sábado, 3 de agosto de 2024


03 de Agosto de 2024
DECLÍNIO COGNITIVO - Bianca Dilly

DECLÍNIO COGNITIVO

O cérebro também precisa de exercícios

Cerca de 150 mil gaúchos sofrem com algum tipo de demência. Explorar novas habilidades ajuda a proteger contra danos.

Aprender uma nova habilidade, participar de jogos que estimulem o raciocínio lógico, integrar discussões em grupo, testar habilidades musicais, de computação ou fazer aulas para praticar um novo idioma. Mais do que aumentar os conhecimentos e se divertir, atividades como essas fazem bem ao estado geral do cérebro.

De acordo com especialistas, o treinamento cognitivo é um dos cinco fatores que protegem e melhoram a performance e a saúde cerebral a longo prazo. Segundo o médico neurologista responsável técnico pelo Centro de Pesquisa e Investigação Clínica do Instituto do Cérebro (Inscer), Cristiano Aguzzoli, a importância do treino intelectual fica ao lado de manter uma dieta balanceada, praticar atividades físicas regularmente, controlar os fatores de risco cardiovasculares e se engajar em atividades sociais.

Quando essa combinação não recebe atenção, o declínio cognitivo pode ser uma consequência. Em relação ao treinamento intelectual, o presidente da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul e integrante do Grupo de Distúrbios Cognitivos da Santa Casa, André Luiz Rodrigues Palmeira, destaca que quando se deixa de praticar habilidades, o cérebro vai perdendo a capacidade plástica:

- Ele vai se tornando mais vulnerável aos danos. Quando aprendemos coisas novas, estamos estimulando a formação de novas conexões. É o que chamamos de neuroplasticidade. Quando estimulamos, melhor se responde ao processo de desenvolvimento e às doenças que possam surgir - detalha.

Atualmente, há estimativas que apontam a existência de aproximadamente 150 mil gaúchos com alguma demência, dos quais 50% a 60% dos casos são relativos à doença de Alzheimer. O cálculo é do médico geriatra e professor da Universidade Feevale Leandro Minozzo, baseado no número de idosos e a partir de dados do Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (Renade). É um levantamento que preocupa e que deve piorar.

- As projeções apontam para o crescimento do número de casos de demência no mundo todo, em especial em países em desenvolvimento. A região da América Latina é a área do mundo onde se tem a maior prevalência de casos de demência. Também há estudos que mostram de 700 mil a 800 mil casos sem diagnóstico no Brasil, o que torna a situação mais complexa e demandante para toda a sociedade - aponta Minozzo.

Por isso, o treinamento é necessário por toda a vida. Segundo especialistas, a preocupação começa já na infância. E entre os fatores que mais protegem o cérebro nesse sentido é a educação. Há estudos que relacionam a baixa escolaridade com o aumento da chance de um indivíduo desenvolver demência.

Conforme Aguzzoli, os anos de educação são primordiais a longo prazo:

- Mais anos de escolaridade estão relacionados à proteção. Na fase adulta mais avançada, o treinamento cognitivo é fundamental para ter a mente ativa.

"Um bônus"

Entre as formas indicadas para as atividades intelectuais, está o aprendizado de idiomas. Na Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul (ACM-RS), pessoas de todas as idades se encontram semanalmente no Centro Histórico de Porto Alegre para estudar inglês e espanhol. São cerca de 150 alunos, com idades entre 13 e 83 anos. Há grupos focados na terceira idade.

- Precisa manter o cérebro ativo. E o estudo de um idioma, que não é a nossa língua-mãe, é fundamental para a ginástica cerebral - relata a policial civil aposentada Katia Beirão Haag, 57 anos.

Professora de línguas e coordenadora de idiomas da ACM- RS, Nádua Gallo Muhammad conta que o trabalho é humanizado:

- Temos a missão de olhar para o próximo, acolher. O aprendizado de línguas exercita a mente, mas também traz a socialização como um dos benefícios.

O engajamento em atividades sociais é outro ponto importante para a saúde cerebral e também entra como fator decisivo para os alunos. Além disso, os colegas, para além da sala de aula, tornam-se amigos.

- Esse grupo é muito importante para todos nós. Nós conseguimos nos aproximar como pessoas. Inclusive, viajamos juntos. Eu considero essas aulas como uma terapia de vida. Trocamos experiências. Aprender espanhol é um bônus - conclui a estilista aposentada Rejane Penck de Araujo, 69. _

A América Latina é a área do mundo onde se tem a maior prevalência de casos de demência. Há estudos que mostram de 700 mil a 800 mil casos sem diagnóstico no Brasil.

Leandro Minozzo - Médico geriatra

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