sábado, 29 de junho de 2024



29 DE JUNHO DE 2024
EXPEDIENTE

A verdadeira fortuna

As lendas gastronômicas estão aí para a gente se divertir e incluir no nosso dia a dia alguns rituais. A que a gente traz na edição de hoje veio direto do século 4. Bom, ao menos, isso é o que as histórias contam.

Na Itália, mais precisamente em um dia 29 de dezembro, São Pantaleão, um santo católico, andava perdido por um vilarejo. Sentindo muita fome, ele bateu à porta da casa de uma família, que era grande e tinha pouca comida à mesa. Mesmo assim, foi convidado para compartilhar o jantar, que tinha como prato o nosso clássico nhoque.

Para dividir a pouca quantidade que havia, eles tiveram que se contentar com apenas sete pedacinhos de massa cada um. Após comer, São Pantaleão agradeceu e foi embora. Na hora de tirar a mesa, a família descobriu que havia um monte de dinheiro embaixo dos pratos.

Essa história toda fez com que o dia 29 fosse o Dia do Nhoque da Fortuna. Atualmente, o ritual manda colocar o dinheiro embaixo do prato, comer os primeiros sete pedacinhos em pé, fazendo pedidos de sorte para cada um deles, e só depois, sentado à mesa, saborear a massa à vontade. Se é verdade? Não sabemos. Se traz sorte? Muito menos. Mas não há dúvida de que reunir quem amamos para uma refeição quentinha e saborosa é o verdadeiro sinal de fortuna, e das boas.

Foi pensando nisso que Lela Zaniol preparou e compartilhou receitas de molhos fáceis e deliciosos para você preparar junto do nhoque do dia de hoje. Eu provei todos e posso dizer que ficaram incríveis, não deixe de testar por aí.

Boa leitura!


29 DE JUNHO DE 2024
CARTA DA EDITORA

CARTA DA EDITORA

Em ritmo de arraial

Na onda do evento, que este ano terá como adicional o charme das ruas parisienses, conversamos com a surfista Tatiana Weston-Webb, que nasceu em Porto Alegre, nas bandas do Menino Deus, mas cresceu e ganhou o mundo a partir das ondas gigantes do Havaí. São 28 anos de praia, somando passagens pelo nosso Litoral e uma paixão especial pela Silveira, em Santa Catarina. A competição de surfe será realizada no Taiti e será por lá que a guria com sotaque de gringa vai colorir a praia de verde e amarelo. Se Tati vai escrever seu nome entre os medalhistas nesta edição olímpica ainda não sabemos. 

Mas nas páginas de Donna, já conquistou o pódio com uma entrevista tranquila e good vibes com a repórter Letícia Paludo, na véspera de embarcar para a competição. Falou da preparação, de cuidados com pele e cabelo (o sol e o sal, amores e vilões na mesma medida) e a relação com o país natal, adicionando aquele toque de nostalgia gostosa. Como as melhores férias de infância de grande parte de nós que, mesmo passando bem longe das 10 primeiras do ranking mundial, também nos aconchegamos com o barulho das ondas do mar. _

Economia criativa

Diversas feiras gaúchas se uniram e criaram a Associação das Feiras Unidas (AFU) na intenção de fortalecer o segmento e ganhar mais visibilidade e apoio em Porto Alegre. O grupo defende que os eventos fomentam a cultura e o turismo, gerando emprego e renda para artesãos, designers, produtores e criadoras independentes. Entre as feiras participantes estão Brick de Desapegos, Feira Mosaico, Coletivo de rua, Open Design, e muito mais. O lançamento do projeto será realizado no dia 11 de agosto. Saiba mais em @afupoa.

Nova data

Por conta do momento de reconstrução no RS, a edição que ocorreria de 9 a 11 de julho será realizada entre 30 de junho e 2 de julho de 2025, no Pavilhão do Centro de Eventos Fiergs, reunindo palestras, desfiles e workshops. O evento promove moda independente, criativa e autoral com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva do setor e estimular novos negócios. Acompanhe o perfil no Instagram @rsmoda_.

Segue até o dia 1º de julho, às 12h, o leilão beneficente do Atelier Carlos Bacchi para apoiar a recuperação do RS. Serão leiloados vestidos exclusivos doados pelas clientes da grife. O lucro arrecadado será destinado para iniciativas voltadas a ajudar comunidades afetadas pela enchente. Interessados em participar e dar seus lances nas peças podem acessar o site gringa.com.br.


29 DE JUNHO DE 2024
DRAUZIO VARELLA

Embora ignorante em assuntos da economia, sei que equilibrar as contas do governo é muito importante. O problema é que reduzir o orçamento do Ministério da Saúde sem definir as áreas que vão sofrer cortes é irresponsabilidade.

Os sanitaristas e todos os que se interessam por saúde pública são unânimes em reconhecer que o SUS padece de subfinanciamento crônico. Investimos em saúde 9,8% do PIB, número compatível com aqueles dos países da OCDE. No caso deles, no entanto, o sistema público recebe 70% a 80% do investimento total, enquanto aqui a parcela é de apenas 40%. Os 60% restantes ficam por conta das famílias: pagamento de convênio, consultas particulares e medicamentos, entre outros. Quer dizer, os 150 milhões de brasileiros mais pobres que dependem exclusivamente do SUS têm acesso a menos da metade dos recursos. Nesse quesito, perdemos também para o Chile e a Colômbia.

Para cada U$ 1 investido pelo governo, as famílias brasileiras desembolsam U$ 1,13. Em Portugal a relação é de 1 para 0,58, no Reino Unido, 1 para 0,20.

Embora haja espaço para melhorar a gestão, combater o desperdício e a corrupção, é claro que o SUS não conseguirá lidar com novas perdas orçamentárias sem interromper serviços que presta aos mais desfavorecidos. Por essa razão, os digníssimos representantes do povo na Câmara e no Senado que propõem reduzir o orçamento do Ministério da Saúde têm o dever moral de assumir a responsabilidade de declarar quais serviços o SUS será obrigado a cortar. Suponho que os senhores conheçam os principais programas do nosso sistema de saúde.

