sábado, 31 de agosto de 2024


31 de Agosto de 2024
REFLEXO NOS GAÚCHOS

REFLEXO NOS GAÚCHOS

Possibilidade levantada por especialistas em meio à tragédia climática tem sido confirmada com estudo inédito do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Levantamento segue sendo realizado e pode ser respondido por maiores de 18 anos que tenham resididido no RS durante a calamidade

- O TEPT tem uma janela de intervenção. O que classicamente a gente vê é que, depois de um ano, pouca gente consegue uma recuperação completa. Existe essa janela de prevenção e ainda estamos nela - destaca, completando que o ideal é que o trabalho comece em até três meses após os eventos traumáticos, mas dentro de um ano ainda é possível ter o tempo de resposta.

Em meio às mudanças climáticas, em 2017 a Associação Americana de Psicologia cunhou o termo ecoansiedade. De acordo com a psiquiatra do Hospital São Lucas e coordenadora de saúde global da Escola de Medicina da PUCRS, Ana Sfoggia, a denominação é tida como um guarda-chuva para diferentes sentimentos, como o de ecoluto, ecotrauma e solastalgia (emoção que causa sensação melancólica, nostálgica, quando o ambiente em que a pessoa vive é afetado).

- Antes de ser atingida, a pessoa pode ter a ecoansiedade e emoções climáticas. No momento em que ela é afetada, acaba tendo uma validação do medo. A gente tem também os impactos diretos de quem perdeu coisas, perdeu pessoas - explica Ana. _

Os sinais foram confirmados por 778 de 1.846 moradores do RS ouvidos entre 7 de junho e 19 de julho deste ano. Essa possibilidade já havia sido trazida por especialistas em meio à tragédia climática e se confirmou com dados encontrados no estudo dirigido pela professora do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psiquiatria Psicodinâmica do HCPA, Simone Hauck.

A pesquisa é realizada de forma online e é aberta para maiores de 18 anos. Até o momento, já recebeu em torno de 5 mil respostas, predominantemente de Porto Alegre e Canoas, mas conta com contribuições de dezenas de outras cidades gaúchas, como da Região dos Vales, sul do RS e área central.

Nos dados analisados com 1.846 pessoas, um dos fatores levados em consideração é o nível de gravidade dos sintomas de TEPT. Os casos moderados a muito graves representam mais da metade, com 53,8%.

Previsto para durar em torno de um ano, o estudo segue aberto. Além de ser maior de idade, para participar é necessário ter residido no RS no período da enchente.

- É importante que as pessoas sigam respondendo e participando para vermos como vai evoluir essa questão ao longo do tempo - diz Simone.

Monitoramento

- É necessário fazer o monitoramento das pessoas. Em Santa Maria houve reorganização dos serviços (após o incêndio). No Hospital Universitário foi criado acompanhamento a longo prazo dos sobreviventes. Na prefeitura também foi estruturado um serviço com foco mais psicossocial, com familiares e vítimas. _

Bianca Dilly

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