sábado, 2 de setembro de 2023


02 DE SETEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

ECONOMIA RESISTENTE

Assim como no período de janeiro a março deste ano e em boa parte de 2022, a economia brasileira voltou a crescer acima do esperado no segundo trimestre de 2023. A atividade, outra vez, mostrou sinais de resiliência e a esperada desaceleração não foi tão aguda quanto projetavam os mais pessimistas. De abril a junho, o PIB do país avançou 0,9% sobre o trimestre imediatamente anterior, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As estimativas do mercado se situavam ao redor de 0,3%. Com a nova grata surpresa, o indicador subiu 3,7% no semestre e foram deflagradas novas rodadas de revisões para cima para o fechamento do ano, para ao menos 3%.

Vieram do consumo das famílias, com crescimento também de 0,9%, alguns dos sinais mais positivos. É possível inferir serem reflexo de uma série de fatores combinados. Entre eles, a própria resistência da economia, que parece não ter sido tão afetada pelo juro alto, usualmente um fator contracionista. Com isso, o mercado de trabalho se mantém aquecido. 

O próprio IBGE mostrou na quinta-feira que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho ficou em 7,9%, o menor nível para o período desde 2014. Ao mesmo tempo, a renda da população segue a toada de recuperação. A inflação, corrosiva para os ganhos dos trabalhadores, está em processo de acomodação. Mesmo que de forma tímida, a inadimplência começa a recuar, o que pode renovar o fôlego do consumo das famílias no restante do ano.

O bom desempenho do PIB do segundo trimestre de 2023 foi ajudado ainda pela indústria (0,9%), em especial a extrativa, serviços (0,6%) e consumo do governo (0,7%). A agropecuária recuou 0,9%, o que já era esperado em virtude da alta surpreendente do primeiro trimestre, quando o campo foi decisivo para a economia avançar 1,8%. Preocupa, no entanto, a estagnação dos investimentos (0,1%), o que sempre sugere risco inflacionário à frente diante do avanço do consumo das famílias. É também um sinal amarelo quanto à capacidade de expansão do PIB no futuro. Espera-se, porém, que o ciclo de corte do juro e a própria maior confiança na continuação da atividade econômica em uma cadência razoável voltem a trazer ânimo para os empresários.

É verdade que ainda há certo grau de incerteza à frente, especialmente no aspecto fiscal do país. Reside na dificuldade que o governo federal terá de cumprir a promessa de zerar o déficit primário em 2024. Mas há uma nova regra e o próprio ritmo da economia um pouco acima do esperado pode ajudar nas receitas que são necessárias para a arrecadação se aproximar mais das despesas. A conferir.

Deve-se lembrar ainda que o Brasil passa por um período de menor turbulência política e institucional, elemento que também influencia nas expectativas. O andamento da reforma tributária, após décadas de frustração nas tentativas de mudar o sistema de cobrança de impostos, é outra razão a injetar confiança nos agentes econômicos. Mas confiança é um fator que precisa ser cotidianamente alimentado. Conquistá-la demora. 

Mas, em um país com histórico de crises como o Brasil e baixíssimo crescimento nas décadas mais recentes, bastam alguns maus sinais para perdê-la. O momento, de qualquer forma, sem dúvida pende para um cenário mais benigno na comparação com os temores que existiam há poucos meses, apesar de permanecerem as previsões de arrefecimento da economia até dezembro. Basta lembrar que, no início do ano, projetava-se que o país cresceria menos de 1% em 2023. Agora, as projeções já são de 3%.

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