sábado, 1 de fevereiro de 2020



01 DE FEVEREIRO DE 2020
DRAUZIO VARELLA

SONO E AVC

DORMIR POUCO É UM PROBLEMA, MAS O CONTRÁRIO TAMBÉM É VERDADEIRO, INDICAM PESQUISAS EM EUA E CHINA.

Vários estudos mostraram que dormir pouco causa problemas de saúde. As consequências da situação oposta, muitas horas diárias de sono, entretanto, têm recebido pouca atenção.

Na coorte americana Women?s Health Study, que acompanha mais de 160 mil mulheres de 50 a 79 anos, aquelas que, na menopausa, estavam habituadas a dormir nove ou mais horas por noite, tiveram maior probabilidade de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. Na coorte chinesa Kailuan Prospective Study, mulheres que dormiam mais de oito horas por noite correram mais risco de AVC hemorrágico, relação que não se repetiu com os homens. Raros estudos avaliaram as implicações da duração de sono diurno nas doenças cardiovasculares. Um dos únicos que analisaram as consequências desse hábito foi conduzido entre 2 mil chineses de meia-idade. Naqueles que costumavam dormir durante o dia 60 minutos ou mais, o risco de AVC isquêmico quase duplicou.

Agora, um grupo liderado pelo professor Lue Zohe, da Universidade Huazhong, publicou na revista Neurology - uma das mais importantes da especialidade - a análise da relação existente entre a incidência de AVC e o número de horas dormidas nos períodos noturno e diurno pelos 31.750 inscritos da Dong-Feng cohort. O número de participantes dos sexos feminino e masculino foi bem próximo, e a média de idade, 61 anos. Os dados foram colhidos no decorrer de 6,2 anos, em média. Cerca de 8% deles relataram dormir mais de 90 minutos durante o dia, e 24%, mais de nove horas à noite. Durante os seis anos de acompanhamento, ocorreram 1.577 acidentes vasculares cerebrais.

Os participantes com mais de nove horas de sono noturno e mais de 90 minutos de sono diurno apresentaram risco de sofrer AVC 85% mais alto, quando comparados aos que dormiam sete a nove horas à noite, e menos de uma hora no decorrer do dia. Entre os que dormiam de sete a nove horas ao entrar no estudo, mas que passaram a dormir mais de nove horas durante o acompanhamento, o risco aumentou 44%. Foi o primeiro estudo a documentar essa relação.

A associação do número excessivo de horas de sono noturno ou diurno com o risco de AVC foi mais pronunciada depois dos 65 anos de idade e naqueles com hipertensão arterial, diabetes, excesso de peso ou colesterol elevado. Comparados aos que dormem menos de 30 minutos durante o dia, os que o fazem por mais de 90 minutos apresentam risco de AVC 25% mais alto. Não dormir durante o dia ou fazê-lo por 30 minutos a uma hora não aumentou o risco de AVC, na comparação com os que cochilavam apenas de um a 30 minutos.

Embora o estudo mostre uma associação clara entre durações mais prolongadas do sono noturno ou diurno e acidentes vasculares cerebrais, não prova que exista relação de causa e efeito entre esses eventos.

O número excessivo de horas na cama pode refletir estilo de vida mais sedentário e maior probabilidade de desenvolver hipertensão arterial, diabetes ou outros fatores de risco para doenças cardiovasculares.

DRAUZIO VARELLA

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