sábado, 10 de outubro de 2020


10 DE OUTUBRO DE 2020
ESPIRITUALIDADE

AINDA JOVEM 

Há cerca de 30 anos, não sabíamos que haveria uma pandemia. Estávamos já no final do século 20. Eu estava voltando do Japão, já havia residido 12 anos nos mosteiros e templos Zen, havia me formado no mestrado do Mosteiro Feminino de Nagoya e tinha muitos sonhos e expectativas.

Tinha 43 anos de idade. Era jovem, era forte e acreditava na vida.

Hoje continuo acreditando na vida. Menos jovem, menos forte. Mais experiente.

Esta caderno, o Vida, hoje celebra 1.500 edições. Tantas pessoas, tantos textos, tantas ideias e sugestões. Data bonita: 10 do 10 em 2020.

Havia uma canção antiga: "Você mulher, que já viveu, que já sofreu, não minta / Um triste adeus, nos olhos teus, / Mulher de trinta".

Um caderno de quase 30 está apenas chegando. Mentir, não mente. Seus olhos abertos, despertos, revelam o real - sem tristeza, sem adeus -, apenas continuando o incessante movimento de transformação: nascimento-morte-nascimento-morte-nascimento e, no traço entre nascer e morrer, tudo pulsa sem repulsa.

Maturidade, experiência? Pode ser o começo. Ainda jovem, com tanto a fazer e aprender. Congratulações! Aos que escreveram, publicaram, desenharam, criaram, imprimiram. A todos que leram, comentaram e se transformaram no processo de entender e viver melhor.

A Terra girando em torno de si mesma leva 24 horas e, em torno do Sol, um ano. Foram quase 30 voltas, pouco e bastante para entrar na maturidade. Nada falta e nada excede.

Passamos por várias fases, de certezas a incertezas, caímos em emboscadas e saímos quase ilesos.

Para alguns, anos de conquistas, e para outros, anos de perdas. Sem nada a ganhar e sem nada a perder, a pessoa sábia caminha livre, sem apegos e sem aversões.

Este ano, de celebração, está sendo um ano triste - de mortes pela covid-19, misérias, incêndios, inundações.

Também ano de curas - da hepatite C, prêmio Nobel da Medicina.

Ano de pesquisas de vacinas e remédios para o vírus tão miúdo, que paralisou o mundo. Quando pensamos que a pandemia acabou, volta renovada. Fecha, fecha tudo. Depois abre. Abre e fecha como a vida. Vida, vida Severina.

Encontramos tratamentos para várias formas de câncer. Há esperança? Esperança de esperançar, de fazer acontecer, não de ficar aguardando, aguardando, aguardando o trem.

Como serão os próximos 30 anos? Não sei. Será que estarei aqui aos 103? Tanto faz, como tanto fez.

Expressões antigas nesta época de fake news. Quem está dizendo a verdade? Quanto coisa mudou, até a linguagem e os algoritmos que leem nossas faces. Conhecem nossas intimidades que, muitas vezes, nem a nós mesmas revelamos.

Vamos adiante. Agradecendo a todos e todas que nos trouxeram até aqui. Quanta gente. Escritores, jornalistas, pensadores, repentistas. Diagramador, fotógrafo, editor e toda maquinaria para rodar um jornal. Tanta gente a agradecer. Gente comprometida com o Vida.

Apreciar cada instante é respirar conscientemente. Basta estar aqui no agora. Rever o que foi. Preparar-se para o que virá. O que virá? Quem viver verá.

Que haja vida em abundância, que lideranças saibam liderar e não caiam nas armadilhas do poder centralizado, do ego marginalizado, que comete erros e não reconhece suas faltas.

Momento de reflexão. Quase 30 anos de vida, de pensamentos, comunicação. Sem mentir, sem fantasiar, verdadeiro e simples, continua juntando gente. Nem todos iguais, diferentes, cada um pensa, escreve, escolhe, edita de uma maneira e ao mesmo tempo todos são o Vida.

Que nosso coração seja assim vasto e bom, acolhendo tudo e todos, apontando caminhos de saúde, bem-estar, de beleza, de arte e de nobreza.

Água quente e erva pura. Cada um com sua cuia. De máscaras e com distanciamento, vamos juntos roncar forte.

Gassho


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