Temos o maior programa público de imunizações do mundo, o PNI. Qual das vacinas devemos suspender: sarampo, difteria, tétano, covid, poliomielite?

A incorporação ao PNI das vacinas contra o vírus sincicial respiratório que tantas internações e mortes provoca em crianças e adultos, a vacina trivalente contra influenza, contra o vírus Chikungunya e o meningococo tipo B vai nos custar cerca de R$ 3 bilhões.

Podemos economizar esse dinheiro, claro, mas quanto gastaremos com as internações hospitalares para tratamento das complicações pulmonares do sarampo, da gripe, do vírus sincicial e com as afecções reumatológicas provocadas pelo vírus Chikungunya? Quanto sofrerão os que caírem doentes por falta de vacina? Esquecemos das mortes que ocorreram antes da vacinação contra a covid?

Vamos reduzir o número de médicos, enfermeiras e de agentes comunitários que batem de porta em porta para levar cuidados de saúde a cerca de 160 milhões de brasileiros? Reconhecido pela OMS, como um dos maiores programas de saúde pública do mundo, o Estratégia de Saúde da Família nos custa R$ 20,6 bilhões por ano. Economizar essa quantia não será um tiro no pé? Quanto custarão as internações por problemas que poderiam ser resolvidos pela atenção primária, a baixo custo?

Onde mais poderíamos economizar? No programa de distribuição de medicamentos contra o HIV, que revolucionou o combate à epidemia no Brasil? Nas equipes do Resgate, que prestam atendimento às emergências nas cidades brasileiras? Suspender o Programa Brasil Sorridente, que acaba de ser retomado a um custo anual de R$ 10,7 bilhões? 

Vamos preservar dentes íntegros só na boca dos que têm dinheiro para ir ao dentista? Dar fim ao Farmácia Popular e deixar pessoas com diabetes e pressão alta correr risco de ataque cardíaco, AVC, insuficiência renal e cegueira? Acabar com o Mais Médicos e abandonar à própria sorte milhões de brasileiros dos rincões mais distantes?

Por acaso, os senhores que pretendem cortar recursos do Ministério da Saúde lembram que o SUS é o maior programa de distribuição de renda do país, diante do qual o Bolsa Família não passa de uma pequena ajuda?

Diminuir os recursos do sistema único significa aumentar a concentração de renda que envergonha todos nós. Como disse Eugenio Vilaça Mendes, um dos sanitaristas que mais conhece o SUS: "A sociedade ainda não fez a opção definitiva sobre o nosso modelo de assistência à saúde. Dessa opção depende estabelecer o quanto estamos dispostos a pagar por ele". _

DRAUZIO VARELLA

29 DE JUNHO DE 2024
60 MAIS

60 MAIS

Ultraprocessados são cheios de sal, açúcar e gordura. Além dos que foram citados acima, inclua nessa relação produtos como barrinha de cereal, refrigerante, suco de caixinha e sopa pronta em pó. Eles podem iludir dando a praticidade que você deseja ter na aposentadoria, mas são nutricionalmente pobres em componentes como fibras, vitaminas e minerais, alerta a nutricionista Flávia Porto Wieck, mestre em Gerontologia Biomédica e professora da Unisinos.

- Nosso organismo não foi preparado para metabolizar tantos aditivos químicos. "Então quer dizer que nunca mais posso comer um ultraprocessado?" Pode, mas não pode comer só ultraprocessados - orienta Flávia.

Características do envelhecimento, como a perda do paladar, facilitam que o idoso recorra a essas más opções. Como os ultraprocessados têm o sabor realçado, tornam-se atrativos.

- As papilas gustativas dos idosos já estão mais desgastadas. Se você tomar suco de caixinha todo dia, quando tomar o natural não vai sentir o sabor - compara a nutricionista Vanille Pessoa Cardoso, diretora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) e professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba.

Também é típica do avançar da idade a digestão mais lenta, que pode, a exemplo da perda da dentição ou de próteses mal ajustadas, dificultar a mastigação de carnes. A redução da autonomia para ir às compras e preparar os alimentos é outro ponto que realça a praticidade de produtos congelados ou embalados.

Idosos também costumam ter doenças crônicas como diabetes ou hipertensão, e a ingestão de ultraprocessados pode piorar esses quadros, além de serem prejudiciais no controle da fome e da saciedade e induzir ao consumo excessivo.

Variedade necessária

- Quem sabe jantar café com leite e pão cinco vezes na semana, não sete, e tomar uma sopa nas outras duas vezes? Pedir para alguém preparar a sopa, congelar. Mudar o pão. Colocar alguma proteína ou vegetal, fazer um sanduíche quente com alguma carne ali dentro. Já é uma melhora.

Em muitos casos, a solução é contar com alguém que venha em casa periodicamente para cozinhar e congelar a comida em porções é a solução de muitos casos.

- Temos que cuidar melhor dos nossos idosos, dar suporte, falar sobre cuidado, entender que essa população é a gente daqui a pouco. É uma faixa etária vulnerável - destaca Vanille. _

60 MAIS

29 DE JUNHO DE 2024
J.J. CAMARGO

Quando a crise foi sanitária, a distribuição do sofrimento, ainda que mais equânime na origem, logo adiante restabeleceu o desequilíbrio, quando a boa condição econômica dos privilegiados permitiu socorro hospitalar em unidades de terapia intensiva mais sofisticadas, onde as mortes evitáveis puderam ser evitadas.

Mas como o tema da desigualdade se presta para todo tipo de discurso, seja ele solidário, assertivo, hipócrita ou demagógico, vamos tratar de depurá-lo, eliminando o viés político, com o objetivo primordial de isenção.

