sábado, 8 de janeiro de 2022


08 DE JANEIRO DE 2022
LINDOLFO COLLOR

Medo e surpresa após caso de tortura de cão

No entorno da casa onde morava até o mês passado o adolescente de 17 anos investigado por torturar e matar um cão e por ameaçar via e-mail funcionários da Anvisa, o sentimento dos moradores é um misto de surpresa e indignação. Em Lindolfo Collor, município de 5,7 mil habitantes no Vale do Sinos, vizinhos do garoto, que foi apreendido, conversaram com a reportagem sem se identificar. Quase em coro, relatam tristeza pelo animal morto e se espantam com a crueldade.

- A gente não entende o que passa na cabeça de um adolescente para fazer isso. É difícil acreditar - afirma uma moradora.

O adolescente está internado desde o dia 28, no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), no Vale do Sinos. O caso começou a ser investigado depois que o jovem fez transmissão online torturando até a morte um cachorro. O cão, descrito como dócil e de idade avançada, era de um casal vizinho. O animal teria saído pelo portão da casa e foi pego na rua. O cadáver do cachorro, segundo o adolescente contou à polícia, foi jogado em um rio.

A transmissão ocorreu em 24 de dezembro e foi acompanhada por um grupo de cerca de 30 internautas, que incentivava o jovem a continuar as agressões. A maior parte dessas pessoas, algumas de fora do Estado, já foi identificada. Os que residem no RS foram chamados pela polícia, para esclarecimentos, mas permaneceram em silêncio. O inquérito do caso, sob responsabilidade da DP de Novo Hamburgo, foi remetido à Justiça, mas diligências seguem em andamento.

A Polícia Civil descobriu que o adolescente seria integrante de um grupo que defende ideias extremistas e se intitula "elite intelectual" na internet. Seriam cerca de 300 participantes espalhados pelo país, com um líder em Goiânia, segundo a apuração. Há investigações a esse grupo em pelo menos quatro municípios do RS - Lindolfo Collor, Tramandaí, Alvorada e Porto Alegre - e em Águas Claras (MS).

O adolescente gaúcho teria também feito ameaças a funcionários da Anvisa. Num e-mail assinado por ele - que contém o avatar dele na internet e também o seu CPF - são feitas declarações agressivas direcionadas ao comando da agência, com a promessa de que os diretores do órgão "pagarão caro" por aprovarem a vacinação contra a covid-19 para crianças no Brasil. O texto diz ainda que iria "purificar a terra onde a Anvisa está instalada usando combustível abençoado". Ele manda seus dados pessoais, diz que mora no RS e desafia "os parasitas da PF" a encontrá-lo. Por fim, se despede com uma saudação nazista. O caso é investigado pela Polícia Federal. ZH tentou contato com a PF para saber o andamento da apuração, mas não obteve retorno.

Ataque

Na troca de mensagens do grupo, obtida pela polícia gaúcha, o próximo passo seria atacar escolas e creches em Lindolfo Collor. A ação não se concretizou, mas a possibilidade assustou moradores:

- Agora ele foi apreendido, mas a gente não sabe se daqui a pouco não aparece de novo. Tenho criança pequena, que vai a creche. Temos cachorros também. A gente fica com medo.

ZH esteve em uma escola onde o adolescente estudou. Em 2020, durante o período remoto, ele evadiu. Duas integrantes da direção, que estavam na instituição na sexta-feira, preferiram não se manifestar. Uma delas ressaltou que famílias devem ficar atentas com o que crianças e adolescentes estão tendo contato:

- Que esse episódio fique como alerta geral. Há crianças e adolescentes que precisam de atendimento, que deve ser levado a sério. É preciso que pais e responsáveis fiquem atentos aos seus filhos, com quem conversam, o que acessam, onde frequentam.

Prefeito de Lindolfo Collor, Gaspar Behne diz que irá colaborar, se for necessário:

- Repudiamos a violência contra animais e esses ideais. Aguardamos o esclarecimento dos fatos.

Segundo a prefeitura, o adolescente é atendido, há alguns anos, pela rede de apoio do município, formada pela Secretaria Municipal de Saúde e Conselho Tutelar. Ele teria problemas psiquiátricos, como depressão, e faz uso de medicamentos. A reportagem conversou com o Conselho Tutelar, que afirmou que atendeu o adolescente em ocasiões anteriores, como durante o período de aulas no sistema remoto, mas não acompanhou os últimos acontecimentos. O nome do investigado não é divulgado por GZH em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

 BRUNA VIESSERI

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