sábado, 10 de agosto de 2024


10 DE AGOSTO DE 2024
MARCELO RECH

Nada de novo no falatório

Pela largada do comboio eleitoral de Porto Alegre, as campanhas vão se conduzir pelo retrovisor e, quando muito, olhar 10 metros à frente.

A ausência de uma visão estratégica para as metrópoles brasileiras não é deficiência exclusiva da Capital, mas aqui ela se agrava. Depois da catástrofe de maio, o que era um problema se tornou um dilema existencial para Porto Alegre, que, mais do que nunca, precisa de uma perspectiva de longo prazo sobre em que cidade viveremos daqui a 10, 20 ou 30 anos.

O debate da Rádio Gaúcha, na terça-feira passada, foi um aperitivo: menções óbvias à necessidade de recuperação, manutenção e aprimoramento da infraestrutura e dos serviços. É pouco, muito pouco, diante do que há pela pela frente. Não bastasse a tragédia das enchentes, o mundo do emprego começa a passar por uma revolução que vai criar algumas cidades vencedoras e produzir uma legião de metrópoles deserdadas.

Coincidentemente, Porto Alegre recebeu no dia seguinte ao debate o aclamado economista Nouriel Roubini para uma palestra no Fronteiras do Pensamento. O primeiro economista a vislumbrar a debacle de 2008 lançou o livro Mega-Ameaças, no qual enumera 10 potenciais causas de desastre econômico e social, que, por outro lado, podem virar oportunidades se absorvidas por estratégias eficazes de antecipação a crises.

Uma delas, e uma das mais avassaladoras, é a inteligência artificial, que vai pulverizar milhões de empregos nos próximos anos - e criar outros tantos. O que os candidatos a liderar a cidade planejam para que a próxima geração possa não só assegurar sua renda mas também prosperar? Quais são os diferenciais competitivos que precisam ser identificados e explorados para que Porto Alegre não seja levada de roldão? Como induzi-los?

Há muitas outras questões-chave a serem elucidadas por quem pretenda de fato liderar a cidade, na acepção mais profunda de líder. Vai aqui uma pista: Porto Alegre conta com uma excelente rede de universidades e de hospitais que ainda não se conectam com uma estratégia de gestão de futuro municipal, mas que podem ser molas-mestras do desenvolvimento, juntamente com o esporte e a cultura, outras duas vocações que dão certo por aqui.

Amarrar as pontas, como busca fazer o Pacto Alegre, e fazê-las trabalhar em prol da renda e da qualidade de vida dos cidadãos pode não ser tão emocionante para um candidato quanto prometer - sem detalhar como - transporte, saúde e educação de primeiro mundo. Mas todas essas promessas serão quimeras se não houver uma estratégia arrojada e factível que assegure os recursos para colocar o trololó de sempre em prática. _

MARCELO RECH

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