No intuito de entender um pouco mais as razões do acontecido, surpreende a abundância do inexplicável, pois quase nada se encaixa quando se evocam as causas da catástrofe climática. E que foram, segundo os entendidos, terrivelmente negligenciadas, apesar de facilmente identificados pelos profetas do acontecido como fatores predisponentes. 

Claro que ninguém se deu ao trabalho de explicar por que um fenômeno idêntico ocorreu em 1941, quando nenhum dos tais agentes causais estava presente e a natureza ainda não tinha os ranços atuais de vingança. Naquele tempo em que a gente, com a inocência desprotegida, até considerava o ruído da chuva como um doce entorpecente dos céus.

A esperança fantasiada

Treinado a cuidar de pessoas que sofrem, me limito a tentar entender de onde elas tiram tanta submissão. Persistem batalhando pela sobrevivência, mesmo depois de ter perdido a casa em setembro do ano passado, buscado força para reconstruir e mobiliar, e neste maio que não precisava ter existido ver outra vez tudo ser arrastado pela correnteza, levando de roldão tudo o que tinha comprado em prestações que terão que ser pagas duas vezes para continuar não tendo um cantinho para onde voltar. 

E ainda encontram motivação para acordar pela manhã na casa emprestada do familiar e sair para o trabalho, com a esperança, fantasiada de certeza, de que as coisas finalmente irão melhorar. _

J.J. CAMARGO

29 DE JUNHO DE 2024
CARPINEJAR

Os tímidos se ferram

Os tímidos sempre se ferram: são os primeiros a se apaixonar e os últimos a confessar suas intenções; os dublês nas cenas de perigo, jamais protagonistas dos beijos ardentes. Nenhuma escolha é precipitada. Nenhuma decisão é superficial. Ficam estudando o terreno até alguém comprar antes deles.

Só declaram os seus sentimentos quando têm certeza de que a outra pessoa lhes corresponde - ou seja, tarde demais. Não vislumbram a sincronia das juras românticas.

Na escola, eu aprendi a triste arte de sobrar. Não saí da sala de aula com orelhas de burro, mas com alguns chifres de amor platônico. Existe uma fatalidade na amizade escolar. Não deve ser coincidência, pois várias de minhas parcerias passaram pelo crivo triste dessa experiência.

É a narrativa básica de desengano das comédias românticas sobre o colegial. Com a diferença de que não vivíamos um final feliz na realidade, muito menos uma reviravolta na festa de formatura. Eu calhava de gostar da colega de que meu melhor amigo também gostava. De todas as meninas da turma, de 15 candidatas, convergíamos em desejar namorar a mesma.

Nem sempre era a mais bela, mas era sempre a mais carismática, a mais sociável, a mais despachada. Eu me apaixonava por uma guria, não falava para a guria, apenas para o meu melhor amigo, que guardava segredo. Só que meu amigo não me revelava sua paixão pela guria. A sacanagem é que ele sabia o que eu sentia, mas eu desconhecia o que ele sentia por ela.

Vivia em desvantagem de informação. Acabava sendo traído pelo meu confidente. Ele se aproximava da colega sob o pretexto de ser meu cupido, porém estava agindo a seu favor, criando cumplicidade e ganhando espaço com minha anuência simpática ao longe. Não lutava por mim, como eu supunha, e sim para o regozijo do seu coração.

Fazia trabalhos em grupo com ela, frequentava a sua casa para ensaiar apresentação, e o tonto aqui jurando que ele advogava pela minha causa retraída. Não poderia supor ou fantasiar que já se encontravam para beijinhos.

Tem essa agravante no trauma. Na deslealdade tradicional de nosso período de formação, o melhor amigo costuma ser o expansivo, e você, o tímido. E os tímidos se ferram, já que não tomam a iniciativa.

É a síndrome de Cyrano de Bergerac, o narigudo que escrevia cartas de amor para quem amava em nome de um outro mais bonito. Ela vivia olhando para mim, porém ela olhava porque eu andava ao lado do meu melhor amigo. Não era para mim. Eu não era o seu alvo. Não era o seu destino.

Entendia seus gestos como reciprocidade, retribuindo piscadelas e risadas no recreio (que vergonha!), e não me atinha ao fato de que representava um mero figurante de romance alheio. Assim como jamais entregava o meu anseio por ela, tampouco brigava com o meu amigo. Tanto o amor por ela quanto o ódio por ele permaneciam platônicos até o fim do ano.

Restava-me suportar conviver com os pombinhos como se eu fosse padrinho de namoro, como se eu tivesse dado a bênção. Eu me queimava na própria vela que segurava. E como doía a chama sufocada do peito. São queimaduras incuráveis por dentro da pele. _ É a síndrome de Cyrano de Bergerac, o narigudo que escrevia cartas de amor para quem amava em nome de um outro mais bonito

CARPINEJAR

29 DE JUNHO DE 2024
COM A PALAVRA

COM A PALAVRA

O senhor foi rápido ao descartar adiamento das eleições no RS. Por quê?

Quais foram as perdas da Justiça Eleitoral?

Algumas seções vão ser realocadas, principalmente na região do Vale do Taquari. Ali tínhamos, por exemplo, quatro seções num mesmo colégio e o colégio foi dizimado. Ainda não sabemos quantas seções serão transferidas.

O senhor acredita que existe risco de evasão de mesários?

E quanto ao risco de abstenção alta no pleito?

Dia 1º de julho darei posse ao comitê, constituído por sete servidores e presidido por um magistrado. Vai funcionar como um grande guarda-chuva de proteção, um observatório das decisões de todos os tribunais do país sobre fraude à cota do gênero. Terá o papel de passar subsídios para os magistrados e de orientar partidos e candidatos de que não basta cumprir a cota de 30% e não dar condições de participar ativamente. Já tivemos caso, nesse tribunal, de cassação por inobservância à cota do gênero.

