sábado, 31 de agosto de 2024



31 de Agosto de 2024
MARTHA

Em desenvolvimento

Ha. Ha. Ha. Deu tudo errado.

"Em desenvolvimento" era uma falácia daqueles tempos em que se torturava jovens nos porões, era o que os generais garganteavam enquanto batiam continência para os patrocinadores. Enrolation para inglês ver e as criancinhas se iludirem. Encerrada a ditadura, veio um período de esperança, até que testemunhei o impensável: o Brasil tirou a bermuda e vestiu terno de missa, colocou uma Bíblia embaixo do braço e varreu os poetas de suas cabeceiras. 

Menos samba no morro, nem pensar topless na praia, bye bye irreverência. Já não percebo em nós, como nação, um caráter solar, apenas devoção à poeira do passado e apego à escravidão. Éramos tão apaixonados pela vida, mas a hipnose tecnológica acabou com nossos olhos nos olhos e, como se tudo não passasse de um game, extraímos das telas digitais um país ainda mais violento e que despreza a inteligência, só pontua na ignorância.

Talvez meus óculos estejam embaçados, talvez só tenha me restado o saudosismo do retrovisor. O que enxergo na minha frente, agora, é um país careta que se empolga com gente sem ética, um país que promove queimadas, um país apequenado pelo uso criminoso das redes, gigante que não honrou sua sina, perdeu-se do seu destino. Meio ambiente, arte, criatividade, faceirice, tudo engolido por Vossa Excelência o dinheiro, o poder, a indústria, o mercado, a internet, o escambau. Adeus, berimbau.

Não será o político A, B ou C que fará a mágica de tirar um país novo da cartola. Será, sim, o abc da sala de aula, caso levemos a sério, pra valer, o que lá se aprende e se discute, sem enganação ou censura, sem atraso ou mitificação. Eu já não terei a honra de viver no país que sonhei, então só me resta torcer para que todas as crianças recebam educação ampla, decente e prioritária, para que elas consigam, finalmente, ver o potencial extraordinário de sermos um país desenvolvido se cumprir. _

MARTHA

31 de Agosto de 2024
CARTA DA EDITORA - Donna Beauty Pompéia

As histórias das belezas

Mesmo de pijama, a energia da Alice Bastos Neves e da Kelly Costa segue lá em cima. Independentemente se o seu time é dos que aproveitam o fíndi para descansar, fazer festa ou os dois, a Pompéia está contigo em qualquer momento.

Um pijama confortável é algo essencial, além de ser uma peça que pode ser mais descontraída, tornando a hora de dormir mais divertida. A dica é se atentar na escolha do tamanho: a sugestão é optar por peças que sejam de um a dois números maiores do que aquelas que você costuma utilizar no dia a dia.

Essas e outras peças de pijama podem ser encontradas nas lojas, no site lojaspompeia.com.br e no aplicativo. Visite a loja no Shopping Iguatemi (Av. João Wallig, 1.800, 1º andar), de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 11h às 22h. _

Inspiradas no livro do historiador italiano Umberto Eco, A História da Beleza (Record, 440 páginas), aproveitamos a proximidade do aniversário de um ícone internacional para embarcar em uma viagem no tempo com muitas camadas sociais. No dia 19 de setembro, a modelo britânica Twiggy completa 75 anos de vida e, com um recorte a partir da década de 1960, quando ela tornou-se um dos símbolos do movimento dos sixties e da contracultura, revisitamos em três páginas a moda e os estereótipos que resultaram em muitas das pressões sofridas pelas mulheres, assim como posicionamos no espaço e no tempo conquistas que precisam ser relembradas, reforçadas e mantidas. 

Para esta edição, a repórter Letícia Paludo conversou com profissionais da área da sociologia, do direito e da saúde para debater a transformação pela qual passamos no nosso visual, muitas vezes como um espelho de mudanças na sociedade e na economia (mais espaço no mercado de trabalho, por exemplo). Mas, claro, que também reverberaram novas patrulhas - da popularização do biquíni à chegada das balanças aos banheiros das residências, com a tal independência cobrando seu preço.

Na passarela de Donna, saudaremos Twiggy com seus olhos expressivos e sua minissaia, os avanços na medicina, as leis aprovadas, a beleza da autoestima e mulheres que entraram para a história por abrir caminho para futuras linhas do tempo, que exaltarão a liberdade de ser quem se quer. _

Zero Grau

Collab - Tendências - Novidades

A influenciadora Malu Camargo fez uma parceria com a Youcom para uma coleção cápsula exclusiva, com 24 peças, entre jeans, blusas, e acessórios, em que propõe uma pegada urbana, romântica e sensual. A linha está disponível nas lojas físicas, no aplicativo e no site da marca youcom.com.br.

A próxima edição da feira Zero Grau já tem data confirmada. De 18 a 20 de novembro, as tendências e os lançamentos em calçados e acessórios para outono/inverno de 2025 poderão ser vistos no Serra Park (Viação Férrea, 100, em Gramado). O evento funcionará de segunda a terça das 9h às 19h, e na quarta, das 9h às 17h. Mais informações no perfil @feirazerograu.

Lançamento - feirinha Matilda - Moda

Neste domingo, o Brick de Desapegos estará no Workroom (Cristovão Colombo, 772), das 11h às 19h, reunindo mais de 40 expositores entre brechós, moda retrô e marcas autorais. O evento é pet friendly e com entrada franca.

A escritora e delegada da Polícia Civil Roberta Trevisan lança, neste sábado, o livro Matilda e o Mistério da Biblioteca, às 15h, em uma sessão de autógrafos na Livraria Leitura do BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300, Cristal). Na história, Matilda e seus amigos investigam os mistérios que assombram a cidade e ameaçam o famoso festival de inverno.

CARTA DA EDITORA

31 de Agosto de 2024
PSICOLOGIA

PSICOLOGIA

Essa porcentagem corresponde ao chamado "tripé do desenvolvimento pleno", que abrange aspectos físicos e motores, cognitivos e socioemocionais.

- No mundo adulto, nós também exigimos resiliência, possibilidade de resolver conflitos, espírito de inovação. Ou seja, habilidades mais comportamentais que são vinculadas a essa capacidade socioemocional, cuja base estrutural também é fundamentada na primeira infância, nos primeiros seis anos de vida - contextualiza Mariana.

No entanto, o ambiente em que a criança é criada determina se ela conseguirá atingir os 90% de desenvolvimento do cérebro ou não. A CEO da entidade comenta que esse entorno envolve muitos elementos, como se a gravidez foi desejada, se há histórico de violência, se os adultos responsáveis pelo bebê o cuidam com amor, afeto, estímulos e vínculos. O ambiente escolar e as mudanças climáticas também interferem nessa formação cerebral.

- A formação do vínculo é a coisa mais importante para o bebê. É como se fosse um escudo de proteção para a criança. Se a criança tem um vínculo forte com os adultos de referência, ela vai inclusive conseguir passar por momentos de adversidade de uma forma melhor no futuro - afirma.

Da mesma forma, uma criança que nasce em um ambiente de violência, abuso, sem brincadeiras e com alto nível de estresse tóxico acaba carregando esses traumas para o resto da vida, tendo altas possibilidades de enfrentar desafios de saúde mental, segundo Mariana.

