sábado, 15 de junho de 2024


15 DE JUNHO DE 2024
CAMINHO DA RESILIÊNCIA

Como a infraestrutura do Estado pode ser mais resistente a desastres

Especialistas apontam medidas para evitar que estradas e travessias sucumbam diante de fenômenos climáticos extremos

Com mais de 400 trechos rodoviários atingidos pelo desastre de maio, o Rio Grande do Sul começa a recuperar a infraestrutura danificada. Especialistas em obras públicas analisam as providências para que a reconstrução de pontes e estradas considere a nova realidade climática para tornar as estruturas mais resistentes.

Entre engenheiros, é consenso que o primeiro passo para a reconstrução resiliente é incorporar os dados da enchente de maio nas médias históricas de vazão de rios e de volume de chuvas. Em muitos lugares, o nível alcançado pela água também passará a ser o referencial histórico para as obras, em um parâmetro chamado oficialmente de período de retorno. Esse indicador aponta qual o intervalo estimado de ocorrência do maior fenômeno natural registrado na região em que a obra é executada.

- As últimas chuvas elevaram a estatística. Se para uma região o máximo era de 100mm de chuva, agora é de 130mm - explica Rafael Sacchi, presidente do Sicepot-RS, entidade que representa as empresas da construção pesada.

No final de maio, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS emitiu uma nota técnica recomendando que projetos de infraestrutura de grande porte sejam "adaptáveis e flexíveis", de forma que, conforme a necessidade, uma ponte possa ser alargada ou a cota de uma barragem ser ampliada.

Histórico

O documento também sugere que esses projetos considerem a maior cheia do histórico, independentemente do período de retorno adotado.

- Cada projeto foi feito em sua época, com dados pluviométricos de comportamento de rios e cheias existentes. Os projetos não estavam errados, mas agora temos outros dados - pondera a engenheira Nanci Walter, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RS).

Para o engenheiro e consultor Luiz Afonso Senna, que foi coordenador do Plano Estadual de Logística e Transportes, a revisão dos estudos implicará na necessidade de elevação da altura de pontes e rodovias para suportar volumes de água crescentes:

- Estamos falando de trechos, não de uma rodovia inteira. Em alguns casos, cinco ou 10 quilômetros, ou até menos que isso.

De acordo com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), os novos editais lançados pelo Estado para a reconstrução de pontes já contemplam as recomendações feitas na nota técnica do IPH. Além disso, preveem que as estruturas sejam erguidas ao menos 1,5 metro acima do ponto máximo em que a cheia pode chegar.

A elevação de pontes também está sendo adotada em obras federais, contratadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). É o caso da ponte sobre o Rio Caí entre Caxias do Sul e Nova Petrópolis, na BR-116, que teve o pilar central deslocado pela correnteza. A nova estrutura será um metro mais alta que a anterior, terá 180 metros de extensão e 13 de largura e foi concebida sem pilar central, para aliviar a pressão da água. A ponte antiga tinha 145 metros de extensão e oito de largura.

PAULO EGÍDIO

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