Acho que vai envolver um todo, mas principalmente como vamos nos comportar, daqui para diante, em termos preventivos. Temos de desenvolver uma atividade educacional para mostrar a importância do voto. O voto muda os destinos de um país. Um gestor pode modificar uma cidade. Para o bem ou para o mal. A gente sempre espera que seja para o bem.

O senhor é a favor do financiamento público de campanhas (as doações de empresas foram proibidas pelo Supremo Tribunal Federal em 2015)? Ficou mais fácil fiscalizar os gastos eleitorais com o financiamento público?

Temos aqui no tribunal um comitê de combate à desinformação, presidido por um ex-presidente, o desembargador Jorge Luiz Dallagnol. Toda vez que chega alguma coisa, as providências são encaminhadas para o promotor eleitoral, lá na ponta, submeter ao juiz eleitoral. Há também um debate muito grande que estamos fazendo, reunindo partidos, candidatos, temos seminários de orientação para que ninguém possa dizer que não sabia.

O senhor teme uma escalada de sofisticação da IA que facilite a disseminação de mentiras na eleição nacional?

A liberdade de expressão tem limites na medida em que visa agredir alguém. Isso é bom para todos e já foi, inclusive, decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Se isso acontecer, não há a menor dúvida de que as medidas vão ser adotadas. Todo o sistema eleitoral está muito preparado para isso e muito treinado para coibir fake news.


29 DE JUNHO DE 2024
EDITORIAL

Sem prejuízo ao reconhecimento do papel recente do Supremo Tribunal Federal (STF) na guarda da democracia, é dever voltar a apontar a reiteração de distorções como a invasão de competências e iniciativas inadequadas de membros da Corte. Mais autocontenção e recato fariam bem à própria instituição.

O mais recente episódio de usurpação de funções se deu com o julgamento no STF sobre a descriminalização do porte de maconha e a fixação de 40 gramas como o limite para diferenciar usuários de traficantes. Reacende-se um atrito desnecessário com o Congresso, poder que detém a legitimidade de legislar, concorde-se ou não com o caminho percorrido por deputados e senadores acerca do tema.

O Senado aprovou em abril a chamada PEC das Drogas e, na quarta-feira, em reação ao movimento do Supremo, a Câmara instalou comissão especial para analisar o texto. A PEC considera crime o porte de quaisquer substâncias ilícitas, inclusive a maconha, mas prevê que usuário não será penalizado com o encarceramento. Repete a Lei Antidrogas, de 2006. Pode-se argumentar, com razão, que a emenda à Constituição em análise deixa a desejar na falta de uma diferenciação objetiva entre usuários e traficantes. Isso leva a uma discricionariedade que, ao longo do tempo, tem causado mais prisões de jovens negros e de periferias. Mas preencher esta lacuna é papel do Congresso, eleito pelo povo. Cabe à sociedade pressionar pelo aperfeiçoamento.

Em meio ao voluntarismo do STF, surgiu um clarão de sensatez emanado do ministro Luiz Fux. Ele lembrou que, em regra, é o parlamento que trata do assunto em outros países. Referiu "vozes mais ou menos nítidas e intensas de que o Poder Judiciário estaria se ocupando de atribuições próprias dos canais de legítima expressão da vontade popular, reservadas apenas aos poderes integrados por mandatários eleitos". E completou: "Nós não somos juízes eleitos. O Brasil não tem governo de juízes". No mesmo dia, o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, admitiu que a última palavra sobre a matéria deve ficar com o Congresso.

Também depõe contra a imagem da Corte o evento anual realizado em Portugal, chamado Fórum Jurídico de Lisboa. O encontro é organizado pelo IDP, faculdade de propriedade do ministro Gilmar Mendes. Altas autoridades do Executivo, do Congresso, do Judiciário e grandes empresários atravessam o Atlântico para discutir problemas do Brasil. Neste ano, apenas de órgãos públicos é uma caravana estimada em 160 pessoas. Parte tem a viagem custeada pelos contribuintes, mostram portais de transparência. Mas ainda hoje não há clareza sobre quem paga passagens e estadia de alguns convidados.

A edição de 2024 começou na quarta-feira e se encerrou ontem. Participaram como palestrantes representantes de 12 grandes companhias com ações no STF. Alguns desses processos são relatados por Gilmar Mendes. Abre-se grande espaço para se perguntar se não há conflito de interesses. Os maiores interessados em não abrir brechas para a imparcialidade de suas decisões ser questionada deveriam ser o próprio STF e seus membros. _ O mais recente episódio de usurpação de funções foi o julgamento no STF sobre descriminalização do porte de maconha

EDITORIAL

29 DE JUNHO DE 2024
CAMPO E LAVOURA

Safra maior, área menor para o trigo no RS

Conforme o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera, antes mesmo do evento, havia uma redução de área estimada, envolvendo outros fatores como preço, risco de produção e disponibilidade de sementes. A enxurrada, no entanto, acentuou o recuo.

Canola avança com força

As condições climáticas para o ciclo atual devem favorecer o desenvolvimento de todas as culturas de inverno que podem superar 5,2 milhões de toneladas. A previsão é de um inverno dentro da normalidade. A produção de trigo está projetada em 4,07 milhões de toneladas, alta de 55,2%.

- Embora o risco climático tende a ser menor, há a questão do mercado, com preço baixo, e do seguro. E um fator de disponibilidade de boas sementes, o que traz um custo maior - pondera Baldissera.

Prognósticos apontam ainda ocorrência de La Niña, e a transição para o fenômeno tende a ser brusca, alerta o meteorologista da Secretaria da Agricultura e coordenador do Simagro, Flávio Varone. Condição que pode trazer geada tardia, exigindo cuidados dos agricultores. Também se espera redução no volume de chuva a partir de agosto e setembro.

