sábado, 4 de dezembro de 2021



04 DE DEZEMBRO DE 2021
LYA LUFT

Palavras em colo de mãe

Em criança eu traduzia a lápis na margem dos livros infantis palavras e frases inteiras.

Que estranha vocação precoce de pensar em dois idiomas, porque falava os dois?

Que impaciência que transbordava?

Que encanto em ouvir o jardineiro dizer "transbaldava" em lugar de " transbordava"? Entendi afinal que para ele a água saía pelas bordas dos baldes. Essas coisas triviais me seduziam.

Me perguntam como e quando me tornei escritora. Outra dúvida. Possivelmente quando saiu meu primeiro livro aos 25 anos, mas na verdade sempre escrevi em pensamento histórias para mim mesma, usando e abusando do giro das palavras dentro de mim.

Era meu jeito de ser e continua sendo. Desaparecer nas palavras e repetir: "não queiram me decifrar, não me prendam com o alfinete da interpretação. Se digo flor, é flor; se digo água, é água; corrente de sinais com o meu nome embaixo".

E também ele um dia vai evanescer como umidade nas paredes.

E tudo será silêncio de grande colo de mãe.

LYA LUFT

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