Impacto do ambiente

Esses reflexos positivos e negativos também são observados por teóricos e especialistas da psicologia. A psicóloga Lisiana Saltiel cita a psicanalista austríaca Melanie Klein, que falava sobre o quanto as relações com os pais e cuidadores são fundamentais para a criança se sentir segura ou rejeitada, por exemplo.

- A forma como a sua criança interior leu essas relações vai ser a forma como vai lidar lá na frente - sintetiza.

Lisiana também faz referência a Donald Winnicott, um pediatra que contribuiu muito com o tema, por ressaltar o quanto um ambiente acolhedor e seguro na infância pode fazer com que a pessoa seja capaz de ser autêntica na vida adulta.

- Nesse contexto, entender como você se formou, quais são seus medos, como é sua maneira de ver e lidar com a realidade, como você ama, como odeia, como reprime ou se defende de angústias, tudo isso é fundamental para a saúde mental e harmonia de suas relações - enfatiza.

Personalidade e confiança

Joana Corrêa de Magalhães Narvaez, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), acrescenta que é a partir das relações originárias e do olhar do outro que o indivíduo se constitui e aprende a ler e a traduzir a si mesmo enquanto sujeito próprio. Por isso, considera que a infância tem grande importância na formação da personalidade e da confiança básica em si e no outro, sendo capaz de gerar uma base mais estável para o desenvolvimento integral e para ter um espaço interno para aprender e crescer:

- É na dinâmica das relações iniciais que nós nos estruturamos, que aprendemos, inclusive, a sermos amados, a desenvolver e internalizar um senso de preservação, a nos valorar enquanto um corpo e psiquismo singular. A infância remete a uma fase desenvolvimental de dependência do outro e, com ela, vem um natural estado de vulnerabilidade.

É por isso que situações traumáticas vividas nessa fase podem deixar marcas futuras. Joana explica que o trauma é justamente uma carga excessiva que o psiquismo não consegue processar. Assim, ambientes inseguros e com base afetiva imprevisível são mais suscetíveis a moldar pessoas com mais medos, mais inseguranças sobre si mesmas, mais baixa autoestima, maior defensividade e potencialmente mais vazios.

- É na infância que vamos criando um espaço psíquico para aprender a nomear e processar as necessidades e as emoções próprias em uma narrativa simbólica. Uma pessoa que teve uma infância preservada e integral tem campo mais fértil para desenvolver mais confiança em si e no outro. Nesse sentido, uma base segura de apego inicial confere continência psíquica, para melhor transitar pelos afetos e processar emocionalmente as vicissitudes da vida - comenta.

Repetições

Isso não significa, contudo, que uma pessoa que viveu situações potencialmente traumáticas não possa, ao longo da vida, revisar a forma relacional inicial para buscar estar em uma posição mais confortável em suas relações. Até porque, na fase adulta, é muito comum que o indivíduo repita lugares nas relações e configurações dinâmicas as quais foi apresentado inicialmente, mesmo de forma inconsciente.

Conforme a professora Joana, essa revisão pode ser feita por meio de novas configurações relacionais, da psicoterapia ou da análise, por exemplo:

- A criança que nos habita ou a criança que fomos é tão constitucional que é naturalmente explorada nos nossos processos. Há de poder se resgatar aspectos que em uma etapa de mais vulnerabilidade nos foram tão constituintes e marcaram a nossa base de funcionamento. Então, é muito importante nos apropriarmos de pontos que nos são mais primitivos ou para os quais regredimos quando sob pressão emocional. 


31 de Agosto de 2024
J.J. CAMARGO

Quem sabe o senhor o convence!

Fui vê-lo, e o encontrei de braços cruzados, resistindo aos apelos cheios de diminuitivos da enfermeira, que pretendia puncionar uma veia para iniciar a quimioterapia.

- Bom dia, seu Firmino, eu sou o doutor José Camargo. - Ah, a minha neta me falou que o senhor é o manda-chuva aqui!

- Não se impressione com isso, seu Firmino, porque ninguém me obedece!  Bueno, aí pouco adianta! Não lembro, nesses anos todos, de uma conquista mais rápida: em 30 segundos de conversa ele já tinha me fisgado.

E o encanto tinha razões de sobra: o convívio social das grandes cidades impõe regras de civilidade que inclui um exercício básico de hipocrisia, indispensável a um relacionamento polido, ainda que às custas do sacrifício da espontaneidade. E aquele homem tosco, mas de uma pureza comovente, nunca precisara aprender que na presença de um desconhecido temos que ser cuidadosos, porque não temos a menor ideia de como ele seja, do seu estado de espírito, das imprevisíveis oscilações de humor, ou de que demônios o incomodam.

E não faria o menor sentido explicar que, na verdade, é exatamente nos nossos melhores dias que estaremos mais vulneráveis, porque a leveza da felicidade interior nos induz a supor que, naquele dia e lugar, todos devam estar igualmente exultantes. E porque nem lembramos mais do quanto as pessoas rindo na rua nos irritavam naqueles dias em que o mundo parecia ter conspirado para acabar conosco.

Quando me sentei para ouvir a história da vida do Firmino, mais pude invejá-lo, por ter chegado aos 88 anos vivendo na sua pequena comunidade, onde ninguém jamais esteve atormentado pelos melindres da sociedade urbana, uma comunidade preocupada o tempo todo apenas em ser, sem o desperdício de aparentar. E nada é mais previsível nesta condição do que a reciprocidade de afeto.

O relato do que a vida fora de casa lhe fraudara nesses 15 dias em que estava no hospital era puro sentimento, e por isso seu drama pessoal não podia ser incluído nos complexos algoritmos da medicina baseada em evidências, essa que aprendemos a usar como construção de um modelo a ser cumprido na orientação terapêutica de uma determinada doença, mas que não considera o que pensa dela o portador.

- Doutor, se o senhor manda alguma coisa, me ajude. Eu já vivi demais, já perdi minha velha, e não quero morrer nesta cidade barulhenta que nem me deixa dormir, que era o único jeito de não pensar o quanto estou sozinho. E se o senhor é mateador, sabe o quanto é ruim não ter ninguém para passar a cuia.

Não fiz mais do que abraçá-lo, antes de sair para assoar o nariz no corredor. _

J.J. CAMARGO

31 de Agosto de 2024
CARPINEJAR

Não troque o amor pela paixão

Não troque um amor por uma paixão. Nunca será uma troca justa, até porque a paixão sempre terá a vantagem do inexplorado, da aventura, da novidade. A paixão é como uma droga forte que cria dependência.

Você só irá querer o vício, não mais a sua vida. Já o amor é uma tranquilidade muito mais simples de se romper. Pois ele é feito de continuidade, de harmonia, de hábitos. Não tem como competir com a idealização, com a fantasia, com a emoção dos extremos.

A aproximação apaixonada é uma projeção - não tem como descortinar, em pouco tempo junto, se a ousadia não é um desequilíbrio, se a intensidade não é um transtorno de quem não se valoriza, se a entrega não é um desvio patológico de comportamento. Bem pode se apaixonar pela doença de alguém jurando que são virtudes exclusivas de uma atração por você. Até descobrir que a pessoa é assim com todo mundo, não somente com você.