Com avanço ano a ano, a canola deve praticamente dobrar a produção, e a área, crescer 75%. Segundo o diretor técnico da Emater, trata-se de produto promissor em rentabilidade e que pode estar entrando em áreas dedicadas ao trigo. _

*Colaborou Bruna Oliveira - GISELE LOEBLEIN

 29 DE JUNHO DE 2024

ACERTO DAS (TUAS) CONTAS - Giane Guerra

Os impactos da enchente nos seguros

Por incrível que pareça, considerando o tamanho do estrago que a enchente fez no patrimônio dos gaúchos, a coluna tem recebido menos reclamações sobre indenização de seguros agora do que na cheia do Vale do Taquari em 2023. Ao que tudo indica, há sensibilização das seguradoras para facilitar o pagamento aos clientes, que já enfrentam tantas mazelas da tragédia. O dinheiro da perda total de carros, por exemplo, está garantindo a venda do mês das redes de concessionárias.

Cleverson Veroneze, diretor do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (Sindseg RS), esclarece que veículos não precisam ter cláusula específica de alagamento para terem direito à indenização. Já residências e empresas precisam. Muitas, porém, não tinham a previsão para este sinistro. Veroneze sugere até uma revisão do contrato para prever alagamentos futuros, o que, porém, eleva o preço.

Jorge Kath, professor da Escola Nacional de Seguros, pondera que muitas seguradoras não oferecem cobertura de alagamento para ninguém ou bloqueiam CEPs de áreas de risco. Quando cobrem, o custo sobe. Kath cita um cliente que a cláusula quadruplicou o seguro para sua residência em Eldorado do Sul, a cidade mais atingida da Região Metropolitana.

Risco de quebra

Com o valor altíssimo de indenizações pleiteadas, surge a dúvida se há risco de as seguradoras quebrarem. O diretor Cleverson Veroneze rechaça esta possibilidade, dizendo que elas têm reserva técnica e que o setor é supervisionado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), uma autarquia federal.

Alta generalizada

Os preços de alguns seguros já subiram, conforme relatos à coluna. Veroneze, porém, diz que não será disseminado para todos os gaúchos, pois o valor é diluído por todo o país. O seguro nada mais é do que a divisão da conta de um risco que todos têm. Quando um cliente tem problema, o custo para resolvê-lo é bancado pelo pagamento feito pelos demais segurados. Outro movimento é mais pessoas optarem por ter seguro, elevando o faturamento das seguradoras para cobrir mais sinistros e evitando reajuste individual forte. _

Seguros funcionam de forma colaborativa. A gente não paga o pato sozinho.

Cleverson Veroneze - Diretor do Sindseg, sobre o risco de os preços de seguros dispararem após a tragédia no Rio Grande do Sul.

Consumidor verde

Ainda levo as mercadorias nas tradicionais sacolas de plástico, que depois são usadas nas lixeiras de casa. Porém, estou avaliando outras opções e aceito sugestões! _

Entrevista Luiz Rabi - Economista da Serasa Experian

"Birôs não negativaram consumidores"

Queda artificial

Existe também o esforço do consumidor para limpar o nome e ter acesso a crédito novo para compras. As pessoas querem repor o que perderam, de eletrodomésticos a móveis e material de construção.

Aos leitores com abstinência das compras na gigante do comércio eletrônico, a Amazon informa que retomou as entregas a 100% dos CEPs do Rio Grande do Sul. Todos os produtos enviados pela empresa, inclusive, estão com frete grátis. O tempo de recebimento das compras, porém, segue bem acima do normal. O centro de distribuição de Nova Santa Rita ficou fora de operação e outras unidades logísticas estão "quebrando o galho" para atender o consumidor gaúcho.

compras na amazon

Notificação dos dois salários

A partir de quarta-feira, trabalhadores serão notificados pelo aplicativo da Carteira de Trabalho Digital sobre o pagamento dos dois salários mínimos por funcionário de empresas atingidas pela enchente e habilitadas no programa do governo federal para manutenção dos empregos.

Os trabalhadores receberão o valor em conta da Caixa Econômica Federal nos dias 8 de julho e 5 de agosto, enquanto os empregadores complementarão o salário na folha normal. O prazo para empresas aderirem foi ampliado pelo Ministério do Trabalho até 12 de julho, mas, no caso das que se atrasaram, a primeira parcela será paga ao empregado em 22 de julho.

A contrapartida é manter os empregos por quatro meses. _

guilherme.jacques@rdgaucha.com.br | guilherme.goncalves@zerohora.com.br

com Guilherme Jacques e Guilherme Gonçalves

ACERTO DAS (TUAS) CONTAS

29 DE JUNHO DE 2024
MERCADO DE TRABALHO

MERCADO DE TRABALHO

Região Metropolitana, Serra e vales do Sinos e do Taquari concentram maior número de destruição de empregos com carteira assinada em maio no Estado. Porto Alegre e Canoas somam quase 18% dos 22,2 mil postos perdidos no mês passado. Indústria e comércio são os ramos mais atingidos

A coordenadora da graduação em Ciências Econômicas da Unisinos, Camila Flores Orth, afirma que a área de inundação e o peso dessas cidades no mercado de trabalho ajudam a explicar o potencial de dano:

- As regiões que foram atingidas nessas cidades são de centro, justamente onde o comércio e os serviços são muito fortes. Principalmente pequenos estabelecimentos. Essas pessoas, muitas vezes, não têm o fluxo de caixa necessário para aguentar esse período todo de inundação.

Vacaria, na Serra, ocupa a terceira colocação no fechamento de vagas. No entanto, o município costuma registrar alta nos desligamentos nessa época do ano em razão da desmobilização na safra da maçã.

Na sequência, aparecem Gramado, prejudicada pelo freio no turismo, e Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, praticamente isoladas durante semanas em razão de bloqueios causados pelo aguaceiro na RS-287 e que também contam com arrefecimento na indústria do tabaco nessa época do ano.

- Gramado, nesse tempo, que era tipicamente para estar contratando pessoas em virtude da alta temporada, demitiu mais de 900 pessoas - destacou a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.

Na avaliação da profissional, o atraso das medidas de caráter de preservação do emprego por parte do governo federal tem peso no resultado ruim de maio.

