sábado, 6 de junho de 2020



06 DE JUNHO DE 2020
MONJA COEN

O CHUCHU

Esta pandemia, este isolamento, realmente está nos tornando diferentes. Vejam o que aconteceu comigo na semana passada. Gosto muito de chuchu. Há quem não goste. Meu pai dizia que não tinha gosto de nada. Era como fosse comer água sólida.

Eu sinto o gosto do chuchu, considero muito agradável. Pode ser apenas cozido no bafo, pode ser passado na manteiga, pode ser com outros alimentos ou purinho.

Havia recebido alguns chuchus e os colocara no altar. Tudo que recebemos ou mesmo compramos, antes de comer ou utilizar, colocamos em um dos altares do templo. Acendemos um incenso, fazemos uma pequena prece e deixamos no altar até que o incenso se queime todo ou até o momento em que decidirmos usar a oferta do altar.

Pois bem, havia alguns chuchus no altar. Decidi fazer uma mistura de chuchu com batatas. Fui até o altar e peguei um dos chuchus. Era grande, de cor verde clara e com pontinhas que espetavam a mão. Mesmo assim, levei-o até a pia da cozinha, coloquei uma tábua de cortar sobre a pia, peguei uma boa faca e parti o chuchu ao meio na vertical.

Surpresa! O chuchu estava prenhe. Havia um feto chuchu ali. Fiquei muito triste e aflita. Procurei remover o feto chuchu o melhor que pude e logo o levei a enterrar com adubo bom, para tentar lhe dar vida.

Voltei a cortar o resto do chuchu e havia mais dois pequeninos fetos. Novamente os removi e enterrei.

Terminei de cortar o chuchu, cortei a batata - tendo cuidado para não pegar alguma batata que estivesse brotando e almocei bem. Ora, parecia tudo resolvido e pronto.

Nessa noite, tive um sonho. No sonho, havia um chuchu verde escuro e dentro dele um chuchuzinho verde bem claro. Os dois pulsavam como se fosse um coração batendo. Ambos vivos e se movendo.

Todos sabemos que tudo é vida e tudo está se transformando. Claro que todos sabemos que todas as formas de vida podem ser alimentos para outras formas de vida. Tudo está em processo contínuo de transformação: nascimento, velhice, morte, nascimento.

Tenho sempre encontrado pessoas vegetarianas e/ou veganas pregando a alimentação sem carnes ou peixes, alguns sem nada que venha da vida animal, nem mesmo mel de abelhas. Só comer vegetais. Alguns só os comem crus. Outros só o que caiu - nem mesmo plantam ou colhem coisa alguma. Entendo!

Quando me lembro do sonho-realidade, ah, como dói! O chuchu vivo. Tudo está vivo. Tudo pulsa. Não sei se poderei comer chuchu novamente.

Os dois outros, que ficaram no altar, lá ficaram por dias. De dentro deles surgiu uma haste verde e resolvi plantar. Talvez, quando surgirem chuchus, a partir dos que eu plantei, talvez eu os vá colher e comer. Será preciso pegá-los bem novinhos, antes de ficarem prenhes de si mesmos.

E, me lembrei dos ensinamentos do professor Mario Sergio Cortella: estamos todos nos autogerando.

Você sabe que você é o resultado de sua autogestação? Que você se constrói e reconstrói a cada dia? Que você se transforma e é transformada por tudo que existe?

Observe em profundidade e faça escolhas adequadas. Somos a vida que pulsa. Respeite a vida, centro da própria vida. Cuidemos! Mãos em prece

MONJA COEN

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