Sair do amor não é uma escolha sábia, posto que o encontro de alma é o mais difícil. Não esqueça que você conhece a paz daquela companhia há vários anos, e talvez esteja optando por ficar com quem você conhece há alguns dias.

Química é passageira, efêmera. O respeito ao seu espaço e seu jeito de ser é duradouro. Estabelecer uma amizade funda e constante representa um acontecimento raro na existência, impossível de reprisar.

Não troque o amor pela paixão. Não troque um casamento que deu certo por uma incógnita. A paixão é vaidade: você se sente bonito. O amor é verdade: a relação que é bonita.

No amor, já teve seus defeitos acolhidos. Na paixão, você é uma miragem. Não tem noção de como será recebido quando expuser os seus medos, as suas limitações, as suas manias. É o equivalente a adotar uma medicação sem consultar um médico.

E a paixão não vai desembocar num outro relacionamento. Você vai sair do amor para estar sozinho novamente, não para se casar melhor. Trata-se de um ciclo de obsessão, de uma magia inexplicável, de uma loucura sem precedentes, mas voltará à normalidade e a luz das janelas apresentará os rostos desprovidos de maquiagem da fissura.

Uma hora terminará, e você se verá obrigado a se ocupar com as demais fontes de sua felicidade. Com o fim do monopólio de atenção, como reagirá ao abandono? Pense um pouco mais adiante. Você age pelo instinto e acaba desprezando um amor que demonstrou total confiança. 

Se você colocasse na balança a intimidade conquistada entre adversidades e alegrias, jamais a descartaria pela paixão.Não jogue fora, por uma dúvida excitante, um casamento de tantos anos, uma convicção testada, aprovada, consolidada em viagens, em experiências familiares, em provações e doenças superadas lado a lado.

Um caso será sempre um caso, jamais um casamento. A paixão não se transformará num novo amor. É uma porta de saída, não de entrada. Quem está apaixonado por você não suportará a estabilidade, a calma, o silêncio - tudo que havia de sobra no seu relacionamento.

A saudade dói quando vira arrependimento. _

CARPINEJAR

31 de Agosto de 2024
ANDRESSA XAVIER

Meu nome é Enéas

Quem não se lembra dele? Com 15 segundos de propaganda em rádio e TV nas eleições em que participou, Enéas marcou seu nome para uma geração. Não me refiro às ideias nem ao viés ideológico, mas a uma marca, mesmo que com votações simbólicas nas três tentativas de se eleger presidente.

Agora pense em dois ou três jingles marcantes dos últimos anos nas eleições a prefeito ou governador. Garanto que eles vêm à cabeça rapidamente e vão demorar algumas horas para serem esquecidos. Lembrei até os de senador e alguns de vereador! Mas se eu lhe pedir para pensar em propostas com início, meio e fim, tenho certeza de que a memória vai demorar um pouco mais para conseguir processar. É delas que eu quero falar. Das ideias!

Quantas vezes ouvimos candidatos jogarem ao vento suas propostas prontas para a saúde e a educação, por exemplo. Se prestarmos bem atenção, são coisas macro, sem detalhamento. "Vou melhorar a questão da saúde", diz um deles. É vago. "Vou criar mais vagas em creches", promete outro. É insuficiente. O que é a "questão da saúde", afinal? Pode ser fila, pode ser leito, pode ser convênio, posto, unidade básica de saúde, contratar mais médicos, ampliar horários de atendimento nos bairros e até um novo hospital.

A campanha já está nas ruas. Aliás, foi-se o tempo em que essas aparições relâmpago tipo a do Enéas ou do E-e- eymael eram a única forma de chamar atenção do eleitor. Passou também o tempo em que o eleitor aceitava respostas pela metade. As redes sociais, para o bem e para o mal, têm forte papel nesse momento em que todos os candidatos têm sua própria forma de chegar ao eleitor. Para além do vidro do carro adesivado ou das bandeiras dos políticos nas esquinas, todo mundo tem mil opções no seu celular, especialmente nos seus grupos de afinidade no WhatsApp. Isso sem falar no jornalismo profissional, com a cobertura das eleições pelos diferentes veículos de comunicação.

Na sexta-feira começou a propaganda eleitoral no rádio e na TV. Agora é o momento para, em alguns segundos ou minutos, cada postulante aos cargos de prefeito e vereador se apresentar. É pouco tempo para eles mostrarem ideias, mas alguns sinais podem ser observados, como a postura e o tema priorizado ali, que é normalmente a bandeira de quem fala. Eles precisam dizer pelo que prometem trabalhar. Com mais tempo, nas entrevistas e nos debates, preste também atenção nas ideias para melhorar as cidades. Analise se elas param em pé, se parece que é possível executar, se eles dizem os prazos e de onde viria o dinheiro para tirar do papel. Preste atenção. Pesquise, se informe. Não deixe para pensar nisso só em outubro. _

ANDRESSA XAVIER

31 de Agosto de 2024
REFLEXO NOS GAÚCHOS

REFLEXO NOS GAÚCHOS

Possibilidade levantada por especialistas em meio à tragédia climática tem sido confirmada com estudo inédito do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Levantamento segue sendo realizado e pode ser respondido por maiores de 18 anos que tenham resididido no RS durante a calamidade

- O TEPT tem uma janela de intervenção. O que classicamente a gente vê é que, depois de um ano, pouca gente consegue uma recuperação completa. Existe essa janela de prevenção e ainda estamos nela - destaca, completando que o ideal é que o trabalho comece em até três meses após os eventos traumáticos, mas dentro de um ano ainda é possível ter o tempo de resposta.

Em meio às mudanças climáticas, em 2017 a Associação Americana de Psicologia cunhou o termo ecoansiedade. De acordo com a psiquiatra do Hospital São Lucas e coordenadora de saúde global da Escola de Medicina da PUCRS, Ana Sfoggia, a denominação é tida como um guarda-chuva para diferentes sentimentos, como o de ecoluto, ecotrauma e solastalgia (emoção que causa sensação melancólica, nostálgica, quando o ambiente em que a pessoa vive é afetado).

- Antes de ser atingida, a pessoa pode ter a ecoansiedade e emoções climáticas. No momento em que ela é afetada, acaba tendo uma validação do medo. A gente tem também os impactos diretos de quem perdeu coisas, perdeu pessoas - explica Ana. _

Os sinais foram confirmados por 778 de 1.846 moradores do RS ouvidos entre 7 de junho e 19 de julho deste ano. Essa possibilidade já havia sido trazida por especialistas em meio à tragédia climática e se confirmou com dados encontrados no estudo dirigido pela professora do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psiquiatria Psicodinâmica do HCPA, Simone Hauck.

A pesquisa é realizada de forma online e é aberta para maiores de 18 anos. Até o momento, já recebeu em torno de 5 mil respostas, predominantemente de Porto Alegre e Canoas, mas conta com contribuições de dezenas de outras cidades gaúchas, como da Região dos Vales, sul do RS e área central.

Nos dados analisados com 1.846 pessoas, um dos fatores levados em consideração é o nível de gravidade dos sintomas de TEPT. Os casos moderados a muito graves representam mais da metade, com 53,8%.

Previsto para durar em torno de um ano, o estudo segue aberto. Além de ser maior de idade, para participar é necessário ter residido no RS no período da enchente.

- É importante que as pessoas sigam respondendo e participando para vermos como vai evoluir essa questão ao longo do tempo - diz Simone.

