sábado, 1 de fevereiro de 2020



01 DE FEVEREIRO DE 2020
PASSARINHADA

Olhar para a natureza de Imbé

Para não afugentar os animais, caminhada é feita em silêncio, que é interrompido apenas para as observações do professor.

Os pescoços inclinam-se para cima enquanto os olhos minuciosos fazem uma varredura do amplo terreno ao redor. Entre árvores e galhos, os olhares procuram indícios de algumas aves. Os ouvidos mais treinados conseguem identificar certos cantos. Com a ajuda de binóculos ou de câmeras fotográficas, é possível sentir-se ainda mais próximo dos animais que vivem pelo local.

Tudo isso aconteceu durante a Passarinhada, encontro realizado em janeiro que faz parte da programação de verão 2020 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Litoral. Ao longo da temporada, oficinas e eventos são oferecidos gratuitamente pelo Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), em Imbé.

Antes de se dividirem em grupos, os participantes ouvem explicações sobre geografia, caraterísticas do ambiente onde o Centro está encravado e animais que poderiam ser avistados durante o passeio.

- Tem espécies que só vemos no mato. Outras apenas nas margens da lagoa e outras só no roçado. Vamos ver uma dezena delas nesta caminhada - anuncia Guilherme Tavares Nunes, professor de ornitologia do Campus Litoral Norte da UFRGS.

Abrigando essa diversidade de ambientes - lagoa, mata e gramados abertos -, o Ceclimar já registrou 90 espécies de aves. Para se ter uma ideia, em todo o Rio Grande do Sul, há registro de 704 espécies desses animais.

- Isso quer dizer que aqui temos um pouco mais de 10% das espécies do Estado. Se a gente pensar dessa forma, é uma área interessante para observação de aves - reforça Nunes.

Liberdade

Peculiar, o passeio é dominado pelo silêncio a fim de não afugentar os pássaros. Em tom de voz bem baixo, o professor fala o nome do animal ou mostra uma imagem dele no celular. Os participantes unem-se para ver ou fotografar o bicho. Nesse momento, é possível ouvir somente o canto das aves e os cliques das câmeras. Com o binóculo pendurado no pescoço, o docente sai à frente de um grupo com cerca de 10 pessoas.

Logo na primeira parada, percebe-se a riqueza que o Centro guarda. Atrás de um prédio, dois pavões - embora não sejam da nossa avifauna, estão ali porque faziam parte do minizoo do Centro - caminham livres e tranquilos. Um pouco mais afastado, um lagarto parece não se importar com a presença humana: boceja, estica a língua para fora e sai rastejando pela mata.

No primeiro ponto de observação, o grupo presta atenção na movimentação das árvores. Nunes tira o celular do bolso e reproduz o som de um pássaro. É uma questão de segundos para os visitantes serem agraciados pela companhia dos balança-rabo-de-máscara, pequena ave azul que, como o nome diz, parece estar usando uma máscara preta sobre os olhos e mexe o rabo sem parar.

Sem precisar muito esforço, apenas muita paciência e atenção, é possível visualizar transitando pelos galhos uma porção de beija-flores inquietos. De frente para a lagoa, mais um cenário imperdível para amantes de aves: um "estacionamento de Biguás", brinca Nunes. Paradas sobre paus que ficam dentro d?água, as aves parecem que fazem pose para as lentes.

Presente em diversas regiões, o biguá não é uma ave marinha, diz o professor. Ela pode ser vista no interior, em rios ou açudes, locais onde ela atua como um "submarino" atrás de peixes.

- Os biguás têm várias adaptações. Eles têm patas fortes para fazer a propulsão debaixo da água e cauda grande e rígida para servir de leme - conta o especialista.

CAMILA KOSACHENCO

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