sábado, 8 de março de 2025


PIB avança 3,4%, mas desacelera no quarto trimestre

Alta em 2024 foi puxada por forte avanço no consumo das famílias e pelos setores dos serviços e da indústria. Porém, de setembro a dezembro, a atividade ficou próxima da estabilidade. E há sinais de menor fôlego em 2025, em meio ao aumento dos juros e à inflação persistente

A economia brasileira cresceu 3,4% em 2024, a maior expansão desde 2021. Ao mesmo tempo, deu sinais de desaceleração no quarto trimestre, quando o avanço foi de 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Os dados foram divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o IBGE, o PIB (conjunto de bens e serviços produzidos no país) chegou a R$ 11,7 trilhões no ano passado. Pelo lado da produção, os setores de serviços e indústria empurraram a atividade econômica para cima, com altas de 3,7% e 3,3%, respectivamente, na comparação com 2023. Por outro lado, a agropecuária apresentou recuo de 3,2%.

Três segmentos foram responsáveis por cerca da metade do crescimento do PIB em 2024: outras atividades de serviços, indústria de transformação e comércio.

Investimentos

Pela ótica da demanda, o destaque foi o consumo das famílias, com expansão de 4,8%. De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a explicação está ligada à disponibilidade de renda para a população.

- Tivemos uma conjunção positiva, como os programas de transferência de renda do governo, a continuação da melhoria do mercado de trabalho e os juros que foram, em média, mais baixos que em 2023 - analisa.

O Brasil terminou 2024 com taxa de desemprego de 6,6%, a menor já registrada. Segundo o IBGE, a taxa básica de juro (Selic) média do ano passado ficou em 10,9% ao ano (a.a.), contra 13% a.a. em 2023.

Outro destaque foi a formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos, com crescimento de 7,3%. Embora seja uma alta superior ao consumo das famílias, tem peso menor no cálculo do PIB.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou resultado do PIB, embora o número tenha sido menor do que ele próprio previa. Lula falou em diversos discursos recentes que a economia brasileira se expandiria 3,8%.

Mais tarde, em cerimônia de entregas e anúncios para a reforma agrária em Minas Gerais, Lula afirmou que em 2025 "vai crescer mais o PIB, o salário mínimo, a renda, a distribuição de terras, a distribuição de terras para indígenas, vai aumentar mais a produção de emprego".

Perto da estabilidade

No quarto trimestre, especificamente, a economia se expandiu 0,2%, próximo da estabilidade. Para Palis, um dos motivos de o país não ter crescido mais nos últimos três meses do ano foi a inflação e a alta dos juros - medida do Banco Central para combater o aumento de preços, porém com efeito de freio na atividade econômica.

- No quarto trimestre de 2024, o que chama atenção é que o PIB ficou praticamente estável, com crescimento nos investimentos, mas com queda no consumo das famílias. Isso porque tivemos um pouco de aceleração da inflação, principalmente a de alimentos. E os juros começaram a subir em setembro do ano passado, o que já impactou no quarto trimestre - explica Rebeca. _

Em um ritmo menor em 2025 - Vinicius Coimbra

Inflação, crédito caro e incertezas na economia global devem ser os responsáveis por um PIB menor em 2025, apontam especialistas. O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, aponta que o resultado da atividade econômica no ano passado se deu sobre forte aumento do consumo das famílias, pelos impulsos fiscais, "o que torna o modelo de crescimento insustentável e com efeitos colaterais indesejáveis, como a crescente inflação que observamos".

Segundo Oscar Frank Junior, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, a desaceleração observada no quarto trimestre, incertezas quanto à política econômica global, com destaque para a atuação do presidente dos EUA, Donald Trump, tendem a prejudicar o crescimento brasileiro em 2025.

- Ambientes de volatilidade tornam mais difícil antever o futuro. Com menor previsibilidade, os agentes econômicos naturalmente se retraem em suas decisões - argumenta Frank Junior.

Dados do início deste ano alertam para um cenário de dificuldades. Frank Junior cita a queda, em fevereiro, do Índice de Confiança do Consumidor (ICC), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que apresentou o menor patamar desde agosto de 2022. Outro indicativo ruim foi o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de janeiro, que caiu para 47,6 pontos após 51,6 em dezembro, resultado que indica a primeira contração desde setembro de 2023.

- Não imagino que a economia brasileira entre em recessão no primeiro semestre. Teremos a contabilização da safra de grãos, que deve ser boa e contribuir para o resultado do setor primário e transbordar para outros segmentos da indústria e serviços. Mas os setores secundário e terciário vão sofrer as consequências do cenário que estamos inseridos. A incógnita é para o segundo semestre, em que poderemos entrar em recessão técnica. Devemos crescer bem menos que em 2023 e 2024 - acrescenta o economista-chefe da CDL de Porto Alegre. 

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