Monitoramento

- É necessário fazer o monitoramento das pessoas. Em Santa Maria houve reorganização dos serviços (após o incêndio). No Hospital Universitário foi criado acompanhamento a longo prazo dos sobreviventes. Na prefeitura também foi estruturado um serviço com foco mais psicossocial, com familiares e vítimas. _

Bianca Dilly

CONEXÃO BRASÍLIA
Conexão Brasília - Matheus Schuch

Lula dará mesmo autonomia plena ao novo presidente do BC? Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar "olha, tem de aumentar o juro", ótimo, aumente. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, é um brasileiro que gosta do Brasil.

A declaração do presidente Lula, na sexta-feira, sobre seu escolhido para comandar o Banco Central, vai na contramão do recente histórico de críticas ao patamar da Selic. Lula mudou completamente de ideia? Ou escolheu mandar um recado enviesado?

Elogiar publicamente a "competência" de quem ele próprio escolheu é mais do que esperado. É preciso notar que, para Lula, "gostar do Brasil" significa trabalhar pelo crescimento do país. Mas há vários caminhos para este sucesso, e muitas vezes a receita defendida pelo petista é muito diferente do roteiro perseguido pelo BC.

O costume do presidente em disparar indiretas é bem conhecido por seus auxiliares. Recentemente, incomodado com o que considerava um excesso de viagens de ministros, Lula convocou os integrantes do governo para uma reunião e disse a pessoas que nada tinham a ver com o caso que deveriam ficar mais tempo em Brasília e cuidar de suas verdadeiras atribuições.

Mas não é apenas a mania de mandar recados que causa desconfiança. Mesmo após indicar Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do BC, Lula manteve críticas contundentes sobre a manutenção de juros altos. Estaria agora todo o problema resolvido com a saída de Roberto Campos Neto da presidência?

O mal-estar entre Lula e o atual presidente do BC, indicado por Jair Bolsonaro, está longe de ser apenas divergência no campo partidário e ideológico. O petista já disse que "não se pode ter um BC que não está alinhado aos desejos da nação", e acusou Campos Neto de agir como político mesmo quando o BC tomou decisões unânimes sobre manutenção da Selic - inclusive com os votos de Galípolo e outros diretores indicados por Lula.

Sob o comando de seu escolhido e com três novos diretores que indicará até o final do ano, a promessa de autonomia plena será colocada à prova. Difícil acreditar que Lula não vai pressionar para que a vontade do governo seja implementada. 

CONEXÃO BRASÍLIA

31 de Agosto de 2024
CONEXÃO BRASÍLIA

Conexão Brasília - Matheus Schuch

Lula dará mesmo autonomia plena ao novo presidente do BC?

- Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar "olha, tem de aumentar o juro", ótimo, aumente. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, é um brasileiro que gosta do Brasil.

A declaração do presidente Lula, na sexta-feira, sobre seu escolhido para comandar o Banco Central, vai na contramão do recente histórico de críticas ao patamar da Selic. Lula mudou completamente de ideia? Ou escolheu mandar um recado enviesado?

Elogiar publicamente a "competência" de quem ele próprio escolheu é mais do que esperado. É preciso notar que, para Lula, "gostar do Brasil" significa trabalhar pelo crescimento do país. Mas há vários caminhos para este sucesso, e muitas vezes a receita defendida pelo petista é muito diferente do roteiro perseguido pelo BC.

O costume do presidente em disparar indiretas é bem conhecido por seus auxiliares. Recentemente, incomodado com o que considerava um excesso de viagens de ministros, Lula convocou os integrantes do governo para uma reunião e disse a pessoas que nada tinham a ver com o caso que deveriam ficar mais tempo em Brasília e cuidar de suas verdadeiras atribuições.

Mas não é apenas a mania de mandar recados que causa desconfiança. Mesmo após indicar Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do BC, Lula manteve críticas contundentes sobre a manutenção de juros altos. Estaria agora todo o problema resolvido com a saída de Roberto Campos Neto da presidência?

O mal-estar entre Lula e o atual presidente do BC, indicado por Jair Bolsonaro, está longe de ser apenas divergência no campo partidário e ideológico. O petista já disse que "não se pode ter um BC que não está alinhado aos desejos da nação", e acusou Campos Neto de agir como político mesmo quando o BC tomou decisões unânimes sobre manutenção da Selic - inclusive com os votos de Galípolo e outros diretores indicados por Lula.

Sob o comando de seu escolhido e com três novos diretores que indicará até o final do ano, a promessa de autonomia plena será colocada à prova. Difícil acreditar que Lula não vai pressionar para que a vontade do governo seja implementada. _

CONEXÃO BRASÍLIA

31 de Agosto de 2024
POLÍTICA E PODER - Política e poder

Reconstrução sem disputas

Pense numa arquitetura política sofisticada a ponto de uma proposta para a recuperação do Rio Grande do Sul colocar do mesmo lado os ex-governadores Antônio Britto, Olívio Dutra, Tarso Genro, Germano Rigotto e José Ivo Sartori, grandes empresários, capitaneados por Jorge Gerdau Johannpeter, intelectuais como Luiz Osvaldo Leite, Jorge Furtado e Gilberto Schwartsmann, figuras do mundo jurídico, como o ex-ministro Nelson Jobim, professores e líderes religiosos.

O resultado dessa articulação é um "movimento cívico" que propõe ao presidente Lula a criação de uma Agência Interinstitucional de Recuperação e Desenvolvimento do RS.

Uma primeira versão da carta que está sendo escrita a várias mãos foi apresentada a Lula por Tarso Genro quando o presidente esteve no Rio Grande do Sul. Assim que concluídos os retoques de redação e consolidadas as assinaturas, um grupo irá a Brasília formalizar a entrega. Além de Tarso, trabalham na coordenação da proposta os economistas João Carlos Brum Torres e Ana Severo, o sociólogo Zeca Martins, o engenheiro Fernando Mattos, o ex-secretário de Administração Jorge Buchabqui, a jornalista Sandra Bitencourt, o empresário José Paulo Soares Martins e o arquiteto Telmo Magadan.

Ideia é unir esforços da União, Estado e municípios

Pela proposta, caberá à agência, como alta autoridade federal, formular a concepção das ações da União, de forma coordenada com o Estado, municípios e setor privado, e a execução de um plano estratégico de longo prazo para a estruturação econômica e socioambiental do Rio Grande do Sul.

Gerdau não só está empenhado pessoalmente na iniciativa, como faz a ponte com outros empresários e dirigentes de federações empresariais. Ele e Tarso vêm se reunindo para avaliar um caminho comum, no que ambos reconhecem ser um momento decisivo para o futuro do Estado. _

Confira trechos do documento que propõe a criação de uma Agência de Reconstrução e Desenvolvimento:

A proposta de criação de uma agência substitui com vantagem a Secretaria de Apoio à Reconstrução, criada em caráter emergencial, e que deve ser extinta em 11 de setembro, porque a medida provisória não foi votada.

aliás

Como Leite articulou a vinda do ministro da Agricultura à Expointer

Bateu na trave

Dono da Be8, o empresário Erasmo Battistella, que colocou seu jato à disposição para trazer o ministro da Agricultura ao Rio Grande do Sul, é do time que acredita na necessidade de passar por cima das divergências para colocar o interesse público em primeiro lugar.

