 9 de junho, numa despedida simbólica. Era a forma de a comunidade dizer adeus ao gerente de banco Jacir Potrich, 55 anos. Em 13 de novembro de 2018, o bancário sumiu do residencial onde morava. Para a Polícia Civil e o Ministério Público, ele foi assassinado, embora o corpo nunca tenha sido encontrado. Quase um ano depois, com a ação contra o acusado do crime suspensa na Justiça, o mistério paira no município de 6 mil habitantes.

A Paróquia de São Carlos não foi suficiente para abrigar os participantes do ato realizado em junho. Era ali que Potrich ia à missa aos domingos com a esposa. De origem humilde, os colegas recordam que não era incomum ele mesmo varrer a calçada em frente ao Sicredi, onde trabalhava havia 25 anos. Potrich também adorava futebol, esporte ao qual se dedicou por anos. Amigos percorreram o corredor da igreja com as camisetas dos seus times do coração: o Grêmio e o São José, de Anta Gorda. Um quadro, com a fotografia do filho e de Potrich, foi cercado por assinaturas de amigos na celebração.

Foi a forma que vizinhos e familiares encontraram para tentar dar desfecho ao caso. O mistério que passaria a causar aflição na comunidade desacostumada com crimes teve início em novembro passado. O último homicídio em Anta Gorda havia ocorrido em 2003. Potrich desapareceu do condomínio fechado, onde viviam três famílias. O bancário residia com a esposa e um sobrinho dela, de 24 anos. Às 19h7min, voltando de uma pescaria, dirigiu-se aos fundos da residência, onde limpou os peixes. Desde então, não foi mais encontrado. O carro ficou na garagem, com a carteira e documentos.

A partir dali, começaram as buscas pelo gerente e até um açude foi esvaziado. A família ofereceu recompensa de R$ 50 mil para informações sobre o sumiço. A polícia chegou a cogitar um sequestro, por conta da profissão do desaparecido. Sem pedido de resgate, a possibilidade foi descartada. Pouco mais de dois meses depois, o dentista Carlos Alberto Weber Patussi, vizinho de condomínio de Potrich, foi preso por suspeita de ter estrangulado o bancário e escondido o corpo.

Vassoura

Para a Polícia Civil e o MP, imagens do residencial mostram o dentista caminhando pelo terreno e mexendo em duas câmeras com uma vassoura. Uma tem o foco desviado para o alto e outra é desligada. A acusação entende que neste momento o dentista estaria desviando equipamentos para não flagrarem a ocultação do corpo.

- Ele foi a última pessoa que esteve com a vítima Potrich dentro daquele quiosque. Isto está confirmado pelas imagens que apresentam a vítima entrando no quiosque minutos antes e o Patussi entrando depois. Foi a última pessoa a ver o Potrich com vida. Depois dessa entrada no quiosque, o Potrich desaparece - conclui o promotor André Prediger.

Patussi foi preso duas vezes, mas está em liberdade. Ele se tornou réu por homicídio e ocultação de cadáver e teve a ação suspensa pelo Tribunal de Justiça (TJ). O MP recorreu da decisão e, após análise do TJ, o processo pode chegar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O dentista segue morando no residencial. Após o vizinho ser preso, a esposa de Potrich deixou o local e se mudou com o sobrinho para um apartamento na área central.

- Nós da família temos sentimento de dor, tristeza, luto - descreve Adriane Balestreri Potrich.

Em frente ao condomínio, seguem estendidas as faixas, que expressam luto e pedido de justiça.

LETICIA MENDES

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