Histórico

No entanto, o saldo negativo de maio no RS veio muito acima da média do observado em um passado recente e generalizado entre os grandes ramos da economia. Para efeito de comparação, em maio de 2023, foram fechados 2.270 postos - quase 10 vezes menos do que o volume observado no mês passado.

Patrícia afirma que o cenário de destruição de empregos não vai ficar concentrado a maio:

- A gente deve observar nos próximos meses ainda os efeitos decorrentes de todas as chuvas e todos os deslizamentos e enxurradas. _

A taxa de desocupação no trimestre encerrado em maio ficou em 7,1%, alcançando o menor patamar para o período desde 2014. O índice representa recuo em relação ao trimestre móvel anterior, terminado em fevereiro, quando marcou 7,8%. Além disso, fica abaixo do nível registrado em igual período de 2023, de 8,3%.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) foram divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento aponta que, em maio, a população desocupada (pessoas com 14 anos ou mais de idade que não tinham trabalho e procuravam emprego) era de 7,8 milhões. Isso representa diminuição de 751 mil pessoas em relação ao trimestre encerrado em fevereiro de 2024.

A Pnad apura todas as formas de ocupação, seja emprego com ou sem carteira assinada, temporário e por conta própria, por exemplo. A população ocupada chegou a 101,3 milhões de pessoas, recorde da série histórica feita pelo IBGE.

Segundo a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, "o crescimento contínuo da população ocupada tem sido impulsionado pela expansão dos empregados, tanto no segmento formal quanto no informal. Isso mostra que diversas atividades econômicas vêm registrando tendência de aumento de seus contingentes". Para ilustrar a avaliação, o número de empregados com carteira assinada (38,3 milhões) foi recorde.

- Esse recorde não acontece de uma hora para outra. É fruto de expansões a cada trimestre - diz Adriana.

Rendimento médio

O contingente de empregados sem carteira assinada também foi o maior já registrado (13,7 milhões).

O rendimento médio do trabalhador no trimestre fechado em maio ficou em R$ 3.181, quase estável em relação ao trimestre anterior (R$ 3.161). _

ANDERSON AIRES

29 DE JUNHO DE 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

INFORME ESPECIAL

Bem perto do fim da linha

O primeiro debate da corrida eleitoral americana de 2024 eletrizou a campanha. Não exatamente pela qualidade dos debatedores, mas principalmente pela debilidade dos dois - do ponto de vista físico e moral. Nem Joe Biden nem Donald Trump têm condições de comandar a mais tradicional democracia do planeta e maior potência militar do mundo, os Estados Unidos da América.

Biden foi mais do que sonolento - uma acusação que Trump costuma fazer ao adversário. O democrata foi vacilante e confuso, exibindo fragilidades que nem os maiores inimigos do atual presidente imaginavam. Ele abriu o flanco para Trump em diversas ocasiões. O republicano foi firme, assertivo, mas distorceu fatos de forma descarada.

O formato do debate, no qual os mediadores não contestavam as afirmações dos candidatos, abriu caminho para Trump repetir seu tradicional roteiro de "fake news".

Diferentemente dos outros encontros, desta vez, os microfones ficaram fechados cada vez que o adversário falava. Isso poupou os espectadores de mais frases vergonhosas. Mas não ajudou muito, porque temas importantes, como a inflação, a migração, a política externa, o aborto, foram substituídos por acusações mútuas - de frases de baixo calão ou que beiram a infantilidade, como o momento em que Biden e Trump ficaram discutindo quem seria melhor no golfe, ou o cômico, quando o republicano "jurou", literalmente, não ter feito sexo com uma atriz pornô - ele foi condenado criminalmente por um tribunal de Nova York recentemente por ter subornado Stormy Daniels em troca de seu silêncio.

Em um dos momentos mais duros do duelo, Trump disse que Biden tinha "sangue nas mãos" por "afrouxar as fronteiras" e deixar "terroristas, inclusive da América do Sul" entrar no país e matar cidadãos americanos. O atual presidente, com voz rouca (a Casa Branca informou durante o debate que ele estaria resfriado), disse que aumentou a segurança nas fronteiras.

Na defensiva o tempo inteiro, Biden não conseguiu convencer a ponto de, mais para a metade do debate, seus correligionários começarem a trocar mensagens internas provocando a ideia de possível mudança de nome para a disputa até a convenção. Talvez não haja tempo suficiente. Talvez não seja nem possível dizer que ele não pode concorrer.

O fato é que, independentemente da decisão, Biden perdeu a eleição nesta quinta-feira, 27 de junho. E os democratas deverão deixar a Casa Branca em novembro de 2024. _

Humilhação nas filas

Na sexta-feira, em São Leopoldo, mais de cem pessoas aguardavam desde a madrugada. A prefeitura diz que a demora deve-se ao fato de o governo do Estado ter escolhido o Cadastro Único (CadÚnico) como porta de entrada para receber o benefício. Por outro lado, o Palácio Piratini afirma que o sistema é o mais seguro e confiável, utilizado em outros programas sociais.

Ora, autoridades, no auge da crise, prometeram que não haveria burocracia, disseram que garantiriam flexibilização de regras para que o dinheiro chegasse na ponta, com a urgência de que as pessoas precisam.

Estamos vendo o contrário. Os gaúchos - que foram drasticamente afetados na enchente - estão sendo penalizados duas vezes: perderam tudo no desastre e, agora, precisam passar frio e viver a angústia de não ter certeza se irão receber o recurso que lhes é de direito. É humilhação. _

Papagaios na área urbana da Capital

Uma cena tem se tornado frequente na área urbana de Porto Alegre: animais silvestres ocupando o espaço verde na Capital. Além das caturritas, que sobrevoam vários bairros, agora papagaios são avistados, como foi registrado na foto pelo leitor Alisson Laschuk, no Auxiliadora. Os animais voam em bando e se alimentam nos galhos de um ipê roxo.