Por pouco, Porto Alegre não escapou do corte de um dos 36 vereadores, formalizado recentemente. A revisão foi necessária porque, pelo Censo de 2022, a Capital perdeu população.

Na atualização populacional feita pelo IBGE e divulgada na quinta-feira, a Capital voltará a ter o número de habitantes necessário para ter até 37 vereadores, mas o que vale é o número de 2022. _

Passou da conta

O ministro Alexandre de Moares passou da conta com o conjunto de decisões que envolvem a suspensão do X no Brasil. É certo exigir que Elon Musk cumpra as leis brasileiras se quer ter negócios no país, mas o bloqueio das contas de outra empresa, a Starlink, só porque o dono é o mesmo, não tem sentido.

Na queda de braço entre o ministro turrão e o bilionário birrento, o Brasil fica sem uma das redes mais populares do planeta e se alinha com as ditaduras onde a população está impedida de acessar o X, como China e Coreia do Norte. _

mirante

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vem a Porto Alegre na próxima semana para reforçar a campanha de Maria do Rosário à prefeitura de Porto Alegre. A dúvida é se ajuda ou atrapalha.

O sucesso da Expointer, que esteve ameaçada de não ser realizada ou de ser adiada por causa da enchente, é fruto do trabalho de todos os envolvidos na organização. Esse espírito precisa estar presente em todos os atos da reconstrução do RS.

Os produtores gaúchos foram dormir com a informação de que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, não viria para a Expointer. O governo federal seria representado pelos ministros Paulo Pimenta e Paulo Teixeira, que já estavam em Esteio. A justificativa oficial era de que não havia avião disponível para trazer o ministro.

Ao saber que esse era o motivo e convencido de que a ausência do titular da Agricultura não só tiraria o brilho da inauguração da feira como frustraria os produtores que esperavam dele anúncio de medidas concretas, o governador Eduardo Leite entrou em campo.

Leite ligou para o ministro e ouviu dele a confirmação de que estava com dificuldade para vir. Pediu que Fávaro aguardasse um instante que iria viabilizar uma forma de trazê-lo para Esteio.

Em contato com o presidente da Cotrijal, Nei Mânica, os dois combinaram de falar com o empresário Erasmo Battistella, da Be8, para ver se ele podia emprestar seu jato. Prontamente, Battistella, que tem excelentes relações tanto com o governo estadual quanto com o federal, colocou o avião à disposição do ministro. Na abertura da Expointer, Leite e o ministro sentaram-se lado a lado e conversaram amistosamente. _

POLÍTICA E PODER
 31 de Agosto de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A má política de Mr. Musk

Elon Musk, dono do X, o antigo Twitter bloqueado na sexta-feira pela Justiça brasileira por descumprir a lei, gosta de arvorar-se como paladino da liberdade de expressão, enquanto, na verdade, está preocupado apenas em fazer política - a seu modo, imaginando-se acima dos marcos legais dos Estados nacionais.

Acusa o ministro Alexandre de Moraes e o Palácio do Planalto de censura, embora cumpra, com rigor - e principalmente em silêncio -, decisões de governos que lhe são simpáticos.

Os rompantes pela suposta liberdade de expressão que defende não são vistos em países como Turquia, Índia e Arábia Saudita - nesse último, aliás, a monarquia teocrática é uma das acionistas da plataforma.

Em 2023, o governo de Narendra Modi, na Índia, proibiu a exibição e menções na rede social de um documentário da rede BBC sobre a omissão das autoridades sobre uma revolta em Gujarat, que resultou na morte de mil muçulmanos, em 2002. O que fez Mr. Musk? Bloqueou perfis que indicavam o link do trabalho. Disse que "não poderia violar as leis do país". Tempos depois, na mesma nação que experimenta a deterioração da liberdade de expressão, acatou a ordem do governo para remover contas de jornalistas críticos ao presidente. Na Turquia de Recep Tayyip Erdogan, não é diferente.

Não soa estranho Musk fazer gritaria apenas contra governos e órgãos judiciais de blocos supranacionais ou países onde há consolidadas regras de regulação das redes sociais, como União Europeia, Reino Unido e Austrália? O Brasil engatinha para algo semelhante. Estranho Musk não se preocupar com as mensagens de ódio, o racismo, a desinformação, a pornografia e a apologia ao nazismo que pululam em sua plataforma. Não, o que ele faz não é lutar pela liberdade de expressão. É política. Má política. _

Kamala Harris esteve à vontade e suave em sua primeira entrevista. Kamala Harris, e seu candidato a vice, Tim Walz, concederam a primeira entrevista juntos desde a confirmação de seus nomes para a corrida eleitoral.

Kamala se mostrou firme, esteve suave e à vontade durante os 30 minutos de conversa com a rede CNN.

A vice-presidente nunca esteve "olho no olho" com Trump. Recentemente, o ex-presidente fez falas em que contestou a identidade da adversária, afirmando que ela se apresenta como "negra", mas que, antes das eleições, não se identificaria assim. Ela respondeu:

- O mesmo manual velho e cansado. Próxima pergunta, por favor - afirmou, em tom cômico.

A entrevistadora retrucou: - É isso? E ela respondeu:

- É isso. Contudo, ainda no começo da entrevista, a candidata foi questionada sobre políticas públicas e como seria seu primeiro momento na Casa Branca. Kamala apresentou respostas simples, como:

- Há uma série de coisas no primeiro dia - disse.

Relação com Biden

Kamala foi interpelada sobre como foi o momento em que Biden a avisou que estava saindo da corrida.

- Era um domingo. Minha família estava conosco, incluindo minhas sobrinhas, e tínhamos comido panquecas. Estávamos sentadas para um jogo, o telefone tocou e era Joe Biden. Disse o que tinha decidido. E perguntei: "Você tem certeza?". Ele disse: "Sim".

O vice

Governador de Minnesota, Tim Walz passa a imagem, como alguns analistas apontam, do "tiozão" que é técnico de futebol, com características amigáveis. Por diversos momentos enquanto ele falava, Kamala o observava com orgulho, mostrando que há parceria entre os dois. _

Entrevista - Diego Ramos Coelho

Especialista em Relações Internacionais e diplomata de carreira

"Conflitos atuais são fruto de fraturas, mas estão regionalizados"

Especialista em Relações Internacionais e diplomata desde 2010, Diogo Ramos Coelho lança o livro Mundo Fraturado, com uma análise profunda dos desafios que afligem o planeta. Atualmente, é chefe da assessoria de Relações Internacionais do Ministério do Planejamento e Orçamento. Ele conversou com a coluna.

? No livro você fala sobre o aumento dos conflitos, ascensão de líderes autocratas, desinformação e polarização. Há um mal-estar civilizatório?

Sim, esse mal-estar é fruto de uma dinâmica entre o que chamo de forças de coesão, que estruturaram a ordem liberal na qual vivemos, e o que chamo de forças de dissonância. Há essa briga entre o lado que estruturou essa ordem liberal e um outro que forma essas fraturas. Essa briga de forças tem causado essa apreensão e um pouco desse mal-estar.

? É possível comparar a situação com o período pré-Segunda Guerra?

