sábado, 4 de dezembro de 2021


04 DE DEZEMBRO DE 2021
MONJA COEN

RETIRO DO DESPERTAR

Todos os anos, de 1º a 8 de dezembro, nós, zen budistas da tradição Soto Shu, nos retiramos de nossas atividades regulares para homenagear o Buda histórico.

Essa homenagem é de um retiro especial, onde procuramos fazer o que ele fez há mais de dois mil e seiscentos anos. Esse retiro é chamado, em japonês, de Ro Hatsu Sesshin. Ro se refere ao mês de dezembro e hatsu , a oito dias. Sesshin é uma palavra que pode ter dois significados: um deles é penetrar a essência e outro é aplainar a mente.

Ou seja, praticamos muitas horas de meditação sentada e meditação caminhando para penetrar o mais íntimo da nossa intimidade. Esse encontro chamamos de despertar.

Despertar para a mente que quer o bem de todos os seres, mesmo antes de você encontrar seu estado de plenitude.

Para nós, essa é a mente suprema, a mente superior, a mente desperta. Diferentemente de desejar coisas para si, de entrar em um retiro para se sentir bem ou ganhar méritos.

Além dos méritos, além de ganhos pessoais, oferecemos a nossa prática para que todos se beneficiem.

No dia 23 de novembro passado, estive com Sua Santidade, o XIV Dalai Lama. Ele estava em Dharansala, na Índia, e nós, um grupo de 50 pessoas, aqui no Brasil. Foi a visita de Sua Santidade, este ano, online. Organizada pela Associação Palas Athena de Estudos Filosóficos, responsável por todas as visitas que ele já fez ao Brasil.

O assunto de nosso encontro foi "Educação para o Novo Milênio."

Várias perguntas foram formuladas e quase todas foram respondidas da mesma maneira. É preciso educar. Inteligência apenas não é suficiente. É importante, mas não basta. É preciso usar o coração.

Que bonito! Além de religiões, de grupos, de países.

Vivemos em um planetinha, onde pertencemos à mesma espécie. Semelhantes, mas não iguais. Educar para cuidar com sabedoria e afeto todas as formas de vida. Restaurar as condições de vida humana no planeta é prioridade, mas apenas a inteligência não seria suficiente.

Chamo isso despertar para a mente desperta. A nossa capacidade de ver a realidade assim como é e atuar de forma decisiva para o bem de todo ecossistema.

Isso é ensinamento antigo, de muitas filosofias e tradições espirituais.

Como você tem vivido? Percebeu que enquanto os povos da África não estiverem vacinados, cuidados, com saneamento básico e remédios adequados, a pandemia não terminará? Será que é possível colocar uma redoma em alguns países?

Já percebemos que não. É momento de despertar. Ou ganhamos todos juntos ou perderemos todos juntos.

Despertem para o colaborar, o compartilhar, o cooperar. Há tanto que podemos fazer uns pelos outros. Quando Xaquiamuni Buda despertou, depois de uma semana de meditação sentada, superando todas as artimanhas da mente humana, das divisões e polaridades, exclamou: "Eu e a grande Terra e todos os seres, juntos, simultaneamente, nos tornamos o Caminho".

Que frase maravilhosa. Esse eu é a grande terra, é todos os seres, é a verdade, é o Caminho. Uma só vida, um só corpo. Inseparáveis e sem que haja uma autoidentidade fixa ou permanente.

Reflitam. Apreciem estes oito primeiros dias de dezembro e juntos, simultaneamente devemos despertar. Assim haverá harmonia, respeito, vida em plenitude para todos os povos em todos os lugares.

Mãos em prece

MONJA COEN

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

14 de Setembro de 2024 MARTHA Mar e sombra Entre tantos títulos, cito dois: o magnífico Misericórdia, da portuguesa Lídia Jorge, e Nós, da b...

Postagens mais visitadas