Glayson Bencke, ornitólogo, especialista em aves, do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), explica que a maioria das espécies pode ser de duas origens: soltas de cativeiro ou em liberdade, que nasceram já no ambiente externo.

- Estão restritas à zona urbana, dificilmente são encontradas em zonas rurais de Porto Alegre - explicou. - São de cativeiro e também formam população à medida que vão se renovando no ambiente urbano.

Esse tipo de ave tem como característica o fato de viver em casal que se mantém unido a vida toda. Na procura por alimentos, como é o exemplo da foto, formam o bando.

Segundo Bencke, o papagaio, apesar de estar em ambiente urbano, é um animal que não mantém contato com os humanos, diferentemente dos pombos. Com isso, não há risco à saúde da população. Caso você veja uma dessas aves, não há o que fazer, apenas deixá-la viver em um habitat que um dia já foi, preponderantemente, dela. _

Enchente pautará eleição municipal

Na última quinta-feira, o pré-candidato pelo União Brasil, deputado estadual Thiago Duarte, afirmou que "houve uma precarização do serviço do departamento ao longo das duas últimas gestões da prefeitura":

- Das 20 casas de bombas, mais de 10 não funcionaram. Alguns diques romperam. Isso mostra que a prefeitura negligenciou o cuidado com o sistema de proteção da cidade. Negligenciou propositalmente.

Na sexta-feira, foi a vez da pré-candidata e deputada federal Maria do Rosário (PT) criticar os protocolos adotados durante a enchente de maio. Segundo ela, houve leniência da atual gestão em termos de manutenção e dificuldade de articulação:

- As bombas não funcionaram, e administração municipal não tinha nem consciência de como estavam o estado das bombas.

As declarações foram feitas durante sabatinas realizadas pela Folha de S.Paulo e o portal UOL.

Segundo o jornal, Melo optou por não participar das entrevistas. 

sábado, 22 de junho de 2024

Gol anuncia mais voos em Canoas, Caxias do Sul e Pelotas

Gol vai passar de nove para 13 voos semanais na Base de Canoas, alternativa ao Salgado Filho
Gol vai passar de nove para 13 voos semanais na Base de Canoas, alternativa ao Salgado Filho

Depois de Azul e Latam, agora é a vez da Gol ampliar seus voos na Base Aérea de Canoas (Baco), que virou alternativa ao fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. O complexo está fora de operação desde 3 de maio, ainda sem data certa para retornar novos voos da Gol na Baco começam em 15 de julho. Além disso, a aérea informou, nesta quinta-feira (20), que ofertará mais voos em Caxias do Sul e Pelotas.

A frequência da aérea na cidade da Região Metropolitana vai passar dos atuais nove voos semanais diretos, que estrearam em 1º de junho, para 13 voos semanais. Serão quatro novas operações de ida e volta ligando Canoas ao Aeroporto de Congonhas na capital paulista. Até agora, os voos são para o Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Os voos na Baco passam a usar a janela noturna, autorizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que também possibilitou a expansão das outras duas concorrentes. A Gol vai voar às terças, quartas, quintas e aos domingos entre Congonhas e Canoas, com partida de São Paulo às 17h35min e decolagem da cidade gaúcha, às 19h05min.

Latam amplia a operação em 30 de junho, com mais quatro voos semanais (oito ida e volta), e a Azul entra com o terceiro voo em 1º de julho, com mais quatro voos na semana, oito nos dis sentidos. No total, as três empresas terão 12 voos semanais a mais (24 considerando so dois sentidos).

Os embarques estão ocorrendo no terminal provisório montado no ParkCanoas Shopping. Os passageiros fazem o check-in no local e depois são levados de ônibus até a Baco. A orientação é que as pessoas cheguem três horas antes da decolagem.

Anac autorizou até 10 voos diários na Baco. Com as expansões anunciadas, ainda não se chega no teto e também não se tem mesmo número diariamente. Com isso, Canoas supre pequena parte do fluxo do Salgado Filho, que era de uma média de 140 a 150 voos diários.

Sobre o retorno do complexo da Capital, concessionária Fraport Brasil e governo federal falaram até agora em prazo até fim de dezembro. Mas a reabertura depende de diagnóstico da Fraport, prometido até meados de julho, e recomposição da pista e de equipamentos.

A expansão da operação da Gol no aeroporto de Caxias do Sul começa em agosto. De um voo diário para Congonhas, a aérea vai adicionar dois voos. A partir de 5 de agosto, entra a segunda ligação, e, no dia 12, a terceira frequência, segundo a companhia.
Em Pelotas, a Gol eleva em junho ainda a frequência de três para quatro voos semanais no Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto. De agosto até o fim de outubro, a frequência passará a seis dias, de domingo a sexta, com ligação para Guarulhos.
"O aumento da oferta de voos é de extrema importância para o resgate da força logística no Rio Grande do Sul. Os novos voos serão também cruciais para o incremento do transporte de cargas", destaca, em nota, Rafael Araújo, diretor executivo de Planejamento da Gol.
As operações nas três cidades são feitas com Boeing 737, com capacidade para 186 passageiros. A venda de passagens já está sendo feita, diz a Gol.

 Anatomia da depressão

questões incendiárias

questões incendiárias - Jaime Cimenti

Pessoas e instituições público e privadas estão envolvidas com o tema, em muitos países. O Demônio do Meio-Dia (Companhia das Letras, 584 páginas, R$ 57,00), de Andrew Solomon, norte-americano, professor da Columbia University Medical Center e consultor de saúde mental da Yale, lançado em 2000, segue referência no assunto e tem sido editado no Brasil com tradução de Myriam Campello.

Pela sua amplitude temática e pela forma e conteúdo, a obra é um verdadeiro tratado sobre um mal que, em priscas eras, era visto apenas como melancolia e não era objeto de estudos aprofundados. A obra de Solomon foi eleita como um dos cem melhores livros da década de 2000 pelo jornal britânico The Times, venceu o National Book Award , foi finalista do prestigiado Prêmio Pulitzer e tornou-se best-seller internacional, publicada em mais de vinte línguas.
A partir de suas memórias pessoais, inúmeras entrevistas e de muitos estudos e leituras, Solomon convida, com rara humanidade, humildade, sabedoria e erudição, os leitores a uma jornada sem precedentes pelos meandros de um dos assuntos mais espinhosos, significativos e complexos de nossa atualidade. É uma leitura obrigatória para quem sofre ou conhece alguém que sofre de depressão.

Solomon fala de tratamentos, de medicações, de tratamentos alternativos e do impacto da doença nas várias populações demográficas. Solomon ensina sobre as implicações históricas, sociais, biológicas, químicas e médicas da depressão. A obra é abrangente, corajosa, humana, plena de compaixão e importante nesses momentos de tantas crises pessoais e coletivas.
Lançamentos
Escola da complexidade - Escola da Diversidade - Pedagogia da Comunicação (L&PM Editores, 256 páginas, R$ 32,00), do professor universitário, jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, fala do lugar da escola num mundo de mudanças, imagens, algoritmos, diferenças e inteligência artificial. Horizontalidade, liberdade, complexidade e diversidade estão aí.

A coragem de ser quem você é (mesmo não goste tanto disso) (Editora Planeta- Academia, 208 páginas, R$ 57,00), de Walter Riso, italiano, psicólogo e autor de livros de sucesso, é um livro para rebeldes que amam sua individualidade e pretendem exercê-la com liberdade e plenitude.

Questões incendiárias - Ensaios e outros escritos (Editora Rocco, 576 páginas, R$ 134,00), de Margaret Atwood, celebrada e premiada escritora, poeta, crítica literária e ensaísta canadense, apresenta uma série de ensaios sobre temas como: porque as pessoas contam histórias, quanto você e eu podemos nos doar sem sumir, como podemos viver no planeta, o que é a verdade e o justo e o que tem a ver zumbis com autoritarismo.

Acabou o pavio

Sim, pode acreditar, houve um tempo em que algumas pessoas tinham o famoso "pavio curto", eram chamadas de estouradas, esquentadas e sangue quente. Dizem que eram algumas, não muitas, as tais pessoas, que não tinham paciência para aguentar conversas, desaforos e outras coisas que não gostassem nos outros. "Não levo desaforo para casa", "dou um boi para não entrar numa briga e dou uma boiada para não sair dela", "quem diz o que quer, ouve o que não quer" eram algumas máximas dos esquentadinhos.
Hoje quase todo mundo parece ou é mesmo esquentadinho. Todo mundo com os nervos para fora da pele. Antes era nervos à flor da pele. Uma vez Hassan Rohani, na época presidente do Irã, foi à Itália. Os italianos, para não se estressarem mais do que o normal e, quem sabe, fazerem negócios de bilhões com o Irã, cobriram com caixas brancas estátuas de deuses gregos, romanos e nus femininos. Rohani poderia se ofender com os marmóreos genitais... Brillat Savarin disse que, quando a gente recebe alguém, deve fazer tudo para o convidado se sentir feliz em nossos domínios. Será que os gringos estavam certos? Interesseiros? Jeitosos? Ou será que se humilharam? Você decide.
Já em Paris, certa ocasião, estava marcado um almoço com o presidente da França e o presidente Hassan. Os iranianos disseram que não podia aparecer vinho ou outra bebida alcoólica na mesa. Dizem que os franceses são os italianos mal-humorados. Pode ser brincadeira ou estereótipo, mas si non é vero, é bem trovato. Imagina não pintar um vinhozinho em Paris, onde até uma loja do McDonald's teve que abrir exceção e servir vinho. Os franceses cancelaram o almoço abstêmio. E aí? Estavam certos? Deveriam ter tomado refri e água com os trilionários ou, quem sabe, poderiam ter tomado o vinho escondido no banheiro ou na cozinha. O lance não ficou legal. Os franceses podem ter perdido um baita negócio e os iranianos não degustaram as iguarias que os italianos ensinaram os franceses a fazer, há uns séculos atrás, quando Maria Antonieta reclamou da comida e mandou chamar uns chefs lá da Bota.
Esses tempos, uma mulher xingou feio um senhor no Big Brother porque ele estava dormindo de cuecas, na cama, ao lado dela. Pavio curto? Ou nenhum pavio? Depois os dois se desculparam e deram assunto para o antigo programa matinal da Fátima Bernardes. Ele ameaçou processar a esquentadinha.
Todo mundo anda falando tudo, toda hora, em qualquer lugar, bem alto. Aquela coisa de falar um por vez - quando um burro fala o outro murcha as orelhas - dançou. Aquela regra de ficar a um metro de distância dos outros, não ficou. Falar baixo, agir com delicadeza, anda escasso. Tomo mundo quer ter "atitude", e tipo assim, atitude nova-iorquina, bem cheguei, bem trio elétrico, patrola. Para que esperar o outro terminar de falar? Para que pensar que a vingança é um prato que se come frio? Hoje a galera quer comer o fígado do inimigo bem quentinho, na horinha.
A propósito
Antigamente havia manuais de boas maneiras. Célia Ribeiro, Danuza Leão, entre outras, escreveram livros sobre conviver em sociedade e alguns foram best-sellers. Estão fora de moda. Algumas regras e dicas permaneceram, mas, no geral, as pessoas se comportam como bem entendem. Sim, não há sociedades sem regras, mas ultimamente há falta de regras em quase todos os setores, públicos e privados. A vida é curta, passa rápido, melhor entender que somos anjos de uma asa só, que dependemos dos outros para voar. Quando encontramos com alguém, é bom sair melhor do que quando chegamos. Não perca, não encurte seu pavio, aumente-o. Conte até mil. Será melhor para vocês e para o mundo. 
(Jaime Cimenti)

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