Sim, é possível compararmos com os anos 1920, que também foi momento de crise, de apreensões, de angústias, que, infelizmente, resultaram em uma catástrofe. Mas tenho esperança de que consigamos contornar essas fraturas atuais.

? Há dois grandes conflitos em curso: entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio, além da possível retomada de Taiwan pela China. Onde você acha ser mais provável o início da Terceira Guerra Mundial?

Ainda não está nesse ponto de ruptura. Podemos olhar para a ordem atual como fraturada, há indícios de que aquela coesão à qual estávamos acostumados na década de 90, no começo de 2000, não exista mais. O mundo hoje é muito mais multipolar. Toda ordem multipolar é um pouco mais instável do que uma ordem na qual só há um grande ator poderoso. A multipolaridade pode ser muito bem-vinda quando você tem mais uma heterogeneidade na divisão do poder, mas à medida que os pontos de poder se multiplicam, isso também pode causar instabilidades. Os conflitos são frutos dessas fraturas, mas ainda estão regionalizados. Eles ainda não adquiriram um caráter sistêmico.

? Vários países emergentes ou economias em ascensão questionam a ordem liberal e o próprio equilíbrio de poder. Já não representa o mundo atual?

Questionam, por exemplo, a configuração do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Já não é um equilíbrio de poder hoje. Alguns países têm um papel e influência marcantes nas relações internacionais. Então, um dos argumentos que trago é que toda ordem nunca é mantida sem a colaboração de outros Estados. A manutenção de uma ordem não depende de uma potência hegemônica. Depende de colaboração entre atores, até para que seja considerada legítima.

? Sobre o tema ambiente, o que observamos são boas intenções e conversas, mas pouca efetividade. Por quê?

É necessário trabalhar dois aspectos: do papel das instituições internacionais ou, mais amplamente, dos regimes internacionais. Fazer com que 190 governos concordem com algo é tarefa muito difícil. Essa dificuldade é inerente ao sistema internacional. Mas é importante observar que, embora não consiga avançar na velocidade e na abrangência necessárias para combater um problema urgente, é possível identificar consensos ao longo do processo. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 24 de agosto de 2024


24 de Agosto de 2024
MARTHA

A audácia de improvisar

Ou pior. Ele bate boca com você. Te acusa. Não consegue dar sequência natural à conversa, que tomou um rumo que ele não esperava. O homem se sente traído. Se exalta, colérico. E você não entende o que está acontecendo.

Pense numa peça de teatro, onde os atores têm seus textos decorados. Você fugiu do script e improvisou. Pânico no palco, concorda?

Um dos grandes problemas da convivência - e são tantos - é quando alguém simplesmente não convive, e sim "se apresenta". O entorno, para ele, é como se fosse uma plateia. Às vezes, esta pessoa entra em um grupo novo e, inteligentemente, se cala, não vai assumir o microfone diante de estranhos, ao contrário, será um ouvinte gentil, mas se está entre os íntimos, ora, o show tem que continuar, está em cartaz há anos. Eu! Eu! Eu! Um stand-up que arranca risadas quando é com o Fábio Porchat, mas se é seu namorado, seu marido ou seu pai na ribalta, é menos divertido.

Você aplaude, porque é educada. E eles são tão legais. E você anda tão exausta.

Até o dia que você, em vez de aplaudir, dá uma situada. Uma cutucada. Um alto lá. E derruba a bilheteria.

Psicanalistas sabem muito bem o nome desta doença que faz com que algumas pessoas necessitem desesperadamente de validação e se agarrem ao papel de protagonistas, escrevam o texto e dirijam o espetáculo, confiando que os coadjuvantes estarão bem ensaiados. Coadjuvantes? Os filhos. Cônjuges. Irmãos.

Eles não são bobos de estender a performance aos amigos, conhecidos, clientes. Não têm controle sobre os periféricos. Estes podem dizer o que quiserem que serão escutados com polidez e simpatia. Mas os afetos mais profundos têm obrigação de reverenciá-los e pedir autógrafos no final. Ou o encontro desanda. A relação desanda.

Tudo porque você teve a audácia de improvisar. De macular a conversa dentro do carro, de estragar o jantar em que ele apresentava o seu melhor. Você não reverenciou o dom do artista. Você achou que o que você sentia tinha importância também. Por sua petulância, merece a expulsão do paraíso.

O triste da história? Eles nem percebem. Já trocaram de plateia. Lembre-se: o show tem que continuar. 

MARTHA


24 de Agosto de 2024
DRAUZIO VARELA

Simone Biles, Jordan Chiles (que depois teria sua nota revista, tendo de devolver o bronze) e Rebeca são jovens negras nascidas e criadas em países racistas. Em comum, uma infância que tornaria improvável carreiras de tamanha repercussão internacional. Apesar das adversidades, ainda meninas reuniram coragem, determinação e disciplina rígida para atingir níveis técnicos e artísticos que lhes permitiram voar sobre o tablado e encantar o mundo.

Diante da foto, imagino que os supremacistas brancos devam experimentar a mesma frustração de Adolf Hitler ao ver um negro como Jesse Owens vencer a corrida que lhe deu o título de "o homem mais veloz do mundo", na Olimpíada de Berlim de 1936, além de quatro medalhas de ouro, feito inédito na época.

A foto das três ginastas no pódio ganhou manchetes na imprensa internacional por encerrar a essência do que chamamos de espírito esportivo: a competição travada contra os limites de si mesmo, não contra a pessoa dos demais competidores. Duas ginastas de altíssima performance, uma das quais considerada a melhor do mundo, ajoelham-se para homenagear a companheira que as venceu. Existiria atitude mais generosa e civilizada?

Que exemplo dignificante essas moças deram às plateias do mundo inteiro. Na era dominada pelas imagens em que vivemos, quantas meninas e meninos serão influenciados pelo exemplo das três mulheres negras no pódio olímpico?

Na infância, fui fanático por futebol. Aos domingos à tarde, escutava o jogo no rádio, sem perder uma palavra sequer. Que alegria quando o São Paulo ganhava. Assim que a partida terminava, atravessava a rua para jogar bola na porta da fábrica, com a molecada da vizinhança. Lá, abria mão da minha identidade, virava Leônidas da Silva, o Pelé da época, autor de um gol antológico de bicicleta contra não sei que time.

A primeira vez que meu tio me levou para ver o São Paulo, no estádio do Pacaembu, fiquei desapontado. Os jogadores erravam passes, cometiam faltas, caíam no gramado, perdiam gols cara a cara com o goleiro. Na voz do locutor do rádio, meus heróis eram super-homens infalíveis: "Mata no peito, baixa na terra, passa por um zagueiro, pelo outro, invade a área, atira e é gol!", o interminável goool que fazia disparar meu coração.

Naquela ingenuidade infantil, eu não percebia que a prática do futebol privilegia princípios morais indefensáveis. Os jogadores dão péssimos exemplos para a garotada: jogam-se no chão para simular faltas que não receberam, rolam pelo gramado como se sentissem dores excruciantes, fingem contusões para interromper o jogo, apressam-se em cobrar o lateral que pertence ao adversário, chutam a canela dos outros por maldade, reclamam, cercam e vão para cima do juiz por ter apitado o pênalti que todo mundo viu. Quando conseguem enganar a arbitragem, não são considerados mentirosos, mas espertos.

