sábado, 2 de março de 2024


02 DE MARÇO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

O PIB PASSADO E O FUTURO

Com uma contribuição expressiva do campo, o PIB nacional cresceu 2,9% no ano passado, informou na sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Olhando em perspectiva, é um desempenho muito acima do projetado pelo mercado no início de 2023, quando a maior parte das projeções estimava uma alta inferior a 1%. A agropecuária, com um avanço surpreendente de 15,1%, foi o grande diferencial, sem dúvida. Mas, no decorrer do ano, outros fatores como o consumo das famílias (3,1%) e os serviços (2,4%) também desempenharam bem, evitando a retração da atividade no segundo semestre, quando ficou estagnada.

O resultado conhecido ontem, embora mereça ser celebrado pelas razões expostas acima, já é passado. Está no retrovisor, há uma distância de dois meses. Importa, neste momento, projetar 2024. Em relação ao futuro, tanto o próximo quanto o mais a longo prazo, inquieta a queda no investimento verificada no ano passado. Conforme o IBGE, a retração foi de 3%.

O nível de investimento indica a capacidade de uma economia avançar de forma sustentável ao longo do tempo. Quando o indicador cresce, significa ampliação da infraestrutura e aquisição de máquinas e equipamentos para aumentar a produção e a produtividade das indústrias. É um fator que amplia a competitividade e gera demanda em outros setores.

Também conhecido como Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o investimento acende um alerta quando cai. Se há um crescimento econômico muito baseado no consumo interno, por exemplo, cria-se o risco de um descompasso entre oferta e demanda que crie pressões inflacionárias. Especialistas sempre citam que o Brasil necessita de uma taxa de investimento em relação ao PIB acima de 20%. No ano passado, fechou em 16,5%, muito abaixo do ideal.

Menos mal que, entre outubro e dezembro, o investimento subiu 0,9% ante o período de três meses imediatamente anterior. Assim, interrompeu uma sequência de quatro trimestres seguidos de retração. O juro é sempre um condicionante importante para esta variável. Espera-se que, com a continuidade do ciclo de corte da Selic, os empresários urbanos e rurais tenham maior confiança para a FBCF apresentar um desempenho melhor ante 2023. É o que o Brasil necessita para ter crescimento sustentado por elementos estruturais, menos sujeito às oscilações conjunturais. Outros fatores, como o fato de o país ser um dos protagonistas globais na transição energética, podem ajudar a melhorar a performance dos investimentos.

Para 2024, o PIB não terá o impulso do campo. Os problemas climáticos vão afetar a safra, com uma produção menor das lavouras. O mercado interno, no entanto, segue resiliente. Indicadores recentes, que já contemplam janeiro, apontam para a continuidade de um cenário de desemprego em queda e renda em alta. Conjugado com uma inflação controlada e juro em trajetória descendente, é um cenário benigno para as famílias. Ajuda a aumentar a renda disponível e tem o potencial de diminuir a inadimplência.

Por ora, o mercado espera um avanço de 1,75% do PIB em 2024. É o que aparece no mais recente Boletim Focus, do Banco Central (BC). Deve ser lembrado que, nos últimos três anos, o crescimento foi superior ao inicialmente projetado. O jogo, portanto, vai sendo jogado. O horizonte externo, cercado de incertezas e turbulências, sempre traz dúvidas. Internamente, aguarda-se que o governo federal amplie os esforços para chegar o mais próximo possível do déficit zero prometido, abrindo espaço para o BC a seguir cortando o juro. É um fator que pode trazer confiança a empresários, investidores e consumidores, por sinalizar estabilidade macroeconômica.

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