sábado, 8 de janeiro de 2022


08 DE JANEIRO DE 2022
J.R. GUZZO

Cinco anos sem aumento?

O movimento que os funcionários públicos federais estão fazendo para obter um aumento salarial em massa é mais uma dessas demonstrações perfeitas de por que, na prática, o Brasil é esta desgraça social que não muda nunca. O país não melhora, e nem pode melhorar, se o Estado continua engolindo, para o seu próprio sustento, uma parte cada vez maior de tudo o que a sociedade produz.  

O argumento central dos servidores é uma piada: dizem que há cinco anos estão sem um “aumento geral”. E os 200 milhões de brasileiros, ou mais ou menos isso, que não são funcionários públicos? Quando foi que tiveram o último “aumento”? Isso não existe, simplesmente: a população é remunerada por conta das realidades do mercado de trabalho, do mérito individual, do valor relativo das ocupações profissionais e assim por diante. O resto é a bolha do Estado. 

O Estado brasileiro saqueia sistematicamente os recursos de todo o país; na verdade, saqueia uma porção cada vez maior da riqueza nacional, numa espiral que não para nunca de crescer. É impossível, numa situação dessas, não haver concentração maciça de renda. É impossível não haver a produção constante de miséria. 

Como ser diferente num país que arrecadou acima de R$ 1,5 trilhão de impostos em 2021 e não tem dinheiro para nada? O Brasil não tem dinheiro para nada porque gasta o grosso disso consigo mesmo, com sua folha de pagamento, suas aposentadorias, seus benefícios, suas despesas de funcionamento. 

O mais extraordinário nessa aberração é que existe uma situação de injustiça extrema dentro da injustiça geral. A maioria dos funcionários públicos, na verdade, ganha mal; o dinheiro de verdade vai para a casta de mandarins que ocupam os cargos mais altos – as lideranças do movimento estão “entregando os cargos” que ocupam; não entregam os empregos, é claro – ou seja, é pura conversa.  

No presente movimento por salários maiores, por exemplo, um dos setores mais ativos é o dos auditores da Receita Federal. Só que o salário médio de um auditor da Receita é de R$ 30 mil por mês. Como justificar a urgência de aumento para o setor num país em que o salário mínimo é de R$ 1,2 mil? Não se discute a competência profissional dos auditores, nem a sua dedicação ao trabalho, nem a importância do que fazem para a sociedade. 

Nem se fale, aqui, do Judiciário, onde é comum magistrados arrancarem R$ 100 mil por mês do pagador de impostos, ou mais. Mesmo ficando fora dessa área de delírio, as exigências de aumento salarial por parte dos funcionários mais altos significam injustiça social direto na veia, ao transferir renda para o bolso da minoria.  

Não se trata apenas dos altos salários. Todos eles, além do contracheque mensal, têm benefícios com os quais o brasileiro comum não pode nem sonhar: estabilidade no emprego, aposentadoria com salário integral, aumentos por tempo de serviço, plano médico, benefícios de todos os tipos. 

Falar de “recuperação salarial” ou de “correção de injustiças”, nessas condições, é piada de mau gosto.

J.R. GUZZO

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