Quem já criou filhos deve ter aprendido que não se educa crianças com palavras, mas com exemplos. De que adianta o pai fumante dizer para o filho adolescente que cigarro faz mal? Ou aconselhar a filha a não beber, se ele chega bêbado em casa?

Os dirigentes do futebol são coniventes com o mau-caratismo reinante nos campeonatos organizados por eles. Por omissão, muitos cronistas esportivos também. Boa parte dos jogadores profissionais é formada por jovens que não conviveram com exemplos edificantes nas comunidades da periferia em que cresceram. A imensa popularidade do futebol seria ótima oportunidade para criar regras de civilidade esportiva e de cidadania para servirem de paradigmas, capazes de atingir grandes massas populacionais.

No antigo Carandiru, ouvi um preso com muitos anos de cadeia dizer para um carcereiro: "Seu Valdemar, o senhor é sempre justo com a gente, faz sempre o certo, se quando eu era pequeno tivesse conhecido um homem como o senhor, quem sabe não tivesse entrado pro crime".

Só daqui a quatro anos ouviremos falar outra vez de Rebeca, Simone e Jordan. Elas não fazem ideia de quantas meninas e meninos ajudaram ao redor do mundo com uma simples fotografia. _

Drauzio Varella

A multiplicidade de agressões físicas ou emocionais impostas a pessoas comuns sem justificativa visível é impressionante, e na maioria das vezes, a julgar pelas aparências, francamente imerecida.

Durante a atividade médica, várias vezes deparei com pacientes da minha idade vivendo situações dramáticas, enquanto eu, por razões fortuitas e desconhecidas, seguia meu rumo ileso, livre para aproveitar a ventura das melhores escolhas.

Com o passar dos anos, cresceu em mim o senso de gratidão por continuar sendo poupado, e algumas vezes respondi à pergunta de pacientes, "Que idade o senhor tem?", com a sensação estranha de que por trás da inocente curiosidade da questão estivesse implícito o questionamento queixoso de "E o que eu fiz para merecer?", o que só aumentava a angústia de não ter como responder por quais critérios somos poupados ou selecionados para as agruras do sofrimento.

As tragédias, com vestimentas variáveis, acompanham a vida do médico, e às vezes com tal intensidade que desafiam nossa predisposição saudável de deixá-las na porta do hospital, e disfarçando felicidade acabamos levando-as para o desassossego das nossas madrugadas.

Doenças crônicas que implicam em vias crucis alongadas e lesões incapacitantes definitivas lideram o pelotão do infortúnio, especialmente em pessoas que, pela juventude, têm maior noção de vida desperdiçada. Nesta condição, nada é mais importante para a sobrevivência emocional da vítima do que a confiabilidade do seu manto amoroso, se contrapondo à trágica junção da tristeza da doença incapacitante com a atrocidade do abandono.

Duas questões são difíceis de dimensionar: qual o limite do sofrimento tolerável? E quais consequências trará para a vítima desavisada?

A capacidade humana de sofrer é ilimitada, e os pacientes, com frequência imprevista, encontram forças que ignoravam ter. Mas do ponto de vista psiquiátrico, "a tragédia por si só é sempre transformadora, para melhor (resiliência) ou para pior (depressão e impulsividade). Em ambos os casos demonstra quem somos em nossa intimidade".

Algumas vezes, a vítima, sentindo-se fera ferida, comporta-se como tal, espalhando ressentimento no seu entorno, sem nenhuma preocupação que na sua ânsia de revanche indiscriminada possa estar magoando pessoas completamente alheias às causas do seu sofrimento, e ignorando que projetar amargura ao redor de si não faz mais do que chamar de volta a amargura multiplicada. Esse círculo vicioso em crescimento exponencial tende a tornar ainda mais amarga a vida do sofredor.

Felizmente, algumas pessoas, com espírito superior, substituem a revolta por iniciativas sociais que buscam poupar famílias desconhecidas de igual sofrimento, e, sem perceber, estão reafirmando a esperança no ser humano e liberando vagas no purgatório. _

J.J. CAMARGO 


24 de Agosto de 2024
CONHECIMENTO

CONHECIMENTO

Conjunto de livros com informações sobre diferentes áreas do saber marcou gerações antes da internet ou quando a rede ainda estava disponível apenas para poucos. Leia histórias de pessoas que ainda preservam sua coleção, seja pelo valor sentimental, seja pela confiança na fonte

Os exemplos demonstram a importância da coleção para uma sociedade na qual a internet inexistia ou estava disponível para poucos. É um material decisivo para a formação intelectual, estudos e escolha da profissão, diz quem teve acesso à Barsa. Em meio ao avanço de telas, há os que guardam os volumes, seja por nostalgia, apego ao papel ou pela confiabilidade do conteúdo da coleção, que completa 60 anos em 2024.

A primeira versão da Barsa foi publicada em 1964. O nome é uma referência à empresária Dorita Barret ("Bar") e a Alfredo de Almeida Sá ("Sa"), diplomata brasileiro. O objetivo do negócio era fazer o país ter uma coleção similar à Enciclopédia Britânica, tradicional publicação criada na Escócia em 1768 - Dorita era presidente da coleção no Brasil. Nos anos 1960, ela decidiu não traduzir a enciclopédia europeia para o português, e sim criar a própria, batizada de Barsa.

Pagamento em prestações

Segundo Pedro Terres, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas, uma coleção vendida em 1964, ano do lançamento, poderia custar até R$ 14 mil em valores atualizados. Terres pondera que o preço flutuou com o passar das décadas e o momento econômico do país.

- Não era uma coleção acessível para toda a população. Por isso, em muitos casos, pagava-se em prestações. Nos primeiros anos após o lançamento, a enciclopédia se transformou em um item de luxo e desejo. Tinha a estratégia comercial de mostrá-la não como um gasto, mas como um investimento na vida dos filhos - pontua. _

- Gosto muito de livros físicos, acho que nada vai substituí-los. A enciclopédia é algo que tem um valor sentimental, não pretendo me desfazer da coleção, porque ela fez parte da minha formação e da minha história - pontua.

Maira Maciel, 60 anos, dividia a Barsa com outros irmãos e primos em Osório, no Litoral Norte. Segundo a arquiteta, a coleção comprada na década de 1960 seria descartada durante a demolição da casa dos pais. Eles decidiram ficar com os exemplares e transformá-los em um mesa lateral, dotada de rodízios e coberta por um vidro.

- O volume escolhido era aberto sobre a mesa da cozinha, sob a supervisão do meu pai, que tinha ciúmes dos seus livros. Era utilizada para consultas, para ganhar autoridade em discussões que envolviam conhecimento e nos servia para as pesquisas escolares - conta.

A Barsa entrou na vida de Andrea Stobbe, 52 anos, pelas mãos de um vendedor, que oferecia a coleção de porta em porta em Passo Fundo, no norte gaúcho. Comprados na década 1980, os exemplares foram utilizados pela advogada e por outros dois irmãos na rotina escolar nos anos seguintes. Advogada criminal, Andrea diz ainda utilizar a coleção no trabalho: a imensidade do conhecimento ajuda a "criar links" entre épocas e assuntos.

