quinta-feira, 8 de dezembro de 2022


03 DE DEZEMBRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

A GRANDE DÍVIDA

Todos os ramos da ciência concordam que as mudanças climáticas são o mais grave problema a enfrentar para que o planeta sobreviva. A ONU promove reuniões anuais para encontrar caminhos e comprometer os governantes a adotar medidas para evitar a catástrofe do aquecimento global antes que seja irreversível.

Dias atrás, encerrou-se em Sharm El-sheik, no Egito, a conferência deste 2022, e, outra vez, os alertas viraram advertências. É necessário agir com urgência urgentíssima, avisou o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao abrir a reunião. As conclusões, porém, foram pífias.

De fato, os países participantes não se comprometeram a adotar medidas concretas e urgentes para minorar o aquecimento global. O documento final revela, em verdade, apenas intenções, nunca obrigações.

Em 1992, assisti no Rio de Janeiro à Eco-Rio, que preparou a "Agenda 21", advertindo para as medidas a serem adotadas no novo século. Já se passaram mais de duas décadas, e as mudanças climáticas se transformam em crise do clima. Aí estão as cenas (vistas na TV) das enxurradas em Santa Catarina, na Bahia e em Sergipe, com mortes e soterramentos.

Mas na reunião do Egito, as conclusões não levaram ao compromisso de cortar as emissões de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, responsáveis diretos pelo aquecimento global. Em vez de compromissos, a reunião marcou apenas meras intenções.

Continuamos com a grande dívida. O palavrório rebuscado e genérico das reuniões internacionais seguiu vigente na reunião do Egito. Jair Bolsonaro não compareceu, alardeando seu descuido pelo meio ambiente, mais preocupado em armar a população. O presidente eleito, Lula da Silva, lá esteve e se comprometeu a preservar a Amazônia. Mas enquanto não traçar os rumos do futuro governo e indicar o novo ministro do Meio Ambiente, permanece a incógnita e também a dúvida. E com ela, também a dívida, sem ser mero jogo de sons?

Além do palavrório, aqui no país um fato concreto revela o desprezo governamental pelo meio ambiente - o Ibama está sem verbas para pagar até as contas de eletricidade e água, além da pesquisa em si.

Ao ser o órgão ativo do meio ambiente, o Ibama reúne as ações governamentais de preservação, mas agora vira órgão inerte.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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