sábado, 13 de junho de 2020


13 DE JUNHO DE 2020
RODRIGO CONSTANTINO

Mosca azul

Meu sonho de consumo: ler e debater sobre as grandes questões filosóficas, de forma civilizada e de preferência num belo jardim, como faziam os peripatéticos. A realidade: ter de mergulhar nos "debates" do cotidiano sobre política, com p minúsculo, em que a honestidade intelectual parece algo mais raro do que diamante.

A política está virando uma torcida de futebol, e o ambiente tóxico do Twitter alimenta isso. Qualquer análise é recebida com uma torrente de rótulos e xingamentos, mas quase nada de argumentos. É preciso escolher um lado, e ponto final. Ou se está totalmente com o governo, ou deve-se ser seu inimigo mortal, lutando para derrubar o presidente. Não há mais nuances.

Bolsonaro resolveu recriar o Ministério das Comunicações na última semana e indicar um deputado ligado ao centrão cujo "atributo" é ser genro de Silvio Santos. Bola fora! Entende-se sua escolha quase imposta de se aproximar do centrão para sobreviver aos anseios golpistas dos adversários e garantir alguma governabilidade. Mas todo cuidado é pouco, e, sem critério, vai se desgastar ainda mais com sua base de eleitores.

Justiça seja feita, vi nas redes sociais bolsonaristas criticarem a decisão. São pessoas acusadas de "gado" pelos detratores, sendo que esses "radicais de centro" jamais elogiam nada que vem do governo. Quem, afinal, toma um lado apenas de forma cega? Vejam a turma do MBL, por exemplo, que foi responsável por um teatro patético na saidinha do Planalto, tentando constranger o presidente com uma "eleitora arrependida", que não passava de uma atriz frustrada e lotada no gabinete do vereador Fernando Holiday.

Enquanto isso, Sergio Moro segue em sua cruzada para se destacar como adversário do governo, de onde acaba de sair. Tenta "lacrar" o tempo todo nas redes sociais e chegou a dizer que aceitou o convite para padrinho de casamento de Carla Zambelli por se sentir constrangido de negar. Na festa, porém, não parecia nada constrangido. Ou então sabe fingir muito bem.

Por fim, jovens mimados seguem derrubando estátuas, e os democratas usam o cadáver de George Floyd para turbinar sua campanha eleitoral contra Trump. É tudo muito abjeto. O poder da mosca azul corrompe.

RODRIGO CONSTANTINO

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