- Um exemplo que utilizo nos júris é a confissão mediante tortura. Cito a enciclopédia trazendo a inquisição espanhola e a ira de Tomás de Torquemada, que autorizou a tortura para obter evidências, caso o acusado se recusasse a confessar. Conto a história desse inquisidor e os modos modernos de tortura. Isso aproxima o jurado do caso concreto - cita a advogada. _

O conjunto pesa 25 quilos e custa R$ 2.695 no site da empresa. Outra versão, chamada Barsa Temática, dedica cada livro a uma área, além de um guia de profissão. Custa R$ 1.715.

As coleções vendidas na internet têm preços diversos. A mais cara disponível no Mercado Livre no dia da redação desta reportagem custava R$ 850. Trata-se de uma edição com 21 volumes publicada em 1964. As unidades custavam a partir de R$ 20.

Peter Dullius, proprietário do Beco dos Livros, diz ter três coleções Barsa à venda. Segundo ele, a demanda maior é de gente que quer vender a enciclopédia.

- Os compradores são muito raros. Somente casos de quem não pôde comprar à época e por saudosismo compra hoje. São pessoas de mais de 60 anos e famílias com filhos em idade escolar que procuram ajudar na educação e instrução em função das escolas não terem boas bibliotecas e o ensino estar muito ligado aos meios eletrônicos - afirma. _

Vinicius Coimbra

24 de Agosto de 2024
CARPINEJAR

Horóscopo de sábado

ÁRIES - 21/3 a 20/4

Não há muito o que inventar nesta parte do caminho; agora, é fundamental dar continuidade ao que você já começou, sem se desviar, mesmo que surja a tentação de se lançar a alguma aventura criativa.

TOURO - 21/4 a 20/5

Agora não é hora de tentar agir dentro da normalidade racional, porque o mundo está de ponta-cabeça, e tudo o que outrora era fácil e simples se tornou muito complicado. Vale a pena apostar em algumas loucuras.

GÊMEOS - 21/5 a 20/6

Já que você consegue enxergar ordem por trás do caos aparente, sua missão será explicar essa visão da melhor forma possível, para que até as crianças a entendam. Assim, você contribuirá para trazer serenidade ao momento.

CÂNCER - 21/6 a 21/7

Conversar com o futuro é imprescindível, porém, faça isso sem dar ouvido à duvidosa ajuda da angústia, que sempre pinta o amanhã com densidade. Ela nos traz preocupações e ansiedades que são desnecessárias.

LEÃO - 22/7 a 22/8

As pessoas adoram imaginar que tudo seja tão difícil que as autorizam a desistir. Na verdade, elas raciocinam assim do ponto de vista da satisfação da preguiça, porque quem supera essa inércia aceita os desafios.

VIRGEM - 23/8 a 22/9

Procure dar um toque de lucidez a tudo que acontece, mas sem que isso signifique ficar criticando o que as pessoas dizem e opinam, porque elas andam convencidas, como sempre, de que o que pensam é claro e definitivo.

LIBRA - 23/9 a 22/10

Interiormente, você consegue visualizar com clareza tudo que precisaria ser feito para colocar ordem e manter a normalidade, porém, na prática, isso seria muito difícil de expressar e ser compreendido pelos outros.

ESCORPIÃO - 23/10 a 21/11

Este é um momento em que a sua alma precisa tratar todo mundo com cordialidade, para que as pessoas se sintam atraídas e você possa conversar com elas sobre os seus planos e, assim, elas queiram ajudar e colaborar.

SAGITÁRIO - 22/11 a 21/12

A alegria é o tempero que está faltando para que as pessoas se unam ao seu caminho, porque todas elas andam tão sobrecarregadas de angústias e preocupações que o mero aroma da alegria as fará se sentirem melhor.

CAPRICÓRNIO - 22/12 a 20/1

Quando você expõe abertamente as suas ideias e inquietações, muitas pessoas se unem a você, e assim a sua alma conhece a força do grupo. É importante tomar essa iniciativa de se expressar, mesmo temendo os resultados.

AQUÁRIO - 21/1 a 19/2

Por mais acidentado que tenha sido tudo nos últimos tempos, a sua alma ainda encontrará margem suficiente para manobrar de acordo com os anseios que fazem o coração arder de vontade de realizar.

PEIXES - 20/2 a 20/3

As alianças e parcerias que você construir nesta parte do caminho serão muito úteis e positivas num futuro nada distante, portanto, é essencial que você atravesse seus receios o quanto antes e faça o necessário.

Carpinejar

Carteira Nacional do Amor

Certidão de casamento deveria ter data de validade. Após um período predeterminado, sem drama, o par faria a extensão do prazo ou oficializaria o fim da parceria no cartório.

Não estou me referindo a uma certidão atualizada da união, necessária para a compra de um imóvel ou para a aprovação de um financiamento.

Sugiro que o casamento possua uma previsão clara de encerramento, dando preferência para a manutenção do vínculo com a anuência de ambas as partes.

Assim reduziríamos o calvário de tantos divórcios, de tantas separações litigiosas, de tantos desgastes em ações na Vara de Família. Veríamos uma economia brutal de tempo nos tribunais.

Não tem mais amor, não tem mais confiança, não tem mais compatibilidade de projetos, não tem mais admiração? Não se renova o matrimônio.

Seria uma atitude prática, talvez recebida com incredulidade pelos mais românticos, mas que traria imensos efeitos positivos para a saúde emocional dos envolvidos.

Diminuiríamos convivências longas indesejadas, duplas enredadas em tédio, lares acovardados, pessoal desanimado no sofá.

Os filhos não cresceriam no meio de discussões, sequer duvidariam da existência da felicidade familiar.

Aqueceríamos a dinâmica dos encontros.

Poderíamos seguir o exemplo da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Afinal, você não deixa de conduzir destinos, o seu e o do outro.

A comparação não é gratuita, pois um mundaréu de pessoas pratica a direção perigosa na relação. Das duas uma: ou os infratores perderiam a carteira por excesso de pontos, ou se afastariam naturalmente ao caducar a validade do casamento.

Que tal uma Carteira Nacional do Amor?

A CNA teria validade de dois anos para casais de até 30 anos (quando a volubilidade ainda é decisiva), de cinco anos para casais de 30 a 50, de 10 anos para casais de 50 a 70. A partir dos 70 anos, a CNA apresentaria caráter vitalício - ora bolas, daí é o caso do amor para o resto da vida.

Deu certo? Continua, ganha uma extensão.

Também haveria a possibilidade de trocar o regime a cada renovação (comunhão parcial de bens, comunhão universal de bens, separação total de bens e participação final nos aquestos).

Evidentemente, parceiros precisariam atravessar o psicotécnico. Alguns teriam que voltar à sala de aula e realizar uma reciclagem. O que significaria abandonar a grosseria, a pressa e a indiferença, decorar as datas importantes, estudar o seu cônjuge a fundo para perguntas de múltipla escolha, obedecer ao ritmo e espaço dele, assimilar placas de advertência para não interrompê-lo no momento em que ele estiver falando e não insistir diante de um "não".

A inspeção das condições físicas não iria se restringir ao exame de vista. O candidato se submeteria a uma audiometria rigorosa, para prevenir qualquer fingimento na hora de escutar. Ou ele mudaria e passaria a ouvir de primeira, ou adotaria aparelho auditivo, ou terminaria reprovado para a convivência a dois. _

CARPINEJAR

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