sábado, 6 de junho de 2020


06 DE JUNHO DE 2020
FLÁVIO TAVARES

E DEPOIS?


O inesperado (ou o futuro) está em tudo, até em dobrar a esquina e ver o que ainda não havíamos visto. Assim, este 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, tornou-se em 2020 uma data de angustiosa tristeza.

A covid-19 mostrou a fragilidade humana e, após extinta (sim, esse dia virá!), teremos de nos preparar para uma avalanche ainda mais destrutiva, mas anunciada, há muito, pela ciência - o horror das mudanças climáticas.

A falsa visão de progresso que a sociedade de consumo implantou (em que o dióxido de carbono nos afoga e a cobiça destrói a obra divina da Criação) leva a reivindicar mais hospitais e medicamentos, como na pandemia atual. Não vemos, porém, as causas profundas da tragédia que surge como sina da nossa estupidez.

Neste 5 de junho, a Vigília Climática pela Vida e pela Saúde do Planeta, auspiciada no Rio Grande pelo arcebispo dom Jaime Spengler e pelas ONGs 350 e Ayara, nos fez entender o alerta do papa Francisco na encíclica Laudato Si?, de 2015.

Às 20h, acendi uma vela na janela, como muitos mais, em sinal de respeito à vida no planeta. Foi um gesto simbólico, mas de rebeldia ao desdém com que tratamos a origem das "mudanças climáticas". Todos temos culpa no desastre anunciado, não só governantes demagogos ou empresários cobiçosos. Aceitar que os fósseis (como o carvão mineral) degradem a vida é crime em si.

O Papa frisa, sempre, que o desastroso pecado ecológico arrasa "o lar comum". Em junho de 2015, a encíclica de Francisco despontou como documento inigualável para entender o desvario humano na avaliação do que seja "progresso". Ele não se dirigiu apenas aos católicos, mas à humanidade inteira e, assim, juntou as igrejas luteranas tradicionais e ramos do judaísmo na defesa da obra da Criação.

A Organização Mundial da Saúde, o secretário- geral da ONU e as pesquisas da ciência alertam para "a brutalidade" das mudanças climáticas, mas as reuniões governamentais tentam apenas mitigar o horror, sem tocar na causa profunda - o desvario hedonista da sociedade de consumo.

No Brasil, sequer há planos para "após a Covid-19". Os fanáticos adeptos do presidente da República dedicam-se mais a estimular o caos (pedindo fecharem-se os tribunais) do que a pensar no que a pandemia agravou.

O alerta do ministro do Supremo Tribunal Celso de Mello apontou nossas semelhanças com a Alemanha de 1933, quando Hitler subiu ao poder pelo voto. A visão histórica não afeta a imparcialidade do decano do STF, pois ninguém - menos ainda um juiz - pode ser neutro face ao crime.

Numa caricatura de si próprio, Bolsonaro desfila a cavalo entre seus adeptos, como um Napoleão tropical. O que virá depois?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

14 de Setembro de 2024 MARTHA Mar e sombra Entre tantos títulos, cito dois: o magnífico Misericórdia, da portuguesa Lídia Jorge, e Nós, da b...